De Orbetello/Itália

Da primeira vez que estive aqui, sinal de internet se comprava na venda. Foi em 2008, época em que as atividades nesse blog eram intensas e a busca por um acesso à “rede mundial de computadores” — sim, naqueles tempos ainda era comum essa expressão —, uma aventura. Fui encontrá-lo no bar e tabacaria da praça principal de Orbetello, cidade italiana que estou hospedado desde o fim da semana passada e de onde me vou em seguida para outra cidade na vizinhança. Não tenho ideia de quantos euros me custavam uma hora de navegação em um dos computadores Windows à disposição. Lembro que a conexão era lenta e baixar fotos ou publicá-las exigiam um pouco de paciência.
Nesses 15 anos, muita coisa mudou — perdão, pela frase óbvia —, haja vista a facilidade com que publico esse texto, a partir do 5G de meu celular e diretamente da areia da praia. O bar e tabacaria, não mudaram. Tão pouco, a praça principal, Eroe dei due mondi — referência a Giuseppe Garibaldi, que fez das suas lá pelas bandas do Rio Grande do Sul e talvez seja lembrado por alguns como o marido da Anita (a Garibaldi).
Minha presença aqui no Argentário e arredores se tornou frequente desde que conheci a região. Uma casa de familiares próximos, nos altos da praia de Ansedonia, com vista para o Tirreno, tornaram acessível as férias na Itália, a despeito da valorização do Euro, do aumento do preço da passagem de avião e da perda de poder aquisitivo no Brasil – longe de mim reclamar diante dos privilégios que a vida me ofereceu.
A pandemia deixou-me a Itália distante e somente agora conseguimos retornar com tranquilidade, não sem antes sentir as emoções que Portugal me reservava.
Na primeira semana de “férias” — as aspas explico mais adiante —, vivenciei um dos momentos mais realizadores da quase sexagenária experiência que tenho. Ao lado de três colegas autores, lancei o livro “Escute, expresse e fale! Domine a comunicação e seja um líder poderoso”, em Lisboa, Porto e Cascais. Em acordo com a editora Rocco, que já nos deu o prazer de publicar a terceira edição, no Brasil, a portuguesa Escolar Editora levará o livro aos demais países de língua portuguesa.
Com Antònio Sacavèm, Thomas Brieu e Leny Kyrillos, tivemos a a oportunidade de encontrar leitores em dias de extremo calor, muita alegria e tertúlia. Fizemos apresentações nas três cidades, diante de uma plateia entusiasmada e interessada em saber mais sobre o poder da comunicação nas relações humanas. Encontrei ouvintes além-mar, amigos que estavam distantes, brasileiros expatriados e lusitanos que me foram apresentados – uma gente que talvez nunca saberá exatamente o que a presença dela nas livrarias significou no meu coração. E se pensa que sabe, vou contar-lhe: dobre esse significado, multiplique quantas vezes for capaz de imaginar e talvez você se aproxime da satisfação que esses momentos me proporcionaram.
Fomos os primeiros autores brasileiros publicados pela Escolar Editora que pretende repetir essa experiência com outros escritores da minha terra — e saber disso me fez ainda mais realizado.
Quando a Rocco acreditou em nosso potencial, ainda em 2022, também estava atrás de autores brasileiros, o que nos permitiu concretizar o sonho de publicarmos um livro que alguns entendiam ser de pouco alcance: “o leitor não gosta de livro com muitos autores”, me disse um editor. Realmente, livro de muitos autores são complexos, o que apenas valoriza o esforço que Antònio, Thomas, Leny e eu tivemos de fazer para a escrita traduzir os múltiplos conhecimentos, culturas e sotaques em um diálogo próximo do leitor como se fossemos um só a falar.
Sei que colegas que permanecem no Brasil, a comandar o Jornal da CBN (leia-se Cássia Godoy e Marcella Lourenzetto), e seus cúmplices têm cometido o crime de difamação contra este que lhe escreve. Usam a força do rádio para construir a imagem de que sou o “Rei das Férias” quando, de verdade, mal consigo usar o tempo previsto em lei para relaxar.
Perceba, caro e cada vez mais raro leitor deste blog, que a primeira semana fora do Brasil foi a trabalho: lançar livro, fazer palestra e costurar novos negócios exigem habilidade profissional, apuro técnico, competência relacional e conhecimento psicossocial. Agora, já na Itália, cá estou escrevendo, o que também tem relação com meu trabalho. E seguirei a fazê-lo inclusive lançando novos colaboradores — não deixe de voltar ao blog nesta segunda-feira — e retomando uma prática esquecida no tempo: a de falar da vida, do cotidiano, de fatos comezinhos e compartilhar tudo isso com você que ainda está por aqui — um desejo que me tomou quando em pesquisa no blog descobri o primeiro texto escrito, aqui de Orbetello, lá em 2008, na época em que internet se comprava na venda. Desde lá, trabalho nas férias. Com muito prazer!
Férias, sempre merecidas! Aproveitem. Se der, passem em Madri! Estamos aqui.