Caminhoneiros e ciclistas na conquista do espaço urbano

 

Bicicleta na pista

 

A morte de cinco ciclistas na sexta-feira passada – em Brasília, Pará, Pernambuco, Santa Catarina e São Paulo – e o protesto frustrado dos motoristas de caminhão na capital paulista estão mais próximos do que se possa imaginar. Nos dois casos, há disputa pelo direito de usar o espaço público nas cidades, superlotadas desde que o homem deixou o campo e passou a ocupar de forma abusiva o ambiente urbano, onde vivem 80% da população brasileira, atualmente. Com ruas, avenidas e grandes vias engarrafadas, bicicletas dividem o asfalto com carros, motos, caminhões, ônibus e todo tipo de meio capaz de nos levar de um ponto a outro (em Porto Alegre, recentemente, ainda vi carroças puxadas a cavalo percorrendo corredores importantes de tráfego). Elo mais fraco desta rede de transporte, os ciclistas, ao lado de pedestres, são as maiores vítimas – as duas categorias juntas têm 584 mil mortes ou 46% de um total de 1,2 milhão de pessoas que perdem a vida em acidentes de trânsito, por ano, no Mundo, conforme relatório da Organização Mundial de Saúde.

 

A mesma política que privilegiou o transporte individual nas cidades, impediu investimentos sérios em ferrovias e fez com que a economia brasileira tivesse de ser carregada em caminhões que atravessam as regiões metropolitanas para chegar a seu destino, transtornando ainda mais o ambiente urbano. Sem opções seguras e com desvios que encarecem o transporte, os caminhoneiros insistem em cruzar as duas marginais de São Paulo, e a prefeitura tenta conter o impacto desses caminhões proibindo passagem na Pinheiros e restringindo horário para andar na Tietê. Não se avalia o que isso pode significar para a logística de empresas que funcionem ou precisem entregar suas mercadorias na capital nem o efeito dessa medidas na própria cidade. Pois se são retiradas carretas, para substituí-las contrata-se 20 vans ou 15 VUCs – estes caminhões menores -, segundo cálculo feito pelo presidente da Apemelt – Associação das Pequenas e Médias Empresas de Logística e Transportes do Estado de São Paulo, Jorge Soares.

 

Os caminhoneiros reclamaram segunda-feira sem sucesso, hoje será a vez dos ciclistas pedalarem em algumas das principais cidades brasileiras, a partir das sete da noite. Na falta de espaço urbano, uns morrem e outros gritam. Enquanto estivermos vivos, melhor gritar. Ou pedalar.

8 comentários sobre “Caminhoneiros e ciclistas na conquista do espaço urbano

  1. Caro Jornalista Mílton Jung,

    Eu até sei pedalar, por lazer, mas ainda não tenho coragem de enfrentar a rua…

    Se é que vou ter um dia com esse trânsito violento e selvagem…

    Também não quero invadir a calçada, como fazem vários “ciclistas”; que diria um motorista se eu começasse a andar no meio da pista? No mínimo os pilotos nervosos me dariam um buzinaço!!! Na pior das hipóteses algum mais afoito e furioso passaria por cima de mim!!!

    Mas e o ciclista que invade o espaço do pedestre? Ele não merece no mínimo uma vaia?

    Um abraço!

    Chi Qo
    Ouvinte do Jornal da CBN e Leitor do Blog

  2. Pessoas podem ser transportadas por ônibus, metrô, bicicleta (que desenvolve velocidade média superior ao do carro nos horários de pico) ou podem até caminhar (a uma velocidade média muito próxima à dos ônibus nos horários de pico), e é praticamente consenso entre urbanistas e especialistas em transportes que o automóvel está cada vez mais ineficiente e insustentável.
    Já os caminhões são mais difíceis de substituir. Mesmo se tivéssemos uma boa malha ferroviária, ela cobriria o transporte intermunicipal e de longas distâncias. As entregas dentro da cidade continuariam sendo feitas por caminhões.
    O mais curioso nesse protesto de caminhoneiros é que todos estão preocupados com a eventual falta de combustível nos postos. Não vi ninguém citar o risco de desabastecimento de alimentos nos supermercados, para citar um exemplo. É como um viciado em crise de abstinência: é mais importante conseguir a droga do que o alimento!
    Só um detalhe: deve haver algum engano nessa estatística de 1,2 milhão de mortes por ano no trânsito. Em rápida pesquisa no Google, algumas fontes falam em 40 mil, outras em 60 mil mortes. O que não deixa de ser um número assustador.

  3. Escutando a CBN a caminho do meu trabalho, me deparei novamente com as diversas opiniões sobre o tráfego de bicicleta na cidade de São Paulo. Após a morte da bióloga Juliana Dias, fato triste que tornou a discussão mais acalorada nos meios de comunicação, parei para pensar se de fato o problema é somente o pequeno espaço ocupado pelo ciclista ou a falta de educação em geral. A resposta é simples não é?. Hoje escrevo mediante aos três papéis que represento pelas ruas de São Paulo: A Condutora de um carro 1.000, a pedestre e por fim – ciclista, e infelizmente nas três situações encontro dificuldades.

    Eu detesto tomar multa e nada me deixa mais mal humorada do que receber uma correspondência indicando que tenho que pagar por alguma infração (isso ocorre porque já pago muitos impostos e pedágios para circular nesta cidade) e, por este motivo tenho o “péssimo” hábito de circular na via dentro da velocidade permitida, NÃO, não faço isso por que sou uma mulher e tenho medo de dar uma acelarada e, quando digo que ando nos limites do permitido inclue 100 km na Anhanguera e 120 na Bandeirantes então, meu problema não é o pé no freio (que isso fique bem claro). Não sei se alguém que lê meu relato neste momento, compartilha do mesmo “péssimo” hábito que eu e, se a resposta for sim com certeza recebe “elogios” que no mínimo culpam a coitada de sua mãe algo. Não andar acima do permitido me obriga inclusive conduzir apenas do lado direito da pista e eu sempre me pergunto: Por que não posso ficar do lado esquerdo se estou no limite? E a resposta é simples: Porque algum idiota vai me dar farol, praticamente encostar na traseira do meu carro, buzinar, fazer gestos e colocar a pobre coitada da minha mãe no rolo (sempre acredito que este cara sabe onde estão todos os radares ou que ele possue um GPS estúpido que diz: Corre o quanto quiser, quando tiver um detector de velocidade eu te aviso). Existe também um outro cidadão que divide meu espaço da pista chamado motociclista e este, na grande maioria dos casos, utiliza a buzina para indicar basicamente uma coisa: NÃO SE MOVA, ESTOU PASSANDO IDIOTA! Os motociclistas criam por sua conta uma faixa extra imaginária em meio aos carros e por lá eles passam. Vale lembrar que será uma experiência muito frustante se eu tentar mudar de faixa no momento em que o buzinador atômico estiver passando pois, caso o mesmo acredite que eu o tenha fechado valerá chutes e pontapés (Contra meu carro), gestos e xingamentos (contra a minha pessoa) e novamente a pobre da minha mãe no rolo.

    Como pedestre meus problemas são os mesmos de tantos outros, a falta de respeito, ou melhor consideração. Atravessar na faixa sem farol de pedestre se não for correndo, esquece. Posso contar nos dedos quantos motoristas me deram passagem durante o último mês e garanto que no máximo são três. E os dias de chuva… que tormento!. Os motoristas não tem a capacidade de reduzir um pouquinho a velocidade para não fazer com que a poça de água não se rebele contra mim. Pobre da mãe do motorista nesta hora, desculpe, mas é inevitável.

    Como ciclista ainda tenho poucos quilômetros rodados mas compartilho da indignação de tantos outros que precisam dividir o espaço com carros, ônibus, motos e pedestres pois, as calçadas algumas vezes se torna a opção mais viável (já passei por isso).

    Depois de tanto escrever e pensar chego a conclusão que o problema não será solucionado apenas com a criação de ciclofaixas, proibição para motociclistas e…deixa eu pensar… nada para os motoristas de carro além do rodízio e limitações de velocidade (estes são os donos das vias pois, as proibições afetam a todos os outros, menos eles – ATÉ GPS QUE AVISAM ONDEM ESTÃO OS RADARES ELES PODEM USAR!), a convivência só será mais harmônica quando os motoristas, motociclistas e ciclistas aprenderem a dividir melhor o espaço que é coletivo e isso só será possivel quando de fato melhorarmos a educação e o respeito ao próximo.

    Eu ainda tenho fé que conseguiremos melhorar
    Eu.Sou.Uma.Otimista.Incorrigível.

  4. Milton,

    Me desculpe mudar de assunto, mas achei relevante postar aqui no blog, para que outros palhaços, digo contribuintes, como eu tomem ciência, a denúncia que enviei ao ministério público e aos vereadores . Estou indignidado pela tentativa da prefeitura de legalizar o ilegalizável ato de ceder dinheiro (suado!!) para construirem um estádio de futebol na cidade, a tal da concorrência dirigida. Me parece que além de mal representados na cãmara dos lordes, estamos mal representado também no ministério público. Como é que a prefeitura percebe antes do MP que a lei de cessão de impostos era ilegal sem a concorrência pública??? Ou melhor, porque o MP não fez nada até agora (diz agora que vai investigar) para barrar a doação de dinheiro público ao tal estádio?
    Colo abaixo a mensagem que enviei ao MP e aos vereadores de São Paulo.

    —-
    Li em vários sites de internet, no dia de hoje, que a prefeitura de São Paulo lançou no último sábado um edital de concorrência claramente dirigido para beneficiar uma construtora e um clube de futebol. Tal edital é uma tentativa de legalizar a concessão criminosa de incentivos feita alguns meses atrás, já que tais concessões deveriam ser impessoais. E demonstra à que ponto pode chegar a desfaçatez dos nossos representantes, eleitos por voto direto, e que parecem flutuar acima da lei.
    Já a concessão do tal incentivo era um crime passível, a meu ver, de uma ação enérgica do Ministério Público, que, no entanto, parece ter assistido impassível o desenrolar dos fatos. Agora temos o agravante de nosso prefeito fazer uma concorrência direcionada.
    Junte-se a isso o fato de que uma das entidades envolvidas na concessão do benefício, a SCCP, deixou de recolher, entre 2007 e 2010, cerca de 20,5 milhões de reais (http:/www.blogdopaulinho.net/?p=32427 e http://primeirahora.com.br/site/index.php?pg=noticia&intNotID=41741), e que a obra teve aprovação em tempo recorde de relatórios complexos como o EIARIMA, além de não termos noticia sobre o cumprimento do acordo entre esse mesmo Ministério Público e a instituição SCCP, no tocante a tentativa de regularizar a cessão do espaço público onde está sendo construído o estádio (http://esporte.uol.com.br/futebol/copa-2014/ultimas-noticias/2012/03/06/mp-chama-simulacao-de-concorrencia-a-incentivo-do-itaquerao-de-risivel-e-anuncia-investigacao.htm), acordo esse aliás, num valor bastante vantajoso para a mesma instituição que agora é beneficiada pela concorrência dirigida.
    Sabemos também, pela imprensa, que no espaço onde as obras se desenvolvem, ao que parece à revelia da lei, existem dutos de material inflamável e não fomos informados por nenhum órgão oficial sobre as garantias de segurança aos trabalhadores e moradores do local.
    Pode uma entidade devedora de impostos receber benefícios fiscais? Não seria o caso de responsabilizar o prefeito financeiramente pelo prejuízo causado ao bolso dos contribuintes?
    Porque uma obra totalmente financiada com recursos públicos não tem os relatórios de impacto ambiental divulgados de forma transparente? O que vai ser feito para compensar o aumento de esgotos, de área impermeabilizada e de transito no local?
    Enquanto isso, outro clube da cidade, a SEP, que está construindo seu estádio sem uso de dinheiro público (até onde sabemos) tem enfrentado diversos embargos e dificuldades para obtenção das licenças e o SPFC enfrenta dificuldades até conseguir alvarás para eventos em seu estádio.
    Não sei se estou muito desinformado ou se as ações se desenrolam num nível que eu não consigo acompanhar, mas me parece que não vivemos num estado laico; Parece que vivemos num estado de dois pesos e duas medidas, onde quem pode mais chora menos.
    Até que ponto o ministério público compactua com essa situação? O prefeito está buscando o subterfúgio de uma concorrência direcionada apenas porque seus assessores o informaram da ilegalidade da lei assinada por ele meses atrás. Não deveria o ministério público, isento, ter ele mesmo acionado a prefeitura já naquela ocasião?

  5. Gilberto Dimestain explicou legal como é a circulação de caminhões em outros países com um bate papo com a Fabiola Cidral no CBN SP: Em nenhum lugar do mundo os caminhões tem livre acesso em regiões centrais. Eles tem horários e regras. Áqui tbém tem que ter uma regra. Uma readequação, um planejamento. Quando cheguei em Sp em 1980, as transportadoras tomavam conta de diversos bairros da Z.Norte inclusive a Vila Maria e Vila Guilherme. Jãnio Quadros proibiu que transportadoras ficassem nesses bairros residencias e nessa época construiram o Terminal de Cargas Fernão Dias. Foi a melhor coisa. Hj aos poucos essas transportadoras estão voltando para Vila Maria e região. Carretas e caminhões estão invadindo a Vila Maria novamente. No caso de transporte de combustiveis, eles poderiam pelo menos fazer um teste de uns 15 dias, apontar as dificuldades, dar sugestões, conversar e readequar o esquema de entrega. Mas não, eles não querem nem tentar. Partiram para o radical: Greve. O Brasil tem muito disso. Basta lançar algo que vem logo a famosa frase: Isso não vai dar certo. Gente, vamos tentar, se realmente for muito ruim, a categoria com bases concretos na mão tem como apontar as falhas Ai até mesmo o povo vai apoiar a categoria. Aqui é assim: se pintar a grama de amarelo, o cavalo não pasta.

  6. A verdade é que cada um defende seu peixe. Ciclistas defendem ciclovias, caminhoneiros querem rodar livremente, pedestres exigem respeito, quem não tem convênio quer bons hospitais, quem não tem grana para uma Facu particular reclama de falta de vagas nas públicas, o Corintianos defendem o Itaquerão, quem não é Corintiano reclama e assim vai. A gente só defende aquilo que nos interessa, o que não nos atinge a gente deixa pra lá. TEmos que lutar juntos, todos e não em pequenos grupos. Isso já ocorre no Congresso e nas Câmaras Municipais, cada um defende o seu interesse

  7. Não vejo,como quem se “assina” Chi Qo,qualquer problema em pedalar pelas calçadas da minha zona. O Mílton,responsável por este blog,relatou que é isso que o seu pai faz quando sai com sua bike. Como eu,o genitor dele também não confia nos que dirigem veículos motorizados. Dou preferência,aos pedestres que encontro no meu refúgio – as calçadas – paro a bicicleta nos pontos em que o passeio público é estreito e não sou visto como ameaça à segurança dos caminhantes. Logo,sua crítica,que até o levou a escrever ciclistas entre aspas,é descabida. Eu não invado calçadas. Bem pelo contrário,convivo perfeitamente com os pedestres.

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