De problemas da cidade

 

Por Maria Lucia Solla

Ouça “De problemas na cidade” na voz da autora

Olá

Com certeza, isto não é novidade.
O vai-e-vem é frenético, nas ruas da cidade.
O mais forte acotovela, e o não tão forte, acotovelado, resmunga injuriado.

Diversidade surpreende no meio da multidão.
Circula, pelas vias, gente das mais diversas etnias.
Ouvem-se gritos de vizinhos que brigam, e passos de transeuntes que nem ligam.
Os sons, que sem pedir licença penetram os ouvidos, são tecidos por murmúrios de amor, aqui, e por gemidos de dor, ali.

Livres, circulam, por todo lado, o perfume da dama e o odor nauseabundo da lama,
enquanto a pobreza caminha assim, pari passu com a riqueza.

Veem-se prédios de apartamento, de construção interessante,
mas alguns deles, irregulares, são feitos sem cuidado bastante.

Leis são promulgadas para serem seguidas por todos, sem exceção,
mas fica evidente, ao olhar inteligente, que isso não é bem assim,
em tempos de corrupção.

Veem-se, ao longo da caminhada, construções erguidas no terreno da irregularidade,
criando um desenho estranho, no corpo da cidade.

Novos ricos, exercitam a vaidade, babando por mais poder,
enquanto políticos, exercitam a ganância,
babando por dinheiro e cada vez maior abundância.

Nos becos mal-iluminados, mata-se por um anel,
enquanto nos gabinetes bem-frequentados,
se a gente não se cuida, se lhes tira o couro e, se bobear, levam-lhe também o chapéu.

No quesito moradia, a situação é covardia;
paga-se o olho da cara e, se bobear acaba-se na sarjeta, levada pela carestia.

Feriados abundam no calendário local. Num deles o povo perde a fronteira.
Escravos se tornam reis e rainhas, e se comete muita besteira.

Se você se questiona: “sobre que cidade ela fala?”
Eu garanto, se você acertar antes de ler o final, ganha de mim uma bala

Veja as queixas da população e me diga se há aqui algo de anormal

Queixam-se do tráfego, do ruído e do caos exagerado
do tempo necessário para o deslocamento e da sujeira por todo lado
Dos preços exagerados, da invasão de imigrantes e, principalmente, daquela dos meliantes.

Não me refiro a São Paulo, nem ao Rio ou Piratininga,
Falo de Roma, meu amigo, falo da Roma Antiga.

Ah, é preciso acrescentar que não deduzo ou imagino.
Não me refiro ao brasileiro e nem ao povo americano.
Estas são queixas comprovadas pela história, nos tempos do Imperador Trajano.

Há dezenove séculos, era o que acontecia.
E você, o que quer, o que queria?
O tempo não resolve nada sozinho;
o que é mesmo preciso é que o homem resolva assumir que é Homem, e deixar de ser homenzinho.

Pense nisso, ou não, e até a semana que vem.

Maria Lucia Solla é terapeuta e professora de língua estrangeira, aos domingos descreve no Blog do Mílton Jung o mundo sem eira nem beira

12 comentários sobre “De problemas da cidade

  1. Oi Lu , sempre bom iniciar o domingo ,com tua crônica sensível e inteligente . Tens razão , sempre pensei que a raíz
    dos problemas estão na inércia e na indiferença ,de cada um
    que resultam neste TODO , cada vez mais difícil .
    Bjs , Maryur

  2. Olá querida!
    Eu andei sumida, mas aqui estou de volta, para me deliciar com teus textos. Será que algum dia dia evoluiremos? O que o homem busca na realidade, se mesmo se autoproclamando evoluido tem instintos animalescos e comportamento pior que alguns animais irracionais? Somos mesmo "inteligentes"? O homem tem muito ainda que evoluir…
    Será ainda muito dura a vida até que realmente nos tornemos seres elevados e evoluídos. Grande beijo!

  3. Oi malú, tudo bem!

    Tanto tempo já se passou desde o Imperador Trajano e está provado que o tempo não cura certas feridas não é?

    O maior dilema deve ser esse mesmo optar em ser homem ou homenzinho. Aquele que veio para defenestrar sua história.

    -Eu não. Eu, vim à trabalho e deixarei minha marca!

    Quando vai amanhecer o dia que o homem será capaz de entender que aqui somos colocados de passagem e de que nada adianta poupar tudo no colchão.

    Também não adianta pisar em seus valores e princípios e achar que poderá viver como barata, rato, verme, lesma ou sanguessuga!

    Sua vida sem a presença de suas obras!

    Não adianta pensar somente no próprio umbigo e não adianta enfeitá-lo com um piercing pois todos teremos o mesmo fim. O mesmo buraco.

    Façam por seu semelhante, por seu meio ambiente, por seus amigos, por seus familiares, por sua cidade ………enfim sua palavra deve valer mais que sua assinatura.

    Decida ser um grande homem e honre as calças que veste.

    Tomára que daqui alguns anos essa história possa ser contada diferente!

    Beijos Malú! Claudio Vieira.

  4. Ola Malu
    Depois de “algumas horas” sem internet…………………….

    Aqui onde você descreve:

    “Novos ricos, exercitam a vaidade, babando por mais poder,
    enquanto políticos, exercitam a ganância,
    babando por dinheiro e cada vez maior abundância.”

    Gostaria de saber de alguma autoridade especialista em saude mental, qual o tipo de disturbio de personalidade que pode sofrer as pessoas gananciosas, pelo poder, pelo ter, pelo dinheiro, pelo xonsumismo, pelo luxo.

    Exemplo:
    Politicos em geral e os new richs.

    Mais um belissimo e oportuno artigo
    Abraços Mrs Mike Lima
    Alfa India November

  5. Olá Malu,

    Mais um pitaco:

    Seu texto abre brecha para um monte de discussão. Duvido que alguém seja homem o suficiente em dizer que tem a resposta para todos elas. Acho mais prudente dizer que, somos homenzinhos buscando entendimento das confusões que nos mesmos criamos. A vida é uma escola eterna sem diploma. Quem se achar professor dela, é o primeiro a ser reprovado!

    Um beijo de estudante!

  6. Amigos queridos,
    obrigada pelo carinho.
    E assim é que a gente faz alguma coisa. Disseminando o vício de refletir. Sem prejuízo do sorrir; ao mesmo tempo. Sem prejuízo da alegria, porque é a falta dela que envenena o mundo.
    Sem prejuízo da compreensão e da aceitação do outro, uma vez que caminhamos, todos, na mesma direção.

    Maryur, Sandra (saudade!) Farina e Vivi, Cláudio Vieira, Armando Ítalo e Beto, e a todos os amigos que passam por aqui e não deixam sua marca por escrito, somos um time. Agora é vencer ou vencer!
    Beijo e boa semana,
    ml

  7. De Trajano e de Tajra, Imperador que seja, de Roma ou do Maranhão… A coisa se basta e se perpetua…
    Ha quem diga que somos brasileiros e fomos romanos, e que repetimos a sina, a fim de nos sentirmos em casa… creio, por não encontrar base mais sólida para a nossa ignorância e subserviência…
    Sou subserviente para não ser subversivo… calo a ira para não sofrer mais que a encomenda…
    Mas ela acumula, e me faz menos humano, menos suscetível às marés do meu humos e da minha temperança, que me fariam rugir, mas me fariam mais homem… mais eu!

  8. Meu filho querido,
    abre a caixinha da lembrança e reconhece quem você é, em qq situação, em qualquer tempo, em qq lugar.
    Canaliza a ira para a arte, para a academia, encontre mais gente que ri muito, dá vazão à tua criatividade que a ira vai pra onde ela deveria ir, sem causar danos.
    Amo você, mesmo refletindo muito (como já conversamos) na real existência do amor.
    tua mãe

  9. Os problemas são atuais porque são problemas do bicho homem.
    Vc deu um “chute nas canelas” de quem deita em berço esplêndido.
    Suas palavras uns 30 anos atrás renderiam prisão política.

    Vou pensar nisso mesmo!

  10. Beto e mário,

    obrigada pela visita e pela atenção,
    artigo raro numa época em que a gente é assaltado por todo tipo de informação
    e por todo modelo de idéia e de opinião.

    As vezes dá vontade de cobrir a cabeça e não ouvir e nem ver nada por algum tempo, mas seria perda de tempo, não seria uma solução, pegando carona com Drummont.

    Beto, já passei algum sufoco em tempo de repressão,
    e mário, continue poetando; deixe falar o coração
    mesmo que o que ele queira dizer seja uma fieira de emocões proibidas, tudo vai escorrendo velado, meio encoberto,
    e a gente acaba sonhando de olho aberto.
    Beijo,
    ml

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