Onde está nossa segurança?

 

Por Julio Tannus

 

Nem sempre uma matéria jornalística consegue cobrir a realidade total dos fatos.

 

Neste último domingo, dia 16/09/12, o jornal Folha de S. Paulo publica em sua primeira página a matéria “Revista elege 30 praças para relaxar, malhar e esperar a primavera”. E inclui na lista a Praça Pôr do Sol (Praça Cel. Fernandes Pinheiro) no bairro de Alto de Pinheiros. Não pude me esquivar de rememorar a epopeia minha e de minha família nesse local.

 

Moramos, eu e família, de 1973 a 1986, na Rua Haiti no Jardim Paulista. Uma rua bucólica, totalmente habitada por residências, até que começaram a derrubar casas e construir edifícios. Fui um dos “últimos moicanos”. Assediado insistentemente por corretores, só faltava minha casa para viabilizar a construção de um edifício. Eu resistia e argumentava que compramos a casa para morar e não para comercializar. Até que não houve mais jeito. Vendi a casa e mudamos para Alto de Pinheiros, em uma casa em frente à Praça do Pôr do Sol.

 

No primeiro domingo lá, cerca das 21 horas, ouvi um barulho e me dirigi à sacada em frente à praça. E vejo a seguinte cena: um homem apontando um revólver na cabeça de um jovem, e atirando em seguida. De súbito, minha reação foi correr imediatamente para a porta a fim de socorrer o jovem. E aí me dou conta da minha imprudência. Volto, entro em contato com a polícia que, ao chegar, verifica que o jovem está morto.

 

Sento frente ao computador e redijo uma carta endereçada aos moradores. Distribuo cerca de 150 cópias convocando-os para uma reunião em minha residência. Resultado: fundamos a Associação Amigos da Região da Praça do Pôr do Sol.

 

A Praça, até então chamada por alguns de Praça dos Namorados, era um verdadeiro paraíso durante o dia, com exceção da presença de um carro, que ficava estacionado junto a um telefone público. Com o tempo, descobri que se tratava de um traficante de drogas que ficava aguardando pedidos de compra. Durante à noite era um inferno; dezenas de carros estacionados, em cujo interior ficavam casais namorando. E, nas calçadas, traficantes vendendo drogas e aficionados se drogando. A algazarra era tanta que eu passava várias noites “em vigília”.

 

A partir de um determinado momento passei a procurar meios para solucionar essa situação. Prefeitura, Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, Polícia Militar, Guarda Civil Metropolitana, CET-Companhia de Engenharia de Tráfego. Cheguei a levantar fundos entre os moradores a fim de cercarmos a Praça. Nada feito. Segundo a Prefeitura, seria necessário transformá-la em Parque, e para isso só com a aprovação da Câmara Municipal.

 

Consegui me reunir com o Presidente do CET para a colocação de placas com “proibido estacionar”, e fui atendido. Só que a situação continuou a mesma, pois ninguém obedecia à sinalização e não havia nenhum policiamento para coibir a desobediência.

 

Então nossa reivindicação (moradores, escolas, paróquia) passou a ser “um posto da polícia na Praça”. Tivemos uma reunião na própria Secretaria, mas resultou em vão.

 

Cansado de tanto tentar sem resultado, resolvemos (apesar de ser contrário) contratar um esquema de segurança particular, com viatura percorrendo 24 horas a vizinhança da Praça. Todos em casa, ao chegar à noite, ligávamos para a viatura que ficava nos aguardando na porta de entrada para nos garantir um mínimo de segurança. Para minha casa em particular, contratei um sistema de segurança com a Siemens, que incluía, além de cerca elétrica, uma comunicação permanente com a central.

 

Resolvi também recorrer à imprensa. Em um domingo à tarde, juntamente com uma jornalista, fomos à residência do então Secretário de Segurança Pública. Ao chegar, coincidentemente, o próprio Secretário estava chegando com a família. Sua mulher, ao tomar conhecimento, nos disse “nem aos domingos vocês nos dão descanso!”. Ao que a jornalista retrucou “e os bandidos nos dão sossego aos domingos, dondoca?”.

 

Passei a noite de sábado, 27/02/2004, para domingo, com repórteres do jornal Diário de S. Paulo, na minha residência. Na segunda-feira, dia 1/03/2004, sai a seguinte reportagem na primeira página do jornal:

 

“Veja como o tráfico age em praça de bairro nobre”, com a foto de um carro da PM e traficantes vendendo drogas.

 

Nessa mesma segunda-feira, à noite, uma coronel da PM toca a campainha de casa. E me diz “por que o senhor está denegrindo nossa corporação? Qual a sua fonte na imprensa?” E eu respondo “por que a senhora ao invés de nos propiciar segurança vem me ameaçar?”.

 

No fim dessa semana, viajei com minha mulher para Ilha Bela. Na época o celular não tinha sinal na Ilha. No domingo à noite, ao chegarmos à balsa, havia vários recados no celular, alertando que nossa casa tinha sido assaltada. Espalharam todas as nossas roupas, derrubaram muros, etc. Chamei a polícia científica e verificaram que foi “coisa de profissional”. Não localizaram nenhuma impressão digital.
Para finalizar: vendemos a casa e mudamos para um apartamento. E, no início deste ano de 2012, a três edifícios do nosso, houve um arrastão.

 

Onde está nossa segurança!

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier) e escreve às terças-feiras, no Blog do Mílton Jung

O poder de polícia do Governo e o chip nos automóveis

 

Faz muito tempo que li o livro que George Orwell, seu autor, chamou de “1984”. Foi a última criação literária daquele que o jornal americano Observer considerou “o maior escritor do século XX” e foi publicado em 1949, pouco antes da sua morte. Na sinopse lê-se que “Winston, herói do romance, vive aprisionado na engrenagem totalitária de uma sociedade completamente dominada pelo Estado, onde tudo é feito coletivamente, mas cada qual vive sozinho. Ninguém escapa à vigilância do Grande Irmão, a mais famosa personificação literária de um poder cínico e cruel ao infinito, além de vazio no sentido histórico”.

 

Fiz esse nariz de cera, pensando no “poder de polícia”. Em sentido amplo, o “poder de polícia” significa toda e qualquer ação restritiva do Estado em relação aos direitos individuais. Lembrei-me do livro de George Orwell. Talvez meus raros leitores, se é que os possuo, caso tiveram a oportunidade de ler “1984”, entendam que comparar certas iniciativas do nosso Estado com o que se lê no romance é um tanto exagerado. Não lhes tiro a razão. Ocorre, porém, que existem, pelo menos, alguns motivos para que o “poder de polícia”, existente, hoje, no Brasil, se aproxime do enredo da obra.

 

Irritou-me, por exemplo, saber que, por decisão do Conselho Nacional de Trânsito, todos os veículos fabricados aqui, até agosto de 2013, terão, entre os seus acessórios obrigatórios,nada mais nada menos que rastreador e bloqueador. Não bastasse isso, que encarecerá o preço final dos veículos, o pior da decisão do CONTRAN está no fato de que a privacidade dos motoristas será invadida, uma vez que um dos sistemas prevê a presença de um chip no para-brisa do carro, capaz de fornecer informações para uma central de dados sempre que o veículo passar pelas antenas colocadas em ruas. Vejam só o que pode provocar o chip bisbilhoteiro: pagamento de pedágio por quilômetro rodado, limitar áreas de circulação (como em São Paulo) e multas quem não as respeitar, traçar políticas viárias. Ah,o chamado Siniav vai flagar quem estiver com o licenciamento vencido.

 

Tanta tecnologia não prevê, entretanto, ao que eu saiba, melhorias na fiscalização das ruas e rodovias por meio do aumento de efetivo das forças policiais, sejam federais ou estaduais, visando a diminuir o número de acidentes fatais. No Rio Grande do Sul, morreram, até junho, mais de mil pessoas, número igual ao registrado no primeiro semestre de 2011. Somente no fim de semana do Dia dos Pais 25 pessoas perderam a vida em acidentes. Seria interessante que o Governo brasileiro, ao contrário de inventar moda, aumentasse a remuneração do pessoal da Polícia Federal que, na terça-feira, dia em que escrevo este texto, que será lido na quinta, estava disposto a entrar em greve de protesto por melhores salários.

Como enfrentar o desafio da violência nos centros urbanos

 

 

Na revista Época São Paulo que chega às bancas nessa sexta-feira, a violência na cidade está estampada na capa com a pergunta: “O que há de errado com a nossa segurança?”. A edição traz análise de especialistas, relato de casos e entrevista com o secretário de Segurança Antonio Ferreira Pinto. A maior autoridade estadual no setor diz, entre outras coisas, que “toda vez que eu paro num semáforo, tenho a preocupação de não ser vítima de um assalto”. Na edição de julho, em minha coluna mensal na revista, já havia chamado atenção para o fato de ser um risco entregar a nossa segurança ao Zé da Rua (pode ser ao Totonho da Avenida, também) hábito comum de muitos de nós que moramos por aqui. Desculpe-me se pareço repetitivo, mas voltarei a falar sobre segurança pública neste post, a medida que os dados oficiais ratificam a informação de que os casos de violência estão em alta no Estado, em especial na Capital e arredores.

 

Um dos livros que li nos dias em que estive de férias foi “Os Centros Urbanos – A maior invenção da humanidade”, do economista Edward L. Glaeser, publicado pela Campus. Ele é defensor ferrenho dos aglomerados urbanos e entende que tem de se investir no aumento do adensamento pois é nas cidades que o mundo e o ser se desenvolvem melhor. Discordo de alguns de seus pensamentos, impostante ressaltar, mas o trabalho é bastante rico de informações que nos ajudam a pensar. No capítulo quatro, Glaeser fala da segurança como um dos maiores desafios para a vida nas cidades e apresenta uma série de fatos históricos como a transformação de Paris em Cidade-Luz, no século XVII, “porque o homem que dirigiu a força policial lançou um amplo projeto de iluminação das ruas para tornar a cidade menos perigosa à noite”.

 

Para o autor, “as cidades também incentivam os crimes porque as regiões urbanas apresentam densa concentração de vítimas potenciais. Enquanto é difícil o ladrão ganhar a vida em uma estrada solitária do interior, as multidões no metrô propiciam grande quantidade de bolsos para depenar. Eu estimei em uma ocasião que o retorno financeiro de um crime médio era aproximadamente 20% maior dentro de áreas metropolitanas do que fora delas”.

 

E quais as soluções viáveis para encarar este desafio?

 

Glaeser não é taxativo nas respostas e trabalha com muitas variáveis. Identifica a importância do policiamento comunitário ou da ação de inteligência como a desenvolvida pelo agente de trânsito, Jack Maple, que marcou em uma mapa do Sistema de Trânsito de Nova York os pontos em que os roubos eram mais comuns, na década de 1990. Técnica apurada pelo uso de tecnologia como o CompStat, um sistema estatístico computadorizado que permite ver qual crime está ocorrendo e agir em conformidade.

 

O autor também avalia dados resultantes do aumento no policiamento ou na rigidez das penas aos criminosos. “Muitos trabalhos estatísticos apoiam a ideia intuitiva de que o crime cai com o aumento das punições, embora muitos estudos tenham constatado que o crime cai mais em resposta ao aumento das taxas de captura do que em resposta a sentenças mais longas”, escreve.

 

A liberação no uso de armas pelos cidadãs comuns, sempre anunciada como a salvação da lavoura, serve apenas para aumentar o número de suicídios seja nas cidades seja nas áreas rurais, constata Glaeser.

 

Tornar as cidades mais prósperas e menos violentas a partir do combate a pobreza foi outra ideia abordada pelo economista: “Infelizmente, ninguém sabia realmente como criar dois milhões de empregos novos para os desempregados urbanos, como resolver o problema da pobreza de forma geral ou como conter o declínio da industrialização urbana durante essa época”, disse ao se referir aos números propostos por uma comissão de estudiosos, nos anos de 1960, nos Estados Unidos.

 

Se Glaeser também não é capaz de oferecer uma fórmula pronta para reduzir a violência nos centros urbanos, fica evidente que a resposta é muito mais complexa do que as propostas simplistas e fantasiosas que costumam aparecer nos momenros de crise ou de delírios eleitorais. E contra estes devemos estar preparados, também.

Da perna errada da mulher ao gesto certo dos catadores

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Duas notícias, por serem incomuns, chamaram, particularmente, a minha atenção. Confesso que me senti tentado a voltar a um assunto que já preencheu alguns textos anteriores por mim digitados para este blog: trânsito. Escrever sobre tal tema, porém, é chover no molhado. Torna-se repetitivo. Referindo-se a acontecimentos de segunda-feira, por exemplo, Zero Hora, na sua vigésima sexta página, pôs em manchete: ”Trânsito fatal. Dia trágico deixa dez mortos”. Trata-se isso de alguma novidade? Claro que não. Acidentes trágicos registram-se com indesejável frequência. Geralmente envolvem automóveis e caminhões. Com a chusma de veículos que circulam por este país, muitos comprados em longas prestações, acidentes graves já não são de espantar. Perdão. Passo de imediato para o que hoje fez a minha cabeça.

 

Maria Nunes da Silva, de 87 anos, quebrou a perna esquerda ao cair no pátio de sua casa. Esperou 13 dias para fazer uma cirurgia pelo SUS – que novidade! – a fim de corrigir a fratura. Enquanto aguardava, ficou internada no Hospital Municipal de Novo Hamburgo. A operação, depois da pressão feita por um de seus filhos para que o procedimento fosse realizado sem mais tardança, ocorreu na última sexta-feira. Cirurgia executada,foi colocada em sua perna uma placa de platina. Ao perguntar a uma enfermeira do bloco cirúrgico se estava tudo bem com a sua mãe, foi informado tinha dado tudo certo com a operação da perna direita de dona Maria. Perna direita?!? Caiu a ficha da família. A senhora idosa havia quebrado a perna esquerda e não a operada. Erro crasso! E eu me pergunto como um médico pode se enganar tão redondamente, logo ele que teve diante de seus olhos o corte cirúrgico que, imagino eu, não mostrava osso rompido na perna direita da paciente. O Hospital Municipal de Novo Hamburgo, em nota da sua direção,confirmou o erro. O prontuário indicava lesão no fêmur da perna esquerda. No dia seguinte, ou seja, no sábado, dia 8 do corrente, Maria Nunes da Silva teve operada a perna certa. “Falha Humana”, rezou a nota da direção. O caso foi parar na Delegacia Distrital de Novo Hamburgo.

 

Caso de polícia virou, também, o episódio protagonizado pelo casal de catadores de lixo que achou, em sacos, 20 mil reais roubados do restaurante Hokkai Sushi, aí em São Paulo (lembro que escrevo de Porto Alegre e, por isso, o aí), Rejaniel de Jesus Silva Santos e Sandra Regina Domingues, que andou sendo ameaçado de morte pelos ladrões. No Brasil, pelo jeito, ser honesto como esses dois, apesar dos maus exemplos dados por gente grandona de nossa República Federativa, é altamente perigoso. Ainda bem que os proprietários do restaurante assaltado, em razão das ameaças sofridas pelos dois honestíssimos atores deste episódio urbano, os colocaram em um hotel, ofereceram-lhes um curso de qualificação para trabalharem em uma das unidades da empresa ou, se preferirem, lhes darão passagem a fim de que se mudem para o Maranhão, onde vive a família de Rejaniel.

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Se tem Romarinho, não precisa se preocupar com os ataques

 

Texto publicado originalmente no Blog Adote São Paulo

 

Deixei minha casa, como faço toda semana, ainda de madrugada e com neblina forte no meio do caminho até a rádio, que tem sede no bairro de Santa Cecília, região central de São Paulo. Passei por ao menos dois postos de polícia e os cones estreitando as pistas, as viaturas com luminosos ligados e os homens de prontidão chamavam a atenção pelo comportamento atípico. Geralmente, esta parafernália está recolhida e os policias parecem mais relaxados, mas desde que ataques criminosos se iniciaram tendo bases da PM como alvos e uma série de ônibus foram incendiados, a situação mudou. Justifica-se esta atitude, pois à sociedade o que se sinaliza, quando os homens responsáveis pela segurança são vítimas da violência, é a nossa total fragilidade diante da violência.

 

Antes de chegar à redação, ouvi a participação do repórter Eliezer dos Santos, que faz a cobertura jornalística durante a madrugada na rádio CBN, na qual informava que mais uma base, esta na Zona Sul, havia sido atingida por oito disparos que teriam partido de uma dupla que estava em uma moto. E que, na noite anterior, havia subido para dez o número de ônibus incendiados, o último em Ferraz de Vasconcelos, cidade da Região Metropolitana. Ao mesmo tempo, motoristas da companhia Via Sul, que rodam na região do Sacomã, tinham recolhido os ônibus temendo serem atacados.

 

Diante deste cenário de medo que impera na cidade nos últimos dias, fui surpreendido mesmo é com o diálogo descrito pelo jornal O Estado de São Paulo que, na noite de quarta-feira, recebeu ligação do Secretário de Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto. Ele queria explicar porque havia pedido dois dias de licença do cargo em um momento de tanta tensão. Estava na Argentina para assistir ao Corinthians, seu time do coração, na final da Libertadores, compromisso que, segundo o próprio secretário, não o impedia de estar em contato, por telefone, com os comandos das duas polícias, a Militar e a Civil. Sem contar que se houvesse alguma urgência, estaria a apenas três horas de avião de São Paulo, rapidamente chegaria por aqui. Ferreira Pinto também tranquilizou a população – ao menos tentou – ao declarar que não havia nenhuma preocupação com os últimos acontecimentos, assim como não haveria provas de alguma conexão entre as ocorrências policiais das últimas semanas.

 

Pelo que pude entender, a preocupação mais imediata do secretário era com a Bombonera e o ataque do Boca. Mas, convenhamos, para encarar estes dois inimigos, Ferreira Pinto e toda a torcida do Corinthians tinham para defendê-los Romarinho.

Minas Gerais não divulga dados de violência há mais de um ano

 

Próximo do prazo em que União, Estados e municípios devem garantir o acesso à informação sobre serviços prestados a qualquer cidadão, conforme lei que entra em vigor dia 16 de maio, o que assistimos em alguns lugares beira o absurdo e nos remete a um passado em que a sociedade tinha de ser subserviente à autoridade. Em Minas Gerais, a Polícia Militar emitiu memorando no qual proíbe que os comandantes de batalhões repassem estatísticas de criminalidade aos jornalistas. A ordem talvez se justificasse se a intenção fosse centralizar as informações para serem oferecidas de forma organizada, mas não parece ser o caso, haja vista que o governo mineiro não divulga os dados desde janeiro do ano passado. Depois que o jornal O Tempo publicou o texto do memorando 5008/2012, o governo de Antonio Anastasia (PSDB) prometeu divulgar à sociedade os índices de criminalidade no estado, o que deveria ter acontecido nessa segunda-feira, mas decidiu adiar a divulgação em virtude de acidente de carro envolvendo o secretário de Defesa Social, Lafayette Andrada, sexta-feira passada, no Rio de Janeiro. De acordo com o Tempo, em Minas, apenas dados de crimes não violentos, como furto, ficam disponíveis ao público.

 

A Lei de Acesso à Informação, sancionada em 18 de novembro de 2011, determina que todo órgão público municipal, estadual e federal, inclusive autarquias e fundações, deverá garantir o acesso a informação sobre o serviço prestado a qualquer cidadão. Os dados tem de estar publicados em sites oficiais.

Pais têm medo de deixar filhos irem de bicicleta para escola

 

Por Milton Ferretti Jung

 

Ainda não tinha ouvido falar em um programa chamado Caminho da Escola. Li sobre ele, nessa terça-feira, na Zero Hora, e achei-o muito interessante. Ele está sendo colocado em prática não somente no Rio Grande do Sul, mas em outros estados. Ao todo, por enquanto, foram entregues 100 mil bicicletas até o final de 2011. Vou me fixar, porém, no que está ocorrendo, no meu estado,o Rio Grande do Sul, com o Caminho da Escola. A matéria do jornal explica que três municípios daqui receberam bicicletas visando a beneficiar estudantes que precisam caminhar de dois a 12 quilômetros para que cheguem às suas escolas ou aos pontos onde embarcam em ônibus escolares. Barros Cassal ganhou 400, Marcelino Ramos, 150 e Santo Cristo, 450.

 

Não chega a me espantar, preocupado que sou com questões de trânsito, que a secretária municipal de Educação de Marcelino Ramos, Isabel Ramich, esteja encontrando dificuldades para encontrar famílias dispostas a permitir que os filhos participem do programa. Os meus caros e pacientes leitores já devem ter adivinhado o que leva os pais a temerem que seus filhos pedalem até suas distantes escolas. Claro, a preocupação deles é com a segurança das crianças. Essas, evidentemente, encontrarão veículos pelo caminho. Fosse eu pai de família em uma cidade beneficiada pelo Caminho da Escola, com certeza, pensaria seriamente na questão da segurança e não sei se aceitaria que um filho meu usasse bicicleta para ir ao colégio.

 

Seja lá como for, os pais interessados no programa que, repito, é interessante, devem procurar a prefeitura de sua cidade para fazer o cadastro e assinar contrato de cessão de uso. Os prefeitos precisam, igualmente, entrar em contato com a Polícia Rodoviária Estadual para que, por meio de palestras de seus integrantes, as crianças, que utilizarão as bicicletas, recebam lições sobre segurança, principalmente se terão de pedalar por estradas vicinais. Há, afinal, muitos motoristas que, esses sim, não aprenderam a respeitar sequer os adultos que andam de bicicleta. O que dizer, então, quando se trata de ciclistas infantis? A propósito, a PRF bem que poderia promover palestras. E atenção! Nesta sexta-feira começa a Operação Carnaval 2012 da Polícia Rodoviária Federal. Ponham suas barbas de molho, apressadinhos!

 


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

A Cracolândia no círculo eleitoral

 

Por Devanir Amâncio
ONG EducaSP

O que fazer com os traficantes e viciados !?[humildade para ouvir]

A operação Centro Legal deflagrada pela Prefeitura e governo do Estado para ‘implodir’ a Cracolândia poderia ser chamada de Operação Maquiagem. Sem sucesso na captura de traficantes influentes, tem passado a forte impressão de luta por sobrevivência política dos principais envolvidos na operação. O tapa de Geraldo Alckmin e Gilberto Kassab no visual da Cracolândia conseguiu uma vitória: mexer com o governo federal, que terá agora a oportunidade de responder sobre a viabilidade da construção do ‘Hospital do Crack’ para o tratamento dos viciados.

Vale lembrar que, há três anos, conforme registrou a imprensa, a proposta do hospital foi entregue ao ex- presidente Lula em seu tradicional almoço de fim de ano com os moradores de rua e catadores. Na ocasião, o senador Eduardo Suplicy foi o porta-voz do documento assinado por viciados em crack e álcool. A notícia é que muitos dos que assinaram o documento morreram por causa do vício..

Alertamos a senhora presidente Dilma Roussef. Cuidado com os traillers ou cabanas – consultórios para competir com as tendinhas da prefeitura. Podem dizer: ‘é só para começar’. Limitar-se a este improvisado aparato federal poderá ser um fiasco de saúde pública. Fiasco como os cometidos pela Prefeitura de São Paulo nas construções das primeiras tendas no Parque Dom Pedro II, de condições sanitárias precárias; para uma cidade tão rica! Tendas e galpões vulneráveis como a grande solução para recuperar uma legião de viciados da maior Cracolândia do Brasil. Dentro da Tenda de Santa Cecília, há pouco tempo usuáriosforam flagrados pitando crack. O que parecia ser normal para algumas pessoas quando foram questionadas.

Senhora presidente, em São Paulo uma sucessão de fiascos e improvisos levaram o povo paulistano a desacreditar profundamente da classe política. Num vazio de ideias e de gestão tudo é improvisado, desde a implosão desnecessária de um prédio na favela do Moinho a caixas tapadas com toquinhos de madeira em frente à Coordenação de Subprefeituras, no Vale do Anhangabaú, centro de São Paulo. Quando os fiascos não se apresentam de forma grave surgem de forma violenta e odiosa contra os direitos humanos: acordar mendigos na madruga fria de São Paulo com spray de pimenta. É preciso sempre lembrar, manter a chama acesa para que tais atrocidades não se repitam.

Senhora presidente, a presença do Governo Federal em São Paulo deveria superar as espectativas[…] numa dimensão social de projetos permanentes em defesa da vida de cidadãos doentes que precisam de hospital. Ah!, mas não querem se tratar. Neste sentido a Constituição Federal é cristalina. Os doentes de crack respondem ou não pelos seus atos ? Então vale o que está escrito na Constituição.

Se querem prender os chefões do tráfico do Centro, acione o serviço de inteligência da Polícia Federal. Talvez as três polícias, civil, militar e federal trabalhando na mesma direção o serviço de segurança e proteção renderá, prenderão rápido os destruídores de vidas (sem descuidar das fronteiras, por onde tem entrado com facilidade a droga), e toda sociedade ganhará.

A Cracolândia não deve se transformar num mero instrumento de disputa de poder[…].

Senhora presidente Dilma Roussef, falta aos gestores de políticas públicas a visão de futuro para enfrentar a epidemia de crack. Por que deixaram o crack tomar conta da cidade de São Paulo e do Brasil? Para que se não cometa injustiças , e a culpa recaia apenas sobre os governos atuais -, particularmente em São Paulo o crack é problema social antigo, visto com descaso por sucessivas administrações. Depois de tantos anos, tendas e galpões! Cá entre nós, falta ou não visão de futuro e vontade política para enfrentar o problema ?

Nem mesmo os mais preparados escritórios de marketing político – contratados a peso de ouro pelos candidatos – justificariam o tamanho descaso das diferentes esferas de poder com o avanço do crack em São Paulo e no Brasil.

Até quando vamos assistir aos espetáculos de política tupiniquim ? Só falta alguém ter a ideia de carregar setenta ‘traficantes’ numa jaula, em desfile, pelas principais ruas da cidade às vésperas da eleição. Afinal, o poder está em jogo e descobriram que a Cracolândia é uma mina de voto.

Querem combater o tráfico de droga e tratar dos viciados em São Paulo ? É preciso ter a humildade para ouvir os que têm posições claras e respeitáveis sobre o assunto. Converse e ouça com atenção e anote tudo o que disser Antonio Luiz Marchioni (Ticão), Drauzio Varella ,Edson Ferrarini, Flávio Gikovate, Hans Stapel, Izilda Alves, Jaime Crowe, José Vicente, Maria Rita Kel, Maria Stela Graciani, Ronaldo Laranjeira e Wálter Maierovitch.

Aziz Ab’ Sáber e Manoel Del Rio defendem que o governo Federal desaproprie o antigo quartel do Parque Dom Pedro, e faça ali um hospital-escola, um centro integrado. O prédio está abandonado e deteriorado. Todas as pessoas citatas como referência são solidárias e quando solicitadas atendem até cidadãos anônimos.

Ouvir educadores sociais de rua e ex-viciados é fundamental. Não precisa ser ex-usuário celebridade.

A ilustração do texto fica por conta da inspiração e criatividade de algum desenhista/artista plástico solidário. Um policial aponta uma espingarda calibre 12 ou fuzil para um mendigo deitado no canteiro central florido da avenida Rio Branco e diz: “Vamos , levanta.” O andarilho se levanta tossindo com o cobertor nas costas e sai sem rumo..

Viagem segura e com cinto

 

Por Milton Ferretti Jung

Mais vale prevenir do que remediar. Em se tratando de trânsito, convém lembrar, remediar nem sempre é possível. Nesse feriado prolongado, que culminou com os festejos da virada do ano, mesmo que o fato não tenha sido divulgado com destaque pela mídia do Rio Grande do Sul, a Operação Viagem Segura, realizada pela Polícia Rodoviária Federal, Comando Rodoviário da Brigada Militar e Departamento Estadual de Trânsito, foi executada com sucesso. É verdade que, apesar disso, 2012 começou com uma tragédia, cujo palco foi a Estrada do Mar. Três carros envolveram-se em acidente que provocou duas mortes. A motorista de um dos veículos estava visivelmente embriagada e não possuía carteira de habilitação. O automóvel, que ela dirigia, se chocou frontalmente contra outro veículo que, por sua vez, atingiu um táxi.

Neste réveillon, nas 60 horas em que se desenvolveu o programa preventivo criado pelas autoridades, foram aplicadas, por hora, 91 multas. Na mesma época de 2010, em que a maioria dos infratores abusou da velocidade, o número de multas foi superior: 126 por hora, em três dias de rigorosa fiscalização. Agora, falando apenas nas estradas gaúchas, controladas pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar, uma irregularidade chamou-me a atenção: foram multados 353 motoristas, porque eles ou passageiros dos veículos que dirigiam, não faziam uso do cinto de segurança. Eu imaginava que esta infração fosse das menos expressivas, mas me enganei. Ficou em segundo lugar, com 353 autuações, perdendo somente para as ultrapassagens proibidas, que levaram 484 motoristas a perder pontos na carteira de habilitação.

O motorista e o passageiro que fica ao seu lado, em geral, atam seus cintos. Os que viajam no banco traseiro, porém, porque não sabem o perigo que correm e aquele a que expõem os que estão à sua frente, não se dão ao trabalho de afivelar este verdadeiro salva-vidas. Sempre que ando de táxi, não só trato de usá-lo, mas peço a quem viaja atrás, que aperte o seu. Não quero correr o risco de ter a cervical rompida por um passageiro catapultado desse local, caso ocorra uma colisão ou, até mesmo, uma freada brusca e forte. Seja lá como for, torço para que as autoridades responsáveis pelo trânsito, em cada fim de semana, pelo menos, repitam a Operação Viagem Segura.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Blitze e blitzes contra a violência no trânsito

 

Por Milton Ferretti Jung

Desculpem-me se me torno repetitivo nestes textos de quintas-feiras, mas vou correr o risco de ser visto como chato. Preciso voltar a escrever sobre trânsito. Creio que numa das primeiras abordagens a respeito deste tema salientei que as autoridades policiais, seja por carência de efetivo, seja por outras razões com as quais não chego a atinar, costumavam patrulhar as rodovias durante os feriados prolongados, quando o interessante, por motivos óbvios, seria que fizessem isso mais frequentemente. Agora, entretanto, ao menos nos 25 pontos em que o número de acidentes fatais, nas estradas gaúchas, é maior, policiais estaduais e federais, numa iniciativa inédita no Rio Grande do Sul, se concentrarão nos feriadões deste fim de ano (ainda somente nesses feriados festivos), visando a tentar impedir que motoristas assanhados ponham em perigo a vida dos que sabem se comportar.

Serão realizadas blitze conjuntas da Brigada Militar e Polícia Rodoviária Federal, contando com o apoio da Civil, em casos que exijam prisões em flagrante, já no feriado der 15 de novembro. Os Federais, com efetivo de 170 agentes – o normal é cem – estão contando que conseguirão dissuadir os habituais mal intencionados de praticarem tropelias de toda a espécie, lembrando, desde já, que os policiais, na hora de multar, serão inclementes. Nos pontos mais críticos das rodovias a fiscalização será intensificada. É possível que esta força-tarefa vença a batalha que travará nos estertores de 2011, especialmente nos feriados de Natal e Ano-Novo. Particularmente, no entanto, eu gostaria que o rigor no controle do trânsito nas rodovias não só do Rio Grande do Sul, mas do país inteiro, não se restringisse à realização de blitze em feriados e, sim, fosse posta em prática durante o ano inteiro ou, que seja, na maior parte dele.

Já que tanto digitei a palavra blitze, permitam-me uma digressão em torno dela: não consigo entender que tenham aportuguezado o verbete, mas mantido o plural na língua original – a alemã – contrariando a nossas gramática. Blitzkrieg, em alemão, significa guerra-relâmpago. Os germânicos formam o plural de blitz acrescentando “e”. O lógico para nós, brasileiros, seria pluralizar a palavra acrescentando-lhe “es”,isto é, blitzes.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)