Após ter de retirar das bibliotecas das escolas estaduais seis dos livros destinados às crianças por serem considerados inapropriados, a Secretaria da Educação de São Paulo decidiu fazer uma exposição aberta ao público com os 812 títulos restantes que fazem parte do programa Ler e Escrever. A partir desta quarta-feira, 9 da manhã, os livros estarão à disposição na sede da secretaria para consulta. O secretario Paulo Renato de Souza espera com a medida não ser mais surpreendido com textos de conteúdo adulto publicados em material de apoio às crianças de oito e nove anos da rede pública como ocorreu com os livros “Dez na Área, Um na Banheira e Ninguém no Gol”, publicado pela Via Lettera, e “Poesia do Dia”, organizado por Leandro Sarmatz e publicado pela Editora Ática. Para Paulo Renato, a falha na seleção prejudicou um programa considerado de qualidade e importante no incentivo à literatura, o Ler e Escrever.
Bom Milton, acho que o único que não induz ao assunto futebol, puramente, é Esquina do Esporte.
Abraços Claudio.
sugiro que o nome do programa Esportivo seja: “PING PONG DA BOLA”.
Eu disse que um dia teríamos que tomar conta de tudo isso nesse país, só não imaginei que fosse tão rápido.
Bom, pelo menos o secretário Paulo Renato percebeu que tem muita gente incompetente tomando conta daquilo que não sabe.
O POVO fará isso.
A reportagem da CBN deu conta de que foram gastos R$ 109 mil com esses títulos. Considerando a compra de 1500 exemplares, em média, para cada título, a Secretaria teria pago, por exemplar, ao em torno de R$ 14,00. É, praticamente, o preço de capa praticado pelo mercado. Se houve licitação para compra dos livros, o valor pago, por exemplar, deveria ser muito menor. Ninguém levantou a hipótese de superfaturamento? Como base de comparação, o governo federal paga, em média, R$ 2 ou R$ 3 por exemplar adquirido…
Só falta agora o secretário Paulo Renato dizer o que vai fazer com a aprovação automática nas escolas e a proliferação de faculdades meia-boca, obras dele mesmo quando foi ministro da educação (com minúsculas, porque educação aqui não existe mais).
Hoje estamos inundados por pessoas com formação deficiente. Não quero dizer gente que esqueceu a tabuada do 7 ou a data da proclamação da República, e sim gente que chega ao ensino superior sem saber escrever.
Se nos perguntarmos por que o Brasil continua sendo fornecedor de matériaprima, tendo que comprar tecnologia do exterior, a resposta está aí: como gerar conhecimento sem oferecer conhecimento ao povo?
Abraços,
Grilo D
Falando em educação, escrevi errado “matériaprima”. Depois do puxadinho ortográfico, não sei mais como escrever isso. Mas, certamente, não é assim.
Foi mal…
Grilo D
A nossa literarura infanto-juvenil…
(*) Nelson Valente
A literatura infanto-juvenil tem ocupado um grande espaço nos meios de comunicação de massa, nos últimos anos, devido a fatores históricos como, por exemplo, o bicentenário de nascimento dos irmãos Grimm, o “julgamento” do Lobo Mau por um tribunal de Veneza e o relançamento do desenho animado Branca de Neve e os Sete Anões, apresentado pela primeira vez há 60 anos.
Aqui no Brasil, a literatura infanto-juvenil parece ter alcançado finalmente o seu merecido lugar, com a consolidação das livrarias especializadas que, apesar do pequeno número, mostram que já temos um público definido e interessado. As vendas crescem de modo constante e expressivo.
Também o surgimento da crítica especializada, nos principais órgãos de imprensa, tem contribuído muito para desmistificar uma falsa realidade, antes lida como verdadeira – a de que a literatura infanto-juvenil era um gênero de segunda categoria.
É preciso, também, que o programa Salas de Leitura, das entidades oficiais, seja reconhecido como um dos caminhos para o incentivo à literatura infanto-juvenil, para que seja ampliado. Essa foi uma das poucas oportunidades em que o governo federal, através do MEC, se preocupou com o assunto.
A população escolarizada no Brasil é deficiente, existindo o fato já bastante divulgado de 4 milhões de crianças dos sete aos 14 anos estarem fora das escolas. Para que o país consiga vencer os graves problemas sociais que atravessa, inclusive o da educação, será preciso que se comece na infância a corrigir tais distorções. O incremento do hábito de leitura seria um dos primeiros passos. Os pais devem considerar o livro como um instrumento com que a criança tenha um relacionamento íntimo, no qual vai aprender lições que ajudarão muito na sua formação posterior. Se uma criança não possui o gosto pela leitura na infância, na adolescência ou na fase adulta as coisas se tornarão difíceis. No exterior existem cadeiras de literatura infantil até em nível de pós-graduação. No Brasil, já tivemos nos Institutos de Educação o curso de literatura infantil, mas foi estranhamente desativado. Isso demonstra o quanto a nossa literatura infanto-juvenil é desprezada pelas autoridades. O pré-escolar é o grande momento onde deve haver um estímulo à leitura. Essa relação deve ser bem natural, e de forma lúdica, tanto em casa quanto na escola. Mas temos uma grande preocupação com o que a criança realmente deseja. Afinal, o que ela pensa sobre os títulos que estão à sua disposição? Sendo ela a maior interessada, é justo que se faça um levantamento nacional sobre as aspirações do nosso público infanto-juvenil, isso evitaria o pseudodidatismo que pode ser detectado em muitas obras.”
Se antes tínhamos que nos sujeitar à tradução de obras estrangeiras, hoje o que se vê é outra realidade. Desde que pais, professores e pedagogos passaram a se preocupar com o conteúdo dos livros dirigidos às crianças, surgiu em nosso meio editorial o que se pensou que fosse um fenômeno, um boom, mas na verdade, era o florescimento dos nossos competentes autores e ilustradores.
Foi nesse período que surgiu a chamada “corrente realista” na literatura infanto-juvenil. A preocupação moralista e também pedagógica deu lugar aos temas ligados à nossa perspectiva sociocultural. Passou-se a questionar a realidade brasileira por intermédio de um humor feito com bastante seriedade. A questão da fantasia ou realidade deixou de ser relevante, o que importava (e ainda importa) era a criança vista como um ser humano e não como um pré-adulto, ou um adulto miniaturizado.
E onde entra Monteiro Lobato, depois do surgimento dessa corrente?
Simplesmente ele é imbatível. A literatura infanto-juvenil brasileira tem nele o seu divisor de águas. Apesar de ter sido um escritor conservador para os adultos, Monteiro Lobato era modernista para as crianças. E foi o primeiro a criar a fantasia “abrasileirada”, sem trenós, neves e outros elementos estranhos à nossa realidade, numa época em que o pouco que produzia era uma cópia de modelos estrangeiros.
A função social da literatura infantil ultrapassa a sua própria expectativa, pois é na infância que se forma o hábito ou gosto pela leitura.
A existência hoje de uma literatura infanto-juvenil brasileira amadurecida é um fato que merece a maior consideração.
Vivemos o mundo da eletrônica, com todas as facilidades momentâneas. A nossa literatura infanto-juvenil precisa conviver com os novos tempos. No rádio e na TV, infelizmente, também existe uma quase total ausência de espaço para a literatura infanto-juvenil. É preciso que a mídia eletrônica seja estimulada a participar desse importante processo.
(*) professor universitário, jornalista e escritor