Flamengo 5×0 Grêmio
Libertadores — Maracanã, RJ

Everton em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA
Meninos,
Vocês nunca viveram o que vivi. Não sabem o que foram os anos na fila sem um só campeonato para comemorar. Em uma época em que os campeonatos se limitavam a um só —- ao estadual. Nosso horizonte não se estendia além da fronteira do Rio Grande. Era ser campeão gaúcho ou não se era nada.
O pai passou por longos e intermináveis anos sem um só título. Sofrendo no cimento do Olímpico. Amargando o sabor da sequência de derrotas. Chorando no ombro do vô. Era ele quem me abraçava, passava a mão no cabelo molhado pelo suor, beijava minha testa e sempre tinha uma palavra de consolo. Sempre era capaz de me estimular a acreditar que no ano que vem seria diferente. Foi um ano, foram dois, três, quatro …. oito anos sem qualquer motivo para comemorar.
Nas manhãs após a derrota, eu acordava e pedia para a mãe para não ir a aula. Alegava uma dor no estômago. Uma indisposição qualquer. Ela, solidária, me mandava de volta para a cama com olhar de compaixão. Compreendia que a dor era no coração. Um coração apaixonado e forjado no sofrimento.
Vocês, meninos, nunca viveram o que vivi.
Quando apresentei o Grêmio a vocês já não cabíamos mais no Rio Grande. Havíamos conquistado o Brasil, a América e o Mundo. Verdade que o primeiro título que festejamos lado a lado foi aquele da Batalha dos Aflitos —- mesmo assim vocês só se aprochegaram ao time no momento mais épico da temporada. Não tiveram a amargura de ver nossa camisa nos campos da Segunda Divisão.
Vocês, meninos, descobriram o Grêmio quando a Imortalidade já havia migrado do hino para a nossa história, com vitórias incríveis, impossíveis. Por isso, não devem ter entendido bem o que aconteceu nessa quarta-feira, no Maracanã, especialmente depois dessa sequência de anos em que nos acostumamos a dar a volta olímpica, levantar troféus e comemorar títulos após títulos. Como é possível perder de forma tão acachapante como nesta semifinal? —- imagino que seja o que passa na cabeça de vocês nesta noite quando me olham em silêncio. Respeitosamente.
Meninos, vocês não viveram o que eu vivi.
E por viver o que eu vivi, posso lhes dizer com toda a segurança que o resultado desta noite foi a vitória de uma equipe que soube ser superior —- muito superior —-, que investiu muito mais do que qualquer um dos seus adversários, que se estruturou para chegar onde chegou, que pensou grande e jogou como os grandes. Uma equipe que merece nosso aplauso pelo que faz.
A superioridade neste momento é incontestável, meninos. E reconhecer essa superioridade é necessário, por mais dolorosa que uma derrota como esta possa ser para cada um de nós —- para o pai principalmente, né!
Agora, se tudo que vivi com o Grêmio até hoje realmente valeu a pena — seja vibrando, seja sofrendo, seja chorando —- é porque aprendemos no revés, identificamos as falhas, soubemos levantar a cabeça, corrigimos os erros e fomos resilientes ao enfrentar os piores de nossos momentos. E assim será mais uma vez, tenho certeza — mesmo que hoje eu esteja me sentindo como aquele menino, lá dos tempos de Porto Alegre, com vontade de pedir licença para a mãe para não sair da cama e esperar a dor passar.
Cada vez mais sua fã!
O Grêmio se rendeu ao grande time do Flamengo, mas foi grande também. Grande na postura e na hombridade.
Mesmo abatido, jamais apelou para deslealdade ou anti-jogo.
Lutou até o fim, mesmo já tendo sido derrotado no início do segundo tempo.
Tem meu respeito.
Em tempo, sou Flamenguista.
Erica, obrigado pela solidariedade e reconhecimento. E parabéns pelos méritos de seu time.
Mesmo que o Grêmio deixasse de existir, eu continuaria a ser Grêmio!
Repito; mesmo que o Grêmio deixasse de existir, eu continuaria a ser Grêmio!
Cao, continuaríamos … com certeza
Grande Milton,
Parabéns pelo texto.
São nas derrotas que encontramos força e aprendizado para as futuras conquistas.
Marcelo, é isso aí, amigo!
Lindo texto, caro Milton! Saudações atleticanas mineiras ao genial âncora! Não dá pra pensar em Grêmio e não me lembrar de você. Acordei cedo hoje e vi com que fineza você conversou com todos os colegas sobre ontem. Beijo grande.
Maria de Lourdes, obrigado por lembrar de mim nesta hora.
Milton, parabéns pelo texto. Sempre com o Grêmio onde o Grêmio estiver, nas derrotas e nas vitórias até a pé nos iremos
César, até a pé nós iremos, mesmo que tropeçando, iremos.
Bela reflexão sobre ganhar e perder. Parabéns! Ganhou o melhor, sem nenhuma dúvida.
O que lhe sobra nesse texto, bem escrito e equilibrado, falta ao técnico do seu “imortal”: humildade!
Falastrão, marrento, arrogante, prepotente e, sobretudo, com uma soberba indiscutível.
À instituição Grêmio caberia também uma reflexão sobre quem pode representar o pensamento e o equilíbrio dos seus torcedores e admiradores e, de quebra, derrubar a estátua de pés de barro que erigiu em sua homenagem.
Tenho 70 anos, sou flamenguista, carioca e fiquei 38 anos na fila para ver o meu time numa final de Libertadores. Meu filho caçula nem era nascido quando fomos campeões da Libertadores e do Mundial de Clubes.
Aos “meninos” aos quais você se refere no seu texto, inclua Renato Portalupi, o mais infantil e necessitado de ” ir para cama ” com o beneplácito da sua “mãe”: os verdadeiros torcedores do Grêmio.
Caro amigo Milton !
Como a historia constrói, ela tem a força em ajudar ou afundar de vez !! Nesse caso , sua auto analise e reflexão foram tão boa que muitos meninos irão chorar + não irão abaixar a cabeça e continuar torcendo e amando o Grêmio onde estiver !!!
Parabéns
Almir, esses momentos são importantes para entendermos como a vibração pela vitória deve ser valorizada.
Milton
Parabéns pelo texto e pelo capacidade de traduzir este sentimento puro que vem da origem ,da família, do pai…Me reconheço em tudo isto com uma polar diferença, sou COLORADO com o mesmo orgulho que você demonstra externando a sua paixão .
Reconheço e respeito seu sofrimento,mas admito, LAVEI A ALMA .
Sei que você me entende.
Saudações Coloradas
Jefferson — suas palavras mostram que mesmo em pólos opostos o diálogo saudável é possível; e a busca de pontos em comuns, também. Mesmo que seja em um 5×0. Grande abraço!