De Vanessa Guimarães de Mendonça
Ouvinte da CBN
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Naquele tempo, eu morava com minha família no bairro do Ipiranga e todo sábado, com a minha irmã Lúcia, fazíamos aula de espanhol no Butantã. O professor era nosso amigo Adonay. No dia 13 de outubro de 2001, na volta da aula de espanhol resolvemos ir até um shopping de móveis, na Marginal Tietê. Descemos próximo à estação de metrô que na época se chamava apenas Tietê; hoje é Portuguesa-Tietê.
Seguíamos em direção a ponte para transpor o Rio Tietê e ter acesso ao shopping quando de longe vimos vários torcedores do Palmeiras deixando o estádio do Canindé, com suas camisas verdes, e avançando sobre a ponte, em direção ao metrô.
O Campeonato Brasileiro de Futebol estava na primeira fase e a Portuguesa havia recebido o Palmeiras em seu estádio. Deu para reparar que a torcida vinha quieta e cabisbaixa. Olhei para minha irmã e vi uma sombra no seu olhar. Ela fechou a cara e olhou para o chão. Era uma época em que não havia smartphone, não tínhamos a CBN na palma da mão. Para saber o resultado de um jogo era preciso chegar em casa e ligar o rádio, ou andar com um rádio de pilha. Eu fiquei muito curiosa e pedia para a Lúcia: “pergunta para eles o resultado do jogo. Pergunta quanto foi, vai, vai …”. Minha irmã, mal-humorada nem respondia.
Na ponte, os pedestres tinham de caminhar espremidos nas laterais, numa passarela de no máximo 1,60 m, com o Rio Tietê abaixo e entre as pistas da Marginal, uma das avenidas mais movimentadas da América do Sul. Eu e minha irmã avançando e a torcida caminhando em nossa direção. Os torcedores passavam calados como em um cortejo. Minha irmã se somava àquela tristeza. Eu cutucava a Lúcia: “Pergunta, pergunta!”. Para meu azar, a expressão de tristeza e decepção da minha irmã era inversamente proporcional ao triunfo que se desenhava na minha face, porque faltando cinco metros para terminar a passarela, um torcedor veio em minha direção e disse: “tô sentindo cheiro de corintiano!”. Agarrei no braço da minha irmã e logo revelei: “Ela é palmeirense! Ela é palmeirense!”. O moço não se deu por contente —- nada o deixaria contente naquele diz: “e você?”
Eu, bem, eu tinha abaixo o rio Tietê, à frente a Marginal, tava logo ali, a cinco metros da rota de fuga. Então, arrisquei: “Eu? Eu sou corinthiana, graças a Deus!”. E corri o máximo que eu podia em direção ao shopping.
Naquela tarde, a Lusa havia vencido o Palmeiras por 2 a 0
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Vanessa Guimaraes de Mendonça é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Escreva suas lembranças e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para ouvir outros capítulos da nossa cidade, visite o meu blog miltonjung.com.br e assine o podcast do Conte Sua História de São Paulo.