Dra. Nina Ferreira

“Sentir raiva é pecado”, “Raiva é um veneno”, “Raiva mata”.
Então… já pequei, já fui envenenada, já morri.
E, vez ou outra, faço tudo de novo.
Você já sentiu raiva?
Se sim, me conta: você teve escolha?
Te pergunto porque do lado de cá, na minha mente e no meu corpo, a resposta é… não.
A raiva nunca me perguntou se poderia chegar, entrar, ficar. Ela sempre me atropelou tipo um trator desgovernado. É assim até hoje.
Revolta, incômodo, angústia… explosão.
Raiva é emoção pura, visceral, animal. Não existe escolha.
Fome, sono, respiração… Natureza mostrando quem manda. A raiva está nesse grupo aí – é espontânea e independente da nossa vontade.
A raiva é seu corpo e seu cérebro te dizendo:
“Presta atenção, estão te invadindo, estamos sob ameaça, olha o ataque!”
No fim, ela quer te proteger. Pra você sobreviver, ela te enche de noradrenalina e de cortisol e te faz uma máquina potente, pra lutar ou pra fugir, mas morrer – jamais.
Então… Sinta a raiva!
Quando ela aparecer: perceba que ela chegou; dê nome pra ela; ouça de qual ameaça ela está te alertando.
Depois: dê um tempo, enquanto convoca seu córtex frontal, a “Sra. Razão”; construa um diálogo entre os dois.
Uma hora a Raiva fala, em seguida a Razão argumenta… a Raiva se revolta, a Razão pondera…
Pronto. A partir daí, a decisão está tomada – enumere as atitudes, uma a uma, que vão te levar ao resultado que você precisa: se distanciar, conversar num outro momento, tentar outro caminho (porque soltar é mais eficaz que insistir)…
Seja o que for, a Raiva chegou, fez o papel dela – te alertou do perigo – e se foi.
Não precisa temer. A Raiva não é inimiga, nem pecado, nem veneno e, muito menos, morte.
A Raiva é a Vida querendo sobreviver.
Sinta a Raiva. Depois, chame a Razão. E, depois, crie seu plano e caminhe pelo mundo, orgulhoso do seu autoconhecimento e do seu autodomínio.
Os fortes, os sábios, os bons… sentem Raiva, mas fazem dela um motor de Vida.
E então, me diz… Você faz o quê com sua Raiva? Foge… ou sente e vive?
Dra. Nina Ferreira (@psiquiatrialeve) é médica psiquiatra, especialista em terapia do esquema, neurociências e neuropsicologia. Escreve este artigo a convite do jornalista Mílton Jung