Por Julio Tannus
Em 1976, participando de um projeto sobre sistema viário em SP, cruzei com monsieur Harry, um suíço especialista nos assim chamados trólebus, ônibus urbanos movidos à energia elétrica. Monsieur Harry era considerado um dos maiores especialistas mundiais no assunto e a Suíça detinha uma das mais avançadas tecnologias na fabricação de ônibus elétrico da época.
Fui encarregado de, juntamente com monsieur Harry, sobrevoar a cidade de São Paulo para que o especialista tivesse um primeiro contato com a cidade, na qual ele estava sendo contratado para auxiliar em um novo projeto de Trólebus Especiais, e do qual eu também participava. Então, em uma tarde de sexta-feira embarcamos no helicóptero do governador e partimos para um sobrevoo sobre nossa capital paulista. Percorremos toda a área compreendida pelas marginais Pinheiros e Tietê, seguimos até a região do ABC e depois nas cercanias de Guarulhos, e por fim retornamos ao heliporto do Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo do Estado de São Paulo.
Esperavam-nos uma dezena de jornalistas, repórteres e radialistas, todos ansiosos pelo diagnóstico do suíço. Sério e compenetrado, monsieur Harry dirigiu seu olhar para a pequena multidão e sentenciou: Pas de Solution! Ou seja, na visão do especialista, há mais de 30 anos, sua primeira reação foi de que não tínhamos como resolver o enorme congestionamento através de soluções viárias de superfície: Não tem solução! …
E aqui eu coloco outra questão: Por que até hoje não foi desenvolvida tecnologia para veículos (automóveis/caminhões) movidos a energia elétrica, com todos os benefícios decorrentes de uma energia limpa, não poluidora? Como toda questão que envolve a “coisa pública”, é ao mesmo tempo complexa e simples.
A complexidade advém do fato que existem grandes interesses envolvidos. Certamente os interesses ligados às grandes montadoras, as gigantes do petróleo, etc. não o permitiram. Lembro-me de um professor de pós-graduação da Escola Politécnica da USP, na área de Sistemas de Transportes, que ficava transtornado quando se referia ao que estava sendo feito com o sistema ferroviário no Brasil. Segundo ele, o lobby da indústria automotiva (estrangeira) era suficientemente forte para impedir o desenvolvimento natural do uso da energia elétrica no transporte ferroviário e rodoviário urbano no país.
E simples porque basta apenas vontade/vocação política para romper as mais fortes barreiras. O projeto de Trólebus Especiais foi concluído: entre outras inovações, os ônibus eram leves, ágeis e com tecnologia avançada. Hoje, passados mais de 30 anos, vejo os mesmos trólebus de então circulando pelas ruas de São Paulo. O projeto nunca foi implantado!
Participei também, no passado, de algumas reuniões sobre mudanças do Plano Diretor da cidade de São Paulo. O que fica claro é que não adianta construir mais viadutos, túneis, novas avenidas, e até mesmo novas linhas de metrô, enquanto não houver uma mudança conceitual na ocupação do solo. Derrubam-se casas para construção de imensos edifícios, muitas vezes em ruas estreitas, com infraestrutura urbana já saturada.
A mancha urbana cresceu tanto que hoje uniu São Paulo a Campinas, abrigando, nos seus 65 municípios, 12% da população brasileira. Na realidade a cidade de São Paulo ficou pequena demais, com suas cerca de 40 mil ruas/avenidas e 17 mil quilômetros de extensão, para conter os mais de 7 milhões de veículos, dos quais 5 milhões de automóveis, 890 mil motocicletas/triciclos/quadriciclos e 700 mil ônibus/utilitários.
Já entramos em colapso há algum tempo!
Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier) e escreve no Blog do Mílton Jung

Prezado Sr Julio Tanus
Coincidentemente em 2011 escrevi artigo com o mesmo titulo
http://blogdoaitalo.blogspot.com.br/2010/09/sao-paulo-quem-te-viu-quem-te-ve.html
E o que mais nos impressiona, são predios construidos e ruas estreitas, quarteirões com pequenas dimensões, em Avenidas caoticas a exemplo de um grande empreendimento que sera em construido na Vila Nova Conjceição em plena avenida Santo Amaro, justamente em um dos trechoa mais saturados, adensados, caoticos, entre as Ruas Braz Cardoso e Baltazar da Veiga
Imagine quando este predio estiver sido concluido com centenas de pequenas salas de escritorios?
No Final da Rua João Cachoeira outro lançamento esta para acontecer quase em frente a um grande hotel.
Mais caos, transito, adensamento.
A prefeitura não quer nem saber
Aprova todos os lançamentos não imponta onde.
As exemplo do novo Shopping Iguatemi JK que esta “embargado” pelo MP.
Demole duas casas onde residem dez pessoas, para dar lugar a mais um predio onde residirão perto de 1000 pessoas, fora os automoveis.
São Paulo quem te viu quem te ve, terra sem lei, sem horizonte, sem historia, sem passado
Só em fotos e nas nossas mentes.
A pressão da indústria automobilística e petrolífera é imbatível!!!
Quem trabalha em Nova York vai de metrô (a grande maioria), de ônibus (alguns) e ninguém de carro. A malha do metrô é fantástica. Cobre toda a ilha.
Não é preciso inventar a roda, não é mesmo?
Abs
Caro Armando Ítalo, que coincidência! Vejo que operamos na mesma dimensão.
Haja infra-estrutura para suportar tamanha voracidade. Eu chamo a isto de “capitalismo canibal”, pois somos devorados por seres humanos. E não existe nenhuma resistência a esse canibalismo!
Caro André, a comparação é muito boa. Uma grande diferença entre nós e Nova York, é que Manhattan é totalmente planejada, com suas longas e largas avenidas atravessando a ilha de ponta a ponta.
Acredito que a causa original é o sistema politico, que permite as contribuições de empresas aos candidatos.
Por que um Executivo vai doar quantias a candidatos se conta os centavos para ter o melhor lucro possível?
É evidente que esta doação irá retornar.
De outro lado é impressionante que uma cidade tão complexa presencie campanhas politicas com debates abordando assuntos pessoais, ataques sobre detalhes, etc
É isso mesmo Carlos Magno, nosso sistema político além de permitir as contribuições de empresas a candidatos, só viabiliza uma governança se fizer alianças espúrias a sua ideologia/programa partidário, e portanto, a revelia de quem acreditou e votou nessa ideologia/programa.
“Do Povo, pelo Povo e para o Povo”
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Ainda será !!!
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ass: @DouglasTheFlash
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http://villagustavo.wordpress.com/
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