Por Adamo Bazani
Advogado larga carreira, estabilidade e se torna pequeno empresário do setor de transportes e garante que é mais feliz com as mãos sujas de graxa
Em épocas de crise econômica, desemprego, indicadores não muito favoráveis, que são constantes e vai e vem no mundo, você largaria uma carreira, os anos de estudos e o dinheiro dedicados a uma faculdade, além da estabilidade, para realizar um sonho?
O único motivo para isso é a paixão encarada como loucura para muitas pessoas. Mas tem gente que fez isso e garante que é feliz e valeu a pena investir no sonho. É o caso do advogado Aroldo de Souza Neto, de 32 anos, dono de uma pequena empresa de ônibus na cidade de Mauá, no ABC Paulista.
E ele afirmou logo no início da entrevista: “Quando eu era advogado, dormia mal, acordava 7 ou 8 horas da manhã sem disposição nenhuma para trabalhar. Agora, com as mãos sujas de graxa, acordo às 4 da manhã, com uma disposição de menino que sai de manhãzinha para brincar”
E foi de menino, que começou essa paixão do advogado.
Aroldo conta que quando tinha 5 anos adorava ver os ônibus passando coloridos nas ruas. Bela época em que não havia padronizações de pinturas. Os dias mais alegres para ele eram quando ia para a casa do avô e pegava os Vermelhinhos, como eram chamados os da Viação Utinga de Santo André, entre os bairros de Santa Terezinha e Utinga, na cidade do ABC Paulista.
“Lembro-me de viver perguntando para minha mãe, se ela sabia dirigir ônibus, pois queria ter um. Umas das empresas que eu mais gostava do ABC era Viação Garcia Turismo, de fretamento, que nem mais existe”.
Com cores típicas, os Marcopolo III, da Viação Garcia, faziam o coração do pequeno Aroldo disparar.
Em 1983, Aroldo ganhou uma máquina fotográfica simples do pai. As primeiras fotos: ônibus. Sem saber no que poderiam resultar as fotos, hoje, elas viraram precioso acervo para quem pretende resgatar a história dos transportes. Mas para o menino, na época, era apenas o registro de uma paixão.
Foi com 12 anos que Aroldo disse não ter dúvidas que seu gosto mesmo era por ônibus. Perto de sua casa, um rapaz tinha um ônibus rodoviário que realizava excursões. Mais tarde, este ônibus deu origem a empresa Selerete, que ainda atua no ABC e na Capital.
Ele foi até o Paraguai numa excursão e a amizade se estreitou com o dono do ônibus.
Com 14 anos, foi passear com o dono do ônibus para Mogi das Cruzes. O pneu furou e ele teve de ajudar a trocar. A paixão, virou amor. O que para muita gente é um martírio, trocar pneus, fez com que ele se sentisse o garoto mais importante da época: “Afinal, não era qualquer pneu, era pneu de ônibus”
Na oportunidade, Aroldo deu partida no veículo e a emoção foi maior ainda. E, realmente, quem gosta desse tipo de veículo, o momento da partida é um dos mais marcantes. Todo amante de ônibus lembra de sua primeira vez……a primeira vez que acionou a ignição do veículo.
Em 1988, quando estudava no Sesi (Serviço Social da Indústria), no Jardim Zaíra, em Mauá, tinha na contra-capa do caderno, os horários, prefixos, modelos e nomes das empresas que passavam na hora da aula e que ele observava pela janela. “Acho que minhas anotações eram mais precisas que a dos fiscais de linha”.
Os amigos de infância sabiam e achavam estranho. Quando passeava com os colegas de escola, repentinamente, interrompia a conversar pra ficar olhando o ônibus passar.
A paixão adormeceu, mas não morreu
De família na qual pai e mãe possuem curso superior e diante das pressões que um jovem preste a completar 18 anos tem para decidir uma carreira profissional, Aroldo se dedicou aos estudos.
“Como nunca fui muito bom com a área de exatas, matemática pra mim era um horror, e meu pai tem curso de Direito, decidi fazer a faculdade em São Bernardo do Campo”
Em 1996, foi um dos mais bem colocados na Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, e nunca foi reprovado em nenhuma matéria.
“As vezes eu dava uma de rebelde busólogo, é verdade. Com 18 anos, tinha um carro Uno Zerinho, em 1996. Comparei o preço, vendi o carro e com mais uma graninha, dava para comprar um Monobloco 0 355, de 1970. Cheguei a ver o ônibus que estava à venda. Já era peça de museu pra época, mas era o que dava o dinheiro. Porém, logo fui convencido a desistir do “negócio-louco” pela minha família”.
Na faculdade, apesar de ainda ficar admirando os ônibus de fretamento que atendiam os estudantes, principalmente os recém chegados Busscar, o foco ainda eram os estudos.
Em 2000, se forma, passa no primeiro exame da Ordem dos Advogados do Brasil/ OAB e no ano seguinte monta um escritório de advocacia, voltado para as áreas criminal e civil. Negócio bem sucedido. Profissionalmente, Aroldo também teve sucesso, mas faltava algo no coração. Algo grande, com cerca de 14 metros de comprimento e 20 toneladas.
“Até meus familiares sentiam que apesar de fazer tudo direitinho eu não estava satisfeito”.
Uma greve, uma decisão
A greve dos Funcionários do Tribunal de Justiça de São Paulo, em 2002, foi desastrosa para os profissionais da área de Direito e clientes que esperavam o andamento dos processos.
Numa terça-feira, dia 29 de junho, numa assembléia, na Praça João Mendes, no centro da capital paulista, a categoria que reivindicava reposição salarial de 26,39%, decide a paralisação, que começa no dia seguinte. A greve durou mais de 80 dias.
“O escritório passou por dificuldades e foi o estopim para o meu descontentamento. Avisei minha família que queria deixar o Direito e partiria para o ramo de fretamento de ônibus”.
A reação inicial foi a pior possível, palavras de desânimo não faltaram por parte da família e de colegas advogados da área.
“Não dá pra entender como um cara que anda de terno e gravata, tem relacionamento com pessoas importantes da sociedade, vai largar tudo isso, prá vestir macacão e se sujar de graxa” – ouviu dos outros.
Quando começou a pesquisar preços de ônibus, linhas, pátios para guardar os veículos, as palavras de desânimo vinham dos profissionais que atuavam no setor.
“Xiii, é mais um busólogo louco”. “Não vai dar certo”. “É filhinho de papai querendo aparecer com um sonho excêntrico” – continuou ouvindo.
Mas quando o sonho é grande, a superação é maior.
Depois de muita pesquisa, em 2004, um amigo apresenta Aroldo ao dono de uma empresa de ônibus de Mauá, Osvaldo de Oliveira, dono da Sinter Fretamento.
“O Osvaldo foi um grande professor e incentivador, talvez um dos únicos na época, porque o meio é fechado e ninguém admite novos na concorrência”
Mesmo antes de a empresa ter sido criada, a fé de Aroldo de que tudo iria dar certo era tanta que até o nome já estava com nome registrado: Metrópole Turismo, Fretamento Ltda. Novamente, Osvaldo auxiliou o advogado que preferia estar ao volante. Em 2004, ele deixou Aroldo agregar um ônibus na frota da Sínter.
Além da descrença da família, de colegas e parentes, outra dificuldade: conseguir crédito nos bancos, algo sofrido atualmente por muitos pequenos empresários.
“Os gerentes de banco não me davam crédito, não só o financeiro. De confiança, também. Chegavam a ser debochados, quando descobriam que eu era advogado, tinha um bom escritório e queria largar tudo. Me achavam um aventureiro e não me liberavam o financiamento.”
Depois de muita insistência, ele consegue um dinheiro emprestado. Junta as economias, vende o carro Palio que tinha, ano 99, o que ocasionou mais crítica em família, e compra um velho O 371 R, Monobloco Mercedes Benz, da Fretamento Firenze, em Santo André/SP.
(semana que vem você vai saber como Aroldo construiu sua vida no setor de ônibus)
Adamo Bazani é repórter da rádio CBN, busólogo e apaixonado por essas latas enormes e barulhentas que rodam por aí.

Milton, Adamo, bom dia!
Trabalho com tratamento de imagens e, quando vejo essas imagens antigas no Blog, acabo acertando a cor das mesmas, num processo de “restauração” que só me custa um minutinho. Por hobby mesmo.
Se quiserem que eu mande as fotos “corrigidas”, basta dar-me um alô.
Abraço!
Tiago,
O que você está esperando ? Pode mandar para milton@cbn.com.br Toda colaboração é bem-vinda.
Obrigado pela gentileza,
Mílton Jung
Opa, Tiago, será muito bem vinda a ajuda, para enriquecer o acervo. Com o tratamento de i,agem, os jovens podem vér “mais próximo da realizade” como eram nossos ônibus antigos e cidades e para os mais vividos poderem relembrar como se estivessem cara a cara com as imagens. Obrigado.
sei exatamente o que o Aroldo passou e passa, mas essta historia mostra o quando devemos persistir nos nossos ideais, parabens Milton, Adamo e Aroldo, sucesso para todos nos.
Abraços
Vitor Matos
Bocaiuva – MG
Poxa! Agora que a história ia ficar boa vai ficar para semana que vem! Risos
São pessoas como estas, que correm atrás de seus sonhos, que são bem-sucedidas em seus caminhos.
Ola Adamo
Admiro pessoas a exemplo do Aroldo
Tem que ter coragem para dar uma reviravolta depois de ter estudado tudo o que estudou até formar-se advogado.
Conheci uma pessoa que fez a mesma coisa.
Formado em medicina, depois de uns tempos para ajudar um dos seus irmãos, entrou de sócio numa pequena oficina de funilaria e pintura, gostou tanto da oficina e um dia decidiu por sair da medicina para ser proprietario em tempo integral na oficina e passou por amor a profissão, trabalhar como funileiro de automoveis.
E se deu muitíssimo bem, depois de um tempo tornou-se proprietario de uma bem montada oficina.
Abraços
Armando Italo
Eu conheço muito bem esta história! Desde o ínicio até o fim!
Estou ânsioso para ver a segunda parte!
Ádamo, convida nosso amigo Aroldo para participar da L’Autobus conosco!
Abçs!
Um amigo meu que prstava serviço aqui na empresa tambem era advogado,só que aposentado.Era agregado com onibus e prestou seriço conosco durante muito tempo, só parou por que não esta compensando atualmente
Grande Aroldo…
Grande amigo meu de Faculdade. Éramos muito amigos. Estudávamos juntos, bebíamos juntos, saíamos juntos. Enfim, tudo que grandes amigos fazem juntos. Porém com o fim do curso perdemos contato.
Venho acompanhando de longe a trajetória vitoriosa de meu saudoso amigo ( Mauá ) e sei que ele tem capacidade pra transformar seu sonho em realidade.
Parabéns Adamo pela reportagem e pela escolha do entrevistado, pois o conhecendo como o conheço, sei que cada linha da entrevista valeu muito.
Grande abraço.
Prezados amigos Busólogos: Aroldo, Ádamo e Milton.
Minha admiração pelo trabalho de todos vocês: Aroldo, por ter seu sonho realizado. Ádamo e Milton, também e por representarem, pela arte de dar voz ( ou letras ) aos pensamentos de muitos, como jornalistas.
Eu, publicitário e administrador, busólogo desde ainda menino, sei que um dia comprarei meu ônibus e o botarei para rodar nas estradas viáveis, sejam neste continente ou em outros. É meu sonho e trabalho para isso. E, dentro dele, parado em frente a uma praia ou montanha, cachoeira ou rio de águas mansas, também exercitarei meu outro desejo: escrever, contar estórias, falar aos outros, transformar palavras em imagens na cabeça de tantos que ousam sonhar….
Obrigado a todos vocês que me permitiram parar, interpretar suas narrativas e sonhar… Parabéns a todos, com desejos de sucesso sempre.