Grêmio 3×0 Inter
Gaúcho – Arena Grêmio/Porto Alegre-RS

Muitos motivos para sorrir (foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA
O saudoso estádio Olímpico está a alguns passos de onde escrevo esta Avalanche, nesta noite de domingo. A Arena fica mais distante, algo em torno de 11 a 12 quilômetros. Era para lá que seguiria nessa tarde para assistir ao Gre-Nal 414. O ingresso destinado aos sócios, no setor Oeste das cadeiras gold, ficou armazenado no meu computador a espera de ser impresso. Preferi guardá-lo. Mudei meus planos.
Em vez do estádio, entendi que meu lugar era na sala da casa onde passei minha infância e adolescência, na Saldanha Marinho, no bairro do Menino Deus. Naquele mesmo espaço onde nossa família se reunia no passado, onde eu e meus irmãos brincávamos, onde a mãe montava a árvore de Natal, onde ligamos a nossa primeira TV a cores … Ali mesmo, onde hoje estariam meu irmão mais novo, meu filho mais velho e, especialmente, meu pai.
Foi ele, o pai, quem me ensinou a ser gremista desde pequenino – usou método pouco ortodoxo, é verdade, e já escrevi sobre isso em Avalanches anteriores, mas foi fundamental na minha escolha.
O pai me levou pela mão ao estádio Olímpico, me apresentou muitos dos meus ídolos, me fez conhecer os bastidores e corredores do time. Me fez íntimo daquele espaço e daquelas cores. Forjou minha personalidade e educação nas conversas que tínhamos diariamente, nas quais o Grêmio era nosso motivo de interação.
Foram-se muitos anos desde aqueles tempos de guri. Eu já estou com 54 anos e o pai com 82. Por aquelas coisas que a idade avançada vai nos tirando da memória, a conversa com ele já não tem a mesma fluidez. A gente se esforça para dialogar, dizer algumas palavras, descobrir o que queremos falar um para o outro. Às vezes, a mensagem chega por gestos, por sorrisos ou pelo olhar.
Com medo que essa distância aumente de maneira acelerada, acreditei que estar ao lado dele, neste domingo, era o melhor que poderia fazer, aproveitando minhas férias na cidade. Por isso nos sentamos nos sofás e poltronas novos que ocupam a nossa velha sala de televisão para assistir ao Gre-Nal.
Foi mágico!
Falamos do jogo e dos jogadores; vibramos com as primeiras defesas de Marcelo Grohe; nos incomodamos com a falta de chute do nosso time; reclamamos do árbitro e das manias dos locutores e comentaristas esportivos. Em pouco tempo, éramos novamente pai e filho daquele passado que havia se passado bem ali ao lado, no estádio Olímpico.
E foi ainda mais mágico, porque o Grêmio parecia entender os instantes que estávamos experimentando juntos.
Para nos oferecer a primeira grande alegria, fez questão de marcar um gol, através de Everton, ainda antes do intervalo, em uma troca de passes típica deste time que tem encantando a América. Apenas não corri e me joguei nos braços do pai porque achei que ele não suportaria essa extravagância. Preferi dar-lhe um abraço e um beijo enquanto falávamos da nossa satisfação.
Tive de me conter mais uma vez, aos 17 minutos do segundo tempo, ao ver Jael bater falta de maneira precisa e indefensável e correr em direção a Renato com o sorriso característico deste atacante que a cada partida revela seu prazer em ser feliz. Sorrimos, o pai e eu, juntos com Jael. Voltamos a nos abraçar e trocamos palavras de felicidade.
Aos 31, acompanhamos quase em pé a corrida de Arthur em direção ao terceiro e definitivo gol. A medida que a bola se aproximava do “fundo do poço”, nós já nos cumprimentávamos, agora batendo as mãos no alto, uma contra a outra, como se fôssemos dois adolescentes. Era o que parecíamos mesmo, narrando novamente cada momento daquela jogada, o lançamento, o toque de ombro de Jael, a escapada de Arthur e o chute por debaixo do goleiro adversário.
Falávamos com satisfação, felicidade e jovialidade. Falávamos do Grêmio e das alegrias que ele nos proporcionava. E a partir da nossa fala, descobri que por mais que a memória queira ir embora, as palavras que sempre nos uniram se mantém vivas. E esta foi, mais do que a goleada, a minha maior alegria deste domingo de Gre-Nal.
Grande vitória Milton. Imagino que para você ela tenha sido dupla: em campo e fora dele. Parabéns pelos momentos vividos que certamente superaram a ida em campo para ver esse maravilhoso time!
Perdoe-me pela redundância: foi mágico!
Que texto sensacional, Milton! Não perco uma Avalanche Tricolor, mas esta, em especial, me fez lacrimejar! Este ‘gremismo’ passado de pai para filho é algo realmente mágico! Lendo teu texto, fica impossível não lembrar das incontáveis vezes em que o pai nos levou, ainda pequenos, ao Olímpico para assistir aos jogos do tricolor. Dia de jogo do Grêmio era sagrado: não perdíamos um sequer!
Hoje, os papéis se inverteram: como meus dois irmãos não moram no Brasil e o pai está em idade avançada, cabe a mim levá-lo à Arena para ver os jogos do nosso time do coração.Nostalgia pura… sempre que nos direcionamos à Arena, vem à minha memória as diversas alegrias (e algumas decepções) que vivenciamos nas arquibancadas frias do Velho Casarão.
Abraço de um caro e nada raro leitor da Avalanche.
Marcelo, legal saber dessa sua experiência e da sua companhia nestas Avalanches. Ainda hoje cedo, ao deixar Porto Alegre, passei pelo que resta do Olímpico. Ainda bem que nossas memórias são mais resistentes do que o contrato que está virando escombro. Grande abraço no seu pai!
As lembranças são eternas, o Olímpico Monumental estará para sempre no coração dos gremistas! O abraço já foi transmitido a ele, que por sinal é um grande admirador do seu pai, incônico narrador de muitas glórias do nosso time!
Grande abraço e à espera da Avalanche após o próximo Grenal.
Parabéns. É muito importante passar nossos valores aos mais jovens através do exemplo.
Mostrar que apesar de ficarmos velhos, lentos, esquecidos, ainda temos sentimentos e gostamos de ter quem amamos por perto.
Às vezes queremos ter pais diferentes, mas não dá. É o que eles são. Mas sem eles não estaríamos aqui agora…
Soraia, obrigado por compartilhar sua mensagem. É muito bom ter condições de dividir com o pai essas alegrias.
Boas considerações Milton! Acompanho a poucos meses o avalanche, mas a alguns anos seus programas na CBN.
Lembranças boas e recordações que tive com meu pai no interior do RS na época que podia estar com ele.
Hoje distante do RS, mas não longe do tricolor gaúcho.
Abraços