De vó Ruth

 

Por Maria Lucia Solla

 

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Agora há pouco, sábado, dia vinte de Dezembro de dois mil e quatorze, nasceu para mais uma vida, a minha sogra, a Dona Ruth Kroeff.

 

Nem se preocupe pensando que este texto será um texto triste.

 

Absolutamente!

 

Da Dona Ruth só memórias boas e principalmente apetitosas, porque ela cozinhou a vida toda, como ninguém! E para um batalhão de locais e agregados, como se diz por lá. Ela sempre perguntava: ‘quantos dezoito somos para o almoço?’ Era a senha para a sua entrada na cozinha.

 

A cozinha dela, aquela diária e corriqueira, sempre incluía um assado, que era uma de suas especialidades, uma linda salada, (quando eu andava por lá, ela sempre me chamava para enfeitar o prato da salada), arroz, feijão, alguns tipos de misturas e muita, mas muita sobremesa.

 

Tive outros maridos, mas uma sogra só a quem sempre amei = admirei e respeitei. E com esse seu novo nascimento, não muda nada. Ela continuará, para sempre, a minha sogra querida, e eu para ela, a sua norinha querida. A sua Lu, a sua Luzinha.
Aprendi tanto com ela! Do seu vocabulário único e delicioso e só dela, mesmo morando na cidade há anos e anos, aprendi que carteira era guaiaca e dentadura cremalheira. Só para dar uma amostrinha.

 

Me lembro do tempo em que a Dona Ruth já dizia que não iria a festa nenhuma, porque estava com tremedeira miúda. Eu entendia tão bem a minha sogra! Somos muito parecidas (hoje eu tenho tremedeira miúda!). Ela me ensinava do seu próprio manual de sobrevivência e estava sempre sempre do meu lado, principalmente quando algum perrenguezinho desandava.

 

Sogra de olhar de cumplicidade, que bota paninhos quentes em lugares que estavam gritando por eles, mas ninguém mais percebia; que sorri com os lábios e com o olhar quando a gente chegava, só gente muito sortuda como eu, para ter.

 

Vai em paz, Dona Ruth, que seu posto já está sendo preparado desde há muito.

 

Nós ainda ficamos mais um tanto, com o coração apertadinho agora, mas cheios de gratidão por ter participado da tua vida aqui e por tê-la compartilhada, pela senhora, com todos nós, os locais e os agregados, fossem eles quem fossem.

 

Meu amor continua com a senhora. Intocado.

 

Com meus filhos e netos e com todos os familiares e amigos, faço parte da corrente que vai conduzi-la, quem sabe, até o portal da sua nova morada.

 

Vó Ruth, eu te amo!

 

Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung

5 comentários sobre “De vó Ruth

  1. Lindo depoimento. Sustenta minha impressão de que o amor não nasce dos laços de sangue e sim dos laços da alma. Há um Céu pra cada um e uma doce lembrança para todos!!!

  2. Muito linda a escrita de amor sobre a sogra. Falas da vida de uma mulher simples mas de poder. O poder de sedução pela comida e pela cumplicidade pelo outro. Ao mesmo tempo apresentas a pessoa humana comum com suas fraquezas – da tremedeira miúda, que cada um de nós já teve um dia na vida. Obrigado pela escrita de amor nestes tempos bicudos mas que almejamos serem de paz.
    Um grande e afetuoso abraço

    • Anninha querida, minha cunhada pela lei dos homens, minha irmã pela lei de D’us.
      Obrigada por usar um pouco da força que te sobra para me acarinhar.
      Amo você. Tenho certeza de que a Tante Ruth foi recebida na terra divina pelo vô Goni, pelos vô Solla que queria tanto bem a ela, e por todos os amigos e carinhos que ela cultivou nesta árida Terra em que vivemos. Sem esquecer de que ela deve estar abraçada com o Cristiano e com o tio Rui, já planejando uma refeição farta para apaziguar o que tiver que ser apaziguado.

      Amo você muito

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