Por Abigail Costa
Escrevi outro dia para uma amiga que me pedia conselhos.
Em tempo: Aprendi que conselho se dá em duas condições, quando é pedido ou em caso de risco de morte. No meu caso, a orientação foi solicitada.
Como estava em outro país escrevi um longo e carinhoso e-mail. Disse que deveria ver a vida como uma viagem, sem se importar com o lugar (na janelinha ou no corredor ?), tudo deveria ser contemplado. Sem reclamar da demora na decolagem, da refeição, do companheiro ao lado.
Que ela experimentasse curtir a vida como uma viagem na qual a partida ou a chegada não fossem o mais importante, e, sim, o caminho todo ao destino esperado.
Pois bem, cá estou voltando das minhas férias dentro de um avião com a família. Fomos em cinco: eu, marido, dois filhos e a mamãe. Voltamos em quatro. A vovó ficou para cuidar da netinha que chega agora em outubro.
Como sempre fui ruim em despedidas, antes que alguém viesse até o carro me adiantei gritando: volto logo, sem choro por favor. Adiantou ? Que nada… a choradeira começou na sala mesmo.
Ok. sempre foi assim.
Estamos a não sei quantos metros de altura (é melhor nem saber), o jantar já foi servido. Ao meu lado uma senhora acompanha a filha e as netas. Pronto, lá vem a mamãe na minha cabeça. Um nó na garganta me deixa a sensação de boca amarga. Um choro sentido que não dá pra segurar. O comissário atento me oferece mais uma bebida. Aceito, sei que foi precisar.
Com a minha mãe na cabeça lembrei dos conselhos que, semana passada, havia escrito pra minha amiga. E a partir daí fiz um balanço de como tinha sido minha relação com a mamãe. Dei o que podia ? Ofereci o que ela merecia ? Retribuí à altura? Não digo em bens materias, falo de carinho e emoções. Daquela sopa maravilhosa que encontro pronta todas as noites de inverno. Da dedicação aos netos.
Até onde curti esses momentos ? Quantas vezes elogiei seu jantar ? Quanto tempo dei a ela ?
Cara, estou longe da Dona Eunice faz pouco tempo, mas a saudade já tem quilômetros !
Claro que ela sabe a filha que tem. TPM em último grau, voz alta até para agradecer, mas quando digo aos outro sempre reafirmo a mim mesma. Estou aqui para melhorar. E tento.
Outubro, Dona Eunice, te vejo de novo nos EUA. Por aí será inverno, mas a sua paciência como sempre será branda para me receber.
Eu vou voltar melhor, como filha e como mãe. Prometo aproveitar melhor meus momentos, afinal estamos aqui pra isso. Ainda bem que temos tempo ou pelo menos esperamos por ele.
Até lá.
Ps. Cuidarei bem dos seus netos.
Abigail Costa é jornalista, mãe, filha e verdadeira. É o resultado deste coquetel de emoções que você lê todas as quintas no Blog do Mílton Jung.
A dúvida sobre o quanto fomos justus com nossos pais nunca será dirimida. Aumenta com o passar do tempo, pois quando jovens achamos que a injustiça é sempre obra deles e quando maduros tememos não dar tudo que mereceram. Por tanto, existe apenas uma saída: sermos verdadeiros nos sentimentos, não termos receio de demonstrar o quanto gostamos dele, e sermos sinceros no momento de cobrarmos comportamentos que consideramos corretos. O erro faz parte da vida.
Parece que so descobrimos os valores sempre quando estão distantes.