Reminiscências juninas de Paraty

 

Por Julio Tannus

 

Quando eu era criança morava na cidade de Paraty.

As festas juninas, Santo Antonio (13 de junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho), eram bastante celebradas pelas crianças.

 

As músicas

SONHO DE PAPEL

 

O balão vai subindo, vem caindo a garoa.
O céu é tão lindo e a noite é tão boa.
São João, São João!
Acende a fogueira no meu coração.
Sonho de papel a girar na escuridão
soltei em seu louvor no sonho multicor.
Oh! Meu São João.
Meu balão azul foi subindo devagar
O vento que soprou meu sonho carregou.
Nem vai mais voltar.

 

CAI, CAI, BALÃO

 

Cai, cai, balão.
Cai, cai, balão.
Aqui na minha mão.
Não vou lá, não vou lá, não vou lá.
T
Tenho medo de apanhar.

 

BALÃOZINHO

 

Venha cá, meu balãozinho.
Diga aonde você vai.
Vou subindo, vou pra longe, vou pra casa dos meus pais.
Ah, ah, ah, mas que bobagem.
Nunca vi balão ter pai.
Fique quieto neste canto, e daí você não sai.
Toda mata pega fogo.
Passarinhos vão morrer.
Se cair em nossas matas, o que pode acontecer.
Já estou arrependido.
Quanto mal faz um balão.
Ficarei bem quietinho, amarrado num cordão.

 

As comidas

E a minha saudade.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier)

Reminiscências – 30 ditos populares

 

Por Julio Tannus

 

… De minha memória:

 

Quem tudo quer nada tem
Quem pode, pode; quem não pode se sacode
Quem não tem cão caça com gato
Quem ri por último ri melhor
Quem não chora não mama
Quem conta um conto aumenta um ponto
Quem tem pressa come frio
Quem não arrisca não petisca
Quem tem boca vai a Roma

 

Por fora bela viola, por dentro pão bolorento
Macaco velho não põe a mão em cumbuca
Devagar se vai ao longe
Escreveu não leu, pau comeu
De grão em grão a galinha enche o papo
Nem tudo que reluz é ouro
Gato escaldado tem medo de água fria
Negócio é negócio, amigos à parte
Foi para Portugal, perdeu o lugar
Filho de peixe, peixinho é

 

Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come
É melhor um pássaro na mão do que dois voando
Comprou gato por lebre
A mentira tem perna curta
Em boca fechada não entra mosca
Dinheiro pouco é bobagem
O peixe morre pela boca
Sorte no jogo, azar no amor
Nadou, nadou e morreu na praia
A esperança é a última que morre
Acabou-se o que era doce, quem comeu regalou-se

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Reminiscências – De minha mãe

 

Por Julio Tannus

 

… Aos 94 anos de idade:

 

Comecei a vida estudando e acabei estudando para viver.
Aquele que não sabe que não sabe: é um tolo, evita-o. Aquele que não sabe e sabe que não sabe é simples: ensina-lhe. Aquele que sabe e não sabe que sabe: está dormindo, acorda-o. Aquele que sabe e sabe que sabe: é sóbrio, segue-o.

 

Somos todos estudantes na escola da vida.

 

O sorriso custa menos que a eletricidade e dá mais luz.

 

A vida só pode ser compreendida olhando-se para trás, mas deve ser vivida olhando-se para frente.

 

A vida é como uma bicicleta, você cai se parar de pedalar.

 

Se você quiser algum lugar ao sol, precisa saber enfrentar algumas queimaduras.

 

Quem sabe muitas vezes não diz. E quem diz muitas vezes não sabe.

 

Somos feitos de carne, mas temos que viver como se fossemos de ferro.

 

Quem viaja na garupa não dirige a rédea.

 

Agir sem pensar é como atirar sem fazer pontaria.

 

Colha a alegria de agora para a saudade futura.

 

Hino à Paraty:
Paraty quanta saudade.
Paraíso a beira-mar.
Permita Deus que eu não morra, sem para lá eu voltar.

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung

Reminiscências – O Livro dos Porquês

 

Por Julio Tannus

 

Minha infância foi pautada, entre outras leituras, por uma coleção de livros chamada Tesouro da Juventude, onde havia a seção o livro dos Porquês.

 

O livro dos Porquês apresentava mais de mil respostas sobre os mais variados assuntos, entre outros: 

 


- Como é que a Lua determina as marés?

- De onde virão as moscas no próximo ano? 

– Que é bomba atomica? 

- Por que faz mais calor na Índia que no Alasca

– Por que despertamos de manhã? 

– Que é a “Via-láctea”? 

- Onde as rãs têm os ouvidos? 

 

Ao relembrar essas leituras me dei conta que deveríamos ter a coleção Tesouro da Maturidade, com a mesma seção O Livro dos Porquês, só que voltada para o público adulto. E que apresentasse mais de mil respostas sobre os mais variados assuntos, entre outros:

 

– Por que somos tão susceptíveis às oscilações do mercado em geral?
– Por que vivemos e sobrevivemos debaixo de escândalos, desvios de dinheiro público, corrupção?
– Por que para o país ser governável é preciso fazer alianças espúrias às “ideologias” partidárias?
– Por que a representação no Congresso Nacional não é proporcional aos efetivos estaduais?
– Por que não temos políticos que representem efetivamente o interesse geral da população?
– Por que os cargos executivos – desde prefeito a presidente da república – não são exercidos como representação efetiva do interesse coletivo?
– Por que a participação de condôminos em assembleias é baixíssima?
– Por que nós, brasileiros e brasileiras, não reivindicamos de forma ativa e coletiva os nossos direitos e interesses?
– Por que vemo-nos com irresistível capacidade de nos isolarmos?
– Por que ninguém reclama, ninguém contesta, ninguém se manifesta diante de tão elevado nível de impostos sem retorno equivalente?
– Por que não nos valermos dessa ausência de representação ampla, dessa falta de participação, dessa carência de identidade, e tentarmos algo novo?

 

Julio Tannus é consultor em estudos e pesquisa aplicada, co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier) e escreve no Blog do Mílton Jung, às terça-feiras

Reminiscências

 

Por Julio Tannus

 

Existem coisas que jamais se apagam de nossa memória. Permanecem vivas ao longo de toda nossa existência.

 


No Banco Escolar

 

Ah! Meus professores de ginásio. Na época estudávamos, além do nosso Português, os idiomas Inglês, Francês, Latim e Espanhol. Fumava-se na sala de aula. E o professor de Espanhol fumava metade do cigarro. Ao ser indagado pelos alunos o porquê, ele com os olhos lacrimejantes nos disse: “todo fim de semana minha mulher corta os cigarros ao meio para economizarmos dinheiro, e assim teremos dinheiro para volvermos a Espanha ao final do ano!”. E foi através dele que aprendemos a gostar de Miguel de Cervantes, Calderón de La Barca, Lope de Vega…

 

Um dos professores tinha a mania de, antes de sentar-se, utilizar a lista de presença como espanador para livrar o pó de giz deixado pelo professor anterior na mesa dos professores. Vira e mexe, alguns de nós espalhava rapé em pó na mesa. Resultado: “desculpem o espirro, acho que estou ficando resfriado!”.

 

O professor de Geografia, ao falar sobre os peixes da Amazônia, referiu-se ao Pirarucu. A classe pôs-se a sorrir. Irritado ele nos disse: “se vocês estão com coceira no xx, então enfiem o dedo no xx”.

 

Na volta das férias de final de ano, um colega apareceu de cabelo comprido. A reação foi geral: “mariquinha”, “virou mulherzinha”. O habitual na época era o corte chamado de “americano curto” – herança da Segunda Grande Guerra. No dia seguinte o dito cujo aparece com a cabeça raspada a navalha, as sobrancelhas raspadas e os cílios cortados!

 

Havia um monitor que percorria os corredores junto às salas de aula para zelar pela disciplina dos alunos. Um colega de classe, sentado junto a uma das janelas que dava para o corredor, ficou com um papel dobrado em uma das mãos. O monitor, ao ver o papel, de imediato recolheu o mesmo e entrou na sala de aula. Ao abrir o papel para ver o que estava escrito, se surpreendeu: “curioso hein!”.

 

No dia 11 de junho de 1958 a Seleção Brasileira de Futebol jogava contra a Inglaterra, na Copa do Mundo da Suécia. O jogo transcorreu durante um exame de Física – tínhamos exames de meio de ano. No bar da esquina, um rádio ligado em alto e bom som transmitia a difícil partida, que terminou em empate de 0x0. Da sala de aula ouvíamos atentos a transmissão. Até que, findo o jogo, nos demos conta que o exame de física também chegava ao fim. Resultado: a maioria de nós tirou nota zero!

 


Julio Tannus é consultor em Estudos e Pesquisa Aplicada e co-autor do livro “Teoria e Prática da Pesquisa Aplicada” (Editora Elsevier). Às terças-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung