No Conte Sua História de São Paulo, você acompanha a série de textos escritos por pessoas em situação de rua acolhidas no Arsenal da Esperança, antiga Hospedaria dos Imigrantes. O autor de hoje se identificou apenas como Fábio e escreve um poema sobre um dos mais tradicionais bairros da cidade:

Quando voltei, foi difícil acreditar.
Me bateu desespero.
Deu até vontade de chorar.
Confesso, chorei… não deu para suportar.
O que antes era um grande curral social
Hoje, chora em prantos
Ruas desertas, portas fechadas
Mais parecia faroeste, cidade fantasma
Meu Brás, oh, meu Brás!
Nas ruas onde me criei; aprendi a arte do comércio.
A comercializar, comercializo.
Devido às circunstâncias, por algum momento
Até mesmo manguear, mangueei
Meu Brás, oh, meu Brás!
Não vejo a hora disso tudo acabar.
Os que nesse genocídio
Junto com Deus, esteja a vos olhar.
E quando acabar…
Sacolas cheias novamente
Compra, vende, movimentação de gente
Das gentes, povos e etnias
Temos um arsenal de costura
Bolivianos, quem diria!
Pretos, Brancos, Pardos e Índios.
Somos o maior polo comercial.
Da América Latina.
Meu Brás, oh, meu Brás!
Coração de São Paulo.
Hoje bate por aparelhos.
A esperança renasce, no vagão do trem.
No soar da voz, de mais um marreteiro
Meu Brás, oh, meu Brás!
A metrópole comercial da América Latina.
A cidade do comércio, que antes não dormia.
Hoje descanse em paz, feitos da pandemia.
Fábio, do Arsenal da Esperança, é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva você também o seu texto e envie agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite agora o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.