Escrito por Sebastião Nicomedes, morador de rua e criador de ideias, em São Paulo:
De reuniões em reuniões, a SMADS, Defesa Civil, Samu e outros órgãos (in)competentes vão ganhando tempo. O inverno chegou pesado, as baixas temperaturas tão afligindo a alma dos moradores de rua.
Temperatura acima de 13 graus não é dia considerado de emergência. Mas estamos falando de outro modo de viver. A temperatura das ruas ainda não inventaram. Nas calçadas, o clima é outro, com os ventinhos gelados, chega baixar de zero. O corpo empedra.
Essa madrugada era para ser de emergência. Cadê as viaturas de prontidão na rua? Cadê os cobertores? É sabível, não tem vagas, tem que disponibilizar os agasalhos, garantir a sobrevivência nesses dias em que o alarme é acionado.
Não tá havendo distribuição. A SMADS centralizou ou descentralizou ? Onde estão os cobertores ? Nos Cras ? Nas casas de convivência deveriam ter distribuição. Tem de haver estoques nas Subs para o repasse imediato, tem de estar de prontidão.
Depois não adianta quando morrer gente, os orientadores socioeducativos aparecerem diante da imprensa e apresentar ao delegado a ficha forjada de recusa de ida pro abrigo como é de praxe. Duas testemunhas assinam a recusa. O morto não fala e fica por isso mesmo.