Por Carlos Magno Gibrail

Há tempos somos os maiores do mundo na produção do café, e estima-se, a partir deste ano também no consumo.
E, não é pouco, pois o produto café emprega 8% da população mundial, sendo o segundo maior gerador de riquezas, atrás apenas do petróleo.
As perspectivas globais são fantásticas, pois o crescimento de consumo é da ordem de 1,9% ao ano e da produção de 0,6%. As estimativas nacionais são explosivas, pois per capita chegamos a aproximadamente 6 kg, equivalente da Alemanha, superior a França e Itália, mas metade dos países nórdicos como Finlândia, Noruega e Dinamarca, além de tomarmos café de baixa qualidade e de extrema equivalência, de acordo com os especialistas.
Nelson Barrizzelli, professor, economista, consultor de consumo, e acima de tudo um dos 320 000 cafeicultores brasileiros nos deu o seguinte depoimento, num dos raros restaurantes que servem na capital paulista um café compatível com a excelente qualidade do cardápio:
“Infelizmente ainda precisamos trabalhar muito a qualidade do café para oferecer ao consumidor uma bebida diferente daquela com a qual ele está acostumado há dezenas de anos. Na prática o consumidor brasileiro precisa reaprender a tomar café”.
“Por razões econômicas a qualidade do café comumente vendido, com raras exceções, deixa muito a desejar. Grãos de qualidade inferior e até grãos rejeitados por não por possuírem características mínimas para oferecer aroma e sabor adequados, são torrados quase até a queima e moídos com granulação muita fina para esconder as imperfeições da matéria prima utilizada. A torra excessiva aliada à moagem, deram ao consumidor a percepção de que o café brasileiro é um café forte. Na verdade ele é amargo e queimado”.
“Foi preciso que empresas estrangeiras entrassem no mercado brasileiro, com café importado do nosso país e em seguida torrado e moído na Europa, para nos ensinar de que existem bebidas aromáticas e sem amargor. Isto ocorre porque, nestes casos, são usados unicamente grãos selecionados, de origem conhecida e manufaturados em equipamentos de última geração”.
“Como não podia deixar de ser, esse produto é muito mais caro do que a maioria dos cafés vendidos nos supermercados, mas o prazer de tomar uma bebida com a certeza de que se trata do melhor produto que o mercado pode oferecer, compensa o custo”.
Outro especialista, Marcelo Pierossi, engenheiro agrícola e editor do Blog do Agronegócio transmite a seguinte advertência da SINCAL Associação Nacional dos Sindicatos Rurais das Regiões Produtoras de Café e Leite:
“Senhores cafeicultores e consumidores estamos bebendo tão somente 35% do café que dá a palatabilidade, aroma e outras propriedades organolépticas que caracterizam o café de qualidade”.
É a porcentagem de café arábica de qualidade, misturada a 65% de robusta e outros grãos inferiores.
“A SINCAL, como legitima representante dos cafeicultores, toma a liberdade de aconselhar a ABIC Associação Brasileira da Indústria do Café a segmentar e diferenciar, enfaticamente como se faz o bom marketing em praticamente todos os segmentos da economia desde as bebidas, indústria alimentícia, até as indústrias mais pesadas como de carros e aviões”.
“O café como o vinho oferece nuances muito particulares que proporciona uma segmentação com agregação de valor numa escala extraordinária”.
“Vamos esquecer o drawback. Precisamos vender e não comprar. O Brasil possui a maior gama de tipos e qualidade de café do mundo. Produzimos cafés nos mais diferentes tipos de solo, altitude, latitude, longitude numa extensão territorial quase que continental dando a maior diversidade do mundo e não justifica importar café”.
“Vendemos sempre muito barato detonando com os preços do mercado mundial. Chega de Commodity, vamos segmentar, diferenciar, agregar e valorizar o nosso precioso CAFÉ como é feito pelos mercados desenvolvidos”.
Na cerveja, na carne, o Brasil já demonstrou competência suficiente. Esperamos que Barrizzelli, Pierossi, SINCAL e outros que pensem e ajam da mesma maneira possam sensibilizar o mercado.
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve no Blog do Mílton Jung