Por Maria Lucia Solla
Olá, “caro e raro leitor”,
este texto foi escrito e publicado aqui no blog do Mílton Jung, em novembro de 2007. Foi publicado novamente aqui em abril de 2014, e eis que insiste em voltar, e volta lindo, leve e jovem como se tivesse sido escrito ontem.
Triste, né?
Tem-se discutido muito, e acaloradamente, sobre partidos e parlamentares e o fato de esses trafegarem por aqueles, ao aceno da mínima vantagem. Ser de direita, ou de esquerda, não é mais uma questão de sentar-se à esquerda ou à direita do plenário, como em idos tempos. Os partidos por sua vez querem que o mandato e o parlamentar lhes pertençam para terem munição(estamos em guerra e não percebi). De todo modo, fica claro que se foi o tempo de convicções e de construção da democracia. Romântica e femininamente, imagino um tempo em que alguns governavam (trabalhavam) enquanto outros fiscalizavam. De olho, implacáveis. Ao menor deslize, a turma no comando pulava miúdo. Mas se houve esse tempo, durou até que alguém percebesse que, do outro lado ca cerca era possível dar menos duro e ganhar mais mole.
E foi como água mole em pedra dura que a idéia fixa dessa meta se infiltrou e se alastrou feito praga, por todos os lados. A gente, então, começou a vender os próprios pensamentos, a entregar as paixões, crenças e a própria identidade, em troca de não viver, já que isso dá um trabalho danado. Ficou anestesiada de tanto fingir que estava tudo bem, para não sair do conforto da poltrona. E a coisa foi crescendo tanto, e tão velozmente, que se romperam os diques, e a lama transbordou, nos cobriu e sufocou. E a gente? Acostumou.
Nosso país é de terceiro mundo, somos pobres, não temos água, luz, estradas, transporte, saúde pública, educação e comida para todos. E o que fazemos? Mantemos aparências esfarrapadas com uma criadagem (políticos) despreparada, sem experiência, sem cultura nem educação, que oferece, em bandejas de plástico, migalhas aos seus patrões (nós, e mais modernamente: nós e eles), e nós os tratamos a pão-de-ló, com água mineral e bebida importada, servidas por copeiros em bandeja de prata, mesa farta, carro de luxo, um batalhão cada vez maior de subalternos, e avião importado.
Minha sogra abominava o tipo de gente que comia mortadela e arrotava peru, como ela dizia. Pois é, dona Ruth, parece que nossa nação não anda bem de digestão.
Enquanto isso, países de primeiro mundo, com população mais rica, com pleno acesso a educação e saúde, e onde nem se imagina o que seja a dor de passar fome, têm muito menos empregados (políticos, employees) do que nós.
Mas voltando aos partidos, eles também geram aberração e mensalão. É o tal do cada um por si, do salve-se quem puder, coisa de republiqueta de quinta.
Portanto, enquanto nós, viventes do mesmo chão, continuarmos a contratar a corja (maus políticos), ela continuará oferecendo privilégios e benesses aos que estão abaixo, acima, à direita e à esquerda, para eternizarem a farsa e o assalto miúdo às nossas carteiras e à nossa dignidade, as quais temos entregado de bandeja, como se nada valessem. Não é para isso que supostamente evoluímos como seres humanos, e que somos considerados cidadãos.
Pensa nisso, ou não, e até a semana que vem.
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Escreve no Blog do Mílton Jung

