De graça e agradecimento (revisitado)

 

Por Maria Lucia Solla

 

 

O fim do ano chega e bate indiscriminadamente na porta do bom e na porta do não tão bom, do amigo e do não tão amigo assim. Vem arrastando um balaio cheio de lembrança bordada com emoções que fazem sorrir outra vez, e trazendo outras que a gente prefere esquecer. Não há como fugir. É encarar e selecionar, acalentando e nutrindo as que têm um doce sabor e espantando e tentando evitar aquelas que atacam e viram do avesso o fígado e arredores. 

 

Presente de Natal então assombra grego e troiano. É um sufoco que evito porque vem com tarja de compulsório. Todo ano penso em me organizar e criar o presente certo para cada um, só que dezembro chega, me pega de surpresa, me passa uma rasteira certeira, e acabo não fazendo nada nesse sentido. Na verdade não gosto da ideia de presente de Natal.

 

Pois é nesse emaranhado de emoções que procuro aquietar corpo e mente, e agradeço. Agradeço e agradeço mais uma vez vez.

 

Agradeço ao Arquiteto de Tudo e a seus auxiliares. Agradeço aos mestres aprisionados em corpos mortais e aos que não posso ver com os olhos do corpo. 

 

Agradeço a meu pai e minha mãe, e a seus antepassados, pela oportunidade da vida. 

 

Agradeço ao pai dos meus filhos e a seus pais e antepassados, a vida dos meus tesouros mais preciosos. 

 

Agradeço aos amores que passaram pela minha vida e que me enriqueceram e me ensinaram a amar cada vez mais, quando achava que já sabia tudo sobre amor, respeito e admiração, prazer e dor. 

 

Agradeço aos companheiros de trabalho, superiores, pares e subordinados, que passaram e ainda passam pela minha vida, com quem aprendi e aprendo muito. 

 

Agradeço aos anjos em forma de gente, que me impulsionam no caminho do aprendizado e da abertura da minha consciência. 

 

Agradeço à minha tia Inês, que é a minha família presente, cuidadosa e carinhosa em todos os momentos, com quem divido alegrias, tristezas, vitórias e frustrações, e que me ouve com um amor que só ela sabe oferecer. 

 

Agradeço aos que eram amigos e deixaram de ser, pelos mais diversos motivos. Enquanto tinham amor para dar, me inundaram com ele; quando o amor secou, bateram em retirada, deixando lições que se eu souber aproveitar, cresço ainda mais. 

 

Agradeço aos professores, pelas descobertas fascinantes de um mundo cada vez maior e fascinante.

 

Se decidisse listar as bênçãos recebidas inesperadamente e as cultivadas com determinação, preencheria páginas e páginas. 

 

Se por outro lado listasse as desventuras e frustrações, não conseguiria preencher uma só.

 

Vou domando meu ego cheio de manha, e reconhecendo que sei ainda muito pouco da vida, e que há muito para aprender, mas é exatamente isso que me dá o impulso necessário para continuar vivendo. Quero mais.

 

E você?

 

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

 

(Este texto foi postado, originalmente, neste blog, em 16.12.2007)

 


Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

De passado que não vira presente

 

Com a primavera, quem volta ao Blog é nossa companheira Maria Lucia Solla, que aproveita de suas lembranças para retomar a caminhada ao nosso lado. Maria Lucia sempre esteve conosco aos domingos e estes seguem reservados a ela, apenas desta vez, provocado pelo tema importante das eleições que se aproximam, fiz questão de tê-la de volta ainda nesta segunda-feira:

 


Por Maria Lucia Solla

 

Olá,

 

falávamos de partidos, lá em cima no terraço, meu filho e eu, e lembrei de um texto publicado no blog do Mílton Jung, em 28.10.07, portanto há cinco anos e onze meses. 

 

Este é o texto:

 

De partidos partidos
 

 

dom, 28/10/07

Olá,

 

Tem-se discutido muito, e acaloradamente, sobre partidos e parlamentares e sobre o fato de estes trafegarem por aqueles, ao aceno da mínima vantagem. Ser da direita ou da esquerda não é mais uma questão de sentar-se à esquerda ou à direita do plenário, como em idos tempos, não é, Dr. Anderson? Os partidos por sua vez querem que o mandato e o parlamentar lhes pertençam para terem munição, estamos em guerra e não percebi. De todo modo, fica claro que se foi o tempo de convicções e de construção da democracia. Romântica e femininamente, imagino um tempo em que alguns governavam – leia-se trabalhavam – enquanto outros davam duro fiscalizando. De olho, implacáveis. Ao menor deslize, a turma no comando pulava miúdo. Mas se houve esse tempo, durou até que alguém percebesse que, por lá, dava para dar menos duro e ganhar mais mole.

 

E foi como água mole em pedra dura que a idéia fixa dessa meta se infiltrou e se alastrou feito praga, por todos os lados. A gente, então, começou a vender os próprios pensamentos, a entregar as paixões, crenças e a própria identidade, em troca de não viver, já que isso dá um trabalho danado. Ficou anestesiada de tanto fingir que estava tudo bem, para não sair do conforto da poltrona. E a coisa foi crescendo tanto e tão velozmente, que se romperam os diques e a lama transbordou, nos cobriu e sufocou. E a gente? Acostumou.

 

Pense comigo, nosso país é de terceiro mundo, somos pobres, não temos água, luz, estradas, transporte, saúde pública, educação, e nem comida para todos. E o que fazemos? Mantemos aparências esfarrapadas com uma criadagem política despreparada, sem experiência, sem cultura nem educação, que oferece, em bandejas de plástico, migalhas aos seus patrões, e nós os tratamos a pão-de-ló, com água mineral e bebida importada, servidas por copeiros em bandeja de prata, mesa farta, carros de luxo, um batalhão cada vez maior de subalternos, e avião importado.

 

Minha sogra abomina quem come mortadela e arrota peru. Pois é, dona Ruth, parece que nossa nação não anda bem de digestão.

 

Enquanto isso, países de primeiro mundo, com população mais rica, com pleno acesso a educação e saúde, e onde nem se imagina o que seja a dor de passar fome, têm muito menos empregados do que nós.
Voltando aos partidos, eles também geram aberração e mensalão. É o tal do cada um por si, do salve-se quem puder, coisa de republiqueta de quinta.

 

Portanto, enquanto nós, viventes do mesmo chão, continuarmos a contratar a corja, ela continuará oferecendo privilégios e benesses, aos que estão abaixo, acima, à direita e à esquerda, para eternizarem a farsa e o assalto miúdo às nossas carteiras e à nossa dignidade, as quais temos entregado de bandeja, como se nada valessem. Não é para isso que supostamente evoluímos como seres humanos, e que somos considerados cidadãos

 

Pense nisso, e até a semana que vem.

 

Maria Lucia Solla é professora, terapeuta e autora do livro “De bem com a vida mesmo que doa”, lançado pela editora Libratrês. Aos domingos, está neste blog com textos sobre o cotidiano.

Meu presente de Natal

 

Por Milton Ferretti Jung

Quase às vésperas da data principal dos cristãos, entre os quais me incluo, elegi, para compor este papo de quinta-feira, um assunto natalino, embora de cunho pessoal. Lembro, com saudade, dos antigos Natais, o que não tem nada de espantoso. Afinal, creio que é imenso o número de pessoas que comunga de sentimento idêntico. As melhores lembranças, é claro, as minhas, pelo menos, são as que me remetem para a infância e a adolescência, épocas da vida em que aguardamos com ansiedade,  por dois dias do ano: 24 e 25 de dezembro. O Dia Santo de Guarda é aquele no qual recordamos o nascimento de Cristo, mas era – e ainda é – na véspera dele que os presentes esperavam por nós ao pé da árvore de Natal.

Eu gostava, como não, de todo e qualquer mimo natalino. Ano após ano, no entanto, torcia para que o meu pai lembrasse daquele mais querido por mim: uma bicicleta. Minha irmã, quatro anos mais nova, já ganhara a sua bike como presente de Natal. Fiquei magoado e, confesso, com inveja dela. Fez por merecê-la ao se sair bem no ano letivo, coisa que não ocorreu comigo, fato não incomum na vinha infância, adolescência e juventude. Ainda bem que ela costumava concordar em me emprestar a sua Monark. Era meu consolo. Mirian, este o seu nome, quando ganhou sua bicicleta, passara de ano, no colégio, com notas altas. Ao contrário, eu havia ficado em segunda época em matemática, o que acontecia quase todos os anos. Imaginei que talvez pudesse ganhar a minha no Natal de 1945.

Meu pai colocou à minha disposição um vizinho, que era professor universitário de física. Com este reforço, ele acreditava que me salvaria de uma repetência. E o mestre, realmente, deixou-me em condições de evitar o pior. Passei. Na esquina da rua em que morava minha família havia uma loja que vendia máquinas de escrever, calculadoras e outras coisas do tipo. Um belo dia, olhando pela vitrina, o que vi? Uma belíssima bicicleta. Sequer me atrevi a entrar para vê-la de perto. Nunca, evidentemente,eu ganharia uma igual. Talvez, quem sabe, teria de me contentar com uma usada, como uma Opel que foi emprestada ao meu pai por um amigo, mas apenas para ser aproveitada na nossa casa, na praia.

Para minha surpresa, a alegria paterna com o meu avanço no colégio valeu-me não uma bicicleta, mas a que eu vira na loja da esquina, nada mais, nada menos do que uma Centrum, importada da Suécia. Possuía guarda-lamas e aros de alumínio, pneus do tipo balão, bagageiro com caixa lateral de ferramentas, banco com molas bem mais macias do que as encontradas em bicicleta modernas. E de cor azul, como se soubesse que o seu dono seria um gremista fanático. A linda Centrum ainda roda de vez em quando, pilotada pelo  meu filho Christian, seu herdeiro. Valeu a pena esperar por ela.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Os presentes de Natal

 

Paz e reflexão : )

O relógio não havia chegado às quatro da tarde e todos estávamos de cabelo lambido e roupa impecavelmente nova. A casa cheirava à colonia que completava o banho dos três irmãos ansiosos pelo passeio prometido. Na véspera de Natal, sair com o pai até o Morro da TV era a senha para o Papai Noel chegar e deixar os presentes embaixo da árvore. Mal aproveitávamos a bela vista de Porto Alegre que aquela altura toda nos proporcionava, queríamos mesmo é ver o tempo passar rápido, voltar e nos deliciar com os brinquedos e roupas comprados por minha mãe.

Hoje, a árvore está vazia, não há presentes nem passeio ao Morro. E não pense que o trânsito complicado, o shopping lotado e o tempo sempre escasso justificam a ausência das caixas coloridas que costumam decorar a sala. Deixamos pra lá as roupas dos filhos, a bolsa da mãe, a traquitana eletrônica que sempre agrada o pai, os DVDs, livros e lembrancinhas que satisfazem as visitas e parentes. Estas ausências não serão sentidas por ninguém.

Nossos presentes, este ano, não cabiam lá na árvore. Nossas conquistas não estavam ao alcance do cartão de crédito O bem estar que domina nosso espírito tinha preço incalculável, impossível de parcelar, o queremos sempre à vista.

Quando a noite chegar, vamos celebrar a consciência tranquila de quem buscou fazer o melhor, mesmo nas muitas vezes em que este não se realizou. Comemoraremos o equilíbrio sentimental buscado por um, o emprego merecido do outro, a força encontrada pelos que viam dificuldades, o ano saudável que se seguiu após a doença, os filhos que surpreenderam pelo carinho e amadurecimento, o resgate à vida de um ente que não era mais tão querido mas sempre foi amado – ser que descompassado faz uma caminhada que me leva a analogias com o renascimento de Jesus, personagem maior desta festa.

Vamos agradecer à Deus, não mais ao Papai Noel, por ter nos permitido preservar a nossa família e tê-la tornado mais rica de sentimentos. E por todas as demais que cresceram a nossa volta, seja com as trapalhadas típicas de quem está vivo seja com as gargalhadas que proporcionaram.

A árvore está vazia, sim. Nossa festa, porém, está completa. A mesa é farta de bons motivos. E os presentes atenderam todos os pedidos que fizemos neste ano, ao menos os que realmente importam para a vida.

São Paulo fica distante dos irmãos e do pai que permanecem no Sul – minha mãe morreu há muito anos, infelizmente. Claro que tenho saudade daqueles Natais em que subíamos o Morro a espera de presentes, mas sou muito feliz pelos que tenho recebido nestes anos todos. E por todos aqueles que os proporcionaram.

Feliz Natal !

Na mala do Heródoto (II)

Longe de imaginar que este presente comprado durante a viagem de férias era saudade de seu público. Não é o radio que Homer Simpson sintoniza. Mas por ser um de seus personagens preferidos, Heródoto não pensou duas vezes para comprar mais este mimo para os pés. Da mala do professor, sobre a qual estamos revelando algumas curiosidades, saiu uma coleção de pantufas e a da foto é a das mais engraçadas.

Fazer o bem e não esperar nada em troca? Como assim?

Por Abigail Costa

Se prega muito nos sermões de domingo na igreja,  se discute nas conversas com os amigos e se lê  com frequência nos livros de auto-ajuda….

Faça o melhor para quem está ao seu lado, sem esperar nada em troca…. Nada!!!!! Como assim, por exemplo?

Que mentira mais camuflada essa…. Ora, claro que espero!!!!!

Não digo que depois de um favor aguardo por um presente embrulhado em caixa colorida com o laço vermelho….. Não se trata disso.

As “coisas” materiais, até são bem-vindas.  É até educado retribuir favores com flores e bombons… Acredite, isso é permitido.

Agora, de verdade, bom mesmo é aquele agradecimento sincero, aquelas palavras que quando saem da boca  da pessoa, de tão verdadeiras,  soam como refrões de melodia romântica.

O tão falado “de coração aberto”.

Isso é reconhecimento, estreitamento de laços de amizades. Quem recebe se fortalece ainda mais para passar adiante o processo de doação.

Imagine só, você oferece, só você agrada, só você dá….. E nada em troca?????

De onde se tira e não repõe seca. Não acontece na nossa conta bancária?

O saldo também pode ficar devedor nos nossos sentimentos.

Agradeça, elogie, dê um abraço.

Aposto que nesse momento tem alguém esperando um telefonema seu.

Vai dizer que isso não é bom?

Abigail Costa é jornalista, escreve toda quinta-feira aqui no blog e transcreve os conselhos que durante toda sua vida foram responsáveis pela conquista de novos amigos.