Avalanche Tricolor: um empate que vale bem mais do que um ponto

Palmeiras 1×1 Grêmio

Brasileiro — Allianz Parque, SP/SP

Diego Souza comemora gol em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Diego Souza comemora gol em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

 

Ninguém empatou tanto quanto o Grêmio. Ninguém perdeu tão pouco quanto o Grêmio. Assim como ninguém está tanto tempo invicto no Brasileiro —- são 15 jogos marcando pontos. Nada disso ainda foi suficiente para nos colocar na liderança ou próximo dela, assim como não nos garantiu aquela vaga que nos devolverá a Libertadores —  a despeito do fato de que vamos dormir nesta sexta-feira no G4 e se quiserem nos tirar de lá, os adversários que façam a sua parte.

O empate de hoje —- o décimo quarto na competição —- valeu muito mais pontos do que outros tantos. Bem mais do que o ponto somado na tabela e que nos deixou a seis do topo do campeonato. Foi um teste de resiliência contra aquele que será o adversário na final da Copa do Brasil, em fevereiro ou março — a data ainda está aberta. A derrota, da forma como estava sendo construída no primeiro tempo, seria acachapante no ânimo e no moral do time. Daria a impressão de incapacidade, o que nos derrotaria antes mesmo de disputarmos as decisões da Copa.

Ter resistido ao atropelo inicial e conseguido chegar ao intervalo com uma desvantagem pequena, permitiu que Renato reposicionasse o time, colocasse cada jogador no seu devido lugar e os fizesse entender que no gramado sintético a bola rola em velocidade diferente e oferece vantagem a quem está acostumado ao piso. 

Assim que voltamos do vestiário, era evidente que o Grêmio seria outro time. Os riscos diminuíram apesar de Vanderlei, gigante no primeiro tempo, ter voltado a brilhar quando exigido no segundo. Passamos a ter mais a bola e a nos movimentarmos com mais velocidade. Arriscávamos no ataque enquanto nossos zagueiros tinham de imprimir um esforço redobrado lá atrás —- o que Kannemann sabe fazer muito bem.

A entrada de Maicon, diante da lesão de Matheus Henrique, mudou o toque de bola. Se um prefere carregá-la próximo do pé, o outro privilegia o passe rápido e consegue enxergar com precisão companheiros mais bem posicionados. Foi em um desses lances que Maicon pisou dentro da área adversária e encontrou Luis Fernando correndo por trás da marcação na linha de fundo. O cruzamento foi na medida para Diego Souza cabecear e decretar o empate —- os gols de Diego deveriam valer dobrado na tabela de goleadores, porque é incrível como todo gol que ele marca é aquele que decide ou ajuda a decidir a partida; dificilmente faz gol em jogos já resolvidos.

Por pouco, muito pouco mesmo —- como diria José Geraldo de Almeida, antigo locutor esportivo —-, não levamos a vitória em um último lance da partida, no qual Diego Souza, sempre Diego, cobrou falta por cima da barreira e buscou o ângulo; e a bola só não chegou ao seu destino porque foi a hora de o goleiro adversário brilhar. 

Na maratona decisiva de Janeiro, evitamos a derrota contra um adversário forte e com pretensão de chegar ao título. Teremos ao menos mais três jogos que serão definitivos nas próximas rodadas. Por hoje, fizemos nossa parte, arrancamos um empate difícil e saímos de campo confiantes de que a Copa do Brasil está ao nosso alcance. Mérito de Renato que fez as substituições certas tanto quanto soube mudar o time no vestiário — como admitiram em entrevista Diego Souza e Victor Ferraz.

Conte Sua História de São Paulo: “pergunta o resultado do jogo, vai …”

De Vanessa Guimarães de Mendonça

Ouvinte da CBN

 

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Naquele tempo, eu morava com minha família no bairro do Ipiranga e todo sábado, com a minha irmã Lúcia, fazíamos aula de espanhol no Butantã. O professor era nosso amigo Adonay. No dia 13 de outubro de 2001, na volta da aula de espanhol resolvemos ir até um shopping de móveis, na Marginal Tietê. Descemos próximo à estação de metrô que na época se chamava apenas Tietê;  hoje é  Portuguesa-Tietê. 

Seguíamos em direção a ponte para transpor o Rio Tietê e ter acesso ao shopping quando de longe vimos vários torcedores do Palmeiras deixando o estádio do Canindé, com suas camisas verdes, e avançando sobre a ponte, em direção ao metrô. 

O Campeonato Brasileiro de Futebol estava na primeira fase e a Portuguesa havia recebido o Palmeiras em seu estádio. Deu para reparar que a torcida vinha quieta e cabisbaixa. Olhei para minha irmã e vi uma sombra no seu olhar. Ela fechou a cara e olhou para o chão. Era uma época em que não havia smartphone, não tínhamos a CBN na palma da mão. Para saber o resultado de um jogo era preciso chegar em casa e ligar o rádio, ou andar com um rádio de pilha. Eu fiquei muito curiosa e pedia para a Lúcia: “pergunta para eles o resultado do jogo. Pergunta quanto foi, vai, vai …”. Minha irmã, mal-humorada nem respondia.  

Na ponte, os pedestres tinham de caminhar espremidos nas laterais, numa passarela de no máximo 1,60 m, com o Rio Tietê abaixo e entre as pistas da Marginal, uma das avenidas mais movimentadas da América do Sul. Eu e minha irmã avançando e a torcida caminhando em nossa direção.  Os torcedores passavam calados como em um cortejo. Minha irmã se somava àquela tristeza. Eu cutucava a Lúcia: “Pergunta, pergunta!”. Para meu azar, a expressão de tristeza e decepção da minha irmã era inversamente proporcional ao triunfo que se desenhava na minha face, porque faltando cinco metros para terminar a passarela, um torcedor veio em minha direção e disse: “tô sentindo cheiro de corintiano!”. Agarrei no braço da minha irmã e logo revelei: “Ela é palmeirense! Ela é palmeirense!”. O moço não se deu por contente —- nada o deixaria contente naquele diz: “e você?”

Eu, bem, eu tinha abaixo o rio Tietê, à frente a Marginal, tava logo ali, a cinco metros da rota de fuga. Então, arrisquei: “Eu? Eu sou corinthiana, graças a Deus!”. E corri o máximo que eu podia em direção ao shopping.

Naquela tarde, a Lusa havia vencido o Palmeiras por 2 a 0

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Vanessa Guimaraes de Mendonça é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva suas lembranças e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e assine o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Avalanche Tricolor: têm empates e empates

Grêmio 1×1 Palmeiras

Brasileiro — Arena Grêmio

Ferreira comemora em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Foram sete empates com o deste domingo —- o terceiro em casa. Alguns saímos na frente e cedemos. Outros saímos atrás e recuperamos. Fizemos bons jogos ainda no início da retomada do futebol e empatamos. Fizemos jogos medíocres e empatamos, também. Vitórias foram duas e derrotas apenas uma no Campeonato Brasileiro. Como os empates são a constância nessa competição, é deles que falo com você, caro e raro leitor desta Avalanche. 

Dependendo a sequência, tem empate que é bom. Pra ter ideia, no começo do campeonato éramos dos poucos times invictos, com uma vitória e quatro empates seguidos —- muitos não gostavam do fato de sairmos de campo apenas com um pontinho conquistado, ainda assim a ideia da invencibilidade persistia. A primeira derrota veio e a conta se inverteu. O que até então era mérito —- cinco jogos sem perder —- virou fardo —- cinco jogos sem ganhar.

Dependendo o momento do campeonato, comemora-se empate, também, afinal, um ponto pode representar um pé mais próximo do título, da conquista de uma vaga ou fora da zona de rebaixamento.

Avalia-se o empate ainda de acordo com o adversário. É com quem se disputa posição? Menos mal que conseguimos segurá-lo. É com quem vem de baixo? Pode ser desperdício. É com quem está em cima? Tá valendo. 

Nem sempre é o fator casa —- se é que este ainda existe desde a pandemia — que serve para a análise de quanto vale um ponto na tabela. Lembra que empatamos com o Flamengo no Maracanã? Foram dois pontos desperdiçados pela condição do jogo. No de hoje, foi um ponto conquistado, sem dúvida.

O momento na temporada, a sequência que teremos daqui para a frente —- especialmente levando em consideração a Libertadores —- a escalação e a performance do time, fizeram justo o placar. 

Com jogadores baleados fisicamente e suspensos disciplinarmente, Renato mexeu na estrutura do time e montou uma equipe mais consistente atrás. Sem alguns dos seus principais nomes —- Geromel, Kannemann, Maicon, Jean Pyerre, Pepê e Everton —- fez partida equilibrada até o fim, com domínio da bola e chegando ao ataque bem mais do que o adversário

Renato teve a humildade —- há quem não consiga enxergar esta qualidade no nosso técnico —- de compreender que o momento que passamos é de altíssima responsabilidade. Depois da derrota no meio da semana, com time que não expressou sua alma de Libertadores, assistimos em campo a jogadores abnegados em suas funções, mesmo sabendo dos limites de uma equipe desfalcada. Estivemos diferentes na escalação e no ânimo —- esse foi o melhor sinal deste domingo.

O gol sofrido foi resultado da necessidade de soltar o time um pouco mais e tentar os três pontos — a fragilidade defensiva apareceu e pagamos o preço. Sair desta partida com derrota teria um custo muito grande para o Gre-nal da Libertadores. Abriria espaço para a pressão de corneteiros, críticas nas redes sociais e especulação  na imprensa.

Aí, apareceu Ferreirinha: Aldemir dos Santos Ferreira, 22 anos, camisa 47, 1,73 de altura, canela fina, cara de guri e futebol de moleque. Depois de oito meses em banho maria por desacordo contratual com o Grêmio, o menino entrou em campo nos três últimos jogos, sempre no segundo tempo e por pouco tempo. 

Tem-se a impressão de que a perna ainda não faz o movimento com a mesma rapidez que o cérebro imagina para se safar do adversário e correr em direção ao gol, mas, claramente, tem talento e tem estrela —- marcou o gol de empate de cabeça, da única maneira que jamais imaginaríamos sendo ele minguado diante dos marcadores. Meteu-se na área, foi rápido para se desmarcar e deslocou a bola distante do goleiro e quase no limite da trave.

Saímos de campo com mais um empate, mas esse tem um peso melhor do que a maioria dos outros. Veio com um time muito modificado; com jogadores que lutaram muito em campo; com dedicação até os minutos finais que permitiu a recuperação no placar; contra adversário que chega forte na competição; e oferecendo um pouco de tranquilidade para pensarmos no que realmente interessa no meio de semana: a Libertadores e o Gre-nal. 

PS: sem contar que me livra de ter de ouvir chacota de um bando de amigos e colegas de trabalho palmeirenses, na segunda-feira.

Avalanche Tricolor: uma vitória com os talentos de Everton e Pepê

 

Palmeiras 1×2 Grêmio
Brasileiro — Arena Palmeiras

 

Gremio x Palmeiras

O sorriso da vitória, em foTo de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Vi Renato de punhos cerrados comemorando ao lado do gramado, assim que o árbitro deu o apito final. Maicon repetiu o gesto ao deixar o banco de reservas —- de onde assistiu à parte final do segundo tempo da partida, após se lesionar —- para cumprimentar os companheiros que ainda estavam dentro de campo. Antes, já havia me chamado a atenção a alegria do time na comemoração do gol de Pepê que garantiu mais uma vitória ao Grêmio, neste Brasileiro.

 

Cada cena em seu momento revelava a mesma mensagem e dava a dimensão do resultado desta tarde, em São Paulo. Foi a quinta vitória nas seis últimas rodadas do campeonato, em uma sequência de pontos que fez o Grêmio atropelar os adversários diretos, tomar a quarta posição e se consolidar na faixa que nos leva diretamente para a Libertadores.

 

Sei que o noticiário do futebol neste fim de semana teve todas suas atenções voltadas para uma só partida e um só time —- justa atenção, diga-se de passagem, porque esse time soube transformar dinheiro em talento e talento em perfomance de excelência. E de modo particular, a decisão da Libertadores no sábado ainda nos trouxe de volta a amarga lembrança da desclassificação na semifinal.

 

Diante desse cenário, imaginei que em campo veríamos um Grêmio desatento às suas obrigações. E, convenhamos, boa parte do jogo parecia mesmo. Apesar do domínio da bola, pouco se produziu no ataque. Não lembro de termos proporcionado algum lance de perigo no primeiro tempo. No segundo, o volume de jogo foi maior, mas as chances de gol eram escassas mesmo com algumas jogadas mais próximas da área. Menos mal que nossa dupla de zagueiros vinha fazendo uma partida excepcional anulando qualquer risco de ataque adversário.

 

Até que apareceram nossos talentos individuais.

 

Primeiro, Everton. Já havia arriscado alguns dribles, se livrado de marcadores até encontrar um espaço e correr em direção à área. Na tentativa de mais um drible, sofreu pênalti, cobrou e marcou —— com requinte de crueldade porque provocado pelo goleiro a bater no canto direito, o fez com maestria. Só faltou agradecer pela dica.

 

Segundo, Pepê. O menino Pepê. Entrou quando estava zero a zero. Ajudou a abrir espaço para Everton no primeiro gol, viu o Grêmio sofrer o empate e  aí fez aquilo que tem feito partida após partida. Correu para um lado, correu para o outro, se deslocou para receber, posicionou-se em direção ao gol e quando a bola chegou ao seus pés, foi pura maldade. Por trás dos marcadores, na cara do gol, de cavadinha, tirou a bola do alcance do goleiro que só teve o trabalho de assistir ao espetáculo de jogada. Foi a vez de nós torcedores agradecermos a ele pela pintura de gol e pela vitória alcançada.

 

Alguém arriscou dizer na transmissão da televisão que aquele foi o gol do título, pois com a vitória confirmada minutos antes de a partida se encerrar, o que tornava improvável qualquer virada no placar, o líder do campeonato, que já havia jogado por essa rodada, há duas semanas, não poderia ser mais alcançado por nenhum dos seus concorrentes diretos.

 

Na entrevista, Pepê não caiu na brincadeira dos repórteres. Com a mesma personalidade que entra em campo e decide os jogos, chamou atenção para a importância do gol marcado, pois daria tranquilidade ao Grêmio até o fim da competição na sua meta de estar na Libertadores, em 2020. Aliás, estar na Libertadores pela vigésima vez —- somente mais dois times brasileiros poderão alcançar essa marca ano que vem — e quem sabe conquistá-la pela quarta vez.

Avalanche Tricolor: obrigado, pai!

 

Palmeiras 1×2 Grêmio
Libertadores — Pacaembu-SP

 

 

Gremio x Palmeiras

Everton dispara para o segundo gol em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Eu pedi para você, pai. Antes do jogo começar. Eu pedi para você, pai. Sabia que você não poderia estar mais ao meu lado. Mas eu pedi, pai. Sei lá por onde você andava. Mas quis acreditar que você estava por aí. Em algum lugar qualquer. Prestes a me ouvir. Perto de mim, mesmo que em uma distância eterna. Uma distância que ainda me faz sofrer, sentir dor no coração. Uma dor que amanhã completará um mês.

 

Mas eu precisava que você estivesse comigo em mais essa, pai. Você nunca me faltou quando precisei. Me incentivou a não desistir jamais, mesmo quando percebia que eu não era capaz de fazer mais. Você acreditava. Você me ensinou a acreditar. E, por isso, eu pedi para você, pai: “nesta noite, me dá só essa vitória”.

 

Você sabe o que é estar sozinho por aqui. Isolado em São Paulo. Ouvindo desde cedo a provocação do adversário. Vendo o olhar desconfiado dos que não conhecem a nossa história. Recebendo a mensagem às vezes agressivas. Outras jocosas. Nesta noite nem os meninos estavam ao meu lado, pai.

 

Só não imaginava que você fosse me testar dessa maneira. Aquele gol contra logo no início era para ter me levado para cama mais cedo. Baixado a cabeça. Me preparado para a dureza do amanhã. Mas eu voltei a pedir a você, pai. “Você tá comigo aí, né!?!”, pensei em voz baixa enquanto o grito da vizinhança feria meus ouvidos.

 

Lembrei de quantas vezes você me abraçou nas arquibancadas do Olímpico. Enxugou minhas lágrimas. Mandou eu lavar o rosto, porque estava na hora da reviravolta. E a volta por cima se dava.

 

Demorou pouco para você me mostrar que, sim, você estava por aí. Prestes a me ajudar. Atento ao que eu pedia. Que eu não estava sozinho, não. E o primeiro sinal veio naquela bola jogada para dentro da área e escorada com a categoria de Everton. E se consumou com os dribles incríveis do mesmo Everton. E a conclusão do preciso Alisson.

 

Você não parou por aí, pai. Você se expressou em Geromel, o nosso Mito. Na raça de Kannemann, o nosso Gigante. No talento de Jean Pyerre, o Filósofo da Bola. Em cada um daqueles que vestiram a nossa camisa nesta noite, no Pacaembu, lá estava você, pai. Estava jogando para me fazer feliz, mesmo sabendo a tristeza que ainda sinto pela sua perda.

 

Pai, obrigado!

Avalanche Tricolor: nada está decidido

 

 

Grêmio 0x1 Palmeiras
Libertadores — Arena Grêmio

 

Gremio x Palmeiras

Everton em mais uma tentativa de ataque, em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Foi uma noite dedicada a prêmios, da qual participou a elite do empresariado brasileiro e algumas das duas maiores autoridades política e econômica do país. Coube a mim ser o Mestre de Cerimônia da entrega do Valor 1.000, premiação criada há 19 anos pelo Valor Econômico. Encontrar no palco gente que faz o Brasil andar, com seu trabalho na iniciativa privada, é sempre interessante. Saber que boa parte desta gente está na sua audiência, é gratificante.

 

Um aperto de mão aqui, um abraço acolá. Trocas de palavras amigáveis. Uma brincadeira com coisas do programa de rádio. Outra com o time de futebol. E a noite foi se estendendo. As autoridades, você sabe como são, gostam de vender o seu peixe. E se esforçaram para isso. Às vezes, indo além do tempo previsto —- o que, no fim das contas, já era previsto.

 

A acompanhar-me no púlpito de apresentação a tela do telefone celular que às vezes piscava para me chamar atenção para alguma informação de última hora—- aquelas notícias da política, da economia, do meio ambiente e do esporte, que costumam dominar sites e jornais, programas de TV e de rádio.

 

Foram por esses alertas que me foi contada a história do jogo desta noite pela Libertadores. Sem muitos detalhes, apenas com frases curtas que resumiam nossa situação. Perdemos logo cedo um dos nossos laterais. E isso deixa o lado esquerdo capenga como sabemos bem. De repente, sou informado do prejuízo maior: um gol adversário ainda no primeiro tempo.

 

Do início do segundo tempo para o fim, meu celular não parava de acender. Everton tentou. Everton driblou. Everton se esforçou. Jean Pierre, chutou. Foi falta mas o árbitro não marcou. Foi falta e expulsou. Infelizmente, só não recebi o aviso que mais esperava nesta noite. O Grêmio não marcou.

 

Imagino que muitos dos meus que assistiram ao jogo na Arena ou na televisão saíram incomodados com o resultado e alguns cabisbaixos. Sabem que o desafio na semana que vem será barra pesada, diante da torcida adversária e contra um técnico forjado na nossa casa, que merece todo nosso respeito.

 

Curiosamente, minha sensação é bem diferente — seja porque o jogo me foi contado a conta gotas seja porque a história do Grêmio já me foi ensinada há muito tempo. Cheguei agora há pouco em casa e ainda tirei tempo para escrever essa Avalanche, apesar do adiantado da hora, com a tranquilidade de quem conhece nossas façanhas. E sabe que estamos capacitados a buscar o melhor resultado contra tudo e contra todos.

 

Nada está decidido. E se alguém acreditar que está, cuidado. Melhor não subestimar nossa imortalidade.  

Avalanche Tricolor: David Braz é o tipo do cara que gosta de jogar bola sábado à noite

 

Grêmio 1×1 Palmeiras
Brasileiro — Arena Grêmio

Gremio x Palmeiras

David Braz comemora em foto de Lucas Uebel/GREMIOFBPA

 

 

Lá no Nonoai, bem em frente ao prédio onde o pai morou nos seus últimos dias, tem um mini-campo de futebol com grama rala, goleiras posicionadas e muito bem cercado — foi a forma que os donos do campinho encontraram para impedir que chutes desajeitados façam a bola se perder no riacho que passa atrás de um dos gols, no pátio da paróquia  que fica do lado contrário ou na rua Santa Flora, que corre por uma das laterais, onde os carros costumam andar em velocidade acima da necessária.

 

Nas últimas visitas que fiz ao local, ao estacionar o meu carro em frente ao campinho, chamava-me atenção o fato de todo dia ter gente para jogar. Alguns times mais organizados. Com uniforme e tudo mais. Com direito a resenha na porta do vestiário e ritual ecumênico antes da partida — aquela corrente pra frente que às vezes assistimos nos gramados oficiais. Parece que cada jogo ali jogado era uma decisão.

 

O que mais me intrigava era a turma dos sábados à noite. Isso é hora de jogar bola? Essa gente não tem família para visitar, amigos para badalar ou namorada para … namorar? Sei que essa cena, em Porto Alegre, não deveria me causar estranheza, especialmente depois de já ter assistido muitos times se engalfinhando  nas madrugadas do Rio de Janeiro, lá no Aterro do Flamengo. Afinal, futebol  é para ser jogado quando e onde quisermos. Basta a bola, um adversário que seja e nosso desejo está atendido. Diversão em campo. 

 

Meu incômodo talvez esteja ligado ao meu passado. Quando comecei a frequentar estádios de futebol, jogo de verdade se assistia aos domingos à tarde. Quarta-feira à noite também era aceitável — especialmente depois que meu time passou a visitar as competições sul-americanas, e as copas nacionais ganharam espaço no calendário do futebol brasileiro. 

 

Hoje em dia (e à noite), tem futebol a toda hora. Sábado de tarde, sábado no fim da tarde, sábado no fim da noite. Domingo de manhã, de tarde e de noite. Às segundas, também. Terça, quarta, quinta, não pode faltar. Seja para atender as múltiplas competições que alguns dos nossos times disputam seja para vender todos os jogos à televisão, a bola rola a todo momento aqui no Brasil.

 

Neste sábado à noite — NOVE HORAS DA NOITE — foi a vez do Grêmio e sua torcida comparecem no bairro do Humaitá para mais uma partida pelo Campeonato Brasileiro. Aquele que eu já havia decidido em minha intimidade que só voltaria a tratar aqui nesta Avalanche quando o Grêmio resolvesse disputar de verdade, com time titular, resenha motivacional no vestiário, ritual ecumênico antes da partida  e o desejo da conquista maior a qualquer custo.

 

Quem joga bola sábado à noite? Foi a pergunta que me fiz antes de me ajeitar no sofá e ligar a televisão para ver o Grêmio — sim, caro e raro leitor desta Avalanche, eu tenho família, filhos para cuidar e namorada para namorar, mas neste sábado os compromissos profissionais e pessoais começaram muito cedo e tinham se estendido por todo o dia, então resolvemos descansar em casa em lugar de sair com os amigos. E descansei no sofá assistindo ao Grêmio.

 

Quase me arrependi do programa reservado para esse sábado à noite . Fui salvo pelo bom vinho que saboreei enquanto a bola rolava na Arena e por aquele chute do David Braz, aos 44 minutos do segundo tempo. Assim que bateu na bola, lembrei-me do chutão que costumava partir dos pés daquela turma do campinho do Nonoai que só não alcançava a torre da Igreja ou a profundeza do riacho por causa da cerca. A diferença é que o chute do nosso zagueiro em lugar de ser desajeitado tinha um destino bem melhor: o ângulo do goleiro adversário.

 

Foi, então, que me dei conta: se tem alguém que gosta de jogar sábado à noite, este alguém é o David Braz, especialmente quando o pai dele, Seu David, faz aniversário.

 

Valeu, seu David. O senhor salvou o meu sábado!

 

Avalanche Tricolor: um baita jogo, pena que …!

 

Grêmio 0x2 Palmeiras
Brasileiro – Arena Grêmio

 

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Luan em mais uma tentativa de drible, na foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOGBPA

 

Há muito não se assistia a jogo tão bem jogado como na noite desta quarta-feira.

 

Duas equipes com qualidade no toque de bola, inteligentes na movimentação, agressivas no ataque e com defesas muito precisas. Uma realidade somente possível pelo talento dos jogadores em campo e pela forma como os dois técnicos comandam seus times.

 

O primeiro tempo, em especial, foi um show à parte. De um lado e de outro víamos o resultado de um futebol bem planejado. As equipes chegavam com velocidade à frente, pressionavam a marcação e chutavam muito a gol. Teve bola na trave, bola no travessão, bola espalmada pelo goleiro, bola despachada para escanteio, bola para um lado e para o outro.

 

No segundo tempo, perdemos parte de nossa qualidade no meio de campo, pois nossos dois volantes — que jogam muito acima da média dos demais meio campistas do futebol brasileiro — tiveram de deixar o gramado desgastados fisicamente pela sequência de partida: Maicon no intervalo e Arthur quando já estávamos em desvantagem — e claro que isso pesa, ainda mais que já entramos sem outro pilar deste setor, Ramiro.

 

A diferença se viu no comando do ataque. O deles mais decisivo do que o nosso, apesar de termos dominado o jogo — mostra a estatística que estivemos com a bola muito mais do que eles.

 

A partida que presenciamos na Arena do Grêmio nessa quarta-feira privilegiou o futebol,apesar do excesso de faltas do adversário — mas isso também tem a ver com a qualidade do jogo jogado. Foi o recurso para impedir os avanços do Grêmio.

 

Foi uma baita jogo, pena que … você sabe o quê !

 

 

Avalanche Tricolor: que faça uma ótima viagem!

 

 

 

Grêmio 1×3 Palmeiras
Brasileiro – Arena Grêmio

 

 

Luan

Luan aproveitou partida para ajustar a passada rumo a Libertadores

 

 

É quarta. É no Equador. É contra o Barcelona. É para lá que se volta o pensamento de todo o gremista que se preza. O time embarca na madrugada dessa segunda-feira para a cidade onde começa decidir a vaga à final da Libertadores da América.

 

 

E se alguém esticar o olho com desconfiança para o que pode nos acontecer lá fora, impactado pela tarde deste domingo, que me perdoe: tá na hora de rever os seus conceitos. Como dizia Tio Ernesto, que já foi personagem desta Avalanche outras vezes, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa.

 

 

Você acredita mesmo que algum jogador entrará cabisbaixo no Equador porque os reservas perderam aqui no Brasileiro?

 

 

Gente, os caras estão babando pelo título sul-americano, acordam e dormem pensando na possibilidade de chegar ao Mundial mais uma vez (título que muita gente grande por aí não tem, não é mesmo?). Trocam facilmente o placar de hoje, que terá lugar reservado apenas para as estatísticas, pela possibilidade de conquistarem um lugar na história do clube.

 

 

Nesta temporada, desperdicei pouco tempo para discutir as escolhas de Renato e comissão técnica na escalação de titulares, reservas ou alternativos. E prometo que não irei além de algumas linhas. Sei que tem gente que só fala disso e busca aí a explicação para este ou aquele resultado nas competições disputadas até agora. E já sabe até quem atacar se alguma frustração surgir.

 

 

Vamos pensar juntos, caro e raro leitor desta Avalanche.

 

 

Só em uma competição nós estamos pagando o preço por alternar o time: é o Brasileiro. Mesmo assim, sempre estivemos entre os quatro primeiros colocados e ocupando por boa parte do tempo a vice-liderança. Sem contar que alguns dos pontos que nos separam do líder foram perdidos quando os titulares estavam escalados.

 

 

Abrir mão de titulares não foi o motivo que nos tirou da Copa do Brasil, por exemplo. Essa Copa jogamos com que havia de melhor, ao menos com o que tínhamos de inteiro até a semi-final, quando perdemos para aquele que seria o campeão da competição.

 

 

Na Libertadores, exceção daquele jogo muito bem calculado na fase de grupos, contra o Guaraní do Paraguai, estivemos com nossos principais jogadores e somos o único time brasileiro, vou repetir, somos o único time do Brasil com chance de ser campeão. Todos esses outros que estão por aí se engalfinhando no Brasileiro ou nem se classificaram para a Libertadores ou ficaram pelo caminho.

 

 

Contra o Barcelona, o time vai com o que tiver de melhor. Renato escalará o supra-sumo do seu grupo. Terá inclusive Luan e Michel, que aproveitaram a partida deste domingo para ganhar ritmo e se preparar para o meio de semana. E ele arrancará 110% de cada um dos seus jogadores, pois é para isso que estamos jogando a temporada de 2017. É isso que sonhamos conquistar neste ano, mais uma vez. É isso que nossos jogadores sonharão em conquistar enquanto dormem no avião a caminho do Equador.

 

 

Na mala que está sendo preparada para a viagem não haverá espaço para choramingo, mimimi e rabugice de torcedor. Nossa bagagem, além do melhor futebol que já apresentamos neste ano, só tem lugar para o sonho e o desejo de cada um de nós gremistas.

 

 

Que o Grêmio faça uma ótima viagem a caminho do nosso sonho!

Avalanche Tricolor: risco calculado

 

 

Palmeiras 1×0 Grêmio
Brasileiro – Pacaembu

 

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Grêmio e torcida têm suas prioridades na temporada

 

Nem tanto pelo histórico no Pacaembu, muito mais pelas escolhas feitas. Perder na tarde deste sábado, em São Paulo, era o risco calculado, diante do verdadeiro desafio que temos na temporada. O time escalado era mais qualificado do que aquele que colocamos em campo bem no começo do campeonato, quando também buscávamos outros objetivos e perdemos. Porém, da mesma maneira que antes, o placar de agora se justifica pelo que almejamos amanhã – mais precisamente, terça-feira, na Libertadores.

 

Dia desses, em entrevista ao jornalista Cléber Grabauska, da Rádio Gaúcha, fui perguntado sobre qual deveria ser a prioridade do Grêmio a medida que está tão bem no Campeonato Brasileiro (estamos em segundo), encaminhando classificação na Copa do Brasil (quase na semifinal) e em plena forma na Libertadores (temos a melhor campanha). Respondi que para mim, torcedor nada enrustido, o sonho é a tríplice coroa. Falei sabendo da impossibilidade da tarefa, afinal as competições nesta temporada estão intercaladas e mais longas, exigindo esforço desumano dos jogadores. 

 

Se tivessem me perguntado sobre quem escalar neste sábado, claro que adoraria ver os titulares em campo, até porque a partida era em São Paulo, onde moro e todo revés gremista é comemorado em dobro pelos amigos, colegas e vizinhos – todos torcedores adversários. Quero ganhar sempre, quero ganhar de todos e de qualquer maneira.

 


Como escrevi dois parágrafos acima, porém, eu falo como torcedor; e como tal, tenho o direito de me deslumbrar com o impossível. Renato, que torcedor também o é, tem a responsabilidade de pensar como estrategista, ao lado da comissão técnica, e baseado nos relatórios de desempenho e performance dos jogadores que fazem parte do plantel. Nosso técnico tem consciência que o grupo mesmo reforçado precisa ser revezado, o que torna impraticável a manutenção da qualidade do futebol que tem encantando críticos. O jeito intenso, de velocidade, com passe preciso e domínio da bola exige esforço e jogadores em momento técnico precioso. Nenhum time do Brasil conseguiria manter esse desempenho de alto nível com tantas mudanças de jogadores na equipe escalada.

 

Pagamos nosso preço nesta décima primeira rodada do Brasileiro, assim como já havíamos feito na terceira rodada, também jogando fora de casa. Porém, dependendo do que trouxermos da Argentina, contra o Godoy Cruz, terça-feira, o placar deste sábado pode entrar no balanço final como lucro. Até porque para ser campeão da Libertadores vale qualquer sacrifício.