Avalanche Tricolor: uma vitória a Fernandão

Atlético MG 1×3 Grêmio
Brasileiro – Arena MRV, Belo Horizonte MG

Balbuena comemora o gol da virada. Foto: Lucas Uebel/GrêmioFBPA

17 de agosto de 2025. Guarde essa data, torcedor gremista! Tende a ser definitiva nos destinos do Grêmio, nesta titubeante temporada que estamos encarando. Para o calendário futebolístico, é o início da metade final do Campeonato Brasileiro. Um momento crucial para as pretensões de qualquer clube, em especial daqueles que, como nós, estão na parte de baixo da tabela. Se há um momento de reação, a hora é agora. E o Grêmio reagiu!

Lá em Minas, em momento de extrema tensão e pressão, superou-se e venceu de virada o adversário que contava com o apoio maciço de sua torcida. O Grêmio foi a campo depois de ter sido alvo de injustificáveis agressões por parte de um grupo violento de pessoas que se identifica como gremista. Esses trogloditas, que têm de ser expulsos da Arena e do clube, se sócios forem, invadiram a área reservada à delegação no aeroporto Salgado Filho, antes do embarque para Belo Horizonte. Atacaram o ônibus, ameaçaram agredir os jogadores e feriram Luis Fernando Cardoso, conhecido como Fernandão, segurança do Grêmio e da seleção brasileira.

Fernandão é uma dessas personagens que surgem no futebol e ganham destaque sem precisar entrar em campo ou jogar bola. Seu caráter e a excelência do seu trabalho se expressaram ao longo do tempo. Está onde o Grêmio estiver — menos neste fim de semana, quando precisou ficar em Porto Alegre, afastado pela violência da qual foi vítima. Seguidamente é visto na beira do gramado na saída dos jogadores; sempre que aparece alguma treta no caminho para os vestiários, lá está ele para proteger a todos. Ao contrário do que possa estar no imaginário de qualquer um de nós, é o tipo de segurança que está lá para cuidar das pessoas, não para agredir.

Lembro do carinho com que Fernandão tratou meu pai quando fomos à Arena do Grêmio comemorar seus 80 anos de vida. No fim da partida, estávamos a caminho do vestiário, onde o pai receberia de presente uma camiseta do tricolor, das mãos da diretoria e da comissão técnica. Fomos parados em uma das barreiras necessárias para controlar a movimentação de pessoas. E, sem que precisássemos dizer uma só palavra, assim que ele percebeu a presença do pai fez questão de se dirigir até nós e pedir licença a todos para que dessem passagem ao que ele tratou como uma lenda do jornalismo esportivo: “este é o grande Milton Ferretti Jung”. Um ato singelo que ficou no coração de todos nós.

Fernandão já deverá estar de volta à ativa para receber a delegação que chegará em Porto Alegre com uma rara vitória fora de casa na bagagem. Rara e muito importante, especialmente pela maneira como foi construída. Havia uma aparente consistência defensiva quando tomamos o primeiro gol — e como temos levado golaços nestes últimos tempos.

Parecia que estávamos prestes a assistir a mais uma derrota. Porém, sem desistir, conseguimos o empate ainda no primeiro tempo, com Edenilson cabeceando para as redes depois de uma cobrança de escanteio. No segundo tempo, mais uma vez, de uma bola que veio do escanteio, Balbuena aproveitou a sobra e virou o placar a nosso favor. Receosos — gato escaldado tem medo de água fria — só acreditamos que a vitória seria nossa após Aravena completar nas redes uma assistência de André Henrique, a partir de jogada iniciada por Riquelme no meio de campo.

Essa vitória — e por isso convido você, caro e cada vez mais raro leitor desta Avalanche, a registrar a data de hoje — pode ser o ponto de inflexão que o Grêmio precisava para se recuperar de uma temporada ruim. Que seja também uma vitória dedicada ao Fernandão, símbolo de proteção, caráter e resistência gremista.

Avalanche Tricolor: com coração e Volpi gigante, Grêmio vence na estreia

Grêmio 2 x 1 Atlético-MG
Brasileirão – Arena do Grêmio, Porto Alegre/RS

Edenílson comemora 2º gol, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Havia algo diferente no time que entrou em campo no início da noite deste sábado. Não me refiro à escalação nem ao posicionamento da defesa – que, nos primeiros 20 minutos, quase nos levou ao desastre. Não foi um toque mais refinado na bola nem uma movimentação mais bem organizada dos jogadores. Nada disso apareceu de forma evidente na estreia do Grêmio no Campeonato Brasileiro de 2025. Temos muito a melhorar.

Apesar das falhas, das carências, da dificuldade em conter o ataque adversário e da pouca articulação no meio-campo, o atual elenco gremista mostrou-me ter entendido que, antes mesmo de o talento aparecer, o torcedor espera que o time se entregue em cada jogada como se fosse a última. E essa foi uma mudança crucial.

Mesmo quando nossa marcação acumulava erros e repetia as falhas de partidas anteriores, os jogadores se esforçavam ao máximo para impedir a saída de bola do adversário. Nossos atacantes tentavam fechar espaços nem sempre com sucesso, mas com uma entrega que era perceptível. Esse comportamento também estava presente nos três volantes escalados para congestionar o meio-campo e apareceu nos jogadores de defesa à medida que eles se reposicionaram e entenderam melhor a movimentação adversária.

Sem vergonha de admitir a inferioridade técnica, o time não renunciou às faltas – recurso necessário para conter a pressão sobre nossa área. Mais de uma vez, vimos nossos ponteiros – Cristian Oliveira e Amuzu – roubando a bola na defesa. Camilo, mesmo cometendo erros ofensivos, transformava-se em um leão na marcação, ao lado de Villasanti e Edenílson. Wagner Leonardo destacou-se dentro da área.

Quando conseguimos equilibrar a partida e, minimamente, colocar a bola no chão, o Grêmio foi mais eficiente do que seu adversário. Em uma das primeiras jogadas realmente perigosas, Arezo abriu o placar. Logo depois, com um pouco de sorte, ampliamos com Edenílson.

É evidente que tudo isso só se tornou viável porque Tiago Volpi foi um gigante quando mais precisamos dele. No começo do jogo, quando parecia que tudo daria errado, nosso goleiro defendeu o possível e o impossível. Após equilibrarmos a partida, Volpi voltou a fazer defesas decisivas que garantiram a vitória. Não o incluo entre as novidades positivas deste sábado apenas porque, desde que chegou, Volpi tem sido excepcional. Seu talento não é mais uma novidade.

Para disputar o título do Campeonato Brasileiro, precisaremos de mais do que Volpi e da entrega vista em campo. Enquanto o ajuste fino não acontece pelas mãos do técnico Gustavo Quinteros, porém, que os jogadores continuem a nos fazer acreditar que merecem vestir a camisa que nos tornou Imortais.

Avalanche Tricolor: o retorno amargo e o fim de uma ilusão

Grêmio 2×3 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre RS

Braithwaite marca o gol inicial, em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Foram 134 dias distante da Arena, desde as enchentes que destruíram o Rio Grande do Sul e deixaram marcas no coração dos gaúchos. O Grêmio foi o time de futebol mais prejudicado com a tragédia que abateu o Estado. Peregrinou como um circo mambembe por estádios brasileiros disputando três competições importantes. Embora tenha conquistado resultados significativos, despediu-se de dois torneios, em meio a essa jornada cambaleante, e persiste no Campeonato Brasileiro com a pouco inspiradora luta para ficar longe da zona-que-você-sabe-qual-é. 

O retorno ao estádio foi marcado pela precariedade. A infraestrutura não permitia jogos sem luz natural, por isso a disputa foi às 11 da manhã de domingo. Apenas parte das arquibancadas está liberada e muitos espaços internos seguem interditados. As manchas da lama aparecem em várias paredes e no mobiliário da Arena. O gramado foi instalado de maneira emergencial e trouxe uma cor e aparência estranhas. 

A coincidência do calendário nos trouxe de volta à Arena em momento de emoções diversas. Não bastasse a retomada nossos estádio, o adversário foi o clube que melhor soube acolher o drama de todos os gaúchos. Merecia nossa reverência. Há uma semana, havíamos perdido o patrono e o “maior de todos os torcedores”, Cacalo. E o futebol amargava o luto provocado pela morte de Juan Izquierdo, do Nacional, esse time uruguaio que nos é próximo do coração.

Com a bola rolando, o sofrimento, a alegria e a frustração voltaram a se expressar. Ter Gustavo Martins expulso com menos de 20 minutos de partida – exagerada ou não a punição ao zagueiros que fez dupla trapalhada  na jogada — nos colocava diante de dois cenários: o da derrocada iminente, que serviria para destruir a ilusão de que o drama que enfrentamos nesta temporada haveria de ser recompensado com uma recuperação heróica; ou o da vitória pela superação, sustentando a escrita da imortalidade e da energia emanada por um lugar sagrado que voltava a nos abrigar.

O primeiro tempo, em especial, e boa parte do segundo rascunhavam uma história incrível, daquelas de contar para os filhos, reunir os amigos e deixar a lágrima correr pelo rosto. Dizer do gigantismo deste time pelo qual escolhemos torcer e agradecer àqueles que nos tornaram gremistas. O primeiro gol veio pelos pés de Braithwaite, o atacante dinamarquês pelo qual já nos apaixonamos, e o segundo, na insistência de Cristaldo, que voltou a marcar.

De tão incrível que era o roteiro, sequer sofremos com o primeiro gol do adversários, aos 26 minutos do segundo tempo, após mais um pênalti cometido pelo nosso time e não defendido por nosso goleiro — que tem a capacidade de errar o lado em que a bola vai em quase que 100% das cobranças as quais é submetido. O revés naquela altura do jogo, estaria ali apenas para corroborar como seria glorioso sofrer pelo Grêmio. Ledo engano!

Nos acréscimos, aquele momento em que nosso técnico insiste em sinalizar a seus jogadores que “acabou, acabou”, levamos dois gols e a virada. O primeiro, de empate, também de pênalti e o segundo na pressão do adversário, quando tínhamos quatro zagueiros dentro da área. A jornada do herói imortal foi desconstruída em poucos minutos. Restaram a tristeza e a frustração, sentimentos dolorosos diante da expectativa que tínhamos no retorno à Arena.

A verdade é que o futebol é jogado dentro de campo, minuto a minuto.  A história que nos trouxe até aqui pode não servir para nada na partida seguinte.  O jogo depende muito mais das escolhas feitas pelo técnico e os jogadores, no instante em que a bola está rolando, do que qualquer fenômeno sobrenatural que costumamos evocar. A partida desta manhã de domingo chutou para longe toda e qualquer ilusão de que os deuses do futebol estariam dispostos a interferir a nosso favor. Eles não estão nem aí para nós. É no que acredito, ao menos até a próxima partida.

Avalanche Tricolor: eu vim ver o Grêmio e venci!

Grêmio 1×0 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio

Ronald comemora o gol da vitória em foto de Lucas Uebel/GrêmioFBPA

Estar em Porto Alegre é estar em família. É reviver o passado. É relembrar a vida que se foi e me trouxe até aqui. É homenagear os que me legaram a carreira que percorri e reencontrar o principal protagonista da minha história nas casas que frequentei quando criança, nas ruas pelas quais passei na adolescência e nas esquinas que me provocavam a escolher um caminho em busca do amadurecimento — eu mesmo.

Todas essas sensações percorrem as veias e mexem com as emoções quando chego à cidade. Estando aqui não há como esquecer o quanto minha história com o Grêmio foi importante — mais do que o time de futebol, aquele espaço que hoje é ruínas, muito próximo da casa em que vivi e me abriga sempre que visito a capital gaúcha foi meu palco de vida, onde forjei parte da personalidade que me representa, construí relações familiares e fraternais e aprendi a valorizar tanto vitórias quanto derrotas.

Estar na Arena, na noite desse sábado, ao lado do Christian, meu irmão, e da Jacque, minha irmã, é evocar aos céus a presença daquele que me fez gente e gremista — meu pai, que nos deixou há quatro anos em um 28 de julho. Por isso, mais do que o resultado, o que me importava era a solenidade do ato: vestir a camisa do Grêmio, sair de casa em direção ao estádio com meus irmãos, sentar-me em uma cadeira e ao lado deles torcer pelo que desse e viesse.

Veio uma vitória que nos projetou à vice-liderança do Campeonato Brasileiro. Vitória sofrida! Nem tanto pela forma como se construiu. O gol chegou cedo em uma cobrança de escanteio que foi concluída nas redes por Ronald, de apenas 20 anos, que está no clube desde pequeno e estreou hoje realizando o sonho de todos nós que já fomos um guri gremista.

O sofrimento deu-se na sequência quando o adversário se adonou da bola. Mesmo que não tenha sido capaz de transformar esse ato em superioridade técnica, exigiu uma atenção redobrada dos nossos marcadores. Nesse quesito, Walter Kannemann foi a referência do torcedor, foi gigante ao anular toda e qualquer tentativa de ataque. Nas vezes em que as ações passavam distante da intervenção de nosso zagueiro, Grando voltou a ser grande. Defendeu as bolas que por ventura não eram interceptadas por nossos defensores. E o fez mesmo naquelas em que o nível de dificuldade exigia rapidez e habilidade.

Saber sofrer é preciso. E o gremista ontem aprendeu mais um pouco. Entendeu o momento da equipe, apoiou do início ao fim, e comemorou de gol marcado a bola despachada pela lateral; de gol anulado a cartão amarelo para o adversário —- foi a primeira vez que assisti à revisão do VAR no estádio, e gostei, especialmente porque foi providencial. Sabia que os três pontos se faziam necessários e a torcida esteve ao lado do time — uma prévia do que acontecerá na quarta-feira, na Copa do Brasil. 

Nenhuma ausência no gramado me fez frustrar a expectativa de estar na Arena, porque vim a Porto Alegre, vi o Grêmio e venci (dentro e fora do campo)!

Avalanche Tricolor: de crenças e maldições

Grêmio 4×3 Atlético MG

Brasileiro – Arena Grêmio, Porto Alegre/RS

foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Chamei o pai que está no céu. Pelo santo do pai que não é santo também clamei. A imagem do Padre Reus que o acompanhou em vida esteve na minha mão durante toda a partida. E a vela na mesa permaneceu acesa até o fim. Ao lado dela esteve a imagem encardida de São Judas Tadeu, o das causas impossíveis – generosidade da esposa que se gremista não o é, torce pelo marido ou para que este não sofra como sofreu. Ao lado direito esteve o filho mais velho que nunca me abandonou. Que aprendeu o que é ser gremista quando ressuscitamos na Batalha dos Aflitos. Que soube o que é ser feliz quanto assistiu ao seu time campeão.

Nem o pai redivivo nem o santo aclamado nem a vela acendida nem o filho solidário são capazes de se sobrepor aos fatos. Por mais crenças que tenhamos e depositemos nesta ou naquela figura consagrada, a realidade se impõe aos nossos desejos e se sobrepõem às nossas crenças. Assim como nossa mística é insuficiente para nos fazer vencedores, nossas convicções se revelam incapazes de substituir a inanição e a prepotência que nos contaminaram ao longo da temporada.

O Grêmio está na condição que se encontra por sua conta e risco. 

De nada adianta maldizer os que pouco fizeram por nós. Terceirizar a responsabilidade da desgraça alcançada é trilhar pelo caminho que nos levou a esta condição. 

Se aqui chegamos é porque nos atrevemos a desafiar maldições – e estas não perdoam. Das maiores que acreditamos que venceríamos, está a do terceiro mandato. Fomos mordidos pela mosca azul, aquela de asas de ouro e granada, que se deslumbra e passa a  sonhar com poder e riqueza – assim descrita em poema de Machado de Assis. Que picou nosso presidente, Romildo Bolzan, e todos que acreditamos que mantê-lo no comando  seria o melhor que tínhamos a fazer naquele momento. 

Assim como a maldição da mosca azul definhou a fama e o poder de presidentes que se atreveram a se reeleger na República do Brasil, consumiu a capacidade de o Grêmio consagrar-se no sobrenatural, porque comprometeu nossa sanidade e senso de realidade. Pagamos. E pagamos muito mais caro do que merecíamos por acreditarmos sermos superiores à maldição do terceiro mandato. Não merecíamos todo este mal, a despeito de sermos os únicos responsáveis por irmos em busca dele.

Se chegamos onde chegamos por nossa culpa, nossa tão grande culpa, que sejamos capazes de respeitar o poder da imortalidade que nos notabilizou. E entender que só o alcançamos porque jamais desistimos de lutar. Uma luta que se inicia no amanhã e terá de ser brava ao longo de todo o ano de 2022. Afinal, como aprendemos no poema anônimo; 

“se um dia o mundo acabasse numa tragédia bravia

o mar, e os homens, e as feras, 

tudo, tudo terminasse, 

depois de ter passado um dia 

na fenda de alguma rocha 

onde uma flor desabrocha 

o Grêmio renasceria’

Renasceremos!

Avalanche Tricolor: um pecado

Atlético MG 2×1 Grêmio

Brasileiro – Mineirão, Belo Horizonte/MG

Campaz comemora gol em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

“Um pecado” falou Rafinha em entrevista ainda ao lado do gramado em que o Grêmio acabara de fazer uma de suas melhores partidas neste campeonato. Foi como o lateral gremista definiu o que aconteceu nesta noite em que enfrentamos o líder e virtual campeão do Brasileiro, um estádio estupidamente (no pior sentido da palavra) lotado — a despeito da pandemia que ainda vivenciamos — e a saga de azar que a temporada 2021 nos reserva.

Um pecado Borja perder o gol ainda no início do jogo em contra-ataque que parou no poste adversário. Um pecado saber que o gol que ele marcou na sequência foi anulado por um traço milimétrico e digital do VAR. O mesmo serviço auxiliar do árbitro que foi atento em ver irregularidade de Campaz ao se proteger de uma bola na barreira, mas foi incapaz de identificar a irregularidade na posição do jogador adversário que não respeitou o metro de distância da mesma barreira. Um pecado Chapecó ser tão preciso no lado em que saltou para defender o pênalti mas nem isso ter sido suficiente para alcançar a bola. 

O gol que não entra, o pênalti que é marcado, o gol que não evitamos … os pecados que o Grêmio está pagando por erros que não estão à altura da punição que recebemos. Até quando? Não sei. A noite de hoje, nos sinalizou mudanças de postura e de performance, que se reproduzidas nas demais partidas pode nos tirar deste sufoco que enfrentamos. 

É só não cometermos novos pecados … 

Avalanche Tricolor: que voltem as vitórias

Grêmio 1×1 Atlético MG

Brasileiro — Arena Grêmio

Maicon, o Criador em campo, em foto de Lucas Uebel/Grêmio FBPA

 

“Vamos para mais um empate”, foi o que disse quando sentei ao lado de meu filho-torcedor, para assistir ao segundo tempo da partida desta noite. O primeiro, vi de revesgueio, porque tinha de atender ao compromisso assumido com meu amigo Luiz Gustavo Medina, o Teco. Havíamos marcado para hoje uma conversa, ao vivo, no Instagram, sobre cuidados financeiros que devemos tomar em busca de um equilíbrio na vida. Por descuidar o calendário de jogos e não prestar atenção na agenda, enquanto o Grêmio estava em campo, eu me divertia no bate-papo. Mesmo assim pude ver pela tela do computador o pênalti convertido contra nós e a falta de criação no ataque.

O segundo tempo —- contou-me o companheiro de torcida —- começou da mesma forma que o primeiro: sem troca de passe, sem profundidade e sem chutes a gol. Até que os criadores entraram em campo. Não foram necessárias muitas tentativas —- se não me engano a que entrou foi a única bola que havia sido chutada em direção ao gol até aquele momento, quando já havíamos jogado 85 minutos.

A bola rodou de pé em pé, e passou pelo de Maicon, o Criador; Ferreirinha usou de seu talento para driblar; Diego Souza dividiu dentro da área; e na sobra Everton, o Improvável, encontrou um chute capaz de passar em um espaço estreito entre os marcadores, o goleiro e a goleira. Era o empate que eu havia previsto, não porque sou adivinho ou tenho bola de cristal, apenas porque tem sido esta a lógica gremista no Campeonato Brasileiro. Foram 15 empates na competição e uma sequência de 16 partidas sem derrota. Uma série invicta que nos fez subir em direção ao topo da tabela, mas que não nos aproxima da liderança da competição. 

Se a derrota está fora de opção e o empate se torna a saída para jogos nem sempre bem jogados, que a vitória volte quando for realmente necessária. Domingo será.

Avalanche Tricolor: de volta ao jogo

 

Grêmio 1×0 Atlético MG
Brasileiro — Arena Grêmio Porto Alegre/RS

 

 

Gremio x Atletico-MG

Vizeu agradece pelo gol marcado, em foto de LUCASUEBEL/GRÊMIOFBPA

 

 

Foi forte, foi com raiva e foi fundamental. Foi assim o chute de Felipe Vizeu que levou o Grêmio a marcar o único e necessário gol da partida, na noite de sábado. Esqueci de dizer também que foi com o dedo de Renato — e que a turma do VAR não anule o gol após ler essa minha afirmação.

 

Neste tempo todo em que está no comando do Grêmio poucas vezes se viu nosso técnico substituir jogadores no intervalo —- a não ser por lesão. Prefere fortalecer seus comandados — e graças a essas apostas já recuperou muitas gente que andava sem norte no gramado.

 

Desta vez, não perdoou. Voltou para o segundo tempo com duas substituições. Uma por lesão: Diego Tardelli entrou no lugar de Alisson. Outra por questões técnicas: Vizeu assumiu o posto que era de André. Nosso atacante havia perdido um pênalti pouco antes de se encerrar o primeiro tempo e a impressão que ficou é que o chute fraco e para fora tirou a paciência de Renato. Soube-se depois que Renato estava apenas sendo Renato: poupou André da vaia do torcedor que prejudicaria a ele e ao time.

 

Enfim, Renato sabe o que faz. E fez certo.

 

Dois minutos depois das mudanças, em uma das muitas cobranças de escanteio que tivemos direito ao longo de toda a partida, a bola foi desviada pelo zagueiro estreante Rodriguez e parou nos pés de Vizeu que não desperdiçou sua oportunidade.

 

Dadas as circunstâncias no campeonato, imagino que a maioria de nós torcedores já estaríamos satisfeitos com os três pontos. Vencer a primeira no Brasileiro seria importante para qualquer pretensão na competição e na temporada. Um novo revés aumentaria e muito a pressão e atrapalharia o ambiente para a partida decisiva do meio de semana pela Copa do Brasil.

 

O Grêmio de Renato foi além. Venceu, sim. Voltou a marcar. E teve competência para suportar a pressão adversária, especialmente no segundo tempo. Mais do que isso: venceu fazendo uma baita partida, especialmente no primeiro tempo, quando voltou a ser o Grêmio que conhecemos, com domínio total do jogo, bola de pé em pé, passe bem apurado, jogadores se movimentando e marcando com intensidade, e chutando muito a gol.

 

Apenas não marcamos mais cedo porque o árbitro fez uma trapalhada daquelas ao sinalizar falta de ataque, quando o que havia ocorrido era um toque de mão na bola. Como errou, impediu a sequência da jogada que foi concluída no gol por Geromel. Já que não havia visto o pênalti e a falta de ataque não ocorreu, já teríamos saído na frente no primeiro tempo.

 

Vencemos e jogamos bem. Vizeu deu as caras e Tardelli, também. Rodriguez jogou sério e cumpriu as ordens do chefe. A luz de Renato brilhou mais uma vez. O Imortal voltou!

Avalanche Tricolor: só havia motivos para sorrir neste domingo

 

Atlético MG 4×3 Grêmio
Brasileiro – Independência-BH/MG

 

gremio

Guris se divertem em campo, em reprodução da SportTV

 

Estava ansioso pelo domingo. E o domingo começou com céu claro e sol agradável em São Paulo. Motivos não faltavam para minha ansiedade: era meu primeiro domingo de férias, que se estenderão até quase o fim do ano, ao lado dos filhos, da mulher e, provavelmente, com uma experiência inédita na minha vida – sobre a qual compartilharei com você assim que se realizar (e se realizar). Era ainda o primeiro domingo do advento do Natal, sempre razão de alegria para os católicos. Mas era, também, a primeira vez que encontraria o padre José Bortolini desde a conquista da Libertadores.

 

Falei dele por aqui em edições anteriores. Aos 65 anos, encara uma daquelas doenças sempre dispostas a nos tirar de ação, mas incapaz de abatê-lo. Já teve problemas de saúde durante a missa. Foi parar no hospital. Não foram suficientes para fazê-lo desistir. Coragem, fé e inteligência são suas principais fortalezas. Autor de inúmeros livros, é um intelectual a serviço da religião e como poucos padres que conheci tem uma incrível capacidade para agregar pessoas e animar a missa. Nessa segunda-feira, completará 40 anos de sacerdócio. É um vitorioso.

 

Bortolini nasceu em Bento Gonçalves, na serra gaúcha, e, principalmente, nasceu gremista – e agora você, caro e raro leitor desta Avalanche, começa a entender o fato dele ser personagem desta nossa conversa. É com ele que troco olhares, sorrisos e algumas poucas palavras antes de a missa começar ou no seu encerramento. São os únicos momentos em que permitimos que o futebol se sobreponha aos assuntos da religião. Costumam ser mensagens curtas, uma ou duas frases. Nunca mais do que isso. O suficiente para que nossas intenções e confiança em relação ao jogo transpareçam.

 

Hoje, cheguei cedo. E ele estava lá, firme e forte. Forte e faceiro. Assim que me viu, se virou para cumprimentar-me com a simpatia de sempre. Assoprou-me algumas palavras talvez para que outros fiéis não se sentissem incomodados: “a América ficou pequena para nós”. Foi o suficiente para tirar um largo sorriso deste escrevinhador e de alguns que estavam mais próximos. Disse sem medo de estar cometendo o pecado da soberba, pois tinha a favor de seu argumento o futebol superior que nos levou ao tri da Libertadores.

 

Abracei-o com o abraço que os campeões merecem e assim que entrei na Igreja mais uma cena a me lembrar da nossa conquista: Romano Pansera, um dos fiéis que sempre encontro aos domingos, estava sentado nos primeiros bancos. Seu primeiro nome aparecia em destaque gravado nas costas da camisa tricolor. Sim, ele também é gremista como eu. E pelo que percebi aproveitou o momento para agradecer pelas graças alcançadas. Fui até lá para compartilhar um abraço, afinal, ali estava outro campeão da América.

 

De minha parte, como já deixei claro em outras Avalanches, procuro não misturar os assuntos. Sempre tenho a impressão que Deus tem mais com que se preocupar do que ficar defendendo bola lá atrás e as desviando para o gol lá na frente. O futebol, dizem, tem deuses próprios que habitam os estádios e costumam intervir nos momentos mais inacreditáveis para nos provar que estão dispostos a ajudar a quem fez por merecer.

 

Assim que voltei para a casa, ainda pela manhã, o Grêmio haveria de me oferecer outro instante de satisfação: graças ao seu título, fui entrevistado no programa apresentado por Carlos Eduardo Eboli, na CBN, ao lado de Álvaro Oliveira Filho. Oportunidade para tecer elogios à gestão do futebol gremista, à perseverança e ao conhecimento de Renato e à construção desta equipe de campeões.

 

A tarde de domingo chegou e lá estava o Grêmio a me dar mais alegrias, mesmo diante de resultado desfavorável. Perdão, placar desfavorável. Porque o resultado do futebol apresentado pelos meninos que entraram em campo foi muito bom. Toque de bola, deslocamento, velocidade, dribles, coragem, paciência e persistência: todas aquelas marcas que fizeram nosso time campeão estavam naquele grupo de guris. Eles jogaram bola com sorriso no rosto. Divertiram-se diante das câmeras de televisão. Não se intimidaram com a experiência e a torcida do adversário. Sinalizaram a mim, ao Brasil e a todos que admiram um jogo bem jogado que o futebol que nos levou ao título da América não foi um acaso.

 

Realmente, a América está pequena para nós, como disse o padre Bortolino.

 

Que assim seja para todo o sempre, amém!

Avalanche Tricolor: um time cheio de alternativas

 

Grêmio 2×0 Atlético-MG
Brasileiro – Arena Grêmio

 

 

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Fernandinho, o goleador “alternativo”

 

Sei que já reclamei nesta Avalanche do neologismo futebolístico da temporada: chamar time reserva de alternativo. Foi bem no início do campeonato, quando o Grêmio colocou em campo uma escalação totalmente desfigurada, já pensando na maratona de competições que teria neste ano. Logo percebi que a expressão estava na boca de boa parte dos jornalistas esportivos e já havia contaminado o bate-papo do torcedor. Era o politicamente correto entrando em campo.

 

Hoje, enquanto assistia ao Grêmio desfilar talento na Arena, pensei melhor sobre o termo, talvez influenciado pelo fato de as duas equipes terem feito a mesma escolha: poupar alguns de seus jogadores principais visando a partida da Libertadores no meio da semana. Verdade que fomos menos econômicos do que eles. E a campanha na competição sul-americana explica a opção dos técnicos: nosso caminho é bem mais simples, apesar de nada ainda estar decidido. Podíamos arriscar um pouco mais.

 

E tínhamos alternativa.

 

Está aí aliás o que me fez mudar a opinião sobre o uso da expressão “time alternativo”. Só o tem, quem soube montar elenco. O resto tem time B. Ops, não quero que pareça provocação barata: o resto tem time reserva.

 

Se não, vejamos: Paulo Victor fez sua estreia em substituição a Marcelo Grohe com boas defesas desde os primeiros minutos de partida. Sempre que possível manteve a bola firme entre seus braços. Nas mais complicadas, mandou-a para longe, mesmo quando teve de se virar com os pés. E se virou bem. Não bastasse tudo isso, ainda defendeu pênalti com inteligência ao permanecer no centro da goleira no momento da cobrança. Mostrou-se excelente alternativa para o gol.

 

Na defesa, destaco os dois laterais.
Pela direita tem Léo Moura que joga com elegância e firmeza. Foi responsável pelo cruzamento de um dos gols que nos levaram a vitória ainda no início da partida. Substitui Edilson com a tranqüilidade que a longa jornada nos gramados lhe ofereceu. Não bastasse ser alternativa para o meio de campo como demonstrado no meio da semana.

 

Pela esquerda tem Marcelo Oliveira, titular até pouco tempo, campeão da Copa do Brasil em 2016, líder em campo e voluntarioso com a bola nos pés. Experiente para entrar e sair da equipe alternando-se na posição com Cortez, que é o atual titular pelo momento que vive.

 

No meio de campo, quem se atreve a chamar Maicon, nosso capitão, de reserva? Ele e Michel se alternam como volantes e mantém a mesma qualidade na marcação e saída de bola. Podem revezar com Arthur e Ramiro. Vê-los jogando juntos também é alternativa à disposição de Renato.

 

Já que citei Ramiro, vamos lembrar das multi-tarefas cumpridas pelo nosso meio-campo, que pode atuar em três funções diferentes, é dos que mais desarmam no time e marcou nove gols na temporada. Hoje, pode até descansar.

 

Lá na frente as alternativas são ainda mais curiosas. Tudo bem, Luan é insubstituível. É craque acima de qualquer suspeita. Mas na ausência dele, podemos montar times ofensivos da mesma maneira. Sem contar que alternamos os goleadores, também: Fernandinho, esse que dizem ser reserva no ataque, é o goleador do Brasileiro, com seis gols; Everton e Luan têm cinco cada um; Barrios, Ramiro e Michel têm quatro. Situação que explica termos a maior média de gols entre todos os times do Brasil nesta temporada: 1,9 por partida.

 

Diante dessas constatações passo a aceitar os que dizem que o Grêmio foi a campo com o time alternativo, desde que não usem a expressão como sinônimo de time reserva. Quando falarem do Grêmio, digam que é um time com muitas alternativas e uma delas é ser campeão de toda e qualquer competição que estiver disputando.Inclusive o Brasileiro (com todo respeito as outras alternativas).