Lei de trânsito exige bom senso de motorista

 

 

Artigo escrito, originalmente, para o Blog Adote São Paulo, da revista Época SP

 

Nas minhas férias de verão, voltei a cidade de Ridgefield, pequena localidade no estado americano de Connecticut, que conheci há alguns bons anos desde que parentes de minha mulher foram morar lá. O lugar é incrível, pois oferece a seus cerca de 22 mil moradores bosques intermináveis, cortados por estradas que levam até uma área central bucólica, que mantém traços da cidade fundada no século 18. Foi palco de uma batalha histórica durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, em 1777, quando os generais americanos Wooster e Arnold enfrentaram as forças britânicas. Descobri, também, lendo placas que estão expostas nas calçadas da Main Street (rua que aparece na foto que ilustra este post), em uma espécie de museu aberto, que um incêndio quase dizimou a cidade em seus primeiros anos de fundação, tragédia que foi contida graças ao apoio das comunidades vizinhas que enviaram brigadas de incêndio.

 

O frio na semana que antecedeu o Natal impedia passeios a pé ou mesmo de bicicleta, portanto andar de carro era quase obrigação. E uma tranquilidade, pela inexistência de congestionamento nas redondezas. Apenas ao sair de Ridgefield em direção a Nova York, distante mais de uma hora, ou a caminho de Danbury, que fica logo ao lado, encontra-se volume significativo de carros. Foi em uma destas viagens que aprendi uma peculiaridade das leis de trânsito de Connecticut: a conversão à direita é livre, mesmo que o sinal esteja vermelho para você, desde que feita com atenção; apenas nos cruzamentos mais perigosos, existem placas proibindo a manobra. A lei é inteligente, pois não o obriga a ficar parado quando não há carros para cruzar a via nem passageiros para atravessá-la.

 

Fico imaginando se algo semelhante seria possível em cenário caótico como o trânsito de São Paulo. Aqui, as autoridades sequer aceitam liberar os semáforos durante a madrugada nos cruzamentos, expondo o motorista e passageiros ao risco de assaltos. E não agem assim porque são injustas ou estejam a serviço dos bandidos, apenas porque conhecem o comportamento de parte dos motoristas brasileiros. Poucas vezes respeitamos a faixa de segurança – em São Paulo, somente a ameaça de multas consegue conter alguns -, dificilmente aceitamos a preferência dos outros nas rotatórias e jamais paramos o carro quando vemos o sinal de “Pare” na esquina, apenas desaceleramos para não perder a viagem.

 

A permissão que encontrei em Riedgefield e vale para todo o Estado de Connecticut só é possível em locais nos quais a sociedade esteja consciente de seus direitos e deveres. Exige bom senso – produto que está em falta em nosso trânsito.

Nos feriados, a violência nas estradas

 

Os feriados, tanto o do Natal quanto o do ano-novo, tratando-se de trânsito, são altamente preocupantes. É a época em que mais ocorrem desastres em nossas estradas. Não lembro de ter ouvido ou lido notícia, como a do dia Quinze de Novembro, por exemplo, data na qual as Polícias Federal e Estadual esforçaram-se, com aumento de seus efetivos e uso de radares, visando a evitar o excesso de velocidade nas rodovias sob suas jurisdições. Motoristas irresponsáveis, quando tomam conhecimento de que as autoridades estarão mais atentas do que normalmente e prometendo punir os infratores, tendem a respeitar um pouco mais, pelo menos, as leis de trânsito. Não sei se a ausência de noticiário acerca do assunto pode ter influenciado na transformação do feriado natalino deste ano no mais violento desde 2001. O jornal gaúcho Zero Hora contabilizou, do meio-dia da última sexta-feira até o meio-dia de ontem, 24 mortes, oito por dia, em rodovias e vias urbanas. O acidente mais grave foi o que vitimou cinco pessoas de nacionalidade argentina que viajavam, de férias, para Santa Catarina.

Outro feriado vem aí e o número de carros nas rodovias que levam às praias e à Serra tende a ser bem mais alentado do que em 2010, tantos foram os veículos vendidos pelas concessionárias em razão do crédito fácil que proporcionou a muitas pessoas trocarem os seus usados por novinho em folha ou adquirirem o seu primeiro carro. Esses últimos, em geral recém saídos de auto-escolas, mas que se acham “os caras”, são os mais propensos a abusar da velocidade. Tirei minha primeira carteira de motorista com 18 anos – estou com 76 – mesmo assim procuro ser cada vez mais cuidadoso. Não gostei que a nossa “Free Way” tenha sido liberada para que se dirija a 110 quilômetros por hora. Nem todos os que vão pegar a estrada nesta passagem de ano estão com condições de pilotar nesta velocidade. Seja lá como for, sugiro que os motoristas, mesmo os mais experientes, passe os olhos nos jornais dessa semana e prestem muita atenção nas fotos que estampam como ficou a van da família argentina depois do choque com um ônibus.

Menos armas na mão e na direção

 

Por Milton Ferretti Jung

Li ,nas últimas semanas,  duas notícias que me chamaram especial atenção, ambas tratando de assuntos rio-grandenses. Que me desculpem os leitores de outros estados se pareço puxar brasa para o meu assado. Creio que os assuntos, embora tratem de questões locais, possam interessar, de alguma forma ,a quem me acompanhar. A primeira dessas notícias dá conta de que o Rio Grande do Sul lidera a adesão à Campanha Nacional do Desarmamento. Os números são alvissareiros. Garantem que um de cada 4 mil gaúchos entregou armas entre os meses de maio e setembro. Os paulistas, por exemplo, tiveram contribuição menor: um por 7,7 mil. Para o estado, que era um dos mais apegados às armas no país, é uma melhora considerável, com certeza. É claro que algumas alterações no Estatuto do Desarmamento, favoreceram a mudança de atitude do povo gaúcho. Os pontos de coleta aumentaram, não é mais necessário que a arma tenha registro ou número de identificação, o proprietário pode permanecer no anonimato e quem se dispõe a ficar desarmado recebe, ainda por cima, entre R$100 e R$300 por arma recolhida. Assalta-me, porém, uma dúvida crucial. As pessoas de bem (ou do bem, como se diz hoje em dia) concordam como desarmamento. As do mal, principalemnte aquelas que lidam com drogas, bem pelo contrário, enriquecem os seus arsenais com armamento pesado. Terão as autoridades, ditas competentes, capacidade para impedir que os bandidos se reforcem com armas dos mais diversos e poderosos calibres? Esta dúvida, evidentemente, já foi exposta por muita gente boa…e preocupada.

E chego à segunda boa notícia, esta bem mais recente, porque publicada nessa  terça-feira, mas  sem chamada na capa do jornal que a divulgou, embora merecesse. A Polícia Rodoviária Federal, diante do crescimento dos acidentes na estradas e vias urbanas gaúchas, principalmente nos malditos feriados prolongados, apelidados bestamente de “feriadões”, começou a se valer da tecnologia para aumentar a vigilância sobre os motoristas. A BR-116, com trânsito pesado nos 36 quilômetros que separam Porto Alegre de Novo Hamburgo, passou a ter vigilância total por meio de 24 câmeras e quatro viaturas  equipadas com geradores de imagens. Trata-se da Central de Controle Operacional (CCO), colocada na confluência das BRs 290 e 116. Não preciso dizer que, com este equipamento de alta qualidade técnica, não haverá pontos cegos no trajeto. Os maus motoristas, abundantes no Rio Grande do Sul, que se preparem. O trecho fiscalizado custou R$2 milhões de reais. Por enquanto, portanto, é pequeno. Que a PF faça dele, porém, bom proveito. Talvez, graças ao CCO, o número de acidentes, muitos fatais, se torne consideravelmente menor.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele).

Megaengavetamento: testemunho e apelo

 

Por Carlos Magno Gibrail

Quinta feira eu estava na Serra do Mar no exato momento em que ocorreu o maior engavetamento da história do caminho do mar bandeirante.

Salvo pelo GPS que indicou a Via Anchieta, testemunho que a cena da Imigrantes não se repetiu ali porque a estrada já estava congestionada. Ainda assim pude vivenciar a sensação de total horror ao perceber que as carretas carregadas que vinham atrás quase colidiram com o meu veículo.

Não se enxergava nada, calcula-se apenas 10m, e não havia acostamento suficiente. A solução era andar muito devagar e manter uma distância dos gigantes que lotavam o leito da rodovia. Mesmo porque nas pequenas arrancadas era visível a impaciência dos motoristas, coisa de doido, ou de cegos, porque quem não enxergasse que visibilidade não havia boa visão não podia ter.

Neste quadro não ficou nenhuma dúvida que a velocidade, tão combatida no ambiente urbano, é fatal nas rodovias. Mesmo porque ficamos diante do absurdo de habilitar motoristas sem treinamento para rodovias. Muito menos para situações de extrema dificuldade como grandes temporais e cerrações agudas.

As placas de advertência, o alerta dos policiais, não irá resolver. O apelo sério é que haja habilitação específica. Embora a solução definitiva seja desmitificar a generalidade da habilidade de dirigir. Quem disse que todos os cidadãos estão aptos para o volante? Ao mesmo tempo em que cada vez mais se cuida para que o trabalho, seja manual ou intelectual esteja sendo executado por pessoas potencialmente capazes e de personalidade adequada ao seu desempenho, entregamos habilitação e uma arma feroz, para qualquer um que passe num exame incompleto.

E, a técnica está propondo outro modelo, pois a Abramet (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego) avaliou através do seu diretor e chefe do departamento de medicina de tráfego ocupacional Dirceu Rodrigues Alves, que o principal fator negligenciado no acidente foi a velocidade. Assim como a não exigência aos motoristas, de habilidades em situações desfavoráveis.

A complexidade do trânsito de hoje não pode ignorar o preparo para enfrentá-lo.

Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e escreve no Blog do Mílton jung, às quartas-feiras.

Caça a motorista bêbado tem de ser predatória

 

Por Milton Ferretti Jung

Acidente de trânsito e carro clonado

A caça a motoristas que dirigem alcoolizados os seus veículos está se tornando, me permitam a expressão, cada vez mais predatória. Esta é, sem dúvida, uma boa notícia. São Paulo deu ao país um bom exemplo quando o governo estadual mandou à Assembléia Legislativa projeto visando a impedir que, em pontos comerciais, sejam vendidas bebidas alcoólicas, oferecidas ou que o seu consumo seja permitido a menores de 18 anos. No Rio Grande do Sul há uma idéia ainda mais abrangente. Pais e responsáveis também ficariam proibidos de deixar crianças e adolescentes beberem em sua companhia. Na lei paulista, apenas o proprietário do estabelecimento vendedor é responsabilizado. Uma equipe multidisciplinar, liderada pela Secretaria Estadual de Justiça e Direitos humanos gaúcha, pretende apresentar um projeto de lei acerca do tema em fins de setembro.

Mas tem mais. Tenho certeza de que meus leitores, se é que os possuo, já leram ou ouviram notícias sobre projeto aprovado na Câmara dos Deputados segundo o qual se proíbe que bebidas alcoólicas sejam transportadas nas cabines de veículos. Essas, então, apenas poderão ser levadas no porta-malas. Nada impedirá, porém, que um motorista “sedento” pare o veículo que dirige e abra uma das garrafas guardadas no maleiro. A referida lei é daquelas de difícil fiscalização. Foi Edson Lobão, hoje Ministro de Minas e Energia, quando senador, o autor do projeto que data de 2002. Não foi especificado por ele se as garrafas devem obrigatoriamente estar lacradas. Vá lá, o condutor do veículo não pode beber, mas e os passageiros? Seja lá como for ,a propostas volta ao Senado e necessitará de aprovação da presidente Dilma.

Vou insistir num dos pontos que já abordei em postagens antigas que tratavam de trânsito: nada resolverá os excessos tanto de ingestão de bebidas alcoólicas quanto de velocidade, nas estradas e nas ruas, se desde a mais tenra idade as crianças não forem educadas, em casa e na escola, a respeitar as leis. Por outro lado, as punições impostas aos maus motoristas, especialmente os bêbados, têm de ser revisadas. Hoje, quem comete um acidente por estar sob efeito de alcool e provoca a morte de alguém, é julgado por cometer crime culposo, quando o mais correto seria ser punido por crime doloso.

N.B: No homicídio culposo, sem intenção de matar, o motorista é julgado por um juiz. Se condenado, pode pegar de dois a quatro anos de prisão. A habilitação pode ser suspensa por um ano. No homicídio doloso, intencional, o motorista vai a júri popular. Se condenado, a pena é de 6 a 20 anos. A pessoa pode perder o direito de dirigir.

Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

Homenagem aos motoristas

 

Nesse domingo, se comemorou o Dia do Motorista, uma das profissões mais estressantes do mundo, apesar do desenvolvimento tecnológico.Em alguns casos, nem São Cristovão resolve.

70 ivolante

Por Adamo Bazani

Ônibus automático, suspensão que prioriza o conforto, ar condicionado, computador a auxiliar operações, vias mais largas e melhor planejamento. Situação ideal para quem é motorista de ônibus. Mas estudos mostram que a profissão é cercada de adversidades que colocam em risco a saúde, a integridade física e a qualidade de vida dos mestres do volante.

Pode-se dizer, sem usar jargões ou frases feitas, que os motoristas em geral – de ônibus, caminhão, carros de socorro e de diversos serviços – conduziram e continuarão a conduzir o progresso, ainda mais num país que desde os anos de 1950 privilegiou a política rodoviarista e abandonou o transporte ferroviário.

Motoristas de ontem e de hoje podem ser considerados heróis, mas de diferentes batalhas.

Ao longo do nosso trabalho de pesquisa sobre história dos transportes, tivemos a oportunidade de conversar com motoristas de diversas gerações. Os que atuaram na época em que as cidades ainda estavam crescendo, as ruas eram de barro – e atoleiro em dias de chuva -, e a direção e o sistema de embreagem dos ônibus eram duras de encarar, dizem que preferiam aqueles tempos. Os que ainda trabalham, concordam.

Propaganda Motorista Da mesma forma que o crescimento econômico, a nova postura dos empresários de ônibus e a evolução da indústria trouxeram benefícios, vieram junto os problemas decorrentes deste novo cenário. Estudos de diversos órgãos de medicina do trabalho revelam que dirigir ônibus tem sido cada vez mais cansativo, insalubre e perigoso. Os motoristas vivem em constante tensão. Trânsito caótico, assaltos em maior número e com mais violência, vandalismo, pressão por parte das empresas e passageiros dispostos a descontar neles o sofrimento pela lotação e longa espera nos pontos.

Tudo isso se reflete em afastamentos constantes do trabalho de motoristas que não suportam a rotina sacrificante. Uma pesquisa nacional, com mais de 1.300 motoristas de diversas capitais e regiões metropolitanas do País, realizada pela UnB – Universidade de Brasília – em 2008 mostrou dados alarmantes.

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Táxi ! Por favor, com elegância

 

Por Dora Estevam

Taxi, na galeria de Stephen Geyer

Esta semana, observei alguns pontos de táxis.  O que me chamou a atenção foi a roupa dos motoristas. Notei que, atualmente, eles estão mais sociais na maneira de se vestir, e isso me causou uma boa impressão.

Quando estão em grupo, é fácil identificar o que estão vestindo, parece uniforme mesmo: calça bege ou preta, camisa branca e sapato social. Barba bem feita e carro limpo … Para combinar, é claro.

“Esta é uma das nossas preocupações, além da ética no atendimento com o cliente”, diz Natalício Bezerra Silva, presidente do Sindicato dos Taxistas de SP. “Nosso compromisso com o passageiro vai  desde o relacionamento até o bem estar dele em toda a viagem. Imagine se um passageiro entra no carro e da de cara com um motorista todo sujo e mal cheiroso”.

Eu jamais pegaria um táxi se o motorista estivesse cabeludo, barbado e de óculos escuros, isso depõe contra o profissional. “E se eu fosse um cliente me manteria longe deste tipo”, ensina Edson Lamonica, motorista com ponto no Real Park, em SP.

“Aqui no ponto, nós trabalhamos durante a semana com roupas sociais, somente no sábado partimos para o casual, mas sempre bem arrumado. Procuramos estar com o rosto sempre a mostra, o carro limpo e organizado e, em todos os pedidos, descemos do carro para abrir a porta para o passageiro, seja ele uma empregada doméstica ou um grande executivo” – conta.

Edson trouxe na bagagem a experiência de 12 anos como motorista de empresa particular. Assim, foi mais fácil a adaptação. Ele até passa dicas para os amigos.

Estar barbeado e asseado faz parte do compromisso com o passageiro, a regra é fiscalizada e cobrada pelos coordenadores das praças.

“Assim como a roupa, o motorista tem de ser discreto: Não podemos falar mal da cidade de São Paulo nem tampouco dos passageiros, seja ele turista ou morador.” Discrição, também, em relação ao cliente, explica Natalício: “não podemos sair por ai contanto tudo o que ouvimos ou vimos dentro do táxi”.

O carro é como se fosse uma empresa. O motorista precisa se vestir adequadamente, falar bem e ter educação. O perfil dele indica a maneira com que conduz o carro. Um motorista bem arrumado causa boa impressão.

Ao pegar um táxi, espero que o motorista seja discreto, limpo, tenha bom senso, não ouça rádio com som alto e não encha minha viagem com histórias tristes, sobre a vida dos outros ou reclamando da própria. Espero que ele saiba me ouvir e me compreenda, além de chegar ao destino pelo melhor caminho.

Assim, certamente, ele fará parte da minha agenda, tão discreta e elegante.

Dora Estevam é jornalista, escreve aos sábados no Blog do Milton Jung e anda de táxi na cidade de São Paulo

Ônibus da Metra rodam com Papai Noel a bordo

 

Por Adamo Bazani

Empresa que administra e opera o corredor das zonas sul e leste da capital, cruzando o ABC Paulista, coloca na rua três ônibus com enfeites natalinos e motoristas vestidos de Papai Noel.

Ônibus com decoração de Natal

“Para mim, toda a criança é uma bênção, quando elas sorriem, é a expressão maior desta dádiva de Deus”. É com esse espírito, demonstrado pelo motorista Isaías Martins Barbosa, 47 anos, que trabalham os condutores da empresa Metra – Sistema Metropolitano de Transporte Ltda, que todos os anos se vestem de Papai Noel para dirigir os ônibus enfeitados pela companhia.

Há seis anos, a Metra decora ônibus para o Natal. Mas neste 2009, a comemoração foi especial. De um veículo passaram para três: dois Caio Millennium II adesivados e um Urbanus Pluss, com luzes, que deixam mais natalina e alegre a rotina dos passageiros do corredor que liga São Mateus (na zona Leste de São Paulo) a Jabaquara (na zona Sul) pelas cidades de Santo André, São Bernardo do Campo, Diadema, com extensão para Mauá (no ABC Paulista) e a região da Berrini (zona Sul da Capital).

Além de Isaías, há mais cinco Papais Noéis e uma Mamãe Noel, a motorista Kátia Paula Almeida Viera, que fazem uma festa com a criançada distribuindo balas e sorrisos.

“Mas não é só criança que se anima não. Tem adulto que fica maravilhado. Parece que o espírito de Natal faz a criança que existe nos passageiros nascer de novo. Tem marmanjão que pede balinha pra mim. E eu dou, pra sorrir, nesta época vale tudo” – conta Isaías.

Trabalhando no setor de transportes desde 1977, quando começou como cobrador da Viação Safira, de São Caetano do Sul, o motorista Noel Isaías tem larga experiência no ramo. Foi motorista das empresas Alpina, Humaitá, Campestre, Santa Paula e São Bento Turismo. Dos muitos fatos que marcaram a carreira dele, nenhum se compara a dirigir como Papai Noel.

A Metra faz um recrutamento interno para os motoristas interessados em participar da festa de Natal. A procura é grande. E há dois anos, Isaías participa.

“A experiência é diferente de tudo. Parece simples, se vestir de Papai Noel e dirigir um ônibus enfeitado. Mas na prática, é fascinante. Adoro crianças e quando elas brincam e sorriem quando recebem uma bala, é como se eu ganhasse na loteria. Os passageiros também veem o motorista de maneira diferente, eles reagem com felicidade, olham com alegria. Coisa que se o motorista tiver com o uniforme normal de trabalho, não acontece.”

Isaías diz que dirigir vestido de Papai Noel lhe permitiu ver o passageiro de outra maneira e lembra a primeira vez em que pode brincar com as crianças mesmo em um trabalho no qual é exigido rapidez nas ações, dedicação e atenção total, pois envolve a segurança de milhares de pessoas todos os dias. Garante que o espírito natalino é capaz de espantar qualquer mal, mesmo em um ônibus lotado de passageiros apressados e estressados.

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Bus Noel roda no ABC Paulista

 

Por Adamo Bazani

Depois de cinco anos trabalhando como Papai Noel ‘independente’, motorista Fumassa ganha apoio da empresa de ônibus e distribui brinquedo para crianças a bordo de um Comil Svelto com decoração de Natal.

Fumassa e o ônibus de Natal

Havia um brilho especial nos olhos do motorista Edílson de Oliveira Santos, de 41 anos, quando olhava para o ônibus com enfeites natalinos e luzes de várias cores. Foi com este olhar que se iniciou a entrevista com Fumassa (com dois Ss, como faz questão de enfatizar), que está há 22 anos no transporte coletivo, tendo começado na Viação Padroeira do Brasil, de Santo André. Como motorista, tem oito anos, seis dos quais dedicados a transportar alegria aos passageiros e comunidades atendidas pelas linhas onde trabalha, durante o Natal.

Fumassa conta que, sem muito apoio da Viação Padroeira, na época, colocava um gorrinho de Papai Noel e distribuia balas a crianças, e também adultos entusiastas, ao longo do caminho. “Dar uma bala a uma criança é como dar uma medalha para ela”. Com o tempo, ficou mais difícil manter o trabalho solitário. Um ex-gerente da empresa até o havia proibido de realizá-lo, o que quase levou o motorista a depressão.

Acabou recompensado.

A Viação Vaz, que ganhou que forma o Consórcio União Santo André e começou a operar linhas que eram servidas pela Viação Padroeira, comprou a ideia e enfeitou um ônibus com luzes e imagens natalinas, além de fornecer quilos e quilos de balas, colocar músicas de Natal dentro do ônibus e deixá-lo dirigir vestido de Papai Noel. “Eu me sinto realizado com isso, foi o melhor presente que Deus pode me dar. Acho o Natal uma data especial, pra mim, o passageiro é um amigo, adoro crianças e ter a oportunidade de levar a alegria do Natal durante meu trabalho não tem preço”.

O amor pelo Natal e por distribuir alegria e balas para crianças é tão grande que Fumassa trabalha neste mês mais horas que sua escala, enquanto está vestido com as roupas do bom velhinho. Seu horário normal é das 4 da manhã à uma e 40 da tarde, mas nesta época, por livre e espontânea vontade, trabalha das cinco e meia da manhã às nove da noite.

“Não é só criança que gosta do ônibus enfeitado de Natal ou de um motorista com gorrinho de Papai Noel. Vejo em muitos adultos nascer de novo a pureza da infância. Uma cena que me marca muito foi a gratidão de uma mãe, que tinha passado um ano de dificuldades, mas quando me viu disse que eu a tinha feito esquecer estas dificuldades. E é esse o meu objetivo e o que sempre digo: Não importa como foi o ano inteiro, viva o Natal, porque é nele que nos preparamos para o próximo ano”. – emociona-se Fumassa.

O motorista tem uma facilidade para fazer amizades com passageiros, que lhe rendeam histórias inesquecíveis, como o aniversário de Marcelo, um jovem atendido pelo Projeto Crer, deficiente mental. De tanto levá-lo para o Projeto, na linha em que trabalha, Fumassa fez amizade com a família. O aniversário do jovem sempre foi algo muito valorizado por ele mesmo. Tanto é que três meses antes de seu aniversário, Marcelo já anunciava para todo mundo. No ano passado, com o apoio da empresa, organizou uma festa de aniversário dentro do ônibus, com direito a bolo, bexiga, “parabéns a você” e refrigerante.

“Também já teve caso de eu saber que algumas passageiras estavam grávidas antes mesmo do marido. Mas eu não era o pai hein … Sentou no banquinho da frente, virou confessionário. Pelo menos um bom dia, o passageiro tem de me dar”.

Mais festa pela frente

O sócio diretor da Viação Vaz, Thiago Vaz, 23 anos, diz que Fumassa desde março já falava na possibilidade de comemorar o Natal com os passageiros, mas neste ano, a empresa quis dar um presente diferente para ele, enfeitando o ônibus. “Percorri a linha com o Fumassa e realmente é emocionante. De tão bem recebida a ideia pela comunidade, tiramos o carro da escala. Ele vai rodar em dias alternados em todas as linhas da empresa e tem permissão de parar fora do ponto para atender as crianças que acenam. É fantástica também a receptividade dos adultos”.

O projeto também é uma forma de aproximar a empresa com a comunidade, principalmente nos bairro mais carentes e violentos atendidos pela Viação Vaz. No incício, houve dificuldades para a instalação elétrica. “Mas o Adeildo, eletricista da empresa, foi um mestre. Tivemos de comprar transformadores elétricos, a exigência do desempenho da bateria do ônibus é maior, mas vale a pena.” A intenção agora é enfeitar o veículo também na Páscoa, Dias da Mães, dos Namorados e para a Copa do Mundo.

“Pensei em enfeitar seis ônibus: um para cada título mundial que temos e outro já comemorando o Hexa. A novidade é que vamos ‘adesivar’ os ônibus, com imagens referentes as datas. Estraga a pintura, é verdade, na hora de tirar os adesivos, mas vale a pena, com o retorno da imagem da empresa junto a comunidade”, conta o sócio-diretor da Viação.

Thiago também conta que nas poucas viagens que fez ao lado de Fumassa, já foi possível colecionar fatos interessantes, como a mãe que vai comprar um presente para a filha para o motorista entregá-lo, a alegria dos passageiros idosos, que também querem bala e até um fato que considera engraçado. “Uma vez entrou um passageiro e disse: ‘Coitado desse motorista, olha o que a empresa faz com ele, obrigando-o a trabalhar com essas roupas quentes.’ Mal sabia ele que esse é o sonho do motorista.”

O ônibus, um Comil Svelto com porta do meio para pessoa com deficiência, Mercedes Benz OF 1418, tem enfeites dento e fora. Com luzes agradáveis, sem serem fortes demais, mas que chamam a atenção. No interior, serpentinas, um Papai Noel, bolinhas e uma árvore de Natal. A noite, o veículo fica mais bonito de se ver e pode ser conferido trafegando pelas principais ruas de Santo André, já que todas as linhas da Viação Vaz passam pelo centro da cidade.

Mais bonito que o veículo, no entanto, é o entusiasmo de Fumassa. Ele é de uma família simples, que passou por várias dificuldades. Aos 16 anos de idade, o pai morreu, ainda novo. Fumassa tinha de ajudar a mãe para manter a casa. E o Natal sempre teve um significado especial. “Era simples, mas nos reuníamos à mesa e festejávamos a alegria da vida, a alegria até mesmo de passar por dificuldades e vencer. Hoje me sinto realizado, alcancei um objetivo de vida. Agradeço a empresa por incentivar a ideia e, principalmente, pelo sorriso das crianças, que são meu combustível” – emociona-se mais uma vez o motorista

Adamo Bazani, é repórter da CBN, busólogo e que acredita em Papai Noel como Fumassa.

Veja mais fotos do Bus Natal no álbum do CBNSP no Flickr

A lição da Dona Anna do fusca

 

anavariani

Texto reproduzido do Blog MacFuca, com o título “Deus tem fuca, sim, só precisava de uma motorista”, assinado por Christian Jung:

Segunda-feira em Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, partiu do convívio de todos a Dona Anna Variani com seus 98 anos. Conhecida como a “Vovó do Fuca” e por toda a comunidade devido sua atuação no Lar do Ancião e na Sociedade Beneficiente Santo Antônio.

Ano passado, com 97 anos, renovou sua carteira de habilitação e era inseparável do seu Fuquinha Laranja. Parou de dirigir no último ano por insistência da família.

Tive o prazer de com o meu trabalho de mestre-de-cerimônia conduzir a solenidade de entrega do Troféu Ana Terra, em março de 2008, na qual Dona Anna foi a oradora de uma turma de 25 mulheres. Pequena de tal jeito que o pedestal do microfone não baixava mais para alcançá-la, falou por um bom tempo prendendo a atenção de todos que calados assistiam ao que não era somente um discurso mas, sim, uma lição de vida, provando mais uma vez que o tamanho das pessoas não tem ligação nenhuma com a grandeza de sua dignidade.

Vai Dona Anna, descansa em paz e tenha a certeza de que a lição que nos deixa é a que a senhora nos ensinou em “segredo” revelado para a jornalista Ieda Beltrão, do Blog Mel e Girassóis:

“Você precisa saber de uma coisa: o segredo da vida é sorrir”.

Conheça a história de Dona Anna em entrevista a Jô Soares