Christian Jung
Blog MacFuca
Olhando pela janela e assistindo ao movimento das pessoas circulando pelas praças. Ver uma família passeando de mãos dadas me trouxe mais uma vez reflexões sobre momentos bons e maus desta nossa vida. Na verdade, a vida não existe sem esses dois momentos. De qualquer forma tenho esse jeito emotivo alegre ou depressivo interpretativo com as coisas que me cercam. Como esta união familiar pelo contato da “Mão”.
Desde o momento que nascemos, que sentimos a claridade bater em nossos olhos, somos socorridos e recebidos pelas “mãos” de alguém, no caso um especialista (geralmente), que nos acolhe com as “mãos” de quem estudou o suficiente para estar ali pronto para nos agarrar firme.
Logo em seguida vem as “mãos” da Mãe e com elas sentimos a segurança que pro resto de nossas vidas nunca iremos esquecer.
E assim por diante uma série de “mãos” vão se seguindo e em cada fase elas se apresentam de uma forma, ainda que nunca deixem de ter o mesmo sentido para nossas vidas.
Quando crianças a mesma “mão” que acaricia, corta o bife, serve o leite com achocolatado, segura a bicicleta até que ela se equilibre no meio de nossas pernas. A “mão” que agarra firme e, as vezes, bate para ensinar. (Dizem que bater é errado, mas não me arrependo de algumas chineladas estilo bumerangue da minha mãe. Aquela chinelada que arremessada no corredor pega o sujeito lá na curva da escada. Na minha casa tinha esse corredor e a escada. Eu era um especialista em fazer a curva sem a chinelada! As vezes pegava!) Enfim, a “mão” que sustenta a nossa infância até que nos tornemos capazes de comprar o pão na padaria e, claro, devolver o troco.
Já na adolescência a “mão” que compreende a explosão hormonal. Essa que absorve os critérios da inteligência de achar que os pais nasceram ontem e que são incapazes de se tornarem “modernos“. A “mão” que pune mas não com o intuito de agredir ou de diminuir, mas a “mão” que prepara para um futuro independente onde tornará as nossas “mãos” capazes de ajudar a quem estiver mais perto. E assim vamos criando corpo, nos achando e firmando pensamentos e atitudes, criando a nossa própria história.
Ainda assim a “mão” de alguém se faz presente. Vem a fase adulta e com ela a gama de alegrias de “mãos” que se somam em nossa história como também as tristezas daquelas “mãos” que não estão mais ali.
Vem o casamento, os filhos, e aí temos as pequeninas “mãos” se esticando para crescer no nosso colo por mais baixos que possamos ser. Como é o meu caso, 1 e 60 e poucos não é lá um grande colo, mas como Pai me sinto grandão. De qualquer forma somos doutores de mãos fortes e agregadoras, reflexo das mãos que até então nos acolheram.
De mais a mais a velha “mãozinha” não deixa de aparecer. Aquela “mão” amiga na hora de empurrar o carro quando embestou de não pegar, pra trocar o pneu bem na hora da chuva, pra juntar as frutas que caíram da sacola na saída do supermercado, pra pagar uma conta. Enfim, “mãos” que estão sempre presentes em todas as horas no dia a dia.
Quando se vê…
(agora me lembrei do poema de Mário Quintana)
O Tempo!
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas!
Quando se vê já é sexta-feira…
Quando se vê já é natal…
Quando se vê já terminou o ano…
Quando se vê já se passaram 50 anos!
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida.
Agora, é tarde de mais para ser reprovado,
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente, e iria jogando pelo caminho, a casca dourada e inútil das horas.
Seguraria o amor que esta na minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.
Voltando ao meu texto…
Quando se vê, nos damos conta que envelhecemos e o corpo cansado, muitas vezes desgastado por alguma doença que insiste em se instalar, nos traz a impressão que não existirão “mãos” suficientes para suprir toda a nossa fraqueza que se espalha sem pedir licença.
Porém, mesmo assim por mais capazes que pensemos que possamos ser, contamos com a nossa história para que as “mãos” se estendam.
Diretamente ligada a nossa vida, milhares delas surgem. Reflexo do carisma, do respeito, do caráter, da compreensão, da satisfação de momentos juntos e do sorriso sempre acolhedor que aprendemos a valorizar, rostos que se tornaram felizes pela alegria que lhes ensinamos em viver.
E nos sentimos humilhados, deprimidos, fracos perante as “mãos” que nos vem acolher. Talvez por que seja muito difícil para o ser humano entender que, quem um dia criou e cuidou, nesse momento precise ser cuidado.
Mas as “mãos” estarão sempre ali para nos dar conforto.
E por mais que o nosso jeito paternal nos habite, elas se estenderão, com certeza, firmes para nos sustentar, até que nosso espírito se sinta livre para voar e desta forma ter condições de esticar a “mão” para este Ser maior que nos criou e nunca deixou de nos observar.
Christian Jung é mestre de cerimônia, autor do Blog MacFuca – onde este texto foi publicado, originalmente – e já me deu muitas mãos na vida.

Simplesmente sensacional!
Bjs
Cesar Cruz, Sp, Capital
E elogio vindo de César Cruz merece nosso respeito. É um dos melhores textos que já foram publicados no Conte Sua História de São Paulo
Uáu!
ml
Obrigado Cesar Cruz pelo comentário. “Sensacional” é muito mais do que poderia esperar.
Obrigado Milton por mais esta oportunidade de estar aqui no teu blog, aliás obrgado pela “Mão”.
Abraço!