
Havia ao menos umas dez famílias no corredor do supermercado onde estariam depositadas as garrafas de água mineral. Vi duas mães subindo no primeiro degrau da gôndola para alcançar as garrafas de plástico que estavam mais atrás. Eram pequenas, insuficientes para o banho, mas ao menos matariam a sede da criançada.
Em outro supermercado, a fila de carros do lado de fora se equivalia a de consumidores deixando a loja carregando garrafinhas e garrafões de água dentro de sacos plásticos. Não dava para entrar.
Para comprar água, tive de sair da região afetada pela “seca” imposta pela Sabesp, a cerca de 750 mil pessoas, desde sexta-feira. Sim, ao contrário do que a empresa informa, algumas casas da zona oeste de São Paulo não recebem água desde o fim da semana passada – ou sejam, antes mesmo do estouro da adutora na avenida Roque Petroni Jr, bairro do Brooklin, no domingo de madrugada.
Joildo Santos (@joildo) confirma pelo Twitter o que vários trabalhadores domésticos dos bairros do Morumbi e Butantã haviam contado, nessa segunda pela manhã: @CiaSabesp Eu lhes informo que no sábado faltou agua em Paraisópolis, agora qual foi a razão vocês devem saber. A Sabesp (@CiaSabesp) disse não ter recebido nenhuma queixa anterior e deixa os moradores com uma pulga atrás da orelha ao tuitar: “quando sistema for normalizado, será possível verificar se há outros problemas no local onde rompeu adutora (zona sul)”
“Faz algumas semanas que a própria Sabesp vem escavando onde, agora, dizem ter rompido a adutora. Acho que estamos diante de mais um episódio de incompetência latente”, reclama por e-mail Maurício Casagrande.
“Depois do apagão, caminhamos para um afogão. Morreremos de sede cercados de água das enchentes”, ironiza Toni Curiati que reclama dos jornalistas que não estariam cobrando do Governo a seriedade necessária para o caso.
Nesta terça-feira, vamos cobrar da companhia, com certeza.
Distante da adutora que estourou, moradores do entorno da rua Sociedade Esportiva Palmeiras, em Osasco, região metropolitana de São Paulo, colocaram fogo em pneus no fim de semana para protestar contra o abastecimento irregular de água. “É impressionante o fato de as represas estarem abarrotadas e o fornecimento de água jamais se normalizar” reclama Josmar Dias. Ele explica que a área não é abastecida pela adutora que apresentou problemas e a falta d’água ocorre diariamente: “ Em regra o serviço só é retomado umas poucas horas no período noturno, entretanto, faz alguns meses que nem mesmo isso, levando as torneiras a ficarem completamente secas”.
Enquanto mais um caminhão pipa chega no condomínio próximo de casa, ouço no rádio que a Sabesp, por nota, ainda não sabe quando o serviço estará normalizado. Avisa que haverá abastecimento parcial em alguns bairros e pede que a população economize água.
O Governo do Estado que se alvoroçou todo para pedir explicações a Eletropaulo, empresa privada que pisa na bola no fornecimento de energia elétrica nestes dias de temporal, poderia usar do mesmo ímpeto para cobrar da Sabesp, de quem é o maior acionista e responsável pelas decisões administrativas.
Sabesp – a vida tratada com respeito – é o que está escrito no site da empresa.