Jornada Mundial da Juventude conheceu o Brasil como somos

 

 

A Jornada Mundial da Juventude se encerrou com resultados contraditórios. A felicidade de jovens católicos com os quais tive oportunidade de conversar impressionava, todos entusiasmados com a manifestação religiosa que marcou o Rio de Janeiro na última semana e se espalhou pelo Brasil, a partir da ampla cobertura jornalística e transmissões dos eventos pela televisão. O comportamento do Papa Francisco e seus vários recados enviados de forma direta, que migraram da religião à política, surpreenderam boa parte dos brasileiros, inclusive parcela dos que não concordam com ideias defendidas pela Igreja Católica.

 

Por outro lado, assistimos a problemas que evidenciaram a falta de organização e planejamento. Desde a barbeiragem da escolta no primeiro dia que levou o Papa e sua comitiva a ficarem presos em congestionamento e expostos a riscos até as dificuldades para os peregrinos se deslocarem na cidade do Rio. Por sinal, deste lado do evento, nada que nos surpreendesse. O que se enfrentou nesses últimos dias é o que todo brasileiro precisa encarar em seu cotidiano. Os engarrafamentos e a falta de mobilidade emperram o desenvolvimento das nossas cidades e prejudicam a qualidade de vida dos cidadãos. Sexta-feira, por exemplo, sem Jornada nem evento especial, a cidade de São Paulo registrou mais de 300 quilômetros de congestionamento. Metrô parado, falta de ônibus e ruas entupidas são tão comuns quanto obras mal planejadas, como a do Campo da Fé, construído sem estrutura suficiente para suportar os dias de chuva. Pessoas morrem todos os anos e em grande quantidade por ocuparem áreas de risco e com a conivência do Estado. Foram 30 no chuvoso verão paulistano, este ano, e apenas em um evento de março, em Petrópolis, região serrana do Rio, 16 morreram.

 

O “imagina na Copa” voltou com força nestes dias, seguido da previsão de um desastre em 2014. Não compartilho do mesmo pessimismo, a começar pelo fato de que em nenhuma das cidades sedes teremos a necessidade de movimentar milhões de pessoas ao mesmo tempo em tão pouco espaço como ocorreu na Jornada Mundial da Juventude. Isto reduzirá o impacto da falta de infraestrutura. Mas também não me iludo com a ideia de que os serviços serão prestados à altura do que competições do porte da Copa’14 e da Olimpíada’16 exigem.

 

Resumo os sete dias de evento com frase que foi dita pelo colega Carlos Heitor Cony, no Liberdade de Expressão, do Jornal da CBN, sexta-feira passada: na Jornada dois personagens cumpriram bem o seu papel: o Papa e o povo.

 

Quanto ao resto, digo eu, é o que nós já conhecemos muito bem.

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