Tecnologia dá vida à rede aérea

Por Adamo Bazani

A situação do trólebus não é  fácil no Brasil, onde várias cidades o aboliram completamente. Em São Paulo, discussões e desentendimentos entre operadores, gerenciadores e administrações públicas já viraram uma marca da atual fase deste modelo de transporte de passageiros. Mas é no campo de tecnologia que se pode encontrar a saída para a continuação dos trólebus como veículo capaz de reverter o quadro cada vez pior de poluição sonora e do ar.

Quem garante é o administrador de contratos da Eletra, única fabricante cem por cento nacional de ônibus com tecnologia limpa, José Antônio do Nascimento.

Jose Antonio do Nascimento e Adamo no trólebus

José Antônio diz que o mundo está no caminho da tração elétrica para os transporte urbano. Ele conta que na cidade de Nova Iorque já existem mais de 500 ônibus híbridos (motores de partida a diesel e motores de funcionamento a energia elétrica) em operação; e na China e boa parte da Europa, os administradores locais em parcerias com a iniciativa privada voltaram a investir no trólebus com rede aérea.

“Posso garantir que em corredores exclusivos, o trólebus de rede aérea ainda é melhor alternativa que o híbrido. Na empresa Eletra, que nasceu do Grupo da Viação ABC de Transportes, de São Bernardo do Campo, percebemos que a procura pelo híbrido é cada vez maior, afinal ele possui uma flexibilidade maior que o trólebus e igual ao ônibus a diesel, mas, pelo fato de o trólebus durar mais e não gerar nada de poluição, em corredores segregados, ele é opção ainda melhor”.

“Num corredor segregado, a rede aérea não produz a mesma poluição visual que no meio da rua, onde há entrocamentos e cruzamentos de fios de outros serviços, como de telefone e energia elétrica residencial e comercial. Além disso, o híbrido pode poluir até 90 por cento menos que o ônibus comum a diesel, mas o trólebus polui 100 por cento menos. O Brasil deve estar atento a outro fato de vantagem de veículos com tração elétrica: diferentemente de muitas regiões do mundo, que produzem eletricidade em usinas movidas a carvão e óleo, nós produzimos por água, ou seja, não poluímos e gastamos menos para produzir eletricidade.”

Sendo bem realista, num cenário em que apesar de ser mais barato que metrô e que o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o corredor segregado de ônibus pouco cresce, José Antônio afirma que a solução de curto prazo está no investimento da rede aérea já instalada e em sistemas nos ônibus que ocasionam menos quedas de pantógrafo (alavanca que liga o ônibus até os fios aéreos). Para isso é necessário repotencializar a rede. Ele conta que uma boa parte dos trólebus que circulam na cidade de São Paulo são veículos reformados e reencarroçados, que foram produzidos entre os anos de 1979 e 1981. Entre 1994 e 1996, os veículos passaram por uma atualização, mas a rede aérea não.

E quando José Antônio fala em corredores, ele quer dizer vias segregadas mesmo, não apenas faixas pintadas nas vias, com o mesmo asfalto, com as mesmas ondulações, passando pelos mesmos semáforos que os carros comuns. Os corredor entre São Mateus / Jabaquara, via ABC paulista, é considerado bom exemplo por José Antônio:

“Boa parte é segregada totalmente e o piso é de concreto”

Mas enquanto corredores não saem do papel, a solução, para José Antônio é investir em veículos e sistemas cada vez mais modernos. Já está desenvolvido até mesmo um sistema que evita ou diminui drasticamante a queda dos pantógrafos, além de um corredor 100 por cento eletrificado de grande distância, sendo o primeiro “corredor verde” no mundo.

Acompanha, a seguir, os projetos e novidades para os trólebus no Brasil:

Alavancas pneumáticas: A Eletra testa em São Bernardo do Campo na Grande São Paulo, um tipo de pantógrafo resistente a solavancos e ondulações das pistas. As alavancas que ligam o ônibus à rede aérea de fios possuem um sistema pneumático que reduz os impactos contra os fios em caso de ondulações, buracos e até operação inadequada dos trólebus. O sistema reconhece o risco de alavanca escapar após o impacto, e a retrai para minimizar a força sobre o fio, evitando a queda. Solução esperada para o trólebus rodar em vias comuns e desfavoráveis.

Ônibus híbrido e a etanol ao mesmo tempo em aeroportos: O projeto da Eletra, em andamento, é preparar um ônibus movido a álcool e a eletricidade, com configuração maior para rodar em aeroportos. Atualmente, os veículos mais comuns híbridos são a eletricidade e a diesel. O Brasil foi o primeiro país do mundo a ter um ônibus híbrido (eletricidade / diesel) articulado no País. Ele começou a circular em 1999 no corredor São Mateus / Jabaquara – via ABC Paulista. Entre novembro e dezembro do ano passado, um híbrido (elétrico / diesel) foi testado no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, e a redução dos custos de operação foi em torno de 50 por cento.

Baterias de grande capacidade para veículos pesados Nos últimos cinco anos, o desenvolvimento de baterias para armazenamento e fornecimento de energia elétrica para veículos de grande porte foi mais significativo do que em todo o século passado. Baterias com metais especiais conseguem produzir tração suficiente para um veículo como ônibus. Isso dispensaria a rede aérea ou diminuiria a importância dela. Essas baterias são realidade na China, Estados Unidos e parte da Europa, mas os custos de tarifas de importação das baterias e o frete ainda as deixam inviáveis no Brasil.
Brasil como exportador de tecnologia: Uma das maneiras de se trazer divisas para o desenvolvimento ainda maior de tecnologias de tração limpa para o País é investir para ele se tornar exportador desse tipo de tecnologia. Algumas parceiras comerciais já foram realizadas. Até junho de 2008, a Eletra forneceu para Wellington, no Canadá, 62 sistemas de tração para ônibus híbrido. Mas a relação comercial nesse sentido ainda é tímida.

Chassi de tração comum para veículos híbridos e trólebus: A flexibilização do sistema de tração para veículos com tecnologia limpa é considerado um dos maiores avanços no setor por conta do barateamento dos custos que o desenvolvimento promoveu.  Pelo fato de o trólebus não ter câmbio, a relação entre o motor e o eixo de tração (normalmente o traseiro) era complicada. A saída era ter um sistema que propiciasse essa relação. Mas esse sistema era importado e caro. Além de um custo maior de aquisição, havia uma dificuldade de peças de reposição, que também tinham de ser importadas. Atualmente, os trólebus novos usam um chassi de ônibus comum e um eixo de tração comum, cujas peças podem ser encontradas em qualquer oficina mecânica especializada em veículos de grande porte. Com a introdução do fornecimento de energia para o trólebus através da corrente alternada, foi possível desenvolver um sistema mais simples de relação entre motor e eixo de tração. Atualmente, os trólebus modernos possuem motores de captação de energia de corrente alternada que é transferida pra o eixo de tração. A única diferença é que, pelo peso e força, o eixo de tração colocado é o de um veículo articulado, o que existem amplamente no mercado produtor de ônibus desde os anos 80. A alta escala de produção de motores de corrente alternada, e não mais de contínua, como eram os trólebus antigos, tem barateado o valor final do ônibus elétrico

Corredor 100% verde: O projeto já está pronto. Só não saiu do papel ainda devido a problemas com licitação de obras civis, mas a expectativa da empresa produtora Eletra e de operação Metra, é eletrificar totalmente o corredor São Mateus/ Jabaquara, via Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema  e Mauá, o que tornaria o Brasil como o detentor do primeiro corredor de grande distância 100%verde do mundo. Já há licitação de ampliação e repotencialização da rede aérea já existente entre Piraporinha (São Bernardo do Campo) e São Mateus (São Paulo) e para criação da rede entre Diadema e Berrini (São Paulo) e Piraporinha (São Bernardo do Campo ) e Jabaquara (são Paulo). O projeto deveria ser concluído no fim de 2010, mas problemas na licitação de obras ainda deixam sem prazo a conclusão do sistema de transportes que dispensaria os atuais veículos a diesel que dividem espaço no corredor com os trólebus e diesel. Há também um projeto, que não está avançando no  ritmo esperado para a aquisição de 140 trólebus modernos para a cidade de são Paulo. O prazo inicial que era até 2010, ainda é indefinido.

Adamo Bazani é repórter da CBN e busólogo. Escreve toda terça-feira no Blog do Mílton Jung

11 comentários sobre “Tecnologia dá vida à rede aérea

  1. Muito boa essa reportagem!! O que o José Antônio disse, é a mais pura verdade! Nos corredores, os trólebus mostram todo seu potencial e superam qualquer outra tecnologia!!!

    Vida longa aos trólebus!!

  2. Sem duvidas, só as soluções modernas vão trazer a confiabilidade ao sistema…

    Energia limpa é o caminho obrigatorio do futuro…

    Paises de primeiro mundo já sairam na frente….

  3. muito interessante a matéria, o problema aqui na cidade de SP é que não temos um investimento na renovação da rede aérea ,e que tem uma manutenção precária por parte da AES Eletrolixo.

  4. MICHAEL JACKSON MORREU !!!!!! GRAÇAS A DEUS ????

    A imprensa brasileira mergulhou num exagero pela morte do Pop Star Michael Jackson. Um exagero histérico onde podem esconder os problemas do Brasil.A educação na UTI, todos sabem o remédio para salva-la mas impossível ministra-lo. Fiscalização e punição para os corruptos.
    A definição mais precisa de professora de escola pública eu ouví do grande Mario Sérgio Cortela Prof.Historiador,teólogo e filósofo. Como condição de filósofo que enxerga além do óbvio.^Ele enxergou e teve a coragem e a decência de declarar que professora de escola pública é a elite gananciosa.
    Depois do prefeito de São Paulo ter divulgado o salário das professoras, caiu por terra a desculpa que elas não ensinam porque seu salário é pequeno.
    A maioria dos deputados estaduais é marido de professora.Senão é pai ou irmão. Pode se contar nos dedos os gabinetes de deputados ou vereadores que não tem professores ou diretores trabalhando.
    Teve um apresentador famoso do SBT, que deixou escapar numa ocasião que sua esposa, coitadinha, era uma sofrida professora de escola pública….
    Então para não dizer que terminam o semestre, com falta de vagas nas escolas mas sobrando verba para salários milionários. Como falar de aula medíocre e polícia invadindo escolas para espancar alunos? Melhor falar da morte do Michel Jackson.

  5. Muito legal a matéria, Adamo,

    E você está muito bem na foto.

    Eu queria comentar este trecho: “Entre 1994 e 1996, os veículos passaram por uma atualização, mas a rede aérea não”. Não é um contra-senso terem atualizado apenas uma parte do sistema?

    No mais, sugiro que, em vez de chamar o link de “Leia o resto”, chame de “Leia mais”.

    Um grande abraço,
    Eliane.

  6. SÓ ME CORRINDO, AS EXPORTAÇÕES DA ELETRA DE 62 UNIDADES FORAM PARA A NOVA ZELÂNDIA E NÃO NO CANADA;. EM VEZ DE Até junho de 2008, a Eletra forneceu para Wellington, no Canadá, 62 sistemas de tração para ônibus híbrido. Mas a relação comercial nesse sentido ainda é tímida, leia-se
    Até junho de 2008, a Eletra forneceu para Nova Zelândia, 62 sistemas de tração para ônibus híbrido. Mas a relação comercial nesse sentido ainda

  7. Alavancas pneumaticas….alguns trolebus europeus devem ter esse equipamento,bem que o Brasil tem alguns modelos poderiam ter alavancas pneumaticas,assim não precisaria sair do trolebus pra poder colocar as alavancas na rede aerea.

  8. Excelente notícia, mas faltaria isso ser divulgado e conscientizar as autoridades de Santos-SP que ainda contamos com uma frota de 6 trólebus Mafersa, mas os Trólebus santista continuam sobrevivendo em pleno vapor.

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