Por Carlos Magno Gibrail

Parque da Luz em foto de Renata Carvalho
De acordo com alguns professores da FAU-USP, a cidade de São Paulo está prestes a mais uma vez ser vítima dos interesses do setor imobiliário, em função de propostas apresentadas na Câmara Municipal.
Através do site LabCidade da FAU-USP, as professoras Raquel Rolnik, Paula Freire e o aluno Pedro Mendonça analisaram o PL 225/2020 do vereador Eduardo Tuma-PSDB, e o PL 217/2020 do vereador Police Neto-PSD, que propuseram “Ações Emergenciais” e “Plano Emergencial de Ativação Econômica” no intuito de enfrentar as consequências do Covid-19.
O texto do LabCidade sinaliza que tanto o Plano Diretor Estratégico de 2014 quanto a Lei de Zoneamento de 2016 poderão sofrer alterações, nos mesmos moldes do pretendido em 2018, além de uma tentativa de redução de 50% de desconto na Outorga Onerosa. Arquitetos e moradores impediram naquela ocasião o que seria uma verdadeira “Black Friday” para o mercado imobiliário. E um desastre pois o Plano e o Zoneamento são o mínimo a ser cumprido, pois não são um modelo exemplar de preservação de qualidade de vida.
A matéria ressalta a oportunidade perdida do momento de Convid-19, propício para se apresentar medidas que facilitem o acesso da população à moradia, e não se amplie a concentração construtiva nem as áreas das habitações, favorecendo classes menos abastadas.
Como agravante, uma das origens dos recursos para o atendimento das emergências decorrentes do vírus, tem vindo do Fundurb-Fundo de Desenvolvimento Urbano, que recebe os rendimentos da Outorga Onerosa do Direito de Construir, onde se propõe agora a redução de 50% e a suspensão do pagamento antecipado.
Há também na matéria, minuciosa especificação de alterações inseridas nas propostas para beneficiar o setor construtivo.
O vereador Police Neto reagiu e nominou a crítica da FAU como meia verdade, citando entre outras a questão do Fundurb, em que os recursos absorvidos pelo Convid-19 não serão reduzidos como relatado, tendo em vista que a utilização se deu do volume já arrecadado. Ao mesmo tempo argumentou que os benefícios pleiteados como isenções, reduções e postergações sobre os impostos tem como objetivo acelerar a retomada da indústria da construção civil, que afinal de contas é a maior empregadora de mão de obra.Neto discute também a questão das mudanças no Plano Diretor e no Zoneamento, que segundo ele se trata de ações provisórias e não leva em conta a dinâmica inexorável da cidade.
Enfim, este conflito de posições a respeito da urbanização de São Paulo, é um excelente pretexto para introduzirmos um importante aspecto do mundo corporativo, que é a busca do Propósito dos negócios, das marcas e dos setores de atividade.
Nos tempos atuais, e já há tempos, o Propósito tem sido tema dos mais evidenciados e enunciados. Neste contexto o consumidor é colocado na centralidade de tudo, para que se defina a razão de ser de atividades, empresas, marcas, produtos e serviços.
No foco das previsões do futuro pós Covid-19 há convergência no aspecto de que as mudanças que ocorreriam em anos estarão acontecendo dentro em pouco.
Neste sentido parece que é hora de definir o Propósito da indústria de construção civil. Afinal de contas, diferentemente de outros setores da economia, não se tem conhecimento que o setor esteja tão preocupado com os preceitos de centralidade no consumidor, incluindo aí a sustentabilidade, visto em boa parte das empresas modernas.
Aproveitamos então para sugerir que a centralidade esteja no consumidor e na cidade que habitam.
E plagiando os vereadores: que façamos “Ações Emergenciais” através de um “Plano Emergencial de Ativação Econômica Sustentável”
Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.