Fui e continuo sendo um pai preocupado

 

Por Milton Ferretti Jung

Rota de Bicicleta

Fui e continuo sendo um pai preocupado, em especial, com a saúde e a segurança dos meus filhos e, agora, dos netos. Nem com o passar dos anos esta preocupação diminuiu. Talvez não tenha aumentado, mas continua exagerada,confesso lisamente. Já que confessei este meu problema, os meus preciosos leitores podem imaginar como ficou o meu estado de espírito quando fiquei sabendo que o responsável pela existência deste blog iria participar do Desafio Intermodal 2010, ele e Heródoto Barbeiro representando a CBN. Desculpem-me os que lembram o que cada um tinha se proposto a realizar no Desafio, mas para quem não sabe, explico: Heródoto, de helicóptero; Milton, de bicicleta, teriam de partir de local predeterminado para saber quem seria o primeiro a chegar ao Viaduto do Chá.
Soube depois que o helicóptero não conseguiu decolar por causa do mau tempo. O registro, em vídeo, do trajeto percorrido pelo Mílton (vídeo que, também, somente vi depois de concluído o Desafio) foi, para mim, o mais assustador. Afinal, sei bem o que é o trânsito em São Paulo e o que representa para um ciclista, ainda mais um pedalador nada acostumado, conduzir frágil bike, misturado com veículos de maior porte. Pelo jeito, a experiência do Mílton apenas assustou seu pai, isto é, eu. Ele repetiu a dose, mas desafiando a si próprio, quando pedalou até a CBN e de lá retornou.

Zero Hora, jornal de Porto Alegre, editou matéria de meia página sobre o crescimento do número de acidentes envolvendo bicicletas no Rio Grande do Sul. Ciclovias, na capital gaúcha, são insuficientes. Sei que isso também ocorre em São Paulo. Aqui no estado, rezam as estatísticas, enquanto diminuíram acidentes fatais automotivos e os números que dizem respeito aos envolvendo caminhões e ônibus, cresceu o número de mortes de ciclistas. Ocorre que mais pessoas estão se utilizando de bicicletas, tanto para passear quanto para trabalhar. O que fazer para evitar tragédias? Colocar à disposição não uma ou duas, mas inúmeras ciclovias. Isso. no entanto, ainda será pouco se não for resolvido o gravíssimo problema da falta de educação de motoristas, motociclistas e ciclistas. Tenho insistido e vou seguir insisitindo neste ponto, mesmo correndo o risco de ser tachado de mala.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

10 comentários sobre “Fui e continuo sendo um pai preocupado

  1. Seu Milton,

    Escrevo como fã do seu filho e também como filho de um pai preocupado. Assim como o senhor, o meu também não ficou muito feliz quando comuniquei a intenção de passar a me locomover de bicicleta em São Paulo.

    Chegamos, no entanto, em uma situação limite em São Paulo. E, neste contexto, ou você é parte do problema ou da solução. Viver com medo é o que tem feito a gente construir grades, muros, e começar a se deslocar em verdadeiros tanques de guerra.

    Escrevi dois textos a respeito e gostaria de compartilhá-los com o senhor:
    http://outrasvias.wordpress.com/2010/10/27/a-estetica-do-medo/
    http://outrasvias.wordpress.com/2011/06/22/a-violencia-do-medo/

    Um abraço,

    santini

  2. CERTÍSSIMO SR. MILTON , NESTE DIA ACOMPANHEI TUDO E TORCI PARA O MILTON , MAS , CONFESSO QUE TAMBÉM ACHEI PERIGOSO.
    ABRAÇOS ALEGRES.

    • Rosangela,

      Obrigado pela preocupação, apesar de não considerá-la necessária. Nos pedais, costumamos ter cuidado redobrado e usado rotas seguras (quase sempre).

  3. Oi Sr Milton Pai

    Não fique preocupado.
    Desde que me conheço “por gente” sempre pedalei a trabalho como entregado, não de pizza ok, e nunca sofri acidentes sérios, a não ser alguns tombos durante peripecias na juventude, uns esbarrões, alguns ossos quebrados, uns dias internado em alguns hospitais, “nada assim tão relevante”
    eheheh

    Brincadeirinha
    Nunca sofri acidentes nos mais de cincoenta anos sobre bikes
    O ciclista deve ser cauteloso, respeitar leis do transito, não ter pressa, não ficar costurando no transito, não trafegar na contramão, nao correr para chegar mais cedo, pedalar normalmente sem stress e sem pressa, fazer a manutenção periodica na bike, usar capacete, roupas apropriadas, espelho retrovisor, “luzes de navegação noturna” assim tudo vai bem
    e o seu amado filho Milton Jung corresponde plenamente a todos os requisitos acima.
    Parei de pedalar porque meu joelho direito literalmetne arrebentou durante outra pratica esportiva.

    cordialmente
    Armando Italo

  4. Senhor Miltão (perdoe a intimidade, mas é só um meio carinhoso de identificar pai e filho) vou te falar uma coisa, não me ouça como um ciclista fanático, mas como uma pessoa que já pedalou por centenas de cidades pelo Brasil e ainda por cima é um pai tão preocupado como qualquer outro.

    Se eu tiver que fazer uma avaliação da melhor cidade do Brasil para se pedalar (em relação a segurança) digo sem pestanejar. São Paulo é a melhor cidade do Brasil para se pedalar.

    Mas confesso que essa não era a realidade que encontrávamos aqui a cerca de 5 anos. Ocorre que nessa cidade está ocorrendo dois fatos importantes que acabam contribuindo para melhorar a vida dos ciclistas. O primeiro é o próprio trânsito, como aqui tem muito carro, é praticamente impossivel um motorista atingir os limites das vias (a não ser de madrugada ou feriados prolongados) portanto nossos motoristas se acostumaram a andar devagar.

    Outro fator importante está na mudança de comportamento dos motoristas, realmente o motorista de São Paulo é infinitamente mais educado que o motorista médio do resto das cidades brasileiras que pedalei (Poa é uma das poucas que “ainda” não fui, mas irei em breve).

    Aqui é comum observarmos um carro andando atrás de nós, mesmo quando há tempo para ele nos ultrapassar e fazer uma conversão a direita, mas a maioria espera pacientemente antes de fazer uma conversão, nos protegendo, algo que raramente ocorre em outras cidades brasileiras.

    Ocorre que tragédias infelizmente ocorrem e sempre irão ocorrer, mas isso é com ciclistas, motoristas, motoqueiros, pedestres, ou seja, qualquer um que se dispõe a viver. Mas quando elas ocorrem aqui em São Paulo tomam uma dimensão maior, até mesmo pela mobilização natural dos ciclistas, como ocorreu com o senhor Antonelo.

    Poucos sabem, mas os ciclistas, pelas nossas redes já sabíamos do acidente dele antes mesmo da família e mobilizamos pessoas para ir ao hospital, ao IML e a Delegacia para dar apoio a família e ajudar a organizar uma manifestação para não deixar aquilo passar em branco. Portanto, mesmo se o senhor Antonelo fosse um gari, haveria uma manifestação da mesma forma.

    Mas os números de fatalidades com ciclistas em São Paulo são baixos, se comparados com o resto do mundo e principalmente com o resto do Brasil. Enquanto em São Paulo temos 46 mortes de ciclistas por ano, em NY e Berlim são cerca de 20.

    Agora Brasilia, uma cidade com 1 milhão de habitantes (10% de São Paulo) tem mais de 60 por ano. Por isso que lutamos tanto para melhorar as condições dos ciclistas aqui, pois sabemos que tudo que dá certo aqui é copiado e serve de inspiração para o resto do Brasil.

    Isso é só para você ter uma noção do quanto é importante o trabalho do seu filho na divulgação das coisas que ocorrem em relação a bicicleta em São Paulo e no estímulo para as pessoas pedalar, pois com certeza, milhares de ouvintes dele passaram, não só a andar de bicicleta na cidade, mas também a respeitar mais o ciclista quando estão em seus carros.

    Compreendo sua preocupação como pai, mas sugiro que, quando o senhor vir a São Paulo, se possivel dê uma volta com a gente (e com seu filho obviamente) para perceber in loco essa sensação que sentimos.

    Pedalar não é coisa de louco, não é coisa de atleta e tão pouco de aventureiro. Mas pedalar pode ser uma maneira interessante de ver o mundo sob uma ótica única, maravilhosa e principalmente, mais humana.

    Abraços

    André Pasqualini

  5. Miltão (gostei do apelido do André Pasqualini),

    pedalo raramente pela cidade, e quando o faço, percorro o treço da avenida Paulista-Jabaquara em horários de picos!

    Tenho medo de cair, de derrapar, de freiar demais, de freiar de menos, de ir muito rápido, de ir muito devagar, de tomar chuva, de enfrentar o trânsito no entardecer.. Mas para todos esses medos eu tenho coragem de enfrentar!

    O único medo que eu não consigo enfrentar é saber/achar que quando eu cair (um dia eu irei sofrer meu primeiro tombo) minha família irá me questionar sobre minha iniciativa de enfrentar com meu corpo o trânsito de São Paulo.

    Mais difícil que pedalar com um onibus acelerando atrás de você, é saber que poucas pessoas o apoiam nessa iniciativa!

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