Flamengo 1×0 Grêmio
Brasileiro – Maracanã/RJ
Houve época em que para assistir ao clássico gaúcho no campo adversário, seguia para lá acompanhando parte da diretoria e comissão técnica do Grêmio. Era jovem ainda e meu pai, que narrava as partidas, por segurança, entregava minha guarda a um de muitos amigos que tinha no clube. Isso me permitia, por exemplo, o privilégio de chegar ao estádio e frequentar dependências restritas à delegação visitante. Lembro de quando entramos no vestiário que, em seguida, receberia os jogadores gremistas, e encontramos os espelhos pichados com palavras de ameaça religiosa. Se é que a memória não falha, havia coisas do tipo “suas pernas serão presas pelo santo-sei-lá-qual”. Isso foi pelas décadas de 1970 e 1980. Prontamente pessoas que estavam comigo começaram a apagar as frases pois disseram que se os jogadores lessem as ameaças teriam seu desempenho afetado em campo. Parece-me que vencemos aquele clássico.
As superstições sempre fizeram parte da nossa vida e, na maioria das vezes, de forma inexplicável. Aliás, essa é uma de suas características já que são crendices, estão baseadas em situações de casualidade que não podem ser analisadas de forma racional ou empírica. O esporte é rico nessas histórias. Você há de se lembrar de Zagallo que impôs ao número 13 a responsabilidade pela classificação do Brasil para o Mundial da Alemanha, em 2006. Muito antes disso, em 1962, os jornalistas que cobriam a Copa foram levados a repetir em todos os jogos a mesma roupa que vestiram na primeira partida. Fomos bicampeões. Tem jogador que se trocar o número da camisa marca menos gol, há os que tomam o cuidado de entrar em campo pisando com o pé direito ou fazem o sinal da cruz inúmeras vezes.
No Grêmio, até algumas rodadas atrás, a camisa azul em degradê foi vestida à exaustão, partida após partida, pois seria ela a responsável pelo bom desempenho da equipe e a sequência de vitórias que nos levaram ao topo do Campeonato Brasileiro. Sexta-feira passada, um amigo tricolor me ligou pois soube que eu havia assistido à derrota contra o Criciúma, pela Copa do Brasil, em casa, aqui em São Paulo, e não no exterior, como fiz nos jogos anteriores em que tivemos muito mais sucesso. Fiquei na dúvida se a sugestão dele era que eu estendesse minhas férias até o fim do Brasileiro ou apenas desistisse de ver o jogo contra o Flamengo. Eu assisti ao jogo de sábado à noite em casa da mesma maneira que havia feito na terça-feira. Perdemos, como você já sabe.
Bem que eu gostaria de acreditar que foi a minha decisão a responsável pelo mau desempenho gremista, no Maracanã. Mas, infelizmente, a falta de precisão do meio para frente e de inspiração do meio para trás têm outras causas muito mais de caráter técnico e tático do que sobrenatural. E para resolvê-las prefiro confiar na capacidade de Roger.
Venho lidando com futebol desde que comecei a trabalhar como narrador. Muito antes disso,já era gremista. Vi inúmeros técnicos,dois deles fantásticos:Ênio Vargas de Andrade e Telê Santana. Ambos – me desculpem os demais – se saíram mais do que bem. O meu amígo íntimo,Ênio Andrade,deu ao Grêmio o seu primeiro título nacional,em partida contra o São Paulo,esse com um time que contava com oito jogadores de seleção. Claro que.naquele ano,o Imortal Tricolor possuía uma baita equipe. Às vezes,para ser campeão,não é necessário,porém, uma equipe muito acima da média. Basta que conte com um bom técnico e um grupo de jogadores capacitado. O que entendo por grupo capacitado? Trata-se de um elenco com.no mínimo,dois jogadores para cada posição. Hoje em dia,como diria Sérgio Moacir,quem tem dois tem um e quem tem um,não tem nada. O Grêmio tem,inegavelmente,um bom técnico. Roger Machado é novo na profissão,mas não no futebol. Foi excelente como lateral esquerdo e um estudioso na profissão que escolheu. Mas não possui dois jogadores para cada posição. Em algumas conta com jogadores promissores,mas esses precisariam mais experiência e companheiros calejados.Sei que o presidente Romildo Bolzan Jr. tenta contratar jogadores, dos dois tipos.