Torcedor do Grêmio tem reduto em São Paulo

 

Gremista de quatro costados, Airton Gontow também é jornalista de boa marca. Descreve pessoas e situações com clareza, mesmo quando sob o risco de ter a visão anuviada pela paixão como domingo passado quando assistiu à final do Campeonato Gaúcho em um bar de São Paulo, rodeado de gremistas por todos os lados – e servido por um colorado enrustido, também. Recebi a reportagem “Fernando Carvalho festejou o título do Grêmio” produzida e fotografada por ele apenas nesta sexta-feira e uso como justificativa para a publicação, hoje, o fato de amanhã ser nossa estreia no Campeonato Brasileiro. Talvez você não veja conecção entre um fato e outro; e talvez não haja mesmo. E desde quando eu preciso de desculpa para publicar coisas boas no Blog (coisas boas e do Grêmio) ?

Aproveite para saber como os gremistas pretendem acompanhar o Imortal Tricolor aqui em São Paulo:

torcedoras do Grêmio encantaram os motoristas

Por Airton Gontow

Fernando Carvalho comemorou intensamente o título gaúcho conquistado domingo pelo Grêmio e caiu nos braços da torcida. Torcedor fanático, 43 anos, seis deles longe do Rio Grande do Sul, gerente do Banco do Brasil, é cônsul do Grêmio em São Paulo e está acostumado às brincadeiras em relação ao seu nome, que obviamente remete ao maior dirigente da história colorada. Ele e cerca de outros 200 torcedores estiveram no “Meu Bar”, novo ponto de encontro de gremistas na capital paulista.

Ao lado da namorada, a atriz Flaviane Herrera, 32 anos, chegou ao local por volta do meio-dia e gastou as horas que faltavam para o início do jogo pendurando faixas e bandeiras no teto, paredes e fachada do bar.

Confiante, “O jogo vai ser 3 a 1”, Fernando Leite Carvalho conta que planeja criar o site do Consulado do Grêmio em São Paulo. Feliz com o clima gremista criado, ele diz que o local atenua a dor de não estar no Olímpico em jogos decisivos: “sou torcedor e, também, trabalhei na gestão do Guerreiro. Conheço o Olímpico inteiro, de todos os setores da torcida ao vestiário”.

Fernando Carvalho caiu nos braços da torcida gremista

Evandro Fernandes, 36 anos, professor universitário de Economia, na Unip, há quatro anos em São Paulo, também exibe confiança na conquista do título. “Será 2 a 0”. Já na partida anterior, quando eles eram favoritos, no Beira-Rio, eu já falava que o Grêmio seria campeão”, diz, apesar de ainda fazer algumas ressalvas ao trabalho de Silas: “Está melhorando, mas a nota dele ainda é sete!” Ao seu lado, José Mário Arbiza, 30 anos, que atua na área de manutenção de Equipamentos da construtora Odebrecht, nascido em Uruguaiana mas criado desde os dois em Porto Alegre, olha para a decoração do bar e para a torcida que não para de cantar. “Estou me sentindo em Porto Alegre. Passa pela minha cabeça um filme comigo e meus amigos em bares de lá nos dias de jogos importantes. O Evandro já tinha assistido a outras partidas aqui, mas é a minha primeira vez. É impressionante a concentração de gremistas. Adorei a organização e, principalmente, ver as bandeiras do Grêmio e do nosso estado, o que mostra amor pelo time e pelo Rio Grande”, exclama o ex-jogador das divisões de base. “Joguei no Grêmio até os 16 anos, em 96. Freqüentei o Olímpico em nossa fase áurea, do bi da América!”

Sentado próximo à televisão, o engenheiro químico, Sérgio Harb Manssour 47 anos, sete de São Paulo, espera ao lado das filhas, as gêmeas Larissa e Eloísa, 18 anos, o início da partida. Elas não são univitelinas, mas são idênticas no amor pelo Grêmio. “É como estar no Sul. É incrível como este bar recria a atmosfera de Porto Alegre”, diz a estudante de Psicologia Eloísa. Indagada sobre o que mais sente falta por não estar em Porto Alegre, Larissa, que estuda Design Gráfico, responde: “É do convívio com os amigos e a família, mas aqui é sensacional”. Este repórter conta que sente falta das manhãs de Gre-Nal em Porto Alegre, quando saia com o pai com caneta e bloco de papel nas mãos, contando quantas bandeiras e camisas via de cada time, nas ruas e nas janelas das casas e apartamentos. “Eu não saía com meu pai em dias de jogo porque ele era colorado”, diz Sérgio.

Pedro Coutinho, 29 anos, empresário na área de importação é paulista e gremista. Ele explica o seu gremismo. “Desde pequeno meu pai me levava aos jogos do São Paulo e eu não achava a menor graça. Em 95, vi pela televisão a final da Copa do Brasil, entre Grêmio e Corinthians, lá no Sul. O Grêmio perdeu, mas eu nunca tinha visto um time com tanta raça, tanto empenho e tanta dedicação. Percebi que agora tinha um time para torcer. E de lá para cá, mesmo morando em São Paulo, meu sentimento só cresceu”, afirma.

Perto dele está Elizandra Santos, 26 anos, também paulista. Ela traja uma camiseta do Grêmio, como 95% das pessoas presentes no bar. Pergunto se tem também algum time em São Paulo. Ela olha firme e responde: “No Sul eu sou gremista. Já aqui eu sou gremista. E na Bahia, adivinhe, sou gremista também”. A paixão pelo tricolor dos pampas é, de certa forma, o resultado de uma história de amor. “Tive um namorado gaúcho”, conta.

Questionada se o ex estava presente no bar, ela revela: “Ele era e é colorado! Comecei a assistir com ele aos jogos da dupla grenal. Aí interessei-me pela história dos clubes e adorei a do Grêmio. Nunca tinha visto um time com tantas histórias épicas e, ao mesmo tempo, com uma torcida tão vibrante quanto esta, que nunca desanima. Isso ninguém tem!”.

gremistas festejam no intervalo do jogo1

As entrevistas são interrompidas a toda hora por cânticos de incentivo ao Grêmio e provocação ao colorado. Uma charanga, dentro do pequeno bar, comanda a festa. “O Olímpico está aqui! O Olímpico está aqui!”, grita Milene Hartmann Feyh, 24 anos, administradora de empresas, ao lado do marido Diego Tatsch, 25 anos, cientista da computação, ambos há três meses em São Paulo. “Nem mesmo em um bar de Porto Alegre a gente vê esta animação. Acho que é porque todo mundo que está aqui gostaria de estar hoje na geral do nosso estádio”, filosofa Milene.

Há uma explosão de alegria quando o Grêmio entra em campo. Todos levantam para cantar o hino do Rio Grande do Sul: “Como a aurora precursora do farol da divindade, foi o 20 de setembro, o precursor da liberdade….mas não basta pra ser livre, ser forte aguerrido e bravo, povo que não tem virtude, acaba por ser escravo…” Logo depois, cantam o famoso hino composto por Lupicínio Rodrigues: “até a pé nós iremos, para o que der e vier, mas o certo é que nós estaremos com o Grêmio onde o Grêmio estiver….”. Este repórter percebe, pela primeira vez na tarde, o vermelho invadindo algum espaço no bar. Ou melhor, nos olhos de grande parte das crianças, homens e mulheres que vestem orgulhosos o uniforme azul, branco e preto do Grêmio.

Não dá para ouvir o que diz o locutor nos dois aparelhos de tv colocados em paredes opostas. Todos cantam, gritam e pulam como se os jogadores pudessem sentir o incentivo e a energia que vem de mais de mil quilômetros de distância. Não importa. Neste momento todos estão no estádio Olímpico. Os cantos aumentam com o gol colorado aos nove minutos de jogo. “O Grêmio vai sair campeão, o Grêmio vai sair campeão, o Grêmio vai sair campeão, vai sair campeão, vai sair campeão…” Apesar do incentivo que aumenta, é visível a tensão de uma torcida que perdeu muito mais do que ganhou nos últimos dez anos, a década de ouro do Inter. “Tou apavorado”, confessa Diego, aos 29 do primeiro tempo. “O Grêmio vai mal, o meio-campo está muito vazio”, analisa. “Não estamos bem. O time está muito afobado. Sentimos o gol deles, mas vamos ser campeões”, diz Eloísa, para acalmar a família e a si própria.

No intervalo a torcida gaúcha invade a calçada e o meio-fio da rua Roque Petroni Júnior, na frente do bar. Há muitas músicas dedicadas ao clube do coração e outras, em igual número, alusivas ao rival. Carros passam buzinando. “Parabéns!”, “É campeão!”, gritam as pessoas dos carros, julgando que já é a festa do título. O farol fecha e um motorista indaga: “É uma festa de torcida ou um desfile de modelos? Que mulherada bonita!”

Pouco antes do início do segundo tempo, o maitre Varlei dos Santos, 36 anos, desde 97 na capital paulista, sussurra. “Estou de azul, mas sou colorado. Trabalho na churrascaria South’s Place, que o dono do bar tem aqui perto e fui convocado para vir aqui. Estamos jogando bem e tenho esperança que a gente ganhe o título hoje dentro da casa deles.”

Jucemar - à dir -  com parentes e amigos

“O Hugo entrou no lugar do Leandro. Agora vai melhorar. Tem que melhorar”, suplica Diego, abraçado à mulher. O time é recebido com muitos gritos de incentivo, que vão aumentando à medida que o tempo passa, o Grêmio perde gols e o Inter mostra incrível apatia para quem precisa de apenas mais um gol para levar a decisão para os pênaltis. “É nosso, é nosso, ninguém mais tira da gente”, grita Daniel Oliveski, 32 anos, técnico administrativo, aos 31 da segunda etapa. Há apenas doze pessoas sentadas no bar inteiro e os gremistas passam sem parar de uma música a outra, mas o clima ainda é de apreensão e não de festa. A expulsão de Tison é a senha para o início da comemoração. “Ai, ai, ai, ai, ta chegando a hora”, que não acaba com o final da partida, já que a av Roque Petroni Jr, na maior cidade do país, se transforma no final do domingo em um pedacinho do Rio Grande do Sul.

Jucemar Mendes, 39 anos, há 20 em São Paulo, tem o bar há poucos meses. “Montei a casa por causa do Grêmio. Havia uma necessidade de ter um local de encontro para os gremistas. Entrei no Orkut, conversei com muita gente e vi que era viável economicamente. Além disso, o fato de ser quase ao lado da minha churrascaria facilita a logística. Estreamos no 2 a 0 do Beira-Rio, depois assistimos juntos à partida contra o Fluminense e, agora conquistamos, o título. O bar já é pé quente”, conta feliz ao lado da mulher, Lia Mendes, 36 anos, e dos filhos Keity, 15; Karem, 10, e Kauê, 4. “Eu e a Lia somos gaúchos e as crianças nasceram em São Paulo, mas somos todos gremistas. Muito gremistas”, acrescenta.

Varlei cumprimenta Fernando Schimitt e Lincoln Carnal, ambos de 34 anos, que comemoram a conquista. “Faz parte da vida e do esporte. Alguém tinha de vencer. Sou colorado, mas o Grêmio mereceu o título”, afirma com elegância. Na hora da foto, porém, faz questão de mostrar com o dedo que o seu colorado ganhou por 1 a 0.

Ao voltar para o carro, Diego e Milene descobrem que um rojão amigo quebrou o parabrisa. “É chato, mas claro que não estragou a nossa alegria. Assim como o carro, o título já está no seguro”, brinca Milene.

Do lado de fora, a torcida permanece fazendo festa e recebendo a saudação de quem passa de ônibus ou carro. Ao saberem que o cônsul será personagem central da matéria, os gremistas o carregam nos braços: “Fernando Carvalho é nosso! Fernando Carvalho é nosso!”

14 comentários sobre “Torcedor do Grêmio tem reduto em São Paulo

  1. Nossa, fantástica essa matéria! Adorei, mesmo. Me identifiquei com muitas histórias. Sou paulista, nascida e criada no ABC Paulista, mas a partir do momento que namorei um gremista (de Porto Alegre) e ganhei uma melhor amiga gremista (de Passo Fundo), passei a admirar a torcida do Grêmio pela perseverança, pela garra, pela alegria… E vi que eu queria fazer parte desse povo, e que já amava o Grêmio de corpo e alma!!! Na próxima estarei lá, se Deus quiser.

  2. Parabéns pela matéria, sou Gaúcho de Poa moro em sp há 6 anos viajo o Brasil todo e confesso sem desmereçer outros times mas… não vi em lugar nenhum uma torçida tão apaixonada como a do meu tricolor, nossas canções são copiadas por muitos e a história desse time é impressionante e inesqueçivel.

  3. primo, cada vez mais admiro esse teu amor pelo nosso tricolor, pq vc saiu muito cedo de POA e ainda consegue reunir os gremistas “paulistas” e festejarem juntos esse Gauchão! eu estava lá, com o Guido e com o Pedro, na Geral, obvio, cantando, pulando e torcendo sem parar. é duro perder mais um GREnal, e em casa, mas o mais importante o título é nosso, e estar no Olimpico é emocionante, mágico! Parabéns pela matéria meu querido. Muitos beijosssss!!!

  4. Bonita matéria

    Retrata o amor de centenas de paulistas-gaúchos (ou gaúchos-paulistas, como queiram) distante de sua fonte de paixão mas não menos apaixonados por causa disso.

  5. Agora os gremistas irão lotar "O Meu Bar"… bacana eles terem essa alternativa… nada que uma boa máteria venha mostrar-lhes tão democrático é a capital paulista e que seus moradores não se importam em dividir com quem quer que seja as boas e ruins coisas da cidade. É uma cidade cosmopolita!!!… (cosmopolitano como é de seu rico conhecimento… é um pensamento filosófico que despreza as fronteiras geográficas imposta pela sociedade considerando que a humanidade — ou, ao menos os cultos — segue as leis do Universo — isto é, considera os homens como formadores de uma única nação, não vendo diferenças entre as mesmas, avaliando o mundo como uma pátria). Se faz necessário este aparte, pois sou paulista de nascença e paulistano de anos, e nada mais justo essa simples lembrança. Terra que acolhe, nem sempre de uma forma calorosa mas, onde as pessoas podem lutar ao menos pelos seus sonhos!
    Na verdade, somos tricolores e por sermos, temos muito a comemorar.
    Um abraço.

  6. Sou Colorado . Moro no Paraná onde temos, em Maringá, dois bares pertinhos um do outro. Um de Colorados e outro de Gremistas. Brincamos muito uns com os outros antes e depois dos jogos. Nessa vez levamos muita flauta.
    Mas é tudo muito saudável e divertido.
    Abraço aos Gremistas de São Paulo. Especialmente para o Primo Sérgio e suas gêmeas maravilhosas.
    Longe dos pagos, confesso que até torço pelo Grêmio.

  7. Marcelo, atualmente o Consulado do Grêmio em São Paulo se reúne para assistir aos jogos no bar Dona Nina – Vila Madalena Rua Arapiraca, Pinheiros, São Paulo-SP, 05443-110, Brasil

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