Por Maria Lucia Solla
Ouça este texto na voz e sonorizado pela autora
Faz tempo ouvi de um amigo dos meus filhos, quando ainda eram adolescentes, que a gente ensina o que precisa aprender. E não é? Tudo bem que quando a gente está no pique de falar mais que a boca para ouvir o som da própria voz, acreditando ser dono da razão, pode parecer que não, mas o falar sem ouvir é chegar ao mestre com a xícara cheia, é estar tão repleto, que uma pá de coisas boas gritam em volta, e nada! A gente está tão distraído pelo som que produz, que não ouve. Aí a vida, que é aliada e não judas declarada, espera o tempo justo para que a gente se dê conta da situação, e quando a gente não se dá, ela dá um jeito de fazer a gente entender, de fazer cair a ficha. Não é puxão de orelha, não é castigo, que isso é história de bicho-papão e a gente já passou da idade de acreditar nele. É a tal da oportunidade.
Então a ficha cai, e a gente se cala, fica boquiaberto, paralisado. A gente sai de cena. Não tem como continuar no palco quando não sabe a fala. O que dizer quando a gente se dá conta de que fala, fala, fala e faz pouco do que diz? O que fazer quando se dá conta de que a tralha velha precisa ser descartada para dar lugar ao novo que se insinua? O que fazer quando se dá conta de que o tempo está se escoando e ainda há tanto a fazer, a aprender, a curtir? O que fazer quando percebe que pegou a estrada errada? Continuar fingindo que não se deu conta, para que o mundo não perceba que a gente não é dono da certeza?
O nascer de cada dia traz oportunidade de acordar do sono profundo que é a vida; sem trégua. Mas o sono da vida é tentador, sedutor, e a gente, que nem sabe do que tem fome, abre um cadinho os olhos para o real e volta a fechar, sem se dar conta de que não se trata de ir pela direita ou pela esquerda, não se trata de fazer assim ou assado; de abrir mão do prazer e se açoitar. Trata-se simplesmente de ir se entregando sem medo, pela rota do coração aliado à razão. Assim a dor que aflige já não domina; vai dando lugar à força. A desesperança deixa de ser tão teimosa e dá a mão à esperança, reconhecendo que, no fundo e na superfície, é juntas que conseguem chegar a algum lugar.
E a gente percebe então com maior nitidez que o mapa da vida que a gente conhece não mostra o desenho do caminho da vida de mais ninguém sobre a face desta doida terra, percebendo a maravilha da trama dos diferentes caminhos que se cruzam e se afastam na velocidade do inspirar e expirar, e então a gente sorri e se cala ao menos um pouco.
Maria Lucia Solla é terapeuta, professora de língua estrangeira e promove curso de comunicação e expressão. Aos domingos, escreve no Blog do Mílton Jung

Oi Amiga, perfeito como sempre, muito melhor do que o meu do próximo sábado, embora a idéia seja semelhante. Apenas a autora é muito mais talentosa! Bjs Maryur
Prezada Maria Lucia,
Boa tarde.
Lindo texto.
Por esta razão digo o importante é viver e com alegria e saúde
beijo
farininha
Lindo! São cortesia do mesmo autor, o céu, as estrelas , a benção da respiração e a inspiração para textos como o seu.
Maryur,
amizade traz sintonia.
Melhor? Pior? Não. Diferente.
beijo,
ml
Farina,
sabe que é muito comum, lá no sul, o povo dizer: me deseja saúde que do resto eu vou atrás.
Você tem razão, saúde dá lugar à alegria e alegria gera saúde.
Viva!
beijo,
ml
Rosângela,
E que autor!
E você não mede esforço pra chegar até aqui e deixar o teu carinho.
Beijo e uma semana bonita pra você,
ml
Mama,
Bem vinda de volta a Sampa. Que a alegria do retorno gere a saúde… Oba!
Bjs
Pi
Filho meu,
tenho me sentido muito bem-revinda. Uma pá de gente amiga e querida me mimando.
Cheguei à conclusão de que não posso dizer que minha vida é triste ou alegre, mas o que tem de intensidade, sai da frente!
beijo, meu anjo,
mm