Jantar da turma de 60 em defesa da história do Liceu

 

Alunos do passado preocupados com o futuro da escola. Cena rara neste Brasil desacostumado a valorizar suas instituições se registrará na noite desta quarta-feira (24/11), na Pizzaria Moraes, no bairro da Bela Vista. Colegas da turma de 1960 do curso científico do Liceu Coração de Jesus voltam a se encontrar para comemorar os 50 anos de formatura e têm uma missão: defender a escola e o bairro em que foi fundada.

O Liceu surgiu no bairro dos Campos Elíseos, em 1885, tendo como âncora a Igreja Coração de Jesus, tombada como patrimônio histórico. Dos anos de 1940 a 1960, viveu seu auge reunindo cerca de 4 mil alunos. Em 125 anos de história, os salesianos formaram parte da elite intelectual do País com uma educação de qualidade em região considerada nobre da capital paulista, que abrigava a mansão dos donos do café e a sede do Palácio do Governo.

O esforço para manter o mesmo nível de ensino porém não foi suficiente para conter a evasão de alunos. Muitos dos quais deixaram o Liceu assustados com a degradação das ruas em seu entorno. Calçadas tomadas por indigentes e drogados não condiziam com o ambiente que pais e filhos buscavam em uma escola.

Com apenas 400 estudantes em suas salas de aula, o colégio tem enfrentado dificuldades para se manter e levou a comunidade a se mobilizar para proteger este importante capítulo da história de São Paulo. Um abraço ao prédio da instituição marcou o lançamento do Movimento Viva o Liceu, este ano.

Logo mais à noite, quando estiverem comemorando os 50 anos de formatura, ex-alunos também discutirão novas abordagens em defesa da manutenção da qualidade do ensino do Liceu e da recuperação do bairro de Campos Elíseos. Esperam ainda trazer as demais turmas do passado para esta batalha, fazendo com que o colégio mais uma vez dê uma lição para a cidade.

Talvez assim consigam fazer com que o conhecimento compartilhado dentro da escola contamine o seu entorno. E não o contrário.

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Liceu: Simulacro e simulação

Abraço no Liceu para salvar patrimônio da cidade

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A fanfarra deu o ritmo para a manifestação em apoio ao Liceu Coração de Jesus, tradicional escola paulistana ameaçada de fechar devido a degradação da área em seu entorno, na região central de São Paulo. Ex-alunos, estudantes, professores, diretoria e cidadãos incomodados com a possibilidade de ver esta casa se fechar após 125 anos realizaram um abraço ao prédio, em um sábado (28.11) marcado por uma série de ações. A forte participação dos ouvintes-internautas no post “Liceu, simulacro e simulação”, assinado por Carlos Magno Gibrail, aqui no blog, demonstra bem o interesse da sociedade na preservação deste patrimônio. O slideshow que você assiste tem imagens enviadas pelos organizadores do movimento Viva Liceu que mantém um blog para reunir as informações em torno da luta desenvolvidas por eles para a recuperação da instituição com a valorização daquele espaço. Caso você tenha mais imagens envie para milton@cbn.com.br para que possamos incluir neste álbum digital.

Outros canais de informação sobre o Viva Liceu estão no Orkut e no Twitter.

Liceu: simulacro e simulação

 

Por Carlos Magno Gibrail

Liceu Coração de Jesus, São Paulo

Liceu Coração de Jesus, ícone por mais de um século da Educação paulista, fundado sob a orientação de um santo – Francisco de Sales – pelas mãos de outro santo – João Bosco – com o apoio de uma princesa – Izabel -, está diante do simulacro da Cracolândia em seu entorno.

Com a intenção de neutralizar o incômodo do crack na região, cuja maior visibilidade está na Sala São Paulo, a Prefeitura realizou ação para retirar os viciados e os traficantes. E tratou de divulgar o sucesso da empreitada, a tal ponto que domingo os jornais noticiaram que a proposta de reajuste de até 60% no IPTU contemplava a Cracolândia. Simulação e dissimulação que levou os drogados para os limites do quarteirão de 17.000 m2 ocupados pelo Liceu. A tal ponto que janelas foram pregadas para que os 280 alunos remanescentes não vejam as calçadas onde os viciados estacionam.

O Liceu, fundado em 1885 para atender os filhos de imigrantes italianos para educação convencional e de ex-escravos para operadores de alfaiataria e gráficas, teve alunos como Monteiro Lobato, Grande Otelo, Zeferino Vaz, Carvalho Pinto, Vicente Feola, Noite Ilustrada e Toquinho.

Contando com a Igreja mais bonita e rica da cidade, com um teatro de 700 lugares, com múltiplas quadras esportivas, com uma estátua do Cristo com camada de ouro em sua torre principal, o Liceu embora cercado por drogados, mantêm a exuberância estética e a energia dos tempos idos, quando 3.000 alunos povoavam seus espaços. Indubitavelmente faz parte da história da cidade e como observa Mílton Jung “O Liceu é a cara de São Paulo”, símbolo significativo que sucumbe ao processo urbano em que a antropofagia daqueles que, incumbidos de construí-lo, protagonizam a desconstrução ao procurar o novo e desvalorizar o antigo.

O alargamento da Avenida Rio Branco, cortando os jardins do Palácio dos Campos Elíseos, certamente foi o golpe fatal à região ao ver transferida a sede do Governo do Estado para o Morumbi. E, incrivelmente, ainda se cogita de transferir o Palácio do Morumbi para os Campos Elíseos, o que não corrigirá o erro anterior, mas o ampliará.

A questão urbana é fortemente exemplificada neste caso dos Salesianos, pois em Santa Terezinha na região Norte da cidade, em área de classe média bem posicionada há um Colégio que está abarrotado de alunos, enquanto o Liceu prevê para 2010 apenas 200 alunos. Situação que reflete a preocupação do jornalista Clovis Rossi, no mesmo dia em que a Folha publicava editorial sobre o Liceu e o crack em suas imediações : “Mais um pedacinho da “minha” cidade está morrendo, o Liceu Coração de Jesus.”

A Congregação a par das investidas imobiliárias reage e procura se adaptar a esta fase, reformulando seus cursos deficitários e abrindo negociações com empresas como Porto Seguro e Pão de Açúcar, com intuito de manter a vocação do ensino de alta qualidade pedagógica e aliada á cultura e aos esportes.

O Liceu Coração de Jesus luta para continuar educando, quer viver essa missão que é sua há mais de 120 anos.

As crianças que aqui brincam e estudam tornam-se mães e pais, artistas e empresários, esportistas e sacerdotes, assumem muitos caminhos porque são muitos os caminhos da sociedade brasileira. Se por acaso o Liceu parasse, São Paulo perderia um pouco da sua identidade, do seu jeito de preparar o futuro.

Alunos, pais e educadores não deixarão isso acontecer, pois fiéis à herança salesiana continuaremos a educar olhando pra frente.

Que o Senhor abençoe a todos os ex-alunos que estão torcendo pela comunidade educativa do Liceu Coração de Jesus”.

Pe. Benedito Spinosa, Salesiano de Dom Bosco, Diretor do Liceu Coração de Jesus, em mensagem especial para este blog.

Como paulista de coração e ex-aluno do Liceu Coração de Jesus, onde aprendi a estudar, a praticar esporte e gostar de cinema e teatro, fica aqui a minha contribuição à cidade que amo e ao Colégio que bem a representa.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e voltou a sala de aula para escrever este artigo no Blog do Mílton Jung.


A imagem que ilustra este post é de autoria de Marcelo Isidoro Alves, conheça a galeria de fotos dele no Flickr com outras cenas de São Paulo.