Carlos Magno Gibrail

O estrelado e premiado restaurante Tordesilhas na capital paulista está protagonizando uma discórdia oriunda de moradores nas proximidades de seu endereço na Alameda Tietê. A especialidade da casa, focada na culinária brasileira, tem deixado a vizinhança “gordurosa”. O fato do olfato e do tato prejudicados pelas frituras, provavelmente passaria despercebido não fosse a fama do restaurante e a qualificação dos moradores.
Menos mal que o caso pontual esteja na mídia, pois pela tendência da ocupação do solo na cidade esta situação poderá ser cada vez mais frequente. O Plano Diretor de São Paulo está na pauta da cidade, e é preocupante se analisarmos a evolução dos anteriores, pois adensamento e uso misto das áreas urbanas vêm se acentuando através dos anos; com os argumentos de redução dos custos de habitação e de vida para o adensamento, e da melhoria da mobilidade para o uso misto. Quando na realidade precisamos também considerar a lei de mercado para os imóveis no caso do adensamento e a dificuldade da mobilidade em virtude das necessidades de deslocamento geradas pelo mercado de trabalho. Ou seja, as vantagens preconizadas não estão aparecendo, enquanto o sistema vigente está levando ao agravamento das condições. Além do que a população cresce em descompasso com eventuais melhorias.
O IBGE atualizou os dados censitários mostrando que São Paulo está com 11,8 milhões de habitantes, quase o dobro do Rio, a segunda maior cidade do país. Diante deste assustador número de gente, tudo indica que a convivência no uso misto do solo precisa ser encarada de forma civilizada, urbana e racional. Quem procurar morar perto de padarias, supermercados, lojas, restaurantes e demais atividades deve estar consciente dos reflexos inevitáveis destas operações. Ao mesmo tempo, os comerciantes instalados próximos a moradias devem respeitar os vizinhos, utilizando inclusive as tecnologias à disposição,para que todos possam usufruir condignamente os sentidos naturais do ser humano. Visão, audição, olfato, paladar e tato.
Aqui, nem o papa nem o meridiano resolverá. O tratado deverá conter o trato da liberdade de cada um indo até a liberdade do próximo. O Tordesilhas tem condição de cumpri-lo, e chamá-lo de Tratado da Tietê.
Carlos Magno Gibrail é mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Milton Jung, às quartas-feiras.
Carlos, as dificuldades nesta divisão de águas ou divisão de terras, pode ser compensada com as facilidades logísticas locais.
Quem mora próximo aos locais de muito movimento terá de aprender a lidar com a adversidade, porém, do outro lado, há inúmeras facilidades oferecidas como acesso do comércio, hospitais, estações de metrôs, etc. Fato que não é possível nos locais mais distantes e estes por sua vez, não têm problemas com as adversidades provadas pelo crescimento desordenado das áreas comerciais.
Não quero provocar a acomodação, mas além de vermos o lado ruim, também temos que enxergar as vantagens e procurar a nossa adaptação.
Há de ser tudo da lei! Da Lei!!
Rafael, também acredito na sua colocação.É uma questão de escolha e, como quase sempre, em tudo há aspectos positivos e negativos.
Particularmente, prefiro os locais comerciais distantes de onde moro.
Sempre fui partidário do estilo que a Cia. City trouxe ao Brasil e que originou os Jardins em SP, com homogeneidade e preferência às residências ; evitando o fluxo pesado dos veículos. Daí as ruas tortuosas.