Não basta votar, tem de controlar

 

 

Sujeira eleitoral

A senhora estava indo embora quando foi chamada pelo mesário:

– A senhora ainda não acabou ?

Ela demorou para entender o recado, voltou para trás do papelão do TRE, onde fica escondida a urna eletrônica, apertou mais algumas teclas. E nada do sinal de voto concluído soar. Demora daqui, chega outra pessoa ali e, na seção, já havia três a espera depois de mim.

O mesário resolveu dar mais uma força:

– Ainda “está” faltando votos.

– Como é que é ?

– Tem mais gente pra votar, senhora !

Trim, trim, trim. E na tela da urna eletrônica deve ter aparecido a palavra FIM. Ela tirou os óculos, colocou na bolsa, e murmurou alguma desculpa qualquer para o mesário. Tipo: – “é muita coisa pra escolher”. Saiu dali meio constrangida, mas com a sensação de dever cumprido.

Entrei em seguida com a cola na mão, teclei em ritmo acelerado, com tempo de ver a foto do candidato e confirmar. Em menos de 1 minuto minhas escolhas estavam registradas.

Logo que deixei a escola, ainda impressionado com a qualidade (baixa) da sala de aula e o quadro-negro pichado, vi as pessoas saindo apressadas. Seguiam para um lugar que desconheço. Talvez a casa, um restaurante próximo, quem sabe tinham de trabalhar ou encontrar amigos e parentes.

Na calçada tropeçavam nos “santinhos” que se transformaram em uma praga nesta eleição. Foram jogados e espalhados desde a madrugada por gente sem escrúpulo nem respeito. Motivo de indignação de cidadãos que resolveram registrar as imagens da sujeira eleitoral em protesto.

Alguém me perguntou por que esta prática se acirrou neste ano.

Desconfio que seja resultado da dificuldade da maioria dos candidatos de se tornar visível ao cidadão. Com menos dinheiro em caixa, maior restrição na lei eleitoral e a indecisão do eleitor, partiram para o ataque da maneira mais suja (do ponto de vista da poluição ambiental) na tentativa de ter seu nome ou número lembrado.

A escolha de última hora nos votos para o parlamento, em especial a deputado estadual e federal, é comum. Além de provocar decisões de qualidade duvidosa, costuma ser tomada sem comprometimento. Ou seja, a ligação com o candidato é pequena e mal se sabe o que ele é (in)capaz de fazer. Amanhã ou daqui a pouco,

Lembrei da senhora que havia votado antes de mim. Ao contrário do que deve ter imaginado, o dever ainda não estava cumprido. A etapa mais complicada começa em seguida quando teremos de estender nosso papel de cidadão à fiscalização dos parlamentares.

Somos responsáveis pelo voto que demos. E, portanto, temos a obrigação de controlar os políticos que elegemos para que eles não nos controlem.

17 comentários sobre “Não basta votar, tem de controlar

  1. Milton, aqui em Belém tentei explicar p minha filha de 7 anos o que era a “ficha limpa”. Ela vinha me ouvindo atentamente até chegarmos ao local de votação. Lá, a sujeira se espalhava como em sua foto… e ela me perguntou: “esses q jogaram o papel no chão também são ficha suja e a gente não vota, né mãe???” Ri muito… Bjs amazônicos pra vc!

  2. Eu presenciei hoje um casal com um filhinho no colo a caminho da portaria da escola para voltar e quando estavam quase entrando, uma loira simpática e comunicativa aborda o casal e da um santinho para cada um, eu pensei logo, o casal foi simpático e vai pegar o santinho e logo depois jogar fora, mais não, o casal começou a fazer perguntas sobre o candidato e parece que estavam em dúvida se votaria ou não naquele político do santinho, quando a loira da um beijo na criança e agradece ao casal pela confiança. Acho que o Brasil tem muuuito a crescer ainda.

  3. Olá Mílton.

    Minha esposa reparou e comentou comigo, que ao observar os santinhos jogados nas ruas, não foram encontrados nenhum santinho do partido verde. Ela me pergunta: Isso é falta de dinheiro o conciência? Eu acredito que é conciência. sobretudo, quem não suja a cidade merece meu voto. Acho absurdo, que ainda encontremos em nosso pais, politicos que não tenha conciência ambiental. Independente a proposta política dos canditados, “educação” é o mínimo que o candidato deve ter.

  4. em fim o “primeiro tempo” terminou, com resultados contradizendo todos os institutos de pesquisas feitas antes das eleições!
    Os tais dos Datas.
    Como não acredito nas pesquisas e informações, esperava os resultados apresentados pós eleições.
    Mas em se tratando em quam votar, realmente, nos dias de hoje não é uma das tarefas das mais fáceis.
    Vejam o exemplo neste video, como um vereador trata uma reporter, quando esta o aborda educadamente para uma entrevista.
    http://blogdoaitalo.blogspot.com/2010/10/este-video-retrata-como-escolhemos.html#comments
    Mesmo assim tivemos palhaços, muleres frutas, poposudas, artista pornô e por ai adiante.
    Boa semana a todos.

  5. Olá Milton!
    Pensando ontem a respeito do Dep. Federal mais votado, o Tiririca, eu e meu amigo ficamos pensando em outros deputados que também entraram no governo por brincadeiras ou fama e chegamos a uma conclusão chocante.
    O Enéas quando finalmente conseguiu ser eleito, o que aconteceu?? Ele veio a falecer.
    O Clodovil também teve uma votação enorme e quando entrou o que aconteceu ?? Faleceu também.
    Será que o Tiririca deveria ter medo?? haha
    Vamos contar a ele isso, e ver se ele desiste a tempo?
    Abraço!

  6. Quando eu era mesário ficava espantado com a quantidade de gente que vota sem saber, fora da ordem, como a senhora do texto. Sai antes de concluir, quer continuar votando mesmo depois de acabar…
    Você pensa: “Que diabos esse cara fez ali?”
    É triste. Mas cabe a nós e a mais ninguém mudar isso.

  7. Como disse o internauta LUIZ HENRIQUE (DA UNIP):
    _ “VOTAI E VIGIAI, IRMÃOS!!”

    Porém lendo seu texto e numa rápida reflexão, lembro-me que desde de pequeno, pequeno mesmo, lá pelo 8, 10 anos, que as ruas e calçadas já ficam lotadas dos tais papéis santinhos;

    então deixo uma sugestão para os partidos políticos e para os cidadãos quem sabem exigir assim nas próximas eleições:

    cada candidato e partido poderiam deixar pessoas contratadas e/ou simpatizantes ou…, vestidos com camisetas do tal candidato e com santinhos para quem quisse pegar e não ficar dando, também estes poderiam ter um histórico do tal candidato(s) e ou partido(s) explicando o que “este” já fez na vida, o que ele pretende fazer e como pretende fazer;

    então nós cidadãos que estivessemos com dúvida poderiamos, se assim quissermos ir até estes cidadãos saber mais e se nos interessarmos pegaríamos os tais santinhos (cola) para na urna fazermos nosso voto;

    TALVEZ VOCÊS ACHEM / ACREDITEM QUE TAL NÃO SEJA POSSÍVEL, porém este que escreve acredita que tal é possível;
    lógico que as gráficas não vão gostar e as pessoas que nelas trabalhão também não, porém ainda assim EU faria desta forma!!!;

    lógico que concerteza tem outras formas para tal, mas tenho um compromisso logo mais, outra hora continuo, serão a parte 2 e parte 3, aguardem e não deixem de ler os comentários do blog do cidadão Milton Jung;

    intém, ótima semana a todos;

    ass: Douglas S.DaCosta – The Flash

    eujafuiprejudicadoporservicospublicos.wordpress.com

    #

  8. Nathália,

    Ou ele fica com medo, por ter pouco tempo de vida e trabalhe nesse tempo que lhe resta, mas…..
    Só vai fazer figura e lhe lá, É o famoso Cacareco do século 21.
    Abraços

  9. Sujeira, provocada pelos “santinhos” dos candidatos, foi o que se viu,especialmente,no dia 3 de outubro,não apenas em São Paulo. Também em Porto Alegre os danados estavam espalhados nos locais de votação em enorme quantidade. Pior,porém,foram as placas de propaganda colocadas em lugares estratérgicos. Em muitos casos,prejudicavam a visibilidade dos motoristas e,quando batia o vento,algo comum na primavera por aqui,voavam para o meio da rua,atrapalhando o trânsito.

  10. “DIVULGAI, SE ELEGEI (OU NÃO) E LIMPAI PUBLIUS VIAS, NÓBILIS POLITIC(K)US. “NON” SEDE SUÍNUS IN TERRA BRASILIS. MOSTRAI PARA PRÓXIMUS PLEITOS QUE TENDES HONORIS TENDENCIS. DOMINUS VOBISCUS. AMÉÉÉÉN!!”

  11. Mesmo quando não há resposta e a gente passa então a entender por que para questões na cidade, também nunca há resposta. Mesmo quando a sessão na casa do povo, tem de tudo menos povo. Mesmo quando todas as informações que são obrigação do poder público e direito de quem quer saber, estão mais diluídas num mar de páginas que remédio homeopático em água. Ou quando a presença nas sessões pode ser carimbada na porta de um elevador privativo com acesso apara a garagem.
    Basta uma chegadinha do povo, na casa do povo, e estas armações são reveladas como quando a gente chega em casa, acende a luz da sala e descobre que deixou a janela aberta, justamente no dia que a previsão do tempo não previa chuva.
    Sábado que vem estaremos outra vez no Centro Cultural SP. Pra quem realmente quiser fazer mais do que votar e reclamar.
    Há também vários outros grupos cidadãos e páginas na internet, dedicadas ao acompanhamento de políticos, algumas foram descritas aqui mesmo, alguns posts antes deste.

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