De contração e expansão


Por Maria Lucia Solla

Céu de São Paulo

Ouça De contração e expansão na voz e sonorizado pela autora

Dinheiro e poder não transformam, não corrompem, mas têm o poder de revelar, como se revelavam as fotografias há pouco. Revelam nossa essência, deixam à mostra o que se instalou em nós, da educação que recebemos na família, e da influência da escola, de amigos e da vida; ao longo dela.

Poder e dinheiro fazem um raio X da personalidade e a exibem para o mundo, imprimindo seus ingredientes em cada gesto, palavra, atitude, ação e reação. Nos põem do avesso.

Quando chegam, dinheiro e poder soltam as amarras que limitam os passos, que impedem de experimentar a receita sofisticada, o par de sapatos de grife, o eletrônico da hora, que surge todo dia, toda hora. É com o aval da chegada deles que tratamos ou destratamos o outro, ao sabor de alegria e frustração. É através da lente deles que respeitamos ou desrespeitamos o vivente do lado, o da frente, de trás, e libertamos ou subjugamos, com o mesmo aval dado por eles.

Falo disso porque canso de ouvir que matéria é passagem para o inferno, que dinheiro é sujo, que muda a cabeça da gente. Canso de ouvir que fulano ficou besta depois que enricou. Ficou besta, não; já era. Só tem mais coragem e mais liberdade para ser quem verdadeiramente é.

Não há o que nos transforme, sinto pelo informe. Nada; nadica de nada. Nem melhorar, nem piorar. Fomos longe demais acreditando na cartilha passada de geração em geração, comportamental e oralmente, feito telefone sem fio, e não paramos para avaliar o passado, o hoje, o presente, o agora. Fomos longe demais, sempre correndo atrás da vida, sem alcançá-la, por medo dela. Queremos o prazer, e disseminamos frustração.

Nada fora pode nos mudar. Só o que transforma o homem, é ele mesmo, ouvindo o coração, afastando pensamento que faz o corpo contrair e acolhendo o que o faz expandir; que faz sorrir, que faz achar que vale a pena continuar.

Se quisermos, sorriremos mais e mentiremos menos; e quando isso acontecer, o sol vai acordar cedo no verão e dormir, preguiçoso, no inverno. O amor vai vencer o medo. O ser humano vai viver feito abelha e formiga, cuidando junto, do bem-comum.

Quando isso acontecer, ninguém mais vai se lembrar de que houve um tempo em que culpa e medo eram arma, quando a gente vivia se queixando do odor das flores do mal. Quando isso acontecer, o dever e o prazer terão pesos iguais. E eu sorrio só de pensar, e meu corpo se expande.

Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e realiza curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung

8 comentários sobre “De contração e expansão

  1. Maria Lucia,

    Tô contigo, flor! Poder e dinheiro só expõem o que está lá dentro, esperando o gatilho ser acionado. E uma vez disparado, põe pra fora o que somos na essência, de verdade. Aí conhecemos de fato as pessoas… e quanta supresa!

    Beijo e bom domingo,
    Su

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