Júlio Araujo
Ouvinte da CBN

Belenzinho ou Belém? Onde começa um e termina o outro? Faço a confusão geográfica desses bairros tal como ainda fico confuso com a localização do Bixiga e da Bela Vista.
Embora ainda persista em mim a dúvida geográfica, pesquisei a origem do bairro e encontrei a definição curiosa no livro Bairros Paulistanos de A a Z de Levino Ponciano:
“1899 – Belenzinho-Belém: O bonde 24 que servia a toda a região trazia estampado somente Belém e não Belenzinho. Esse uso caiu no agrado do povo: virou mais um distrito da capital e o Belenzinho ficou sendo um pequeno bairro” (Livro Bairros Paulistanos de A a Z – Levino Ponciano – Editora Senac – São Paulo)
Com efeito, Belém era Belenzinho que detinha a condição de titularidade distrital. Hoje, Belenzinho pertence ao distrito do Belém, assim como a Vila Maria Zélia, o Catumbi e a Quarta Parada.
Um local do bairro que sempre temi quando moleque, e toda a molecada do meu tempo também temia, era o Juizado de Menores, na Celso Garcia. Os adultos quando nos repreendiam diziam que nos mandariam para lá. O prédio abrigou também a Febem e, posteriormente, deu lugar à Fábrica de Cultura Parque Belém.
Do bairro trago recordações de quem passeava e trabalhou nele.
Minha primeira lembrança de estar em solo belenense, ainda criança, foi quando visitávamos a casa de avós paternos, em Sapopemba. A impressão foi que o Belenzinho era chique para quem estava num bairro distante do centro. Lembro do meu avô com sua malinha na mão, onde guardava a marmita, esperando a sua condução.
Mais tarde, já adolescente, fui trabalhar no bairro no escritório de uma empresa de ferro e aço na Rua Júlio de Castilhos. Foi no ano de 1966. Meu trabalho seria no escritório mas na prática eu embalava rolos de fios de cobre o dia inteiro e fazia o controle do estoque. Era divertido.
Não muito longe da firma, no Largo do Belém, no horário de almoço, eu gostava de estar por lá e me juntava aos engraxates buscando me enturmar. Muitos jovens, na maioria de famílias abastadas, que só estudavam, se reuniam para tocar e cantar músicas daquele tempo. Eu adorava. OI patrão não gostava muito dos atrasos constantes e tive de sair da empresa, fui convidado a sair.
Continuei frequentando o bairro. No carnaval era montado um enorme tablado no Largo com apresentações de cordões e escolas de samba. O patrocinador era uma loja de departamentos de nome Sangia, famosa por promover shows artísticos. Roberto Carlos esteve muitas vezes presente nesses shows.
Lembrança também tenho do Salão de Forró do Pedro Sertanejo, compositor, cantor, e dono de gravadora, a Cantagalo. Ele também foi o descobridor do famoso sanfoneiro Dominguinhos. O salão ficava na Catumbí, e foi, por sinal, o pioneiro do forró, em São Paulo. Eu com amigos íamos mais para tirar uma onda e como paulistanos achávamos graça do ritmo e da dança, desconhecidos até então. Mal sabíamos que seriam eternizados e amados pelos paulistas e em todo o Brasil a ponto de receber uma variação paulistana sob o nome de Forro Universitário.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
Júlio Araújo é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Esse texto do Julio foi adaptado para você ouvir aqui no rádio. Escreva o seu e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.



