Comboio dos pobres

 

Comboio de Kombi

O comboio de kombi transportando carrinhos e ambulantes, fotografado pelo ouvinte-internauta Francisco dos Santos, revela bem mais do que uma curiosa imagem do cotidiano da cidade de São Paulo. Após publicá-la no nosso álbum digital do Flickr, o colaborador do Blog Devanir Amâncio acrescentou informações que alertam para um tipo de exploração bastante comum na periferia da capital. Fiquei sabendo que comboios como esses são muito conhecidos nas áreas mais pobres da Grande São Paulo, alguns considerados suspeitos e odiados por parte desta população:

“Eles vendem queijo, ‘danone  caseiro ‘, carne seca ,mel , roupas de cama,mesa e banho e muitas bugigangas. Pães não se vê mais. Vendem para receber no final do mês ou em três vezes. No Jardim Jangadeiro,  Jardim Ângela, Capão Redondo, os pobrezinhos – a um passo da “classe C” – estão endividados com as “lojas ambulantes”. São como agiotas ou piores. Ai de quem não pagar. A cobrança  fica por conta de um “Xerife”. Os índios, em Parelheiros, zona Sul e no Jaraguá, zona Oeste, estão devendo até a alma para os  ‘ambulantes deliverys’, que poderiam ser chamados de empresários da miséria e necessidade alheia.

……

Não podemos generalizar. A maioria dos jovens (vendedores) que empurram os carrinhos, subindo e descendo morros – quase sempre – é menor de idade, se alimenta e se veste mal; tem a aparência debilitada pelo desânimo, é semi-analfabeta. Eles saíram  do sertão do Nordeste e outras regiões do Brasil  em busca de uma vida melhor.

Devanir conversou, também, com Dona Antônia do Grajaú, gari e moradora da zona Sul da capital. Ela disse que essa gente não tem nada dos mascates de antigamente, de Minas e Paraná. Na descrição dela, aqueles eram honestos, donos do próprio negócio: “Quando chegavam, na época da colheita, era uma festa. Dormiam na casa do freguês, parecia da família”.

Pelo que se percebe a situação é completamente diferente e beira ao desrespeito aos direitos humanos, com necessidade de intervenção do Ministério do Trabalho, Vigilância Sanitária, Polícia Militar e órgão de assistência social.

2 comentários sobre “Comboio dos pobres

  1. Aqui pela região da Vila Nova Cachoeirinha/Brasilândia também existe este tipo de ambulantes. Chega ser assustador a quantidade de fichas que carregam nas mãos -fichas que substituem a antiga caderneta- com a dívida de seus “clientes”.

    Por aqui ainda existem os padeiros, alguns ainda de bicicletas e aquela buzina insuportável e outros mais bem sucedidos trabalham de moto. Acrescente-se também os vendedores de pamonha, com carrinhos semelhantes ao que estão nas kombis da foto.

    Pelo menos uma vez por semana estaciona numa praça aqui da região, um caminhão (MB-608) e passa o dia por ali enquanto uma dezena de vendedores circulam pela região com seus produtos (calçados, cintos, bolsas, etc.). Ao final da tarde todos voltam, fazem seus acertos de contas e vão embora, no dia seguinte farão o mesmo em outra região.

    Aproveito a oportunidade para desejar ao amigo Milton, um ótimo período de merecido descanso e até a volta!

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