“A gente traz pra pra lógica da empresa as discussões sociais a gente traz pra lógica da empresa as inquietudes da sociedade”.
Gustavo Narciso, C&A

Queria ser jornalista, os pais preferiam que fosse doutor, formou-se engenheiro bioquímico e, hoje, se apresenta como ativista corporativo, apesar de, formalmente, ser diretor-executivo do Instituo C&A. Gustavo Narciso, entrevistado do Mundo Corporativo da CBN, aproveitou-se de sua história de vida para ilustrar o tema central de nossa conversa: a importância da diversidade nas empresas. Sim, voltamos a esse assunto — que havia sido tratado na semana passada, com Eduardo Migliano, da 99Jobs.com, e em outros episódios do programa — devido a sua relevância e, como percebi em comentários deixados em publicações anteriores, da intolerância que é resistente.
Foi quando chegou à C&A, antes de assumir o cargo executivo no instituto, que Gustavo encontrou espaço para expressar sua identidade. Na consultoria em que atuava anteriormente era o único negro no escritório, situação que, segundo ele, causava estranheza, em especial diante dos clientes, pois não tinha o perfil que eles esperavam. Quando migrou para o setor de varejo, dividiu lugar com outros negros e, especialmente, foi quando se encorajou a assumir para seus pares de que era homossexual:
“Era uma outra questão que eu escondia. E gastava muita energia para esconder isso. Então, eu encontrei um ambiente um pouco mais inclusivo e isso permitiu com que eu me desenvolvesse, com que eu criasse mais vínculo com as pessoas e isso fez com que minha carreira deslanchasse”.
A partir daquele momento, Gustavo conheceu outros ativistas corporativos que falavam sobre o tema da diversidade e inclusão no mercado de trabalho; e isso o inspirou a sugerir a criação do comitê de diversidade na C&A, o qual liderou, a partir de 2017. Uma de suas tarefas foi entender como conectar as discussões sociais e as inquietudes da sociedade com a dinâmica do negócio. Uma rede de varejo como a C&A atende cerca de 1 milhão de clientes diariamente, em todo o Brasil, portanto, perceber se a atenção oferecida a pessoas com deficiência está a altura da necessidade delas, se os consumidores são valorizados pela intenção de compra que têm ou se o respeito é igualitário no serviço prestado, têm um impacto enorme na sociedade.
Uma das mudanças propostas por Gustavo foi redirecionar o trabalho voluntário que os cerca de 16 mil funcionários são incentivados a realizar — com dias de trabalho que podem ser dedicados a essas ações. Em lugar de atuar nos programas voltados à educação das crianças —- o que ocorria até então — decidiram focar no tema do empreendedorismo social para mulheres em situação de vulnerabilidade, aproveitando a expertise da C&A na área do varejo:
“Criamos uma oficina de costura no meio da Cracolândia, em São Paulo, com coletivo de mulheres dependentes químicas que produzem brindes corporativo e outros itens de moda, para gerar renda. Além disso, elas têm atendimento psicossocial com a intenção de tirá-las da situação de rua e da dependência química”.
Outra medida de impacto foi incentivar a moda autoral brasileira conectando empreendedores LGBTQIA+ e periféricos com o negócio da C&A e oferecendo espaço em seu marketplace, com isenção de taxas e contratos competitivos, dando-lhes acesso ao mercado de consumo.
Mesmo que tenha encontrado um ambiente que lhe permitiu se expressar e se desenvolver profissionalmente, Gustavo diz que há muitos desafios a serem vencidos no tema da diversidade e inclusão dentro da C&A. Apesar de haver na empresa um número considerável de negros, ele é o único a ocupar cargo executivo. A ideia é incentivar novos líderes negros para assumirem outras áreas. Assim como proporcionar oportunidades a mulheres que atualmente estão em cargos de média gestão a ascenderem na hierarquia do grupo. Avançar na inclusão de pessoas transgêneras e com deficiência é o que Gilberto identifica como “desafio gigantesco”.
No programa Mundo Corporativo, Gustavo Narciso trouxe outros exemplos de projetos em desenvolvimento no instituto visando a inclusão, abordou o conceito do aquilombamento e respondeu a dúvidas de ouvintes. Assista à entrevista completa:
O Mundo Corporativo tem a participação de Bruno Teixeira, Renato Barcellos, Priscila Gubiotti e Rafael Furugen.
Os jornais, editores e jornalistas precisam fomentar em seus veículos pautas semelhantes.
Parabéns pela escolha do entrevistado, Mílton.
Força!