Espírito Natalino: resgate de memórias e renovação da esperança

Por Simone Domingues

@simonedominguespsicologa

Imagem de Jill Wellington no Pixabay

 

Num ano marcado pelo cancelamento de tantos eventos e rituais comemorativos, de casamentos a jogos olímpicos, a celebração do Natal parece ser um momento propício para a confraternização e o resgate de memórias que podem contribuir positivamente para a nossa saúde mental e bem-estar.

O clima de Natal ou o espírito natalino é um fenômeno observado há séculos, mesmo entre pessoas que não são cristãs ou que não têm religião, e engloba uma variedade de sentimentos, como alegria e nostalgia, e comportamentos positivos que são vividos de maneira coletiva, como maior altruísmo e generosidade. Essas ações se manifestam no enfeite das casas, na troca de presentes, no preparo de comidas típicas e nas ações solidárias.

Em 2015, um grupo de pesquisadores dinamarqueses procurou identificar a localização do espírito de Natal no cérebro humano. Através do exame de ressonância magnética funcional, eles mapearam quais regiões do cérebro foram ativadas enquanto os participantes da pesquisa assistiam à uma série de imagens que evocavam o Natal. Metade dos voluntários era de pessoas que celebravam o Natal desde a juventude e a outra metade, pessoas sem tradições natalinas. Os participantes que disseram comemorar a data demonstraram maior atividade em áreas cerebrais associadas à espiritualidade, ao reconhecimento da emoção facial e ao compartilhamento de emoções. 

Esses resultados devem ser analisados com cautela, uma vez que a principal diferença entre os dois grupos pode acontecer em função do significado atribuído ao Natal, ou seja, pelas representações e memórias construídas acerca da data.

Repetir as tradições de Natal faz com que as memórias afetivas sejam ativadas. Quando enfeitamos a árvore de Natal, por exemplo, nossas memórias de situações semelhantes vêm à tona e nosso cérebro dispara sentimentos festivos armazenados.

O sociólogo Émile Durkeim usou o termo “efervescência coletiva” para descrever o humor positivo que sentimos quando participamos de atividades sociais que trazem alegria coletiva e nos fazem sentir parte de uma comunidade maior. Embora Durkheim se referisse a grandes reuniões religiosas, atualmente, pesquisadores indicam que esse mesmo sentimento pode ser experimentado em grupos menores, como entre familiares ou amigos.

Em 2020, tivemos que adotar novo repertório de atitudes para as mais diversas situações. Infelizmente, não será diferente para as comemorações do Natal. Apesar de não podermos celebrar da mesma forma, manter as tradições natalinas e se conectar à família e aos amigos, ainda que virtualmente, nos permitirá compor essa “efervescência”.

Então use a criatividade! Enfeite a casa, prepare a comida e conecte-se. Com esperança em dias melhores… Feliz Natal!

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Simone Domingues é Psicóloga especialista em Neuropsicologia, tem Pós-Doutorado em Neurociências pela Universidade de Lille/França, é uma das autoras do perfil @dezporcentomais no Instagram. Escreveu este artigo a convite do Blog do Mílton Jung

Conte Sua História de São Paulo: o bolo do Natal de 1963

Por Luiz Carlos Silva

Ouvinte da CBN

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Papai adorava ler Karl Marx e mamãe encantava-se com a leitura de Allan Kardec. Eu, aos oito anos de idade, sem entender absolutamente nada do conteúdo daqueles estranhos livros, relia minha cartilha Caminho Suave e alguns gibis do Zorro e do Fantasma, sutilmente  escondidos entre as páginas da cartilha para não serem vistos por mamãe e evitar uma boa surra de vara de marmelo.

Na véspera do Natal de 1963, papai saiu de casa, no pacato bairro Parada Inglesa para participar de uma reunião no Sindicato de Brinquedos e Instrumentos Musicais, na avenida Celso Garcia, no Brás, e prometeu a mamãe que voltaria para a confraternização natalina.

No início da noite, mamãe começou a fazer um bolo de morango e ao terminar o colocou cuidadosamente sobre a mesa. Ato contínuo, disse que só comeríamos o bolo quando papai chegasse.

Desolado, sentei-me diante do bolo e com as mãos no queixo e os cotovelos sobre a mesa, sussurrei uma oração para Jesus pedindo o retorno de papai o mais breve possível. O tique taque do relógio cuco na cozinha e alguns estampidos de fogos que iluminavam o céu, anunciavam a proximidade do dia do nascimento de Jesus e me deixavam inquieto. De soslaio, mirava minha mãe e a porta da cozinha para saber se papai estaria chegando. Entre um olhar e outro, passava o dedo no bolo e o levava rapidamente até a boca.

Alguns minutos para a meia noite, pai chegou com um um embrulho embaixo do braço. Meu sorriso de felicidade iluminou a cozinha. Finalmente, poderia comer o bolo. Papai, me deu o embrulhado acompanhado de um carinhoso beijo na testa. Meus olhos marejaram diante da bolão de capitão, número cinco, cheirando couro cru, que estava embrulhada para presente. Com um abraço muito forte e vários beijos no rosto agradeci ao papai.

Fomos para a mesa, nos demos às mãos e mamãe iniciou uma interminável prece agradecendo a tudo e a todos. Ao fim, nos abraçamos e desejamos um Feliz Natal! O bolo de morango finalmente pode ser cortado, servido e saboreado —-  claro que sem passar despercebido de todos à mesa as inúmeras marcas de dedos, prova inconteste de um menino guloso e ansioso. Logo em seguida, dormi em um velho sofá na varanda, lambuzado de bolo, abraçado na bola de capitão, com o tique taque do relógio e o barulho dos pingos de chuva que se iniciava…. Era o Natal de 1963.

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Luiz Carlos Silva é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva suas lembranças e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e assine o podcast do Conte Sua História de São Paulo.

Sua Marca: como o consumidor vai se comportar no Natal

“Não acreditamos que marcas devem se vestir de maneira muito diferente do que costumam nem mudar de personalidade, mas precisam se adaptar e respeitar este momento que vivemos e não pensar apenas em ter lucro no fim do dia” —- Jaime Troiano

Com a proximidade do Natal, descobrir como será o comportamento do consumidor diante de tudo que enfrentou em 2020 tem sido um dos desafios de pesquisadores, empresas e empreendedores. Da mesma forma, as marcas pensam em quais estratégias devem adotar levando em consideração as dificuldades financeiras de muitos, e as restrições e medos impostos pela pandemia. Nesse episódio do Sua Marca Vai Ser Um Sucesso, Jaime Troiano e Cecília Russo reuniram algumas ideias do que vai acontecer a partir desta semana —- quando muitos começam a pensar nas compras de fim de ano —, com base na experiência que eles têm em gestão de marcas e estudos de institutos de pesquisa e consultorias.

Vamos começar pelo consumidor.

A Nielsen, uma das gigantes nesta área de pesquisa, dados e consultoria, identificou cinco tipos de consumidores neste ano:

  1. Constrangido e restrito —— tiveram restrição no orçamento, e menos liberdade para comprar fisicamente: para eles o online será a saída e mesmo assim, só preços baixos
  2. Constrangido, mas livre —- teve redução financeira, também, mas se sente com mais liberdade para circular pela cidade: quer maneira de fazer o dinheiro render com possibilidade de passat mais tempo com grupos de familiares e amigos. 
  3. Meio cauteloso —- não foi impactado financeiramente nem impedido de ir e vir, em função da região em que mora, mas está com receio do futuro: mesmo que possa comprar agora vai segurar o dinheiro e não pretende gastar muito, prefere priorizar as pessoas bem próximas.
  4. Isolado, mas restrito —  financeiramente não teve perdas nesta ano, mas como está em cidades e regiões com maior restrição por causa da pandemia terá suas festividades afetadas por restrições físicas locais
  1. Isolado e livre —- não foi afetado financeiramente pela Covid-19, é provável que gaste mais livremente e exiba um comportamento de férias pré-coronavírus. Muitos desse grupo vão compensar luxos perdidos no início do ano.

Vamos as recomendações para as marcas no Natal da pandemia:

  1. Foco nos sentimentos eternos e universais: nessa época de instabilidade, de imprevisibilidade, de não sabermos o que teremos no ano que vem, as marcas precisam voltar-se para aquilo que é permanente. E o que é permanente no Natal? As relações entre as pessoas, a convivência familiar, esse sentimento de união. Marcas podem ser aliadas desse momento. 
  2. Abertura para escapes da realidade: nossas vidas ficaram limitadas, fechadas, bem menos amplas e livres como estávamos acostumados. Marcas podem proporcionar momentos de fuga de nosso isolamento, oferecendo “viagens” através de sabores exóticos ou pode ser uma loja de artigos para casa que promova um sentido de renovação e reciclagem do espaço doméstico. 
  3. Força no digital e nas compras à distância: é necessário ter à disposição ferramentas e tecnologias para compras à distância, serviço de drive thru e entrega; toda a proteção que reduza ao máximo a exposição do consumidor ao vírus é relevante.

Dito isso, qual é a marca do nosso episódio de hoje?

“Você, sua família e todas as famílias vão celebrar de um jeito diferente neste Natal, e as marcas não ficam fora disso, nosso ano e nossas vidas pedem essa adaptação e esse respeito” —- Cecília Russo

O Sua Marca Vai Ser Um Sucesso vai ao ar aos sábados, às 7h55 da manhã, no Jornal da CBN. 

Na disputa de dirigentes do varejo, o foco tem de estar nos números

 

Por Carlos Magno Gibrail

 

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A ALSHOP, fundada há 25 anos, tradicionalmente tem divulgado o desempenho das vendas natalinas logo após o Natal. Nesse 2019 não foi diferente. Entretanto, a mídia em geral deu um espaço inédito para reportagens com os dados da ALSHOP, que apresentaram crescimento nominal de 9,5% nas vendas em relação a 2018.

 

O fato gerou reação negativa imediata da Ablos, entidade criada em abril com o propósito de representar os lojistas satélites de shoppings. Tito Bessa, fundador e presidente da Ablos – Associação Brasileira dos Lojistas Satélites, atacou a ALSHOP e seu presidente, de acordo com matérias nos principais jornais:

“A notícia da Alshop é falsa, é Fake News, o Nabil não consegue provar os dados, não tem base técnica, não fez pesquisa”.

De acordo com reportagem na Folha, de Joana Pruna e Paula Soprana, Bessa também afirmou que entrará na justiça.

 

Ao fundar a Ablos, Bessa ressaltou que havia necessidade de uma entidade que representasse o segmento das lojas satélites, e, portanto, o seu foco seria as lojas de até 180 m2. Considerava que a Alshop, ao incluir as megalojas e as lojas âncoras com as lojas satélites, não legitimava a representatividade das pequenas lojas. Pois, elas não teriam a força das maiores.

 

Dentro desse contexto ao tomar conhecimento dos dados publicados com os números da Alshop, a Ablos, deveria apresentar os dados do segmento que pretende representar, que de acordo com Bessa já tinha números iniciais pesquisados internamente, que mostrariam que 70% das lojas empataram ou pioraram o resultado comparativo com 2018; e 30% obtiveram pequeno crescimento. Não foi o que ocorreu. A Ablos preferiu desmentir os dados da Alshop, que correspondem a todos os segmentos, ou seja, âncoras, megalojas e satélites, em vez de terminar a sua pesquisa e apresentar o resultado do setor que se propõe representar — a entidade diz ter, atualmente, 90 associados.

 

Parece que o método que vivenciamos no caso do incêndio da Amazônia está fazendo escola, quando o Governo em vez de apresentar números se limitou a desmentir os técnicos e acusar ONGs e até ator de Holywood.

 

Cremos que para o bem do varejo o melhor método é aquele de manter o foco nos números, e que sejam apresentados os resultados comparativos do Natal das lojas satélites, que parece, é o que interessa aos associados da Ablos, e a todos os demais lojistas — assim como ao mercado consumidor.

 

Carlos Magno Gibrail é consultor, autor do livro “Arquitetura do Varejo”, mestre em Administração, Organização e Recursos Humanos. Escreve no Blog do Mílton Jung.

 

Um Feliz e Santo Natal: “na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro …”

 

 

Na mensagem do Papa Francisco, antecipando o Dia Mundial da Paz, que se comemora em 1º de janeiro, a comunicação aparece como instrumento de aproximação, e para que esse diálogo ocorra na plenitude a escuta se faz necessária —- a ponto de aparecer em três momentos no  texto do Sumo Pontífice.

 

Com o desejo de um Feliz e Santo Natal a todos, deixo aqui um dos muitos trechos de reflexão que encontramos na escrita de Francisco.

“… O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações. De fato, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade para além das ideologias e das diferentes opiniões. A paz é uma construção que “deve ser continuamente construída” (GS, n. 78),[5] um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e nos comprometendo a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de reconhecer no inimigo o rosto de um irmão …”

Leia na íntegra a mensagem do Sumo Pontífice

Conte Sua História de São Paulo: um bilhete de Natal

 

Por Alceu Sebastião Costa
Ouvinte da CBN

 

 

Após a noite bem dormida e o banho privilegiado, entrego-me à rotina costumeira das manhãs. Ingeridos os remédios do tratamento do Mal de Parkinson, abstenho-me do café com pão e manteiga, ao menos por ora. Hoje, não irei ao escritório. Portanto, oferecerei minha companhia a Elisabeth, durante o seu desjejum. Ela não é madrugadora como eu. Aliás, nem o sono nem o café são as minhas prioridades. Estas o são, sim, meu recolhimento solitário, compulsando meditativo algum escrito, vezes de minha própria lavra, bem como criando versos, como saudável terapia.

 

Neste momento, tenho nas mãos um pedaço de papel, que ontem, à noite, desenterrei literalmente do fundo do baú. Melhor, do fundo do “malão”. Aquele mesmo “malão”, uma bolsa de couro de porte avantajado, que eu usava nos meus idos acadêmicos como simulação de aluno aplicado, transportando pilhas de livros. Hoje, o velho “malão” companheiro tem serventia apenas para a guarda de documentos de uso esporádico ou emergencial. E foi daí que resgatei o tal pedaço de papel, metade da folha de agenda do dia 20 de dezembro de 1988.

 

Mas para que serve um simples pedaço de papel guardado por anos a fio? Certamente, para a faxineira, que acaba de chegar, mais um traste para o lixo. Analfabeta, mesmo que soubesse ler, jamais alcançaria a profundidade do texto nele manuscrito por mim, com a finalidade de levar um pouco de conforto a um grande amigo.

 

Antes de prosseguir, eis a transcrição:

 

“Se o lume é de boa têmpera, suporta a fúria da procela qual simples roçar da mais suave brisa e sua chama jamais se apaga.”

 

Afasto uma lágrima teimosa e prossigo nos meus devaneios. No rodapé, uma nota telegráfica:

 

“P/MP/cartão de Natal nesta data.”

 

Traduzindo: este texto foi a minha mensagem no cartão de Natal para Milton Pagliaro, em 20 de dezembro de 1988

 

Realmente, posto que não somos eternos, o meu amigo calabrês manteve a chama da esperança acesa por um longuíssimo período, desafiando a morte até o derradeiro instante, tomado pela metástase incontrolável.

 

Não fosse a sua vida pautada na retidão de conduta, principalmente no lado profissional, e na postura regrada nos princípios da disciplina, diria que os mais de dez anos de luta contra o câncer seriam o bastante para fazer dele uma pessoa admirável.

 

Com frequência, ouvia suas referências à inspiração de nossas palavras para a elevação do seu ânimo diante da briga tão desigual. Mais que a lisonja só a inspiração Divina que fez de nós o Seu instrumento.

 

Circunstancialmente, esse pedaço de papel retornou às minhas mãos, aflorando as boas lembranças do calabrês. Curioso é que, concomitantemente, encontrei também a cópia de uma crônica de minha autoria publicada no jornal “A Cidade”, de São Carlos, em 11 de abril de 1963, quando cursava o 2º ano Colegial do Seminário. Espantoso tratar-se de um escrito com o título “Lembra-te de mim quando chegares ao teu reino.” Noto que ambos os textos em referência focalizam a questão do sofrimento físico. Obviamente, sem comparativos, mas um e outro convergem para a simbologia do ritual de passagem desta para a outra vida, cuja expectativa por si só é o alimento para afugentar o desespero.

 

Sei que Deus nos dando bons guias aumenta muito a nossa carga de responsabilidades e de provações.

 

Que os agraciados com o Reino Celestial não nos faltem!

 

SAÚDE, AMADO AMIGO CALABRÊS!
(Obrigado, Sampa, pelas amizades, que só me fizeram crescer)

 


Alceu Sebastião Costa é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva seu texto para contesuahistoria@cbn.com.br

Um minuto de silêncio

 

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Ocupar-me com o silêncio, por menor que seja o tempo que tiver para essa prática. Esse é o presente que quero me dar a partir deste Natal. Duvido de minha capacidade em atender-me — mas como duvidei da maior parte das coisas que fiz na minha vida, quem sabe mais uma vez não frustro minha expectativa.

 

Hoje ensaiei essa ideia e, confesso, foi muito,  muito difícil mesmo silenciar a mente com tantas vozes falando comigo.

 

Tinham os parentes — e ainda bem que estão em volta da gente —-, que contavam suas histórias, a maior parte já conhecida ou com fim previsível, mas necessárias para nos dar a noção de pertencimento. Pertencer a uma família me ajuda muito a sobreviver. Seria muito triste perder esse sentido. Uma tristeza que tem se construído aos poucos neste fim de ano, desde que percebi que uma das mais marcantes vozes da minha vida está se calando.

 

Aqui ao lado tinha outra família, que conversava na vizinhança, em um diálogo que não conseguia entender, mas também pouco me importava, pois estava ali cumprindo sua única função naquele momento: me azucrinar os ouvidos. Os vizinhos sempre parecem falar mais alto do que deviam e, desconfio, a culpa é da arquitetura de nossas casas e não necessariamente do mal comportamento deles.

 

O cachorro preso em um quintal qualquer da redondeza também faz seu barulho. É um latido seco, contínuo, interminável, irritante — até cair na monotonia e descobrirmos que já não somos mais capazes de distingui-lo em meio a todos os outros barulhos, apesar dele continuar presente.

 

Outras vozes se misturam na minha tentativa de ficar em silêncio —- vozes que se expressam em mensagens que insistem em acender a tela principal do meu celular. Já tirei o som das notificações, mas não tenho coragem de calá-las por definitivo. Bastaria desligar o aparelho. Abandoná-lo em um canto. Às vezes tento, mas quando vejo, lá está o celular novamente nas minhas mãos. Disfarço a mente jogando em uma frenética tentativa de chegar ao fim de um jogo sem fim. Dedilho uma série de informações e busco imagens sem parar. Jogo mais um pouco e se tento iniciar uma leitura, não consigo ir além de alguns parágrafos —- a tela pequena do celular cansa a vista, é a desculpa que me dou. Por que não trocar por um livro? Não dá, as mãos estão ocupadas no celular.

 

Nenhuma voz me incomoda mais do que a minha própria voz — que não se cansa, não cala nunca. Nem quando me ajoelho diante do altar. Ali, quero apenas ouvir a voz de Deus, mas insisto em falar com Ele. Agradeço, peço, me desculpo. E de repente me dou conta que tudo aquilo se transformou em um monólogo onde só minha voz está ecoando dentro da minha cabeça. E o que Deus tem a me dizer? Perdão, não consegui ouvir.

 

Às vezes, enquanto dirijo, penso em ficar quieto comigo mesmo. Desligo o som do rádio, deixo os vidros fechados e conduzo o carro acreditando que estou no piloto automático. Mas o simples fato de parar para pensar, me leva de volta ao barulho das muitas vozes que me envolvem — as minhas, as outras, as da consciência … putz … essas são as piores, pois nos fazem dialogar com os erros do passado, tentam reconstruir conversas que sequer temos certeza que ocorreram algum dia. E o que antes estava ressonando apenas na minha mente, escapa pela boca e torço para que ninguém mais próximo perceba essa loucura.

 

No exercício que fiz hoje, ficou evidente que a tarefa de silenciar não será tão simples assim. Acostumamo-nos aos barulhos internos e externos. Estamos sempre pescando uma voz, um pensamento, uma mensagem ou uma referência —- parece que se encontrarmos a ausência de som nos desligaremos por completo do ambiente em que vivemos e o medo de não saber onde estamos, me causa agonia.

 

Vou insistir neste desafio, mesmo que minha desconfiança fale mais alto. Vou tentar amanhã, depois, outro dia qualquer. Em casa, na Igreja, no carro ou onde eu estiver. Quero me dar o direito a ao menos um só minuto de silêncio. Em vida.

Sua Marca: lembre-se de presentear o seu cliente

 

 

“Esse longo processo (de compra) nem sempre é muito racional; o consumidor não tem essa matemática mental, as coisas vão acontecendo em uma sequência nem sempre muito lógica, obedecemos a impulsos de natureza emocional; então, consumidor, tome cuidado e não seja atraído pelo desejo de uma forma inesperada” — Jaime Troiano

 

As marcas têm forte influência nas escolhas que o consumidor faz, especialmente quando impulsionado por datas como o Natal — sem dúvida a mais importante do comércio no Brasil. O processo de compra se inicia pelo peso da própria marca da loja ou do shopping, o que justifica a série de promoções e prêmios oferecidos nesse período do ano, como forma de atrair as pessoas para o ponto de vendas. Já dentro do estabelecimento, novamente a marca tende a inspirar a decisão final.

 

Para conquistar o consumidor, o comércio costuma usar códigos visuais muito semelhantes que remetem ao Natal como as cores verde, vermelha e dourada, o pinheiro e os presépios, a neve e o Papai Noel. Diante disso, Jaime Troiano e Cecília Russo, sugerem que os gestores levem em consideração não apenas que sua loja ou produto estejam no Natal, mas, principalmente, mostrem como é o Natal da sua marca.

 

Alguns dos exemplos identificados ao longo do tempo, que foram lembrados no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso:

 

A Coca-Cola é uma das maiores referências nessa estratégia, pois não bastasse ter sido, no passado, a inspiradora da imagem do Papai Noel, que hoje conhecemos, mais recentemente incluiu, em um cenário onde o padrão eram as renas, a imagem de um urso polar, transformado-o no personagem natalino que identifica a marca.

 

Aqui no Brasil, em anos anteriores, a Nestlé desenvolveu a ideia do Natal Sustentável com ações da marca de água São Lourenço em parceria com a prefeitura da cidade mineira.

 

Enquanto a KML promoveu no saguão do aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, uma ceia coletiva para os passageiros, em evento que pode ser assistido no vídeo a seguir:

 

 

Para Jaime e Cecília, o que se aprende com esse exemplo é que, com o devido respeito que o Natal merece, essa pode ser uma boa oportunidade também das marcas darem em troca; presentearem pessoas com o mesmo espírito aberto do Natal – e ainda de quebra, reforçar sua promessa.

Conte Sua História de São Paulo: lembranças de Natal!

 

Por Miguel Chammas
Ouvinte da CBN

 

 

Estamos às vésperas do Natal. A festa em homenagem ao menino Jesus congrega corações, abraça almas fraternas, umedece faces com gotas de lágrimas que por elas rolam, alarga sorrisos de uma perene ou efêmera alegria. Eu, sorumbático no meu quase ostracismo, vejo as horas passarem e busco na lembrança, um tanto ou quanto esmaecida pelo passar dos anos, flashes de Natais anteriores.

 

Primeira lembrança que me vem à mente, eu evito permitir que ela se instale. Fecho os olhos na tentativa de esquecê-la e parece que meu intento tem êxito. Balanço a cabeça para reordenar os pensamentos e nova lembrança me ocorre, procuro não me distrair e a imagem se aproxima, vejo a velha casa da Rua Augusta, 291, em São Paulo, vejo nós, as crianças da casa (eu, meu irmão, meu primo e minha prima), eufóricos, ajudando minha mãe na ornamentação de um enorme pinheiro que meu pai havia trazido dias antes e replantado numa velha lata de óleo de 18 litros. Lógico que junto com a algazarra algumas broncas estão sendo proferidas por dona Thereza:

 

– Miguelzinho, para de cutucar a Sonia pra não derrubar a árvore;

 

– Carlinhos, olha o que você fez. Quebrou algumas das bolas mais bonitas. Acho que vou te colocar de castigo!

 

– Sonia, não liga para o Miguel e me ajuda com esta estrela;

 

– Robertinho, não vá pisar nos caquinhos e se machucar!

 

No meio de todo esse repertório de “pitos” vai surgindo, no canto da enorme sala, uma das mais bonitas árvores de Natal que eu tive o prazer de admirar.

 

Todos os dias era uma beleza poder acender as lampadinhas em forma de velinhas e admirar a obra prima.

 

Depois, então, na véspera do Natal, rezávamos e à meia noite, minha mãe e minhas tias serviam a ceia que esfomeados comíamos na companhia de um refrigerante para, depois, irmos dormir e esperar a manhã seguinte para descobrirmos nossos presentes e completarmos nossa felicidade.

 

Opa, a lembrança vai se desbotando em minha mente até sumir, ou melhor, dar lugar a outra memória natalina.

 

Agora eu estou mais velho, já tenho 18 anos, a casa é a mesma na Rua Augusta, reunidos na sala com minha mãe e minha tia Neide, estamos eu, o Nasca e meus amigos, Toninho, o Leite, Francisco “21”, Toninho Tssu, Sílvio, o Xiribi, Aluisio, o Tchê, e Benedito, o Baixinho. Estamos nos despedindo para, como dizíamos na época, fazer a Via Sacra, visitando a casa de cada um de nós e de alguns outros parentes e amigos, comendo alguma coisa e, lógico, bebendo boas talagadas do que nos fosse oferecido.

 

Despedimos-nos prometendo voltar um pouco antes da meia noite. Era o primeiro ano que faríamos a Via Sacra motorizados. O seu Modesto (pai do Leite) havia comprado um carro — Vanguard — e o Toninho já tinha tirado a carta de motorista. Saímos, visitamos a todos os programados, deixando por última visita a casa da Eurides, que morava na Rua da Consolação um pouco acima da Rua Dona Antonia de Queiroz, e consequentemente, bem próximo da minha casa que seria a última desse roteiro, onde cearíamos e depois jogaríamos a tômbola até o romper do sol.

 

Saímos da casa da Eurides, entramos no carro, dobramos a direita na Rua Dona Antonia de Queiroz e nos dirigimos à minha casa. Quando, depois de aguardar o semáforo mudar para o verde, entramos à esquerda na Rua Augusta, o insólito aconteceu. Um Volvo preto, dirigido por um motorista bastante embriagado nos abalroou na lateral e nos arremessou para cima da calçada. Depois de nos recompormos, verificando não haver nenhuma vítima, apenas danos materiais, partimos para cima do bebum e lhe desferimos alguns tapas e safanões.

 

Resumo da história, ficamos aguardando o sol nascer sem ceia e abraços da família e, só nos safamos, por que eu morava bem próximo a 4ª. Delegacia de Polícia e conhecia alguns policiais do plantão.

 

Noite de Natal inesquecível!

 

Epa! A primeira lembrança voltou a incomodar. Tento evitá-la novamente, em vão, ela toma conta dos meus pensamentos. Dia 25 de Dezembro de 1997, estou na casa da Roseli minha prima. Com toda a família, na sala estávamos comemorando desde a véspera. Eu tinha saído de casa, na Praia Grande, no dia 24 ,deixando por lá, minha mãe, meu irmão e meu sobrinho. Antes de sair, ao me despedir dela ouvi seu resmungado: “acho que eu não vou te ver de novo…”. Embora o comentário calar profundamente, para não demonstrar tristeza, me fiz bravo com ela e disse que não adiantava tentar chantagem emocional, eu iria voltar no dia 25 à noite e encontrá-la no mesmo lugar, me perturbando como sempre.

 

Já tínhamos almoçado e estávamos nos divertindo jogando partidas emocionantes de Caxetão. Ouço, então, o telefone tocar na sala. Não me importo. Minutos depois, olho para a porta da cozinha — estávamos jogando na mesa do quintal — e vejo a Cida minha esposa, meio escondida atrás da porta, tentando fazer sinais para o meu primo Durval. Senti uma inesperada inquietação e disse: Cida, não precisa se ocultar, foi minha mãe não foi? Ela, emocionada balançou a cabeça e confirmou: — o Carlinhos acabou de ligar dizendo que ela faleceu.

 

Levantei-me de imediato e me preparei para descer a serra. O Durval, vendo minha imediata decisão, se prontificou a levar-me, e assim, fui ao encontro do inevitável. Esta, que eu me lembre, foi a única vez que não cumpri o que havia prometido a Dona Thereza. Não voltei para encontrá-la viva para me perturbar.

 

Esta lembrança, que eu não queria descrever, eu revivo a cada dia 25 de Dezembro até a hora do futuro reencontro.

 

Miguel Chammas é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Participe da série em homenagem aos 465 anos da nossa cidade: envie seu texto agora para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br

Sua Marca: falar e praticar branding depende de refletir e ler sobre branding

 

 

“Falar de branding e praticar branding depende também de refletir sobre branding e ler sobre branding” —- Jaime Troiano

 

Entusiasmados com a campanha “Dê um livro de Natal”, promovida por diversas livrarias e amantes dos livros, Jaime Troiano e Cecília Russo fizeram uma lista de boas leituras para quem pretende conhecer um pouco mais sobre o tema que tratamos todo sábado, no quadro Sua Marca Vai Ser Um Sucesso.

 

Vamos a lista:

 

Aaker on Branding — 20 princípios que decidem o sucesso das marcar”, de David Aaker

 

The Brand GAP. O abismo da Marca —- como construir a ponte entre a estratégia e o design”, de Marty Neumeier

 

A Lógica do consumo — verdades e mentiras sobre por que compramos”, de Martin Lindstron

 

Personal Branding — construindo sua marca pessoal”, de Arthur Bender

 

BrandIntelligence — construindo marcas que fortalecem empresas e movimentam a economia”, de Jaime Troiano.

 

As marcas no divã”, de Jaime Troiano (e-book para ser baixado de graça)

 

Aqui você também encontra a lista completa de 25 livros indicados por Jaime Troiano e Cecília Russo

 

“Ter a visão dos grandes autores e conhecer os casos que eles contam é fundamental” —- Cecília Russo