Grêmio 4×0 The Strongest
Libertadores – Couto Pereira, Curitina/PR

Catarse, liberação de emoções ou tensões reprimidas. É o que está no dicionário. É como a psicologia explica. É o que justifica cada uma das muitas lágrimas que verti no rosto nesta noite em que o Grêmio retornou ao futebol, um mês após o início de uma tragédia jamais vista por todos nós, no Rio Grande do Sul.
Espero que minha turma aqui de casa não leia essa Avalanche. Porque não sei como entenderia as sensações que vivenciei. Não era apenas a um jogo de futebol que assistia. Ou assistíamos, dado que milhares de outras pessoas como ‘nosotros’ presenciaram essa mesma experiência. E devem ter chorado a cada minuto de bola rolando.
Solucei no gol de Soteldo, ainda no primeiro tempo, que mostrou aos gaúchos que os que peleiam, recusam a falência da esperança. Choraminguei em seguida a bola de João Pedro encontrar as redes, em um chute de destino improvável. Lacrimejei na certificação da vitória que se fez graças a insistência de Galdino. Debulhei-me quando Gustavo Nunes roubou a bola no meio do campo, driblou todos que se atreveram a surgir no seu caminho e bateu para definir a goleada mais significativa da história do Grêmio. .
O guri que comemorou o feito com um sorriso no rosto e o abraço de seus colegas, há menos de um mês era um dos sobreviventes da maior enchente que atingiu o Rio Grande do Sul. Deixou as dependências do Grêmio, ao lado de seus colegas, com água barrenta cobrindo a cintura. Seu companheiro de ataque, Diego Costa, despendeu energia e coragem para salvar pessoas ilhadas nas enchentes e abrigar em sua casa gente que acabara de ver a vida submergir.
Assim como Gustavo e Diego, cada um daqueles jogadores que estiverem em campo ou fizeram parte do elenco, na noite desta quarta-feira, em Curitiba, tinha uma sofrência na memória: o amigo desabrigado, o conhecido desalojado, o vizinho que morreu, o colega de trabalho que quase tudo perdeu.
Nas arquibancada, não menos sofrido, o torcedor gremista fez do Couto Pereira um Olímpico Monumental redivivo. Os trapos que adornaram o estádio, assim como as bandeiras do Grêmio, do Rio Grande e do Coritiba, que nos abrigou, acolheram não apenas o nosso time, mas cada gaúcho que sofre a dor da perda e do desespero nestes dias tão difíceis.
Envolto nesse sofrimento que acumulamos nos últimos 30 dias, ver o Grêmio jogar como jogou e ganhar como ganhou, me fez chorar. Não pelo Grêmio em si — o que, convenhamos, não seria pouca coisa. Foi um misto de felicidade e tristeza.
Chorei por descobrir como podemos ser persistentes e resilientes, mesmo diante de todo o sofrimento que nos assola.
Chorei pelas famílias que sofrem sem entender que futuro terão; pelas pessoas que perderam pais e mães, filhos e filhas, tios e avós; pelos 169 mortos até agora confirmados e por tantos outros que se confirmarão.
Chorei pelos registros de vida que subitamente se perderam na correnteza; pela angústia do irmão e da irmã, do sobrinho e da sobrinha, da cunhada e de todos demais da família. Chorei pela casa de minha infância que foi ameaçada. Pelo bairro em que morei. Pelas ruas que andei.
Chorei! E chorei porque, nesta noite, fui lembrado que o meu Rio sempre será Grande!








