Não planejei a profissão que tenho hoje. Cheguei a ela pelos caminhos que a insatisfação abre quando percebemos que algo já não nos serve. Aproveitei o patrimônio biológico que carregava desde sempre: a voz. Fiz o curso de Locução, Apresentação e Animação, acrescentando uma nova formação ao diploma de Publicidade e Propaganda pela PUC-RS.
Enquanto procurava um espaço para exercitar essa nova habilidade, surgiu a oportunidade de atuar como Mestre de Cerimônias do Governo do Rio Grande do Sul. Ali, entendi que a voz e o cerimonial tinham mais conexão com gentileza do que eu imaginava.
Chego, assim, ao tema central deste texto.
Fui instigado a falar sobre ele em um programa de televisão, no Dia Mundial da Gentileza. Recordei imediatamente a rotina do cerimonial, esse conjunto de formalidades que orienta os atos solenes e exige, antes de qualquer protocolo, lidar com seres humanos: autoridades, convidados, pessoas que entram no Palácio Piratini por razões muito distintas.
Lembro do meu amigo e ex-chefe do Cerimonail, Aristides Germani Filho, apresentando as primeiras instruções aos estagiários: “Aqui todo mundo é Senhor e Senhora.”
Era um resumo elegante do ofício de receber: tratar com atenção, preservar a delicadeza, reconhecer o espaço do outro. Em poucas palavras, ser gentil.
Com o tempo, percebi que gentileza funciona como um distintivo social. Ela aproxima da comunicação não violenta, afasta a arrogância e abre espaço para relações mais transparentes. Falar sobre o tema me fez revisitar atitudes que venho praticando nesses anos de trabalho no Palácio do Piratini: acolher quem chega, perceber angústias escondidas nos gestos, manter a relação institucional do Governo firme e respeitosa.
Falar em público também tem sua dose de gentileza. A forma como colocamos a voz revela estados de espírito. Uma articulação clara acolhe; um tom cansado distancia; a irritação fere. A voz, quando bem usada, é uma ponte — e pode ser uma ponte suave.
Gentileza com quem está acima de nós é bom senso. Com quem trabalha ao nosso lado, é cuidado para evitar ressentimentos que se acumulam em silêncio e viram sabotagens involuntárias. Na vida profissional, ela funciona como instrumento discreto e decisivo.
E há um ponto essencial: escutar. Em uma época em que todos falam com absoluta convicção, a escuta virou raridade. Quem escuta exerce gentileza, mesmo quando discorda. A escuta é o gesto mais simples e, ao mesmo tempo, o mais exigente.
Antes de tudo, precisamos ser gentis conosco. Conhecer limites, saber dizer não, recusar a ideia de que ser gentil é agradar a qualquer custo. Gentileza não é submissão. Também não é manipulação. É autoconhecimento e respeito ao espaço do outro.
Ao longo da vida, encontramos pessoas que já nos conhecem e reconhecem nossas intenções. Mas grande parte dos encontros acontece com quem nada sabe sobre nós. E é nesses encontros que a gentileza se torna cartão de visita.
Alguns estudos mostram que pessoas que cultivam a gentileza relatam níveis menores de estresse e até pressão arterial mais baixa. Há pesquisas que relacionam essa prática à ocitocina: o hormônio produzido no hipotálamo, associado ao vínculo e à empatia. É a lógica da velha metáfora:
“Quando acendo a minha vela apagada na tua vela acesa, ninguém perde; todos ganham luz.”
Gentileza é exercício diário, daqueles que amadurecem com o tempo. E, justamente por ser prática contínua, encontra pela frente muita dureza, quase sempre fruto de ignorância, que não escolhe classe social, nível de escolaridade ou aparência.
Platão escreveu que precisamos de graça e gentileza por toda a vida. Concordo.
E se você chegou até aqui, agradeço pela gentileza da leitura!
Christian Müller Jung é publicitário de formação e mestre de cerimônia por profissão. Colabora com o blog do Mílton Jung (de quem é irmão).
Cheguei em 1978. Vim de onde o mar é o céu. Meio dia de viagem, na rodoviária Julio Prestes chegamos. Eu vim acompanhado de dois dos sete, quem nos trouxe foi outro. Atravessei o rio, esse já estava sujo; continua, apesar do já gasto. Chegamos na Freguesia do Ó. De lá corri por dias das férias em campo de cimento, diferentemente dos de terra e mato.
Encontrei mãe, irmãs e irmão que aqui já estavam. Todos agora nos juntamos a ele que veio bem antes para fazer o futuro. Essa chegada me fez vislumbrar uma São Paulo que ao longo do tempo aprendi a admirar e temer. Sempre atravessei a cidade no trem, no ônibus e no metrô.
No início foi na Cidade de Deus onde aprendi minha primeira profissão: mecanógrafo. De lá, técnico eletrônico. E, a partir deste, rodei por agências consertando tudo que mandavam. Nos intervalos, futebol e bailes. Colegas de todos os lugares. As domingueiras eram sempre animadas.
Já se foram 37 anos e hoje ou só hoje consigo parar para contar essa trajetória de luta e sucesso; de alguns tombos que me fizeram o que sou; de amigos que passaram e outros que continuam. Entre minha chegada e minha estada, são dois filhos e uma filha, todos paulistanos. Mas ela que me acompanha, também veio da minha terra natal.
Agora termino para agradecer a cidade que me fez este profissional e o cidadão que sou.
Ouça o Conte Sua História de São Paulo
José Geraldo Leite Coura é personagem do Conte Sua História de São Paulo. A sonorização é do Cláudio Antonio. Conte você também mais um capítulo da nossa cidade: escreva seu texto e envie para contesuahistoria@cbn.com.br. Para conhecer outras histórias, visite o meu blog miltonjung.com.br ou o podcast do Conte Sua História de São Paulo.
Quarenta anos se passaram desde o meu primeiro dia em uma redação. Eram 10 de agosto quando sentei em frente a máquina de datilografia e os cheiros da lauda, do carbono e da tinta que imprimia as letras no papel me faziam sentir pronto para desbravar o mundo com palavras — uma ilusão, pois, não estava tão pronto assim; de verdade, ainda era um estagiário, um jovem aprendiz.
Essa trajetória que se iniciou há quatro décadas me levou às mais diversas redações e forjou minha experiência no campo da comunicação. Aprendi na lide e com os leads, entrevistando, com os entrevistados e com os colegas. Da profissão que escolhi, surgiram as oportunidades para desenvolver novos conhecimentos. E de tanto aprender peguei o gosto por ensinar. Comecei pelo microfone, depois passei aos palcos, nas palestras, e, mais tarde, às páginas dos livros. Já escrevi cinco até agora.
Começar uma nova etapa profissional, em paralelo a todas as demais que seguirei exercendo, é como folhear um livro cujas páginas ainda não revelam o que está por vir. Mas sabemos que a história será rica. Talvez seja a oportunidade de retomar alguns fatos já contados, com um novo olhar e de um novo jeito. Talvez, a chance de acessar outros conhecimentos e se espantar com o mundo de sabedoria que temos para explorar. A comunicação é uma criatura viva, inquieta. Sempre em busca de novas maneiras de se expressar, de se conectar. Não há um fim; há sempre um novo começo.
A decisão de ensinar me pareceu natural. É como compartilhar um segredo, só que sem mistério. Agora, sinto que estou entrando em uma nova fase com a produção de um curso de comunicação, que se inicia on-line e pode se expandir nos mais diversos formatos, ampliando essa conversa. Um livro em branco, pronto para ser preenchido com histórias e descobertas, mas com a vantagem de que, dessa vez, a jornada não será solitária — será acompanhada de parceiros, mestres e de cada aluno que decidir fazer parte desse percurso.
A nova aventura, que se soma a maior delas que realizo diariamente na rádio CBN, surge a partir da parceria proposta pela WCES — empresa americana de educação e consultoria. Desde os primeiros contatos, Thiago Quintino, o fundador da startup e especialista em experiência do cliente, me dizia: “Comunicação é coisa séria.” E isso me fez lembrar de uma lição que aprendi ainda criança.
Lá no início, quando eu era pequeno e andava de mãos dadas com meu pai, ele me levava ao estúdio da rádio onde apresentava o principal noticiário do Rio Grande do Sul. Enquanto ele transmitia as notícias, eu ficava quieto, sentado num canto, quase sem me mexer, consciente da seriedade daquela missão. Foi ali, naquele estúdio silencioso, que aprendi a respeitar o microfone — aquele equipamento mágico que amplificava a voz do meu pai e fazia suas palavras chegarem longe. O microfone me ensinou que comunicação é coisa séria.
A decisão de participar de um curso, nos moldes do proposto pela WCES, não é apenas um passo a mais; é um salto. É reconhecer que o mundo mudou, que a comunicação não conhece mais barreiras físicas, e o ensino também precisa se adaptar a essa nova realidade. Assim como na rádio, onde a voz precisa alcançar o ouvinte onde quer que ele esteja, o nosso curso tem essa mesma missão: chegar ao público, onde quer que ele esteja, com a mesma paixão e compromisso de quem acredita no poder da comunicação para transformar.
Nessa caminhada, tive o privilégio de contar com mestres generosos que aceitaram o convite de ampliar o conhecimento. O filósofo Mário Sérgio Cortella vai falar de ética na comunicação; a futurista Martha Gabriel compartilhará sua visão sobre a importância do pensamento crítico em tempos de transformação digital; Leny Kyrillos, fonoaudióloga e colega de diversos projetos, trará sua expertise sobre a comunicação efetiva e afetiva; e meu companheiro de livro, Thomas Brieu, vai nos mostrar como o exercício da escuta pode ser transformador para as relações humanas. Novas vozes se juntarão a nós em breve, pessoas que têm muito a ensinar e que, assim como eu, acreditam que, por meio da educação, podemos nos tornar melhores.
Este é o momento de pegar a experiência acumulada, os aprendizados ao longo da carreira, as lições de nossos parceiros e transformá-los em algo acessível, prático e, principalmente, transformador. Afinal, a comunicação é isso: uma jornada constante de troca, de aprendizado e de evolução. E agora, esse caminho se faz na tela, na conexão entre professor e aluno, num espaço virtual que promete ser tão envolvente quanto uma boa crônica.
Participe do lançamento de “Comunicação Profissional – técnicas e práticas para o sucesso no trabalho”
Convidado especial: Milton Beck, Diretor-geral do LinkedIn
Vagas limitadas
Inscrição gratuita
Dia: 26 de setembro, quinta-feira
Hora: das 19h às 21h30
Local: Edifício Milano | Espaço Olos
Avenida Mário de Andrade, 1.400, 14º andar, Água Branca/SP
“Será que aquela escolha é norteadora para o resto da minha vida, será que eu preciso ficar nela?”
Emerson Dias, Consultor
As transformações no mundo do trabalho são inexoráveis e se aceleram a cada instante. Diante desse cenário, os profissionais precisam se adaptar e encontrar novas formas de atuação. Acima da forma, porém, está nossa essência que precisa ser respeitada para que se alcance aquilo que é nosso maior objetivo: a busca da felicidade. É o que defende Emerson Dias, consultor, doutor e mestre em administração, em entrevista ao programa Mundo Corporativo da CBN.
Autor do livro “Carreira, a essência sobre a forma”, Emerson ilustra sua ideia a partir de situações enfrentadas por atletas de alta performance, como é o caso de Usain Bolt —- um esportista de talento extraordinário que na pista conquistou os maiores prêmios e recordes até o momento que seu corpo permitiu. Sem as condições físicas necessárias para seguir carreira de atleta, Usain Bolt precisou se adaptar às novas exigências. Deixou as pistas, mas, provavelmente, jamais deixará o esporte, que é a sua essência. É a partir dela que o ex-velocista seguirá sua jornada profissional em busca da felicidade.
Como poucos são Bolt, ter consciência do que é a sua essência torna-se ainda mais importante a medida que é, a partir dela, que você avaliará se as escolhas feitas no início da sua carreira profissional ainda fazem sentido:
“Quanto mais eu me conheço, quanto mais eu sei a minha essência, as minhas inclinações, eu consigo abrir mão de coisas que não façam sentido para mim. Então. eu acho que o caminho, dada a nossa limitação de recursos, é buscar a se conhecer”.
Ao realizar um trabalho que tenha maior significado, as dificuldades são enfrentadas com mais suavidade, aumenta-se a tolerância ao estresse e a tensão, e se alcança segurança psicológica. Verdade que a situação sócio-econômica nem sempre permite que as pessoas façam escolhas apropriadas, mas desenvolver o autoconhecimento permitirá que, no instante em que houver uma estabilidade financeira, o profissional esteja preparado para redesenhar sua trajetória.
“Muitas vezes, eu escolho aquilo que está diante de mim, da minha possibilidade, do meu acesso, mas não, necessariamente, eu deveria escolher aquilo se eu tivesse possibilidades de acessar outros lugares, outros espaços, e aí sim falar ‘nossa, isso aqui é mais legal do que aquilo que eu tinha’. Então, acho que o contexto social também influencia nas nossas escolhas”.
Das mudanças que a pandemia prometia deixar no ambiente de trabalho, talvez a mais evidente, na opinião de Emerson, seja a necessidade de as pessoas discutirem temas que não eram bem-vindos no passado, como o da saúde mental. Percebe-se agora que as relações humanas são extremamente importantes e mesmo os líderes demonstram maior interesse em escutar sobre o assunto. A eles (os líderes), aliás, o consultor deixa um recado:
“Se o seu papel é liderar, você nunca pode esquecer que você tem que produzir resultados. Agora, para produzir resultados, se fosse só a parte técnica, o Google resolvia. Não é! É a parte da coesão social. É a parte do desafio, do desenvolvimento do indivíduo, de você estabelecer objetivos e de você apoiar um indivíduo na construção desse objetivo”.
Assista ao vídeo com a entrevista completa com Emerson Dias em que falamos, também, de estratégias para nos prepararmos para as mudanças no mercado de trabalho e para realizarmos melhores escolhas na nossa jornada:
O Mundo Corporativo tem a colaboração de Renato Barcellos, Bruno Teixeira, Priscilla Gubiotti e Rafael Furugen.
Leio, muitas vezes, que devemos confiar no nosso potencial para atingir o objetivo sonhado.
São muitos formadores de autoestima com os mais diferentes nomes de palestras, projetos e linhas de pensamento. Parece uma epidemia de treinadores que invadem o seu universo e criam no mundo da expectativa e da excelência profissional um vácuo transformador: o que deveria ser uma alavanca para o sucesso vira um congelamento intelectual.
Qual a capacidade que temos de nos enxergar?
Qual o ponto de equilíbrio entre a prepotência, diante de suas qualificações, e a humildade, que o impede de reconhecer quem você realmente é?
Confesso que sou muito cuidadoso nessa ideia de vender meu próprio trabalho com autoelogios. Adepto do ditado que “elogio em boca própria é vitupério”, não me sinto à vontade de elencar minhas qualidades. Dizer-se detentor de postura correta, leitura perfeita, elegância, boa voz, naturalidade .. enfim, se intitular o “Senhor da Competência”. Mesmo porque isso se acaba no primeiro tropeço no próximo texto.
Sei dos meus defeitos e para alguns não tem correção. Questiono-me, assisto-me, e apresento meu trabalho para amigos e colegas em busca de parâmetros para saber como estou me saindo.
Pode ser insegurança? Pode.
Pode ser bom senso? Claro que pode.
Prefiro me expor aos amigos do que ao ridículo de me atribuir títulos dos quais eu não me sinto completo para dizer que os tenho. O tempo traz aprendizado.
Lembro das minhas primeiras solenidades e leituras de textos em voz alta.
Sofrível, mas necessárias.
Hoje, sinto-me preparado, porém muitas vezes sufocado por essa onda de treinamento da mente que acaba colocando sua vivência no limbo.
Somos uma consequência de vários fatores. Experiências às vezes felizes e às vezes traumáticas. Somos o resultado de atitudes que tomamos e também das que deixamos para trás.
Somos uma matemática em que se soma aos poucos.
É preciso juntar de uma a uma a capacitação profissional. Ninguém sabe de onde você vem, do que se alimenta ou quais os seus sonhos e fraquezas, apesar de todos terem absoluta certeza que você pode ser mais e melhor.
Até quando? Até quando teremos que acreditar que a razão do sucesso está no que não conseguimos alcançar; está na palavra do outro. Sim, esse outro que muitas vezes se diz detentor de postura correta, leitura perfeita, elegância, boa voz, naturalidade .. que, no fundo, não tem a mesma coragem e determinação que você de no dia seguinte, simplesmente, “levantar e lutar”!
Christian Müller Jung é mestre de cerimônia por profissão, publicitário por formação e meu irmão de nasceça
“Tanta gente veio antes, aprendeu tanta coisa, então, tente achar aí a sua maneira e a sua estratégia, mas tenha mentores na sua carreira”
Luciano Santos, Facebook
Seja colaborativo. Compartilhe o seu conhecimento. Escute as pessoas. Entenda a necessidade do seu colaborador. Todas essas frases, não por acaso com o verbo no imperativo, devem ser exercitadas no ambiente de trabalho e nas relações profissionais; e nos remetem a olhar para o outro. Luciano Santos, executivo de vendas do Facebook, concorda com isso, mas, diante do que encontra nas corporações e com as pessoas com quem interage, decidiu-se por fazer um convite diferente: olhe para você mesmo! Parece uma ideia egoísta. De certa parte é mesmo. Mas, se é possível assim dizer, é um “egoísmo saudável”.
Luciano é autor do livro “Seja Egoísta Com a Sua Carreira – descubra como colocar você em primeiro lugar em sua jornada profissional e alcance seus objetivos pessoais” (Editora Gente) e explicou seu objetivo em entrevista ao Mundo Corporativo:
“As pessoas consideram o que os familiares falam, o que o chefe fala, e sempre se colocam em último lugar. Então, eu falo que o título (do livro) é um pouco de exagero; é uma provocação, para a gente ter consciência que, se eu não me colocar como protagonista da minha própria carreira, ninguém vai”.
Considerando o melhor dos sentidos para esse egoísmo defendido por Luciano, ele assume que o foi durante a carreira, por instinto, muito mais do que por ensinamento. Nessa linha, sempre que possível privilegiou o aprendizado ao salário. Por duas vezes, deixou empregos que remuneravam mais por empregos que o ensinariam mais. A despeito da formação em letras, migrou para o ramo da tecnologia, tendo passado pelo UOL, Google e, agora, Facebook. Diz ter sido um acidente o fato de o profissional de letras com pós-graduação em comunicação jornalística se transformar em profissional de tecnologia. Um acidente provocado por intervenção do irmão que havia estudado processamento de dados e o ensinou a acessar e-mails e navegar na internet — duas habilidades que eram diferenciais competitivos na época em que se iniciou na carreira.
“Eu estava procurando uma vaga de redator júnior, algo ligado à minha formação. Meu irmão insistiu para colocar no meu currículo. Não tinha colocado esse dado tão importante. Eu coloquei, mandei para Folha de São Paulo, que na época tinha aquele projeto junto com a Abril, chamado Universo Online, o UOL, e só porque meu irmão me deu aquela mentoria de currículo e eu coloquei aquelas duas pequenas informações acabei parando no UOL e Isso mudou completamente a minha carreira”.
Cuidar bem do seu currículo é um dos passos para “ser egoísta” na carreira. É o primeiro elemento do que Luciano chama de tripé da empregabilidade: currículo, narrativa e networking:
Currículo — um erro muito comum é não colocar algumas experiências que são absolutamente relevantes.
Narrativa — uma entrevista bem sucedida nada mais é do que uma história bem contada; esteja preparado para contar a sua história.
Networking — é o irmão direto da indicação, a melhor forma de ingressar no mercado de trabalho. Networking é estratégia de longo prazo que deve ser alimentada em toda carreira e não apenas quando o profissional perde o emprego.
Ao consultar 1.500 profissionais, Luciano Santos encontrou 60% deles infelizes em suas carreiras, e muitos extremamente infelizes, o que leva a uma série de problemas de saúde e comportamento: burnout, ansiedade, e dificuldade em tomar decisões. Ele entende que são múltiplos os motivos que levam a esse cenário e destaca dois: o primeiro é a falta de treinamento de lideranças; e o segundo, a falta de consciência sobre como gerencias a própria carreira”
“… como eu tomo uma decisão? Eu devo planejar minha carreira? De que maneira eu comunico com o meu líder? Tem muitas coisas que a gente pode aprender e não só pode como deve aprender a fazer”
3a parte do capítulo do livro “Jornalismo de Rádio” com lições jornalísticas no 11 de setembro
TODOS FALAM
O primeiro prédio do World Trade Center, a torre sul, despencou às 10h59. Falávamos dos ataques há cerca de uma hora. Foi chocante. Naquele momento desabava a ingênua esperança de que as pessoas teriam a chance de escapar com vida, apesar de tudo. Há vinte minutos havíamos noticiado que o terceiro avião – um Boeing 757 da American Airlines – havia sido jogado sobre o Pentágono. Desse não se tinha imagem, a informação chegou pelas agências de notícias. Nem sempre é preciso ver para crer.
No estúdio da CBN, em São Paulo, havia um número excepcional de pessoas. Ninguém mais era repórter, produtor, chefe de redação ou diretor de jornalismo. Todos eram jornalistas em busca de informação e quem a encontrasse levava ao ar.
A estrutura do rádio não admite que os profissionais atuem de maneira segmentada. Não existe mais a figura do redator que só sabe escrever ou do locutor que só sabe ler – pelo menos, não deve existir. Os profissionais de rádio têm de dominar todas as áreas e, principalmente, saber falar ao microfone. Não há necessidade de ser um “Cid Moreira”, mas precisa ter capacidade de se expressar.
Na cobertura do 11 de setembro, profissional que estava em casa e tinha a oportunidade de apurar informação por algum canal de televisão a cabo, ou de conversar com conhecido nos Estados Unidos, ligou para a rádio. Às vezes, a notícia já havia sido transmitida; noutras, serviu de subsídio para o âncora. Em algumas situações, o próprio “informante” foi ao ar.
Quando está na rua, o jornalista de rádio deve ligar para a emissora a qualquer instante para relatar um acontecimento, mesmo que no seu crachá apareça o cargo de apurador, redator ou editor. Pode ser o trânsito complicado em uma rua importante, a movimentação policial em um bairro, ou um prédio desabando em Nova York após ataque terrorista.
AGENDA EM PUNHO
A imagem do prédio transformado em poeira ainda enchia a tela da televisão quando se recebeu a notícia de que os ataques não haviam parado. Mais uma vez sem imagens, apenas as fontes a nos municiar de informações. Uma hora e catorze minutos depois de ter se iniciado a transmissão do atentado, um quarto avião é jogado ao solo. Um 757 da United Airlines que havia caído em uma área de pouca concentração urbana, Shanksville, na Pensilvânia. Não se sabia o destino que os sequestradores pretendiam dar a esse Boeing. Poderia ser a Casa Branca ou Camp David.
Apesar da sequência dos fatos, ainda não se tinha a dimensão exata da tragédia. Produtores checavam as agendas em busca de nomes que pudessem ir ao ar para ajudar a entender o que acontecia. Ter o número de telefone de acesso direto das fontes é importante para exercer a função. Uma boa agenda se constrói com o tempo e, por isso, precisa ser iniciada o mais cedo possível, antes mesmo de entrar no mercado de trabalho.
Leia publicações especializadas e artigos assinados de jornais e revistas, navegue com frequência pela internet e preste atenção nos personagens citados no noticiário. Sempre que uma pessoa surgir em destaque, anote o nome dela para em seguida procurar o número do telefone. Em pouco tempo, você terá um banco de dados invejável que lhe dará agilidade no trabalho. Nenhuma notícia vai pegá-lo de surpresa, nem mesmo um ataque ao símbolo da prepotência americana.
SUBSTITUIÇÃO NA EQUIPE
A cobertura do atentado era ininterrupta. Não havia nada mais a fazer, a não ser acompanhar um dos acontecimentos mais marcantes da história da humanidade. Espaços comerciais foram abolidos. A grade de programação, esquecida. O CBN São Paulo se transformara em Rede CBN Brasil. Por falar nisso: e aquele programa que havia sido discutido no início da manhã?
Em meio ao trabalho de apurar informações e encontrar fontes que pudessem ajudar a entender o quebra-cabeça desmontado diante de nossos olhos, havia a necessidade de desmarcar as entrevistas agendadas. O produtor tem de estar sempre em contato com as fontes e, em caso de mudança de pauta, não pode esquecer de explicar o motivo pelo qual a entrevista não será feita. Uma questão de respeito. É preciso lembrar, também, que amanhã não haverá atentado e você há de precisar daquele entrevistado. Algumas pessoas reclamam quando são informadas de que a entrevista não será feita. Se sentem desprestigiadas ao serem substituídas por outras ou porque o jornalista avaliou haver assunto mais importante. Seja como for, melhor avisá-la do que deixá-la esperando.
Naquela situação, não foi tarefa difícil justificar o porquê da entrevista ter sido desmarcada. As próprias fontes estavam muito mais interessadas nas informações do atentado.
PAUTA EM ABERTO
O ataque às torres gêmeas em Nova York e ao Pentágono, em Washington, não estavam na agenda de nenhum produtor. A não ser na do pessoal da Al-Qaeda. E estes não enviaram assessoria de imprensa para avisar as redações. Tais atentados sequer faziam parte de algum planejamento estratégico de cobertura jornalística. Portanto, os meios de comunicação foram surpreendidos e tiveram de adaptar a programação à nova realidade.
Uma das características dos programas jornalísticos ou dos radiojornais em emissoras que se dedicam 24 horas à notícia é a existência de um roteiro sempre aberto. A entrevista e reportagem discutidas antes de a edição ir ao ar podem cair no minuto seguinte. Melhor que caiam, se em seu lugar entrar assunto mais recente, mais “quente”. Pauta boa é pauta nova.
A participação de um repórter é suficiente para pautar o restante do programa, basta que a informação seja significativa. Nesse caso, âncora, produtor, assistente de estúdio e operador de áudio têm de estar atentos ao relato da notícia. Procurar alguém que acrescente dados à informação e fazer contato com quem tenha sido alvo de críticas são compromissos dos quais o jornalista não pode abrir mão. No primeiro caso, agrega valor ao trabalho do repórter. No segundo, atende à exigência ética de quem se propõe a fazer bom jornalismo.
O chefe de reportagem e o próprio repórter devem sugerir o desdobramento do assunto. Do estúdio, por telefone, pode-se conseguir alguém que a equipe na rua não tenha acesso. A declaração de um entrevistado feita no programa pode ser editada, posteriormente, e usada pelo repórter para fechar a reportagem.
Leve em consideração que a pauta que vem da rua pulsa mais do que a elaborada na redação. Quem pode ser melhor pauteiro do que o repórter? O jornalista Afonso Liks, com quem trabalhei na redação do SBT, em Porto Alegre, costumava dizer que “a boa pauta está na rua da Praia”. Alusão à rua mais popular da capital gaúcha e à necessidade de os jornalistas andarem por lá, atentos ao comportamento e comentário das pessoas.
Nada pior para a qualidade de um programa de rádio do que o produtor se considerar satisfeito porque antes de entrar no ar já fechou todas as entrevistas e sabe quais as reportagens que serão publicadas. Este, muito provavelmente, será um programa chato, modorrento e sem novidade.
Existem compromissos que devem ser cumpridos no decorrer de um programa, como a saída para os blocos locais ou de comerciais e a participação de comentaristas. Respeitar o horário colabora com a organização da emissora, principalmente se a rádio participar de uma rede, e acostuma o ouvinte que procura assuntos específicos na programação. Mas essas regras não podem engessar o programa, e o jornalista tem de estar sempre atento para saber quando transgredi-las em nome da agilidade do radiojornalismo.
Imagine o que pensaria o ouvinte se a rádio decidisse interromper a cobertura do atentado nos Estados Unidos para chamar o bloco de esporte.
HORA CERTA
O presidente dos Estados Unidos em exercício, George W. Bush, estava em uma escola secundária na Flórida, diante de alunos, no instante em que os ataques se iniciaram.Retirado de lá sob forte esquema de segurança e levado para a base aérea do estado do Nebraska, meio-oeste americano, às 10h30 o presidente fez seu primeiro pronunciamento. Bush, visivelmente abatido, admitiu que o país havia sido vítima de ataque terrorista e lamentou a tragédia do World Trade Center. Naquele instante, o Pentágono ainda não havia sido atacado.
Quando a fala do presidente americano se iniciou, estávamos com um comentarista no ar que, imediatamente, foi interrompido. Nenhuma outra informação era mais importante naquele momento. O discurso em inglês foi reproduzido na íntegra para, em seguida, ser resumido em português, no estúdio.
No rádio deve se evitar o uso de entrevistas em língua estrangeira, pois não se tem o recurso da legenda. A tradução simultânea fica prejudicada pela mistura do som original com a voz do tradutor. E deixar para traduzir depois atrapalha a dinâmica do programa. No caso de a entrevista ser imprescindível, prefira o espanhol e o português de Portugal, recomendando ao entrevistado que fale devagar e o mais claramente possível
O programa de rádio tem de ter agilidade para mudar de assunto sempre que os acontecimentos assim o exigirem. Caso a entrevista tenha se iniciado há pouco tempo e algo urgente ocorra, o âncora deve explicar a situação no ar para o convidado, desculpar-se gentilmente, prometendo voltar ao tema em breve. Não se pode deixar para depois a notícia que se tem agora.
No rádio, ao contrário do jornal e da televisão, não existe deadline. Não se sai à rua com o objetivo de entregar material pronto ao fim do expediente. O prazo para o fechamento é determinado pela importância da notícia. Esperar o fim da entrevista coletiva para divulgar a informação que pode ser reproduzida ao vivo é um desserviço ao público. O repórter deve publicar o fato conforme este for apurado, ressaltando que outras fontes serão ouvidas no decorrer da programação. Ao concluir a reportagem, entrega o material consolidado para o editor.
Deadline é a hora em que o jornalista tem de entregar a reportagem na redação do jornal ou televisão. Leva em consideração o tempo para a edição do material e sua publicação. Originalmente, a expressão inglesa significa a linha em volta de uma prisão além da qual um prisioneiro poderia ser abatido a tiros. Por descumprir o prazo, muito colegas já foram abatidos nas redações, não, necessariamente, a tiros.
Essa característica do rádio impõe um desafio sério, porque as decisões editoriais que levam à publicação de uma notícia são tomadas a todo instante. Na redação de um jornal, as reuniões de pauta e fechamento permitem reflexão mais profunda sobre os temas. Uma determinação errada tem chance de ser corrigida até o jornal sair da oficina. No radiojornalismo, entre a decisão equivocada e sua divulgação, o prazo é muito curto.
Levado pelo entusiasmo de atender o ouvinte, muita gente boa deu “barrigada, em lugar de “furo”. Apesar da exigência do veículo, é preciso comedimento. Ao ouvinte, mais do que saber antes, interessa saber o certo. Por isso, é fundamental que, para resolver qual informação será divulgada e como será feita a divulgação, o profissional tenha consciência da linha editorial da emissora e os princípios éticos que devem orientá-lo.
Homem, branco, 51 anos, casado, com ensino superior e tendo a saúde como tema prioritário. Puxando o traço e fazendo as contas é assim a cara do vereador eleito na Câmara Municipal de São Paulo, de acordo com os dados oficiais declarados à justiça eleitoral e informações publicadas pelas próprias candidaturas.
Mesmo que aparente ser uma cara semelhante a de anos anteriores, não devemos nos enganar. Além de uma renovação de 40% dos vereadores — a despeito de alguns não serem mais novidade, caso de Roberto Tripoli (PV) que volta à Casa depois de ter ficado fora na legislatura passada —-, percebe-se o crescimento no número de mulheres, de negros e transexuais, um fator que tornará a Câmara mais diversa e plural nos debates.
Mesmo que os homens sejam maioria, 42 dos eleitos, a bancada feminina pulou de oito para 13 representantes. Nesta lista, há os casos de Érika Hilton, mulher transexual e negra, a mais votada do PSOL com 50.508. É também a mulher eleita mais jovem, com apenas 27 anos. Chama atenção, ainda, a eleição de Tammy Miranda, homem transexual, de 38 anos, eleito com 43.321 votos pelo PL. Tammy que é ator, filho de Gretchen, curiosamente é o que tem a menor escolaridade: ensino fundamental incompleto.
A propósito: reclama-se muito que candidatos a vereador deveriam ser mais bem preparados para a função que exercem e costuma-se ouvir criticas a baixa escolaridade. Não é o que se assiste na próxima legislatura: dos 55 vereadores, 45 tem ensino superior completo, quatro superior incompleto. A maioria também é casada, 31 dos eleitos; tem 16 solteiros e e oito divorciados.
Candidatos que se declaram pretos aumentou de forma considerável, especialmente entre mulheres. São sete os vereadores eleitos, dos quais a maioria é mulher: Érika Hilton (PSOL), Luana Alves (PSOL) Elaine do Quilombo Periférico (PSOL) e Sonaia Fernades (REPUBLICANOS).
Quanto a idade, a média é de 51 anos, mas é possível encontrar desde vereador jovens como o reeleito Fernando Holyday, de 24 anos, e as novatas Érika de 27 e Sonaira, de 30. Do outro lado da pirâmide etária estão Eduardo Suplicy, que completara 80 anos em junho do ano quem e Faria de Sá que começar 75, em dezembro deste ano.
A maioria dos eleitos (21) declarou exercer a função de vereador — ou seja, já estavam no cargo. Há casos de parlamentares que preferiram incluir outra função, como empresário e administrador. As duas profissões que aparecem com destaque são advogado (5) e médico (4). Há somente um policial civil, Delegado Palumbo (MDB).
Usando como base, a plataforma criada pelo jornal O Globo, na qual candidatos voluntariamente publicavam informações, incluíam três temas prioritários e registravam uma mensagem ao eleitor, é possível identificar que saúde apareceu com destaque — mais do que justificável haja vista o momento de pandemia que enfrentamos. Antes de olharmos os temas, é preciso registar que, infelizmente, dos 55 eleitos apenas 19 aceitaram o convite do jornal. Depois de saúde (10 citações), aparecem direitos humanos e minorias (5), assistência social e cultura (4), meio ambiente, educação e proteção de animais (3), transporte/mobilidade e esportes (2); segurança urbanismo defesa do consumidor e finanças (1).
Espera-se que, em breve, se tenha acesso as prioridades e propostas que todos os vereadores pretendem defender durante a próxima legislatura. É uma boa maneira para se avaliar se eleitos, eles cumprem com o compromisso assumido com o eleitor.
Reprodução de foto do jornal Zero Hora, em dezembro de 1988
Foi há 36 anos. Tanto tempo assim faz de nossa memória uma colcha de retalhos em que pedaços são tecidos da vida real e outros, coloridos pela imaginação. Descrever agora o que aconteceu naquele 10 de agosto de 1984 talvez não condiga com a verdade dos fatos —- mas, tenha certeza, revela a memória autobiográfica que fui capaz de armazenar ao longo dos anos.
Foi meu primeiro dia de trabalho como jornalista ou aprendiz de jornalista, porque viria a me formar somente um ano depois. Era o início do estágio na profissão que escolhi por inércia, admiração e paixão.
O jornalismo fazia parte do meu cotidiano, não escapava dele nem nos almoços de domingo com a família. Filho de jornalista, afilhado de jornalista e sobrinho de jornalista, experimentei o ritmo das redação de rádio e jornal desde muito pequeno. Em minha defesa, o fato de meu irmão e minha irmão terem experimentado o mesmo ambiente e seguido por outros caminhos.
Minha admiração vinha da maneira como meu pai e seus colegas de trabalho eram recebidos nos locais que frequentavam. Havia um respeito em relação a eles que me deixava feliz e orgulhoso. O impacto que as notícias divulgadas no Correspondente Renner — do qual foi o titular por muito anos —- tinham na sociedade gaúcha, impressionava. A emoção que o grito de gol dele gerava no torcedor era indescritível.
Cheguei a me enxergar como professor de educação física —- a ponto de estudar na federal do Rio Grande do Sul —- mas havia alguma coisa no jornalismo que se expressava de maneira mais forte no meu coração.
A inércia, a admiração e a paixão construíram o jornalista que teve o privilégio —- pela influência do pai —- de fazer estágio em uma das mais respeitadas redações do radiojornalismo do Brasil, a da Guaíba de Porto Alegre. Era função não remunerada. Sem carteira assinada. O pagamento vinha em créditos para a conclusão da faculdade de jornalismo, realizada na Famecos, da PUC do Rio Grande do Sul. E em experiência pela convivência com alguns dos maiores nomes do jornalismo esportivo.
A arquitetura do prédio, que trazia características do século 19, sede da Companhia Jornalística Caldas Júnior, era imponente. Para subir os três ou quatro andares do Edifício Hudson, ao lado da Praça da Alfândega, usava-se um elevador com porta sanfonada e maquinário à mostra —- mantido assim, apenas com algumas adaptações, até ao menos a última vez em que visitei o local. Apesar da pompa e da circunstância, era como se estivesse entrando em casa. Do elevador aos corredores, das salas de redação ao bar —- que hoje não existe mais no segundo andar —-, tudo eu já havia explorado, embalado pela curiosidade de um guri de calças curtas, solto em um parque de diversões.
Naquele dia 10 de agosto, entrei no prédio ao lado de meu pai —- não mais de mãos dadas como fazíamos durante minha infância —-, vestindo uma uma camisa de mangas curtas, uma calça de abrigo esportivo e calçando alpargatas. Com ele fui até a sala do departamento de esportes que ficava ao fim do corredor, com janelas voltadas para a esquina da rua Caldas Júnior com a rua dos Andradas. Seria incapaz de reproduzir aqui qualquer palavra que o pai tenha dirigido a mim naquele instante; certo mesmo, pelo que conheci do velho, é que ele estava tomado pela alegria de ver seu filho dando o primeiro passo na profissão no lugar em que se consagrou como jornalista.
Fui apresentado ao Alexandre Pussieldi, produtor do único programa dedicado exclusivamente ao esporte amador do rádio rio-grandense. Hoje muito mais conhecido por ‘Coach’, pelos anos em que foi treinador de natação nos Estados Unidos e agora comentarista de natação da SporTV, Pussieldi foi um baita professor. Não bastasse ter sido o criador do programa em que sempre sonhei trabalhar —- afinal joguei basquete por 13 anos e, lembre-se, imaginei seguir o curso de educação física —, Alex Pussieldi foi meu mentor naquele início de carreira. Ajudou-me a construir fontes, escrever textos, produzir reportagens, fazer entrevistas e apresentar o “Esporte Amador na Guaíba”.
Do esporte amador para o futebol profissional; do departamento de esportes para o de jornalismo; da redação de rádio para a de jornal. Minha carreira seguiu em frente a ponto de me trazer para São Paulo. Aqui comecei pela televisão, trabalhei na internet e fui redescoberto pelo rádio. Ganhei reconhecimento e prêmios. Sinto-me privilegiado pelo espaço que me oferecem e pelo jornalismo que realizo.
Nestes 36 anos de profissão, em meio a tropeços e aprendizados, memórias afetivas foram construídas e alguns nomes foram essenciais para essa jornada. Assim como o pai foi o primeiro a me abrir a porta do elevador do Edifício Hudson, em Porto Alegre, teve o Alex e a Sandra que me acolheram; o Flávio que me levou para o jornalismo; o Afonso que me apresentou à vida; o Zezo que me trouxe para São Paulo; a Dina que me encaminhou para a Globo; o Montenegro que cuidou de mim na madrugada; o Marco que me aceitou na Cultura; o Everton, a Malice, a Maria e o Tato que moderaram meu ego; o Sérgio que foi minha referência como família; o Heródoto que me convidou para a CBN; o Juca que me inventou narrador na Rede TV!; o Toledo que me ensinou como funcionava a internet; a Mariza que apostou no meu talento. E, claro, a Abigail, que é o amor da minha vida.
Por mais distante que esteja de muitos daqueles que me ajudaram nesses anos todos —- e de tantos outros que sequer citei neste artigo —- quero que saibam o quanto os admiro pela paciência, experiência e conhecimento que compartilharam comigo. E que a colcha que minha memória está costurando desde aquele 10 de agosto de 1984, certamente, só se faz possível por sua causa.
“Nós não podemos medir o ser bem sucedido ou não simplesmente por quanto nós temos de recursos guardados ou por uma posição X ou Y dentro de uma empresa. O fato é que todos podem ir além, desde que desejem ir a algum lugar e busquem isso em um planejamento de carreira” — Marcelo Simonato
O conceito de carreira de sucesso depende da ambição e da oportunidade de cada profissional, mas, independentemente de onde você quiser chegar, é preciso ter isso bem definido. De acordo com o administrador de empresas Marcelo Simonato, para alcançar a sua meta não adianta apenas se preparar tecnicamente, tem de se criar uma sustentação que passa pelo que ele identifica como sendo os quatro pilares do sucesso: marketing pessoal, networking, inteligência emocional e liderança.
Em entrevista ao jornalista Mílton Jung, no programa Mundo Corporativo, da CBN, Simonato chamou atenção para o fato de que uma das barreiras para o desenvolvimento profissional é a falta de atitude:
“O seu conhecimento, somado as suas habilidades e atitudes, levará você aonde deseja. Precisamos ser protagonistas da nossa carreira, definir o que precisa ser feito e executar”
Com a participação de ouvintes, que fizeram perguntas por e-mail, Facebook e Twitter, o programa também levou mensagens tanto para jovens que se preparam para iniciar carreira profissional quanto para pessoas que têm mais de 50 anos e muitas vezes se sentem desestimulados por falta de oportunidade:
“Hoje, o mercado não distingue mais um jovem de 20 anos ou um profissional de 50 anos; pelo contrário, as empresa buscam a inclusão. É na diversidade que nós crescemos. Fazer com que as gerações trabalhem juntas traz melhores resultados para as empresas e elas já descobriram isso…. e nunca é tarde para aprender, porque para o aprendizado não existe aposentadoria”
Marcelo Simonato é autor do livro “Pilares do sucesso profissional — aprenda a ser bem sucedido na carreira” (Literare Books). O Mundo Corporativo pode ser assistido, ao vivo, às quartas-feiras, 11 horas, pelo Twitter @CBNoficial ou pela página da CBN no Facebook. O programa vai ao ar aos sábados, no Jornal da CBN e aos domingos às 10 da noite, em horário alternativo. Colaboram com o Mundo Corporativo: Izabela Ares, Artur Ferreira, Gabriela Varella, Débora Gonçalves e Rafael Furugen.