O Ministério 39

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

 

Às vésperas da criação do 39º ministério, ao contrário da indiferença do povo brasileiro, as almas de dois ilustres personagens devem estar agitadas. O britânico Northcote Parkinson, desconhecido professor entre nós, oportunamente lembrado agora pela Veja, e o presidente Jânio Quadros sempre memorizado pela renúncia e pela denúncia das “forças ocultas”. Em 1957 Parkinson identificou uma série de anomalias nas estruturas burocráticas governamentais, que refletiam em seu crescimento exponencial. Analisando o pós-guerra, quando o Império Britânico foi desfeito, verificou que a estrutura burocrática que administrava as colônias apresentava crescimento independente da necessidade. A armada naval com 62 navios na Ativa possuía 2.000 elementos no Almirantado em terra, mas após 14 anos tinha 3.569 membros no Almirantado para 20 navios na Ativa. Um fenômeno, que inspirou as leis de Parkinson.

 

Dentre elas:

 

“Um chefe de seção está sempre disposto a aumentar o número de seus subordinados, desde que não sejam seus rivais”.

 

“Os chefes de seção inventam trabalho uns para os outros”

 

“O tempo despendido na discussão de cada item de uma agenda está na razão inversa da soma discutida”

 

Com estes princípios Parkinson analisou a evolução histórica do gabinete britânico, concluindo que:

 

“O ponto de ineficiência de um gabinete é alcançado quando o número de membros excede 20 ou 21”

 

Nesta época o Brasil tinha 11 ministros, dentro de uma lista de seis a 38, encabeçada por Luxemburgo e Honduras com seis ministros e finalizada pela URSS com 38 ministros. O número de 20 a 21, preconizado como limite de eficiência, comprovava que os melhores países estavam neste intervalo. Estados Unidos com 10, Grã Bretanha com 18, e Alemanha, Itália, Japão, França, Canadá entre 19 até 21membros.

 

Jânio Quadros, em 30 de janeiro de 1961, assume como presidente da República e mantém o gabinete dentro da margem da eficiência preconizada por Parkinson. Nomeia 15 ministros. Porém, sem a maioria no Congresso, os 6 milhões de votos obtidos não conseguem manejar a massa política oposicionista. Em 25 de agosto de 1961, renuncia atribuindo às “forças ocultas” a razão da saída.

 

Ao voltarmos à normalidade democrática em 1985 com Sarney, o gabinete passa a ter 29 membros e uma nova função. Às forças ocultas aplica-se a doação de ministérios, como se fossem capitanias hereditárias partidárias. E, ninguém mais repete Jânio, que dos 15 ministérios deu três para a UDN, um para o PSD e um para o PR, “desperdiçando” 10 ministérios. Collor teve 27 ministros, Itamar 25, FHC 31, Lula 37 e Dilma vai para o 39º com a criação da Pasta das Micro e Pequenas Empresas.

 

Os melhores países da lista de Parkinson continuam dentro do intervalo de eficiência. O Brasil está fora e assim permanecerá se não dermos o fora naqueles que estão dentro destas forças nada ocultas.

 


Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung, às quartas-feiras

3 comentários sobre “O Ministério 39

    • Carlos,

      No post do Face citei e coloquei o link da entrevista, Assim que vi a manchete, lembrei de seu texto. Quero ver se na segunda, entro no assunto no Jornal da CBN.

  1. Milton, o principal editorial da Folha de hoje, domingo, é sobre a posição de Gerdau, ressaltando que ele é consultor da Presidenta.
    De outro lado a Marina Silva, em vias das tratativas do novo partido, está com um posicionamento forte contra a privatização do público, que tem ocorrido nos ministérios.
    Este tema merece atenção permanente.

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