Pelo direito de ser cidadão de Paraisópolis

 

Éramos 11 na sala simples que fica no primeiro andar da sede da União dos Moradores e do Comércio de Paraisópolis, uma das maiores favelas da capital paulista. Eu, Joildo dos Santos, o coordenador, e uma garotada interessante e interessada que participa do Curso de Comunicação Comunitária. Conversamos pouco mais de uma hora sobre jornalismo e cidadania.

Pra chegar até lá, você passa por ruas estreitas, cheias de carros e gente. Tem calçamento em parte das vias de acesso mas o espaço para cruzar é pequeno. Apesar de ser mão dupla, mal passa um automóvel. Se estiver descendo uma lotação, melhor dar ré ou encostar ao máximo no meio fio.

A calçada é menor ainda. Tem lugar apenas para o poste, escadas irregulares que saem da porta da loja ou da casa, cadeiras de bares. Lugar de pedestre é na rua. Ao menos é a impressão que passa. Convenhamos, não é muito diferente do bairro que você mora. Ou vai me convencer de que por aí as calçadas são dos pedestres ?

O prédio da associação dos moradores é grande comparado com as casas que tem ao redor. Lá dentro as intenções são maiores ainda. Entre portas, salas e corredores, tem computadores e conhecimento a ser compartilhado. Tem um pessoal ajudando, e tem um pessoal aprendendo. Na sala que ocupávamos, havia os dois.

Falei de como uso o rádio, as mídias digitais e as redes sociais para fazer jornalismo. E incentivei que eles façam o mesmo. Devem explorar as ferramentas à disposição para dar dimensão ao discurso que defendem, elevar a ideia que protagonizam e conquistar espaço na mídia.

Falaram em preconceito, visão pasteurizada e imagem distorcida que transmitimos. Disseram não se reconhecer nos programas de TV de fim de tarde que alardeiam notícias das comunidades carentes de São Paulo. Aliás, não conseguem se enxergar como são também no rádio e nos jornais.

Terão oportunidade de mostrar o que entendem ser o jornalismo comunitário assim que for ao ar a Nova Paraisópolis FM 87.5. A autorização já foi recebida, o conselho formado por moradores que controlará a programação, também. Os equipamentos estão montados. Mas ainda falta uma linha que tem de ser instalada pela Telefonica. E a empresa não cede a linha porque espera o documento definitivo do Ministério das Comunicações. E o Ministério das Comunicações não envia o documento porque quer fazer cerimônia popular.

Ouça reportagem que foi ao ar no CBN SP no dia 1o de fevereiro sobre a criação da rádio comunitária em Paraisópolis.

Não sei o que consegui deixar por lá, mas levei o entusiasmo de moças e moços interessados em mostrar que merecem o título de cidadão paulistano. Cidadão que não tem vergonha de dizer que mora em Paraisópolis – como fez questão de lembrar um dos 11 que estavam naquela sala, na tarde de quarta-feira.

Em tempo: A licença definitiva para a rádio comunitária de Paraisópolis será retirada em Brasília, conforme informação que recebi nesta sexta-feira, e a expectativa é que com esta em mão a Telefonica libere a linha necessária para a emissora ir ao ar (publicado às 17:26)

4 comentários sobre “Pelo direito de ser cidadão de Paraisópolis

  1. prezado;
    vcs vêem que as coisas querem avançar…
    desafio a CBN, a fazer de fato um trabalho jornalístico e tornar público aqui no site a lista dos parlamentares que não poderiam se candidatar se a lei aprovada fosse a do projeto original!
    e divulgar a lista depois dos que serão impedidos de se candidatar pela lei aprovada!
    acho que algumas notícias, a gente pode ler nos boletin e jornaizinhos das associações e comunidades (como bueiros, buracos, etc…).
    num veículo como a CBN, eu gostaria de ver informado, divulgado e que vcs contribuíssem em fazer avançar a saúde estagnada que o Serra deixou na cidade e no estado de São Paulo – são, 5 meses para uma consulta com clínico geral!!!
    e a CBN nada? só tampa de bueiro, transito… é de fato a rádio que troca a notícia!? lamentável!!
    podem escolher, UBS do Heliópolis, da Vila Arapuá, qualquer da Vila Mara, do JaAbaquara… fiquem a vontade para entrevistar os ouvintes da CBN, que definham na política desumana dos tucanos e demos!!!
    os donos dos meios de comunicação, os editorialistas, se dormem a noite, é porque já desenvolveram alguma sóciopatia!!
    desculpe-me! bom dia.

  2. Mal posso esperar para ouvir a rádio comunitária desse pessoal. Com certeza vai ser uma aula de jornalismo para todos nós, profissionais da área, interessados em defender a cidadania na terra de Chapolim Colorado.

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