Avalanche Tricolor: BaitaWaite!

Grêmio 5×0 Pelotas
Gaúcho – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Foto: Lucas Uebel

Martin Braithwaite chegou ao Grêmio no ano passado com uma tarefa ingrata: substituir Luis Suárez — afirmação que dispensa explicação. O dinamarquês logo chamou atenção do torcedor, assim como dos colegas e jornalistas que acompanham o dia a dia do clube. Seu comprometimento com o time era evidente dentro e fora de campo — e olha que o atacante pegou o Grêmio em uma temporada bem complicada.

Partida após partida, Braithwaite, aos 33 anos, tem se revelado melhor e maior. Está longe de ser aquele centroavante que fica cravado entre os zagueiros à espera de uma bola para decidir o jogo. Desloca-se o tempo todo, comanda o ataque e orienta o meio de campo. Leva os zagueiros de um lado para o outro, abrindo espaço para os companheiros na área. Assim como cede a bola nas assistências, também surge para recebê-la em condições de chutar ao gol. Também bate bem pênalti como vimos no fim de semana, no Gre-Nal.

Antes do primeiro gol gremista, nesta terça-feira à noite, Braithwaite já havia propiciado dois ou três lances interessantes com passes velozes e talento no toque de bola. Os dois gols que ele marcou, sacramentando a vitória gremista ainda no primeiro tempo, demonstraram outra qualidade do atacante: o tempo certo para saltar e se impor sobre os zagueiros na bola aérea. Fez os dois gols de cabeça depois de receber cruzamento qualificado de Edenílson.

O início de temporada de Braithwaite nos permite ter esperança de que o ano seja promissor, à medida que Gustavo Quinteros ajuste a movimentação da equipe, especialmente no meio de campo, e equilibre o ataque, que tem funcionado melhor pelo lado direito.

Independentemente do que venha por aí, arrisco dizer que esse dinamarquês, com visual de viking e movimentação de craque, é um BaitaWaite — com o perdão do trocadilho.

Avalanche Tricolor: sobre confirmações, pronúncias e o gol de sinuca

Brasil 0x1 Grêmio

Gaúcho – Bento Freitas, Pelotas/RS

André comemora o gol da vitória em foto de Everton Silveira / Grêmio FBPA

É contra a retranca, o gramado ruim e o torcedor no alambrado. Tem bafo na nuca, correria do adversário e chute na canela, sem direito a VAR. Campeonato Gaúcho é assim mesmo. Já foi bem pior!

Jogar em Pelotas, então, nem se fala. A coisa lá pegava antes de a partida começar. No caminho para o estádio havia pressão. E se você fosse repórter de campo, como fui por algum tempo no início da carreira, tinha de estar disposto a ouvir todo tipo de impropério, porque na melhor das hipóteses você era o adversário a ser atacado. 

Hoje, me parece que a vida dos colegas é um pouco mais simples, apesar das confusões que assistimos na partida deste domingo à tarde, em que os burocratas da federação e os auxiliares do árbitro fizeram algumas trapalhadas diante das substituições de jogadores. Na volta do intervalo, chegaram ao ponto de sacar JP Galvão em vez de Nathan Fernandes. Era o que estava registrado na súmula, segundo o repórter de televisão. Do ponto de vista técnico, talvez até tenham feito melhor escolha.

Gostaria de assistir ao Grêmio com dois jogadores incisivos nas pontas: Soteldo na esquerda e Nathan pela direita. Quando tivemos um não tivemos o outro, o que deixa o time jogando por um lado só e facilita a vida do adversário que se arma para não levar gol. De certa maneira, foi o que se buscou na partida. Esse equilíbrio na movimentação de ataque. Não foi o que se conseguiu. O jogo aconteceu quase todo pela esquerda, onde Nathan esteve no primeiro tempo e Soteldo no segundo.

Não surpreende que o gol tenha saído pelo lado esquerdo. Após ativação de Reinaldo e Soteldo que abriram espaço para Villasanti. Nosso volante uruguaio foi inteligente e preciso. Primeiro, por buscar a jogada ofensiva com um movimento de corpo que deslocou o marcador — me dá nos nervos a frequência com que se prefere recuar a bola, e isso não é só no Grêmio. Depois, pela assistência na medida certa e dentro da área pequena.

André foi quem completou a jogada, marcando um gol de sinuca na segunda oportunidade que surgiu depois que entrou no intervalo. Na primeira, recebeu o cruzamento pelo alto e cabeceou conscientemente, obrigando o goleiro a uma defesa difícil. Na segunda, não deu chance ao deslocar de “prima” a bola bem passada por Villasanti. Nosso atacante ainda participaria de mais um ou dois bons lances ao ser acessado por seus colegas, reforçando a boa impressão que tem deixado sempre que a ele é dado tempo para jogar. Quem sabe não esteja na hora de André sair jogando em um dos próximos compromissos pelo Campeonato Gaúcho.

Lá atrás fomos bem pouco pressionados. Na única intervenção em que foi exigido, em uma excelente cobrança de falta que tinha o endereço das redes, Agustín Marchesin cumpriu seu papel com excelência. É para isso que precisamos de goleiro: nas bolas ordinárias demonstrar segurança, nas extraordinárias, brilhar. 

A propósito: Marchesin é argentino e por argentino que é seu sobrenome deve ser pronunciado com o som de “tche” e não de “que”, como seria se italiano fosse. Ele próprio já recomendou os jornalistas que assim o chamem: “Martchesin” ou “Martche”, para os íntimos.

Ao fim e ao cabo, deixamos o alçapão de Pelotas com mais três pontos na conta, uma performance segura, apesar de não ter sido exuberante, e com subsídios para avaliar alguns jogadores que estão chegando ao clube – casos de Marchesin, Soteldo e Dodi – e outros que estão se firmando no elenco – Nathan Fernandes e André, por exemplo.

A aventura na casa do vô que me levou à leitura

Foto: Pixabay

A casa de meu avô Romualdo, em Porto Alegre, era um mundo a ser explorado. Dois andares, salas e quartos grandes, jardim na frente, corredor largo ao lado e um quintal, com videira e galinheiro, que se estendia até uma pracinha de pedras britadas que servia para quarar a roupa da vó —- e se transformava em campo de batalha dos netos que se atreviam a quebrar a lei do silêncio que imperava no local. Sim, aquele era um mundo em que o silêncio era para ser conservado na medida do impossível.

Minha diversão era desbravar os quartos vazios do andar de cima. Em um deles havia morado minha bisavó e em outro, funcionava uma espécie de escritório do vô. Tinham alguns armários com porta de vidro que atiçavam a curiosidade de quem olhava de fora — lá dentro havia livros-caixa e caixas de papel velho. Minha curiosidade se voltava a uma coleção de livrinhos que só alcançava se puxasse uma cadeira para subir e me esticar até os andares mais altos do armário.

O medo de fazer barulho, de cair e de ser descoberto não era suficiente para impedir minha aventura. Lá de cima pegava um exemplar, botava a cadeira no lugar e corria para o quarto da bisavó, que tinha uma cadeira de balanço ideal para minha leitura. Meu companheiro de aventura era Tintim, o guri jornalista criado pelo belga Hergé. 

Para quem nasceu em uma família de jornalistas, provavelmente não foi o guri de topete que me inspirou a exercer a função quando grande. Mas foi ele quem me fez pegar gosto pelos livros, e com a cumplicidade de meu avô que, apesar de não gostar de barulho, bagunça e aventura dentro de casa, testemunhava de longe minha arte de criança sem reprimenda por saber que havia ali uma ótima causa: estava nascendo um leitor. 

Texto escrito para o projeto Clubinho da Vanguardinha, criado pela Livraria Vanguarda, de Pelotas (RS), para inspirar a leitura das crianças.

Avalanche Tricolor: ver o Grêmio é um convite irrecusável

 

Pelotas 0x2 Grêmio
Gaúcho – Boca do Lobo, Pelotas/RS

 

47378465112_af0db73499_z

Matheus Henrique conduz a bola, em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

Renato não estava no banco. Os titulares não estavam em campo. Classificado antecipadamente e em primeiro, sem qualquer risco, o placar em nada mudaria nossa história neste campeonato — a não ser pela possibilidade de vencê-lo de maneira invicta. Nem a TV ajudava muito: foi preciso perspicácia e troca de informação em rede social para descobrir a partida; aqui em São Paulo, somente seria transmitida em um canal analógico do PPV. Nestes tempos de TV 4K, teríamos de nos contentar com imagem borrada, de baixa qualidade e recursos de câmeras restritos.

 

Convenhamos, o cenário era um convite para deitar mais cedo, recuperar energia para o dia seguinte, quem sabe acordar até mais disposto. Mas relutei em aceitá-lo. Afinal, era o Grêmio que estaria em campo. E, atualmente, com as exceções de praxe, assistir ao Grêmio é sempre muito agradável.

 

Tem um guris que pintam e bordam em campo.

 

Assistir a Matheus Henrique e Jean Pyerre, por exemplo, é genial. Eles conduzem a bola com facilidade, se livram dos marcadores como se estivessem passeando, passam com qualidade e abrem espaço para novas jogadas mais à frente. O baixinho Matheus ainda tem uma capacidade de marcação de dar inveja em qualquer brutamonte que tente passar por ele. E o esguio Jean Pyerre, corre com a elegância dos antigos craques do futebol brasileiro.

 

Se conseguem fazer isso é porque seus colegas estão a altura do futebol jogado por eles e são capazes de reproduzir o modelo de jogo desenhado por Renato, com muita movimentação, deslocamentos para facilitar o passe de primeira, dando seguimento à jogada com toques rápidos, driblando quando é necessário e virando o jogo quando o espaço parece restrito.

 

Resultado: mesmo que o time não seja o titular — e de todas as condições descritas no primeiro parágrafo desta Avalanche –, ver o Grêmio em campo é um convite irrecusável, motivo de alegria para este torcedor e, imagino, para todos vocês torcedores gremistas e amantes do bom futebol.

 

Na noite dessa quarta-feira, além de todas as boas notícias, foi muito legal ver Galhardo de volta no lado direito e, especialmente, Thaciano jogando com vitalidade e esbanjando talento no meio, a ponto de ter sido o autor do primeiro gol, participado do arranque para o segundo e quase tendo marcado um outro que seria antológico.

 

Foi tão legal assistir ao Grêmio na noite de quarta, que acordar de madrugada nesta quinta-feira chuvosa em São Paulo tornou-se fácil.

Avalanche Tricolor: Renato é a cara do Grêmio

 

 

Brasil PEL (0) 0 x 3 (4) Grêmio
Gaúcho – Estádio Bento Freitas/Pelotas-RS

 

 

ezgif.com-video-to-gif-2.gif

 

 

Renato é a cara do Grêmio. O Grêmio é a cara de Renato.

 

Mistura inspiração e transpiração. Luta pela vitória com a garra que se espera dele. Trata a bola com a generosidade que ela merece. É debochado quando necessário. Paciente para decidir. E definito quando precisa.

 

Renato fez isso enquanto esteve em campo. E nos deu os maiores títulos que poderíamos almejar na nossa história. Lutava bravamente contra seus marcadores. Tinha coragem para enfrentar a violência dos que tentavam lhe parar. Da mesma forma, partia para cima deles e os driblava sem perdão.

 

Como técnico, o tempo lhe deu lições. Sua coragem, o fez persistente. Sua audácia, permitiu que novos valores surgissem e jogadores desacreditados se tornassem gigantes. Sua inteligência, reuniu todos esses fatores e nos fez campeões.

 

Houve quem duvidasse da sua capacidade de devolver ao Grêmio a hegemonia estadual diante da decisão no início da temporada de preservar o grupo principal – acertada decisão diante dos desafios de 2018. Falou-se inconsequentemente em rebaixamento e os menos atrevidos, em desclassificação. Renato apostava: decidam as outras sete vagas, uma é do Grêmio.

 

Foi do Grêmio, como apostou Renato, e com a classificação encarrilhou uma goleada atrás da outra. Chegou ao segundo jogo de toda a etapa final com a vaga seguinte praticamente garantida.

 

Nesta final, foi cruel com o Brasil: 7 x 0 no placar agregado. Fora o show.

 

O Gaúcho, conquistado nessa tarde de domingo, faz parte de um ciclo de ouro que se iniciou com o retorno dele ao clube.

 

Devolveu a Copa do Brasil ao Grêmio 15 anos depois. Nos trouxe de volta a Libertadores e a Recopa Sul-Americana após 22 anos. E agora o Gaúcho que há oito não conquistávamos.

 

O Grêmio é a cara de Renato. Renato é a cara do Grêmio.

 

E é no Grêmio que ele decidiu ficar. Obrigado, Renato!

 

Avalanche Tricolor: saldo positivo em empate, no Bento Freitas

 

 

Brasil 1×1 Grêmio
Gaúcho – Bento Freitas/Pelotas

  

 

33423344136_bfd3b5dd22_z

Ramiro voltou a marcar, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA


 

 

Tem alguns recantos do Rio Grande que dão saudades. Pelotas é assim. Assim também é o Bento Freitas, estádio onde já fui torcedor e repórter – cada coisa ao seu tempo, às vezes ao mesmo tempo. Assisti a algumas partidas do Grêmio na carona da Veraneio que levava para o interior a equipe da Rádio Guaíba. E em outras trabalhei como jornalista de rádio pela própria Guaíba, lá pelos anos de 1980.
 

 

A viagem era longa e os jogos duros. Uma das mais fanáticas torcidas do futebol rio-grandense está por lá. E ter essa turma no cangote enquanto se tentava reportar as coisas que aconteciam dentro do gramado era um desafio. Em um tempo no qual o radinho de pilha ficava colado no ouvido do torcedor qualquer informação que colocasse o time da casa sob suspeita era imediatamente respondida aos palavrões.
 

 

Sabe essas coisas que se assiste nas redes sociais? No Bento Freitas, era ao vivo e a cores, como costumam dizer os mais antigos.
 

 

Por tudo isso, ver o Bento Freitas nas imagens de televisão hoje, no início da noite foi curioso, pois me fez lembrar de muitos dos momentos vividos lá em Pelotas. E não me surpreendeu, apesar de ser informado que o estádio está com uma nova ala para a torcida. Time e torcedores disputam cada bola como se fosse a última. E se o árbitro não tiver pulso, a partida corre o risco de descambar para a violência. Intimidar o adversário no berro e no pontapé faz parte do negócio.
 

 

Até que o Grêmio se comportou bem diante de um adversário disposto a tudo. Colocou a bola no chão, trocou passes, se movimentou, fez tabelas bonitas na entrada na área e chegou ao gol inimigo algumas vezes. Marcou em uma jogada típica das partidas encrespadas: Ramiro, Ramito – novamente ele – não teve medo de dividir uma bola na entrada da área e meteu o pé do jeito que dava; a bola desviou no zagueiro e encobriu o goleiro.
 

 

Pena nos ter faltado precisão nos chutes, termos encontrado um goleiro inspirado e tomado o gol de empate ainda no primeiro tempo. Merecíamos mais sorte.
 

 

Diante do resultado final e da posição em que estamos ao fim da sétima rodada do Campeonato Gaúcho, o placar pode ser comemorado – apesar de esse negócio de comemorar empate ser esporte preferido de uma outra turma que está mais embaixo – aliás, bem embaixo – da tabela.
 

 

Meu maior temor nesta noite era mesmo colocar mais alguém na temida lista dos lesionados, principalmente pela forma violenta com que o jogo se desenvolvia. Já bastava ter sido informado que Marcelo Grohe foi obrigado a ficar no banco porque sentiu lesão muscular antes da partida.
 

 

Manter a integradade dos nossos titulares e nos mantermos no alto da tabela a poucas rodadas do fim desta fase foram o saldo positivo desta jornada.

Avalanche Tricolor: pelo direito de ser aquele garoto mais uma vez

 

Grêmio 2 x 1 Brasil-Pelotas
Gaúcho – Arena Grêmio

 

 

Havia um menino, desses que entram em campo de mãos dadas com os jogadores, que me chamou atenção no momento em que o Grêmio ainda cumprimentava sua torcida. Estava com a camisa tricolor, calções pretos, meias brancas, vestido de jogador. O cabelo tinha o mesmo corte (estranho) usado por Pará, e ficou ao lado dele boa parte do tempo, o que me faz crer que o lateral gremista seja um dos seus ídolos, assim como também é um dos meus. Não foi o estilo da cabeleira, porém, que fez o garotinho se destacar em meio a tantos mascotes que acompanharam o time na saudação inicial. Com o menino havia um sorriso sincero e emocionado, que brilhou ainda mais quando, com os braços erguidos, imitou o gesto dos jogadores. O olhar voltado para a arquibancada era de uma alegria contagiante. Deveria estar ali imaginando que todos os gritos e aplausos com que os torcedores recepcionaram o time fossem para ele. Deve ter por alguns segundos sonhado que assim que o árbitro soasse o apito, ele é quem estaria correndo atrás da bola, driblando os adversários, chutando a gol, livrando seu time dos perigos com cabeceios lá no alto e carrinhos rente à grama. Sei lá o que estava pensando aquele menino, mas me fez relembrar as vezes em que meu pai me ofereceu a oportunidade de ter as mesmas sensações ao entrar em campo de mãos dadas com Loivo, Anchieta e tantos outros craques que admirei.

 

De volta à arquibancada, o garotinho de cabelo estranho e rosto tomado pela alegria deve ter comemorado com seus pais ao ver Dudu, jogador com tamanho e apelido de menino, furar o mais complicado bloqueio defensivo que já enfrentamos nesta temporada e dar início a vitória que nos levou à final do Campeonato Gaúcho. Saltitou sem conter a emoção quando percebeu que o talento de Luan, outro dos nossos meninos, que já havia sido decisivo no primeiro gol, seria capaz de superar a mais violenta marcação que encarou na sua carreira com a camisa tricolor e, sem tituberar, roubar a bola, driblar dois zagueiros, o goleiro e fazer o gol que sacramentou nossa conquista. Aquele menino, o da torcida, com certeza sofreu nos minutos finais diante da possibilidade de um revés, fechou os olhos nas bolas alçadas para nossa área e vibrou com as bolas despachadas lá de dentro. E voltou a sorrir, se emocionar, quem sabe chorar, quando o jogo se encerrou e todos seus desejos (ou quase) se concretizaram nesta noite de futebol.

 

Eu, assim como ele, também me emocionei, vibrei, sofri e sonhei. Sonhei em ter o direito de ser aquele garotinho ao menos mais uma vez.

Avalanche Tricolor: é de pequeno que se aprende

 

Grêmio 3 x 0 Pelotas
Gaúcho – Estádio do Vale (Novo Hamburgo)

 

 

Muitos anos depois, voltei a praticar golfe, nesse sábado. Sinceridade? Praticar não é a palavra certa. Fui lá no campo tentar acertar na bolinha com o mínimo de jeito. Foi sofrível. Algumas tacadas sem destino nem classe deixaram evidente a necessidade de treinar muito antes de me arriscar à frente de amigos e conhecidos. Um deles tentou me convencer que o fato de ter me iniciado no esporte mais tarde (mais velho, quis dizer) torna a tarefa complexa, principalmente por não me dedicar como deveria nem buscar orientação de um professor para corrigir vícios: não se preocupe, dá pra aprender ainda, me incentivou. Tenho certeza que a garotada de casa, que começou bem mais cedo a jogar golfe, mesmo sem treinar com frequência, se voltar aos tacos não encontrará dificuldade. Os jovens conseguem se adaptar muito mais rapidamente e não esquecem os gestos aprendidos quando criança. Por isso se costuma dizer que nunca se esquece como andar de bicicleta. Se aprende quando pequeno. Ao crescerem, somam ao hábito à experiência e alcançam bons resultados.

 

Vamos deixar o golfe e a bicicleta para outra oportunidade, mesmo porque o espaço aqui se dedica a falar de futebol, especialmente o do Grêmio, time que, por sinal, teve como grande mérito, na tarde deste domingo, a juventude. Decidido a descansar os titulares para a difícil tarefa do meio de semana, quando enfrentaremos o Newell’s Old Boys, na Argentina, pela Libertadores, Enderson Moreira escalou time bastante jovem com média de idade de 21 anos – segundo os cálculos do matemático Osvaldo … nada disso, segundo a minha calculadora mesmo. O adversário já rebaixado, mesmo sendo tradicional e retrancado, só foi capaz de segurar a meninada no primeiro tempo quando o esforço gremista era desperdiçado em bolas alçadas para dentro da área – muitas sem destino definido, parecendo minhas tacadas no dia anterior – para tentar encobrir o ferrolho que o técnico visitante montou. No segundo tempo, porém, colocou-se ordem na casa e os meninos brilharam, em especial Jean Deretti, 20 anos, que entrou e marcou dois gols, decidindo a classificação em primeiro lugar no grupo, o que nos permitirá decidir em casa a vaga à semifinal do Campeonato Gaúcho. No primeiro, aproveitou jogada iniciada por Everaldo, 22 anos, e no segundo de Yuri Mamute, 18 anos. Coube a um garoto mais novo ainda concluir a goleada: Everton, de apenas 17 anos, que chutou a gol depois de novas participações de Everaldo e Mamute.

 

Apesar de o jogo ter dado a aparência de treino, foi muito bom saber quantos jovens estão prontos (ou quase) para representar o Grêmio. Alguns dos que estiveram em campo com o time devem, inclusive, se juntar a delegação que vai para a Argentina e, se não saírem como titulares, podem entrar no segundo tempo. Dudu, 22 anos, Alan Ruiz, 20 anos, além do próprio Jean Deretti são exemplos de jogadores novos que têm condições de desequilibrar a partida e ajudarem o Grêmio a voltar com a liderança do Grupo da Morte, na Libertadores.

 

Seria ótimo que estes meninos aprendessem desde pequeno a serem campeões pelo Grêmio.

 

Foto: Bruno Alencastro/Agência RBS

Avalanche Tricolor: vitória de risco

 

Pelotas 1 x 3 Grêmio
Gaúcho – Pelotas

 

 

Com time titular, parece, não tem para ninguém. Mesmo no estádio acanhado e no gramado pequeno, o futebol gremista fluiu com tranquilidade, no fim da noite de quarta-feira. A tal ponto que, após sete minutos e alguns pontapés, já vencíamos por 1 a 0 com Barcos seguindo serelepe à marca dos 28 gols que pretende registrar nesta temporada – espero apenas que não os gaste todos no Gaúcho. Apesar de uma queda de ritmo e de termos aceitado a pressão adversária em seguida, não foi preciso mais do que um susto – que veio com aquela cobrança de falta na trave e no rosto do Dida – para colocarmos a bola no chão, trocarmos passe com rapidez e nos deslocarmos com velocidade, características que têm sido aprimoradas a cada partida. Resultado: Wellington apareceu livre para fazer 2 a 0 antes do fim do primeiro tempo. Não foi coincidência que nosso terceiro e definitivo gol tenha ocorrido, mais uma vez, com Elano recebendo a bola por trás da linha de marcação e precisando apenas de categoria para chegar às redes. É evidente que há um entrosamento natural dos homens que jogam mais à frente, provocado pelo talento e a habilidade no passe e isto será um diferencial neste ano.

 

Se tudo foi tão simples na segunda vitória em dois jogos pela Taça Farroupilha onde está o risco que marca o título desta Avalanche? Na forma violenta e desleal com que os adversários resolvem parar o talento gremista. Longe de mim reclamar da marcação dura e da força às vezes desproporcional na tentativa de roubar a bola. Quem me acompanha neste espaço sabe que não fujo de um bom carrinho, mas que Zé Roberto e Barcos, os principais alvos, correm sério risco em campo, não tenho dúvida. Ano passado fomos prejudicados por algo semelhante com a lesão que praticamente afastou Kleber. Não podemos permitir o mesmo, agora, quando os desafios são muito maiores. Então, a saída é voltar com os reservas para o Gaúcho? Necessariamente não, mas pressionar os árbitros a cumprirem a regra e punirem com severidade quem comete atentados em campo, pois até mesmo para ser um troglodita é preciso algum talento.

Avalanche Tricolor: Na física e no esporte tem de ter esforço e inteligência

 

Pelotas 1 x 0 Grêmio
Gaúcho – Pelotas (RS)

 

 

Fui um aluno mediano, pouco disposto a afundar os olhos nos cadernos escolares e lamento não ter aproveitado melhor o que os professores teimavam em me ensinar na sala de aula, na época do Rosário, escola católica, muito bem estruturada e na qual passei ótimos momentos da minha adolescência, boa parte deles nas quadras de esporte e na praça ao lado, onde os amigos se encontravam sobre as coisas que mais interessavam na nossa vida – futebol, basquete, baladas e namoradas, não necessariamente nesta ordem. Apesar de tudo e devido a tudo, tenho boas lembranças daquela época e tenho certeza de que alguns professores, também. Era melhor nas matérias de humanas do que de exatas (o que já sinalizava um caminho para a comunicação), por isso foi um enorme desafio sentar a mesa com meu filho mais velho, o Gregório, que pediu ajuda para a prova de física, neste domingo à tarde. Tive dificuldade para entender algumas fórmulas, mesmo prestando atenção no enunciado dos exercícios. Mas conversamos bastante, conferimos com os resultados oficiais e, após algum esforço, ouvi dele que estava pronto – disse, na verdade, “quase pronto”, pois sempre foi muito exigente com seu desempenho e talvez tenha sido isso que o levou a receber honra ao mérito em todos os anos até aqui. Isto e, lógico, sua capacidade intelectual.

 

Ao terminar os estudos, liguei a televisão e a partida já havia se iniciado. Logo percebi que à tarde não seria das melhores, pois antes de nossos méritos aparecerem, o adversário tinha se aproveitado de nossas carências. Houve algumas tentativas, muita bola jogada para dentro da área e uma quantidade enorme de escanteios, a maioria concluída com um cabeceio sem sentido. Estava evidente que a fórmula usada para chegar ao gol não era a correta, haja vista os poucos momentos em que, realmente, as chances de empate foram claras. No fim da partida ainda ouvi Léo Gago reclamar da falta de esforço do time e estaria totalmente certo se completasse a fala chamando atenção para a ausência de criatividade. Para que se tenha a melhor avaliação possível e o resultado seja alcançado é preciso equilibrar raça e inteligência, suor e talento, esforço e criatividade. O bom de toda esta história é que o desempenho final não depende de apenas uma prova, mas do conjunto da obra. Espero que o Professor tenha habilidade para cuidar disso.