Ricardo Young é figurinha carimbada na imprensa brasileira. Daquelas fontes que os jornalistas buscavam quando precisavam de alguém para discursar pela ética e transparência. É empresário bem sucedido, ligado ao Yazigi, empresa que foi do pai dele, e enveredou pelas ações em organizações como o PNBE, o Ethos e o Akatu. Portanto, confiável até provem o contrário.
De repente, o nome dele aparece envolvido com política – perdão, com política partidária e eleição. É lançado candidato ao Senado pelo Partido Verde. E o que era fonte, se acabou. Primeiro porque a lei eleitoral restringe o acesso aos candidatos. Segundo, porque agora ninguém mais olha para ele como um empresário isento, independente e em busca do melhor para todos. Ali está o candidato. Tem interesses eleitorais. E, portanto, corre o risco de ser contaminado pelo bicho mau que contamina os políticos.
É este preconceito e o risco ao anonimato imposto pelas regras que Young enfrenta desde que trocou o papel de empresário pelo de candidato. E, contra isso, é que fala nas poucas oportunidades que tem, como a de hoje no CBN São Paulo.
Quer – e precisa – aparecer para o eleitorado e, assim, nem espera a entrevista começar. Antes mesmo de irmos ao ar, ele já reclamava da dificuldade de se impor em meio a uma concorrência poderosa: “Quércia, Aloysio e Marta são todos políticos profissionais”.
Repetiu a afirmação na entrevista em um ataque direto a seus adversários, coisa rara neste instante em que os candidatos ao Senado, baseados em pesquisas, entendem que a disputa está reservada à segunda vaga, pois a primeira é de Marta do PT – e com isso preferem fazer campanha pedindo o segundo voto, de quem vai com a petista no primeiro.
Acrescentou que defende mudanças na lei eleitoral: tempo igual para os candidatos ao governo e senado, deixando a proporção de acordo com as bancadas para os cargos de deputados estadual e federal, é uma delas. Provocado por um ouvinte, disse apoiar também o voto facultativo. Já havia se apresentando a favor do financiamento público das campanhas.
Ouça a entrevista com Ricardo Young, candidato do PV, no CBN SP
O tom da fala do candidato se mantém igual ao do empresário.
Usou a palavra preferida de 9 em cada 10 candidatos: renovação. Lembrei que o termo está desgastado pois todos os que concorrem ao cargo de senador, presentes no CBN SP, nestas duas semanas, o repetiram, a maioria porém quer apenas mudar nomes, não formas.
Argumentou que o fato de ser o único candidato ao Senado, por São Paulo, a se cadastrar no site do Ficha Limpa e publicar toda a movimentação financeira da campanha (dinheiro que entrou e dinheiro que saiu, com nome dos doadores), é um sinal de mudança.
O partido que representa também mudou, é o que diz. O PV, apesar de ter o meio ambiente como bandeira, historicamente elegeu nomes ligados a outras causas: a religiosa em especial – disse eu. “A cláusula de barreira levou o partido a agir desta forma”, justificou, mas há dois anos começou a corrigir este rumo.
Hoje, o interesse é mostrar que a visão do partido vai além das questões ambientais, apesar de ter feito questão de falar de sua participação nos 18 dias do encontro em Copenhagen, ano passado. E ter “nadado de braçada” quando levado a tratar do tempo preocupantemente seco, na cidade de São Paulo, e as queimadas nos canaviais.
Antes de deixar o estúdio, mostrou outra preocupação. A funcionária da campanha que grava os vídeos chegou quando a entrevista já havia se iniciado. Fez várias tomadas mas ouviu do candidato: “Pensei que você não vinha” Afinal, pra quem tem pouco espaço pra aparecer na campanha, os 15 minutos não podiam ser desperdiçados.