Mais um festival de besteiras na nossa língua

 

Por Milton Ferretti Jung

Meu filho, responsável por este blog, fez-me uma sugestão: a de escrever mais sobre o novo festival de besteiras que assola o país. Creio que Stanislaw Ponte Preta, o criador desse título, falecido em 68, me  perdoará pelo plágio. Mas vamos ao assunto.

A principal asneira a que chama a minha atenção, talvez até passe despercebida pela maioria. Refiro-me à reforma ortográfica, a mais recente e, ao mesmo tempo, uma das piores a que assisti, não, é claro nos  meus 76 anos de vida porque se passou um bom tempo até que tivesse idade para me preocupar com mudanças do tipo da que citei. O que me deixa danado da vida é que todos os que falam português deveriam, pelo menos ,ter a obrigação de adotá-la. Em Portugal, porém, ainda se escreve facto, acto e assim por diante. Por que os portugueses não seguem os ditames da reforma? E como ficam os mais velhos e muitos jovens também que aprenderam, por exemplo, a pôr trema em inúmeras palavras, e este já não pode mais ser usado?  Seja lá como for, não existe reforma ortográfica capaz de resolver todos os descalabros que são cometidos por aí afora com a “última flor do Lácio”.

Esta, que li num portal da internet, é de doer. O redator deve ter imaginado que estava produzindo uma frase criativa ao escrever que “o atacante só range um pouco o  cenho da testa ao falar de um assunto: Flamengo”. Existiria algum cenho além do da testa?

Li na Wikipédia, ao procurar o que esta dizia sobre “blitz”, que o  termo significa guerra relâmpago e foi criado “a nível operacional…” Ainda há quem use este desgraçado “a nível”. Por falar em blitz, palavra que vem do alemão “blitzkrieger”, estranho que, como foi aceita pelos nossos dicionários, no plural seja “blitze” ou “blitzen” e não blitzes, bem mais de acordo com o que seria de se esperar.

Seria de se esperar, igualmente, que a mídia parasse com o uso abusivo de blindar. Nos últimos tempos o verbo sempre aparece e, em geral, com sentido figurado.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Modismo e analfabetismo que assolam a mídia

 

Por Mílton Ferretti Jung

Talvez eu seja um chato, mas não de galochas, porque, mesmo quando chovia, as usei pouquíssimo e somente por exigência paterna. Meu pai temia que, se molhasse os pés, pegaria gripe. Além disso, não creio que ainda exista quem as vista. Posso esperar, então, que minha chatice, pelo menos, dispense o acréscimo referido linhas acima.

Seja lá como for, vou tratar do modismo que tomou conta da mídia. Não estarei faltando com a ética. Afinal, estou na estrada da profissão desde 1954, o que, imagino, me assegura certos direitos, um deles o de criticar o que me irrita quando leio jornais, vejo televisão e/ou ouço rádio.

Claro que não tenho a pretensão de escrever algo parecido com o que, faz bom tempo – mas nunca esqueci do texto – Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, alinhou no livro intitulado “O festival de besteiras que assola o país”. Creio que pesquisou um bocado para reunir as asneiras que coletou na época ou, quem sabe, nem precisou se esbaldar procurando-as, tantas foram.

As de agora também são muitas, diferentes, porém, das relatadas por Stanislaw. Vou, no entanto, citar poucas para não encher a paciência dos que me dão o prazer de sua leitura aqui no blog do meu filho. Não sei se por preguiça ou desconhecimento gramatical, principalmente a turma das rádios não usa mais os verbos reflexivos, isto é, os que exigem a presença da partícula apassivadora – o se. Aí o que se escuta, por exemplo, é que “o jogo iniciou, o jogador machucou, o time concentrou”, e outras pérolas semelhantes.

Já o verbo realizar se transformou num proscrito. É pouquíssimo usado atualmente. Preferem dizer que “o festival aconteceu”. Tudo acontece, pouco se realiza. Devem ter aprendido a besteira com os cronistas sociais…

A moda que mais me incomoda, entretanto, é a do uso indiscriminado do verbo apontar. Parece que, para ele, não existem sinônimos. Não passa um dia que não se lê o maldito apontar em frases nas quais poderia ser substituído por indicar ou mostrar, sem prejudicar o sentido.

Afora esses modismos (até, talvez, analfabetismos) que causam dor de ouvido, ainda se faz necessário aguentar certos neologismos, entre os quais, um que detesto profundamente por ser uma invenção desnecessária. Refiro-me a disponibilizar. Seria bem mais fácil utilizar oferecer que, aliás, é bem mais bonito do que seu imenso sinônimo inventado sei lá por quem.

Acredito ter feito critica construtiva. Quem não concordar,que se manifeste.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Rádio na Era do Blog: Eu foco, tu focas, por Ruy Castro

 

Na fusão de mídias, confundiu-se muita coisa. A línguagem, entre elas. Tem texto de rádio escrito como se fosse para jornal; tem texto na internet lido na televisão; tem jornalão redigido como folhetim. Copia-se de um e se cola no outro, sem que se pare para pensar a necessidade do público de cada uma das mídias. Além disso, há expressões que usamos pelo hábito. Sem reflexão. Sem noção. Foram sobre algumas dessas que o jornalista e escritor Ruy Castro escreveu, neste sábado, na Folha. Um alerta para redatores de rádio, cada vez em menor número, e para redatores de blog, que não param de crescer.


Eu foco, tu focas, ele foca

RIO DE JANEIRO – Já tratei do assunto nesta coluna, mas, como diria o Cony, ninguém tomou providências. Continuamos a chamar um filme de “longa”, mesmo que ele tenha a rotineira hora e meia de projeção -o que, somando os trailers, os comerciais e o tempo que se gasta indo lá fora comprar pipoca, perfaz uma sessão ideal de duas horas. Então, por que “longa”?

Deve ser para distingui-lo dos “curtas”, que têm 12 ou 15 minutos. Mas quantos curtas você vê por ano a ponto de obrigarem um filme normal a ser chamado de longa? Longas, até outro dia, eram “E o Vento Levou”, “Os 10 Mandamentos”, “Ben-Hur” e “Lawrence da Arábia”, que duravam para lá de quatro horas. Se, hoje, qualquer filme é um longa, o que seriam aqueles queridos mamutes?

Ou, quando se trata de filmes do passado -digamos, “A Malvada”, com Bette Davis, ou “Barnabé, Tu És Meu”, com Oscarito-, lê-se às vezes que eles foram gravados assim ou assado. Só que os filmes do passado não eram gravados. Eram filmados. Quem grava imagens é a televisão, e o cinema, pelo menos o anterior a 1990, sempre dependeu de película, laboratório, revelação e outras práticas ancestrais.
Falando em gravar, não perdemos a mania de escrever que “Fulano entrou em estúdio para gravar seu novo CD”. Mas onde queriam que ele o gravasse? Na rua, do outro lado da calçada? “Entrar em estúdio para gravar” é o mesmo que “apostar todas as fichas”, “correr atrás do prejuízo” ou “dar nó em pingo d’água”. É escrever sem ter de pensar. Uma palavra puxa outra, como uma locomotiva que arrasta vagões vazios.

Mas minha grande birra é com o verbo focar. Quando leio, por exemplo, que “Ronaldo foca voltar à seleção”, conjugo imediatamente eu foco, tu focas, ele foca, e imagino o Fenômeno batendo as nadadeiras. Com todo o respeito.


O texto original você acessa aqui se tiver assinatura do UOL

‘Teatro do absurdo’ arrasa com a língua portuguesa

Recorte do site de apresentação da peça de teatro

Clique na imagem e leia o texto de apresentação da peça “Os 3 porquinhos, o Musical”

O texto acima com todas as suas incorreções faz parte do programa de apresentação da peça “Os 3 porquinhos, o Musical”, em cartaz no Teatro Bibi Ferreira, em São Paulo, e causou espanto no ouvinte-internauta Antonio Carlos Vituriano.“Tamanha sucessão de erros é lamentável, pois evidencia como que o nível de ensino está deteriorado em nosso país”, escreveu. E fecha a mensagem em tom irônico, lembrando que o texto deve ter sido escrito por um jornalista com diploma.

Reforma ortográfica em contagotas

O texto abaixo foi enviado pela ouvinte-internauta Marina dos Santos, que não esclarece quem seria o autor desta brincadeira com os versos e a reforma ortográfica. Por obra desta internet que permite a circulação de algumas ideais sem que se faça justiça ao seu criador reproduzo no blog pelo curioso da coisa. Se você souber quem escreveu o texto, não deixe de nos informar que prometo colocar aqui em letras garrafais. Vamos ao texto:

Em casos como AUTOESTIMA,
o hífen cai.
A sua é que não pode cair.
Em algumas palavras,
o acento desaparece,
como em FEIURA.
Aliás, poderia desaparecer a palavra toda.
O acento também cai em ideia,
só que dela a gente precisa.
E muito.
O trema sumiu em todas as palavras,
como em inconsequência,
que também poderia sumir do mapa.
Assim, a gente ia viver com mais TRANQUILIDADE.
Mas nem tudo vai mudar.
ABRAÇO continua igual.
E quanto mais apertado, melhor.
AMIZADE ainda é com “z”,
como vizinho, futebolzinho, barzinho.
Expressões como “EU TE AMO” continuam precisando de ponto.
Se for de exclamação, é PAIXÃO, que continua com “x”,
como ABACAXI, que, gostando ou não,
a gente vai ter alguns para descascar.
Solitário ainda tem acento,
como Solidário,
que só muda uma letra, mas faz uma enorme diferença.
CONSCIÊNCIA ainda é com SC,
como SANTA CATARINA,
que precisa tocar a vida pra frente.
E por falar em VIDA,
bom, essa muda o tempo todo,
e é por isso que emociona tanto