Por Maria Lucia Solla

Quem sou eu para dar palpite sobre qualquer coisa, ainda mais sobre política. Não sou voltada para ela. Não é o meu ramo. Palpitar, palpito pouco, até porque o som da palavra ‘palpito’ é de torcer o nariz e me lembra ‘dar -ou levar- um pito’, e lembra ‘arrogância’, que sopra um apito e dá pitos, de peito inflado e olhar altivo. Altivo eu acho bonito, mas a tal da arrogância não dá para engolir. Ela é doutora em alguma coisa que ninguém sabe bem o que é, mas dá aula para o palpite, o pito e o escárnio, que acabou de chegar na turma.
Mesmo que nos ‘propuséssemos’ -outra para colocar na lista- a criar uma lista das tais palavras, talvez não pudéssemos -essa é bem melhor- publicá-la porque escorregaríamos -essa é divertida- nas normas criadas pelo novo desgoverno autoritário; não ao pé da letra, é claro, porque nada mais é ao pé da letra, neste país. A letra muda ao sabor dos dominantes. Hoje somos divididos, pelo Grande Pai, em Nós e Eles. Inimigos. Nós devendo desprezar Eles. Nós, claro, são os dominantes e seus apoiadores; Eles é o resto, restolho, incluindo esta que vos fala. E assim, atiçando as flamas e apontando as flechas da intolerância e podando o preconceito na forma conveniente, Nós despreza Eles, e vice-versa.
Povo para ser dominado e controlado deve estar dividido. Lição Um. Todos os desgovernos autoritários fazem isso, seguindo modelo ultrapassado, embolorado e falido, que ficou tatuado em seus corações-zinhos, como trauma de adolescente rebelde, hoje propulsionado por arrogância e ganância.
Não é mais permitido dizer, escrever ou ouvir palavras como Negrinha, por exemplo, como eu era chamada por minha tia, ou Negrão, que eu achava que era o nome dele, um amigo do meu pai. Será que ainda se pode citar o Negrinho do Pastoreio? Será que é permitido pedir uns negrinhos na doceira lá de Porto Alegre?
Este atual Desgoverno Federal não é um governo; é um partido político que já está no poder há doze anos -a Era Vargas durou dezesseis, e o Regime Militar, vinte e um- aparelhando a máquina, como dizem, que na verdade quer dizer comprando gente. Sim, comprando pessoas de todas as raças e credos e partidos. O pelo não importa, importa o apoio para que a centopeia desvairada possa dançar como melhor lhe convier.
E por falar em Regime Militar, Boi da Cara Preta -será que pode?- até ele aceitou alternância de partidos. Partido Social Democrático, Aliança Renovadora Nacional, por DEZ anos! -oi! o PT já ultrapassou a marca e quer se perpetuar no poder?! -, o Partido Democrático Social, o Movimento Democrático Brasileiro, por cinco anos!, Collor, Itamar, até que Fernando Henrique fechou o ciclo com oito anos de Governo, filiado Partido da Social Democracia Brasileira. Agora, o PT sentou na cadeira do poder e gostou.
Ai que tédio!
Maria Lucia Solla é professora de idiomas, terapeuta, e realiza oficinas de Desenvolvimento do Pensamento Criativo e de Arte e Criação. Aos domingos escreve no Blog do Mílton Jung