Por Carlos Magno Gibrail
Do conhecimento concentrado do passado (Platão, Aristóteles, Descartes, Da Vinci) ao conhecimento especializado de hoje, não há dúvida que a quantidade de informação e de distribuição é intensamente diferente. Entretanto, a possibilidade de usá-lo através da mão de obra especializada, representada pelos profissionais contemporâneos, continua subordinada à estrutura de poder estabelecida. Tal qual no passado, quer pelo Estado, pela Igreja ou pelo poder econômico, travestido em grandes corporações ou até mesmo por forte corporativismo.
Fato incontestável é que, em junho, o STF por oito votos a um, optou pelo fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo e pela desregulamentação da profissão.
Já em abril o plenário do Supremo Tribunal Federal tinha declarado inválida, por sete votos a quatro, a Lei de Imprensa, que criara a profissão de jornalista e seu curso universitário de formação, em 1967.
O oligopólio da comunicação, concentrado em poucas famílias e agora entremeado por entidades religiosas, tal qual no passado, argumenta que a Lei de Imprensa e a profissão de jornalista são testemunhos da ditadura e atentam para a liberdade requerida em nossa Constituição.
Esquecida quase sempre, a História, testemunha que em 1918 os jornalistas, reunidos em Congresso no Rio de Janeiro, já defendiam a formação específica em jornalismo para o exercício da profissão. Em 1961, Jânio Quadros publicou decreto regulamentando a profissão. As empresas, no entanto, se mobilizaram e acabaram conseguindo, um ano depois, sob o governo Goulart, a revogação do decreto.
Não é, portanto condizente afirmar, que por ter sido criada pela ditadura tanto a Lei de Imprensa quanto o diploma, sejam obras do mal. Pior é tornar-se um dos raros países do mundo sem Lei de Imprensa, além de desqualificar o jornalista como profissional, deixando sem regulamentação a atividade e a profissão.
Em sua justificativa, Gilmar Mendes, presidente do STF afirmou que a exigência do diploma fere o direito de liberdade de expressão e a atividade não necessita de qualificações profissionais específicas para ser exercida.
É questionável esta questão do direito de liberdade de expressão. Basta uma experiência em qualquer tribunal para quem não é advogado. Você não pode se representar, independentemente de seu preparo. Você é obrigado a contratar um advogado.
O maniqueísmo do poder, não passou despercebido dos profissionais regulamentados, tal a mudança que estas desqualificações poderão acarretar no mercado de trabalho. A partir de OABs seccionais e outras entidades.
“Ora, chama a atenção do Conselho Regional de Economia de São Paulo o argumento de que merecem regulamentação apenas as profissões como disse o ministro, que ‘podem trazer perigo de dano à coletividade ou prejuízos diretos a direitos de terceiros, sem culpa das vítimas, tais como a medicina e demais profissões ligadas a área de saúde, a engenharia, a advocacia e a magistratura, dentre outras várias”. Antonio Luiz de Queiroz Silva, Presidente.
“Ao negar a cientificidade e a seriedade das demais ciências, em especial as humanas, o STF pode estar indicando que não será mais necessário exigir o diploma para História, Língua Portuguesa, Filosofia, Sociologia, Economia e demais áreas cuja cientificidade tenha como base teorias distintas das ciências exatas, aplicadas, naturais e formais”. Fabio Koifman, historiador e advogado.
E o Presidente do Corecon comenta a observação de Koifman:
“Muito bem observado pelo historiador, curiosa e contraditoriamente, tanto o relator como os demais juristas referenciados – não por acaso – não incluíram a profissão de advogado nesse bojo. Sem entrar no debate a respeito do Direito, vale lembrar que a base teórica das jurídicas está fincada nas ciências sociais, o que de imediato, seguindo a mesma lógica do STF, já incluiria a profissão de advogado como uma das que o exercício independeria de diploma. Negar a seriedade de tais profissões é fechar os olhos para o desenvolvimento propiciado pelo trabalho e pesquisas da área. É negar, sobretudo, a relevância de tais ciências. Visto isso, cabe- nos demonstrar solidariedade aos jornalistas que pertencem à sua instituição de classe, atuando com ética e competência.”
O cozinheiro do Ministro pode ser jornalista de cozinhas. Por que não? Desde que seja competente, na cozinha e na palavra .
A valorização do jornalista é vantagem para o público e para os veículos, embora, como os políticos, não os veja dessa forma.
*Título e imagem da reportagem de capa da revista O Economista, do Corecon-SP (Leia mais aqui)
Carlos Magno Gibrail é doutor em marketing de moda e usa de seu conhecimento jornalístico para escrever este artigo, às quartas, no Blog do Milton Jung
Ola Carlos
Foram-se os tempos que uma pessoa em qualquer área que fosse atuar, não somente no jornalismo, se tornava profissional, como autodidata, ou iniciando em uma empresa como simples como aprendiz.
Termo esse que deixou de exisitir par adar lugar a pomposa nomenclatura de Trainée, entre outros adjetivos utilizados atualmente em coorporações de lingua estrangeira.
O ensino em outros tempos era outro muito superior em comparação com o ensino de hoje, que por sinal está muito aquém.
Nos áureos tempos, os formandos recebiam o Diploma, e hoje muitos recebem o DIPROMA e vão atuar nas suas especialidades só Deus sabe como.
Quando a minha mãe enferma estava internada no Hospital São Paulo, vi um jovem futuro médico R2 escrever a palavra osso, com c cedilha.
Oço.
Tinha uma estagiaqria no ultimo ano de faculdade de arquitetura que “esqueceu pitágiras, 3,4,5.
Li nos exames da ordem advogados escrevendo, coisas do tipo “que seje, esteje, etc
A qualidade, o interesse pelo estudante, pelo profissional ficou para depois e o que os interessa somente são resultados imediatos, o dinheiro.
Estudar que é bom nada.
Isso acontece em todas as´áreas, estas qntes a pessoa ingressava em uma empresa, jornalistica e muitos aposentavam-se jornalistas de cátedra.
Hoje temos faculdade de tudo!
E assim os que “já estão ficando velhinos”, que tiveram em suas épocas de estudante um ensino, mesmo não tendo titulos acadêmicos, alto digno para assumir uma posição de nivel e de destaque em uma corporação estão simplesmente sendo postos de lado.
Grande abraço
Armando Italo
Armando Italo, se assim é, imagine o que vai ocorrer daqui para a frente, quando não houver exigência do diploma.de jornalista.
No meu entender poderia até ser exigido outro diploma similar ou ainda áreas afins daquela que o profissional estivesse habilitado.
Por exemplo, o economista poderia ser jornalista econômico, depois de receber créditos na área de jornalismo.
Abraço
Carlos Magno
Caro Prof.
Por algo menor não se daria, tanto abandono de valores fundamentais para a democracia. Como bem disse o Comandante, nossa gente carece de educação. De professores que digam as nossas crianças que uma vida vale mais que dez reais. Se o valor dos profissionais é dado pelo mesmo público que consome seus produtos, os poucos consumidores, maiormente no Sul e Sudeste do Brasil são peixe pequeno ante o resto da população.
Mais ainda sendo a mídia propriedade privada.
Restou a internet, um alento nesse nosso mar de incoerências e esquecimentos. Infelizmente (poxa) não por muito tempo, vem aí o jeito Azeredo (Sen. Eduardo Azeredo PSDB/MG) de ter internet livre.
Não vai sobrar muito mais nem pra jornalistas e nem para nós que contribuímos cada um a sua maneira.
Boa noite, caro mestre!
Essa história que jornalista não precisa de diploma é uma tremenda de uma sacanagem com a nossa inteligência ainda mais com os argumentos que foram usados para decidir isso.
Na minha opinião o Ministro Gilmar Mendes não tem equilibrio pessoal para ser presidente do STF, más quem sou eu para julgar e decidir por outro ministro.
Não tenho preparo profissional para decidir por isso.
Um profissional seja ele qual for, por mais que tenha aptidões para uma tarefa é óbvio que precisa de ser preparado tecnicamente para aquilo que exerce.
Salvam-se poucas profissões que a tal da prática é suficiente para o exercício.
Ex: Pescador, varredor de rua, pintor de sarjetas etc.
A profissão de jornalista é sim de uma responsabilidade tamanha. Comparar com a área de saúde, que inclusive faço parte, é estapafúrdio.
Uma coisa não tem como ser comparada com outra.
Uma manchete mal colocada ou uma frase mal escrita pode acarretar vários transtornos que prejudicam e muito uma ou várias pessoas. Em cima daquilo que ouvimos, lemos e vemos, tomamos decisões em fração de segundos por um fato jornalístico noticiado que não pode ser distorcido.
Os jornalistas são formadores de opinião e somente isso já me faria ser totalmente à favor do diploma, mas não que ele seja o mais importante, que também não acho, mas que garante uma técnica empregada ao profissional aliada a sua aptidão para exercer com maestria a profissão isso não tenho a menor dúvida.
Precisamos nos unir para recolocar as coisas nos seus devidos lugares antes que passe de uma cassação de diplomas, por censura jornalística e até tentarem nos calar.
Depois virão outras profissões. Quem duvida?
Abraços.
Olá Carlos,
Curto e grosso: Diplomado ou não, agradeço a todos os jornalistas pela luta travada em todos os tempos por nossa liberdade de expressão. Regulamentado ou não, esses profissionais terão sempre meu respeito. Não acredito na deriva, pois, isso é um dom e desse dom ninguém foge.
Abraços
Porque então não exigir o diploma de administração para diretores estatutários? Esse profissão não consitui risco à sociedade? O governo americano não teve que gastar mais de US$ 1 trilhão por conta desta profissão??? Realmente os juizes e advogados constituem uma máfia nesse país.
Sergio Mendes, você tocou num ponto importante que é a internet, pois há chances de fuga dos grandes veículos.
O oligopolio da midia certamente tem interesse de desqualificar o profissional, pois terá mais poder, na medida em que tira força do jornalista diplomado.
Abraço
Carlos Magno
Claudio Vieira,a exigência do diploma retirada da forma como foi feita é realmente falta de decoro.
O exemplo do cozinheiro e da costureira, foram muito piores do que o exemplo do administrador ,dado pelo Max Gehringer.
Acontece que o Max esqueceu que o Administrador tem uma reserva de mercado, embora não seja obrigatório para administrar empresas .
Beto, uma das questões é que estão desvaloriando os profissionais em benefício das empresas.
Enquanto isso os advogados não mudam nada em relação à própria profissão, mantendo prerrogativas e um corporativismo medievais,
Abraço
Carlos,
Eu sempre fui contra e até já tive um entrevero com um comentarista de futebol por não ser jornalista nem ex-atleta; como fui contra tb o jornalista que virou técnico de futebol. Apoio e acredito que jornalismo tem que ser feito por jornalista categorizado mesmo que seja fofoca, como apoio tb colunistas especialistas em suas áreas que tenham um aval editorial. Talvez minha desconfiança seja exatamente por causa dos advogados: Seria um desconforto só poder responder à uma matéria ou tecer comentário, através de um jornalista.(risos).
Façamos justiça: felizmente jornalismo é uma classe em que só em uma minoria não se pode confiar. Portanto, difícil seguirem o exemplo dos advogados. Uma pena suas entidades de classe terem sido tímidas em sua defesa e pouco explicativa de suas intenções para os leigos. Sendo assim, mudo de idéia e como cidadão me torno solidário a causa e tb concordo que, um bom exame seletivo evitará os “sejes e tejes” : isso deixa para mim e para os formados em direito(risos).
Abraço e obrigado pelo clareamento mental.
André, não é má idéia, pois entra o fator correspondente à prerrogativa, que é a responsabilidade.
Ao obrigar as empresas a contratar administradores profissionais, que se atribua também a responsabilidade.aos contratados.
Convenhamos desobrigar no jornalismo a nenhuma capacitação profissional é uma aberração.
E pior, a titulo de liberdade de expressão.
O alerta do CORECON precisa ser considerado.
Abraço
Beto, o meio termo é sempre a posição equilibrada.
Uma das hipóteses é regular a profissão e ao mesmo tempo abrir caminhos a outras profissões também exercê-la. E o caminho mais próximo é , por exemplo o Economista ser jornalista de Economia, o jogador de futebol ou técnico ser jornalista esportivo, etc
Não precisamo chegar ao corporativismo dos advogados, quando para qualquer ação é preciso um deles.
Abraço
Muito comum presenciar em várias áreas e segmentos, profissionais que “estão como tais” e outros atuam porque realmente, apesar de não possuirem dipRomas acadêmicos” são profissionais em suas áreas, especialidades.
Simplesmente possuem o dom.
Estes sim devem ser enaltecidos, valorizados em toda a sua plenitude.
Em muitas ocasiões, um diploma universitário, titulos e mais titulos, etc não dizem absolutamente nada
E ai comprovamos a real diferença entre o “TER” e o SER
A diferença é enorme!
“Dai a Cesar o que é de Cesar”
Obviamente todos devem estudar, aprofundar-se, evoluir, adquirir cultura, conhecimentos, etc.
Abraços
Armando Italo
Armando Italo, vamos convir que os casos de auto didatas são excessão. Além do que há necessidade do ordenamento burocrático para que haja controle.
Um dos pontos discutiveis é exatamente como abrir excessões.
Tomemos por exemplo o caso do jornalismo esportivo, quando o jogador passa a ser comentarista e tem o “dom” para tal. É desejável que o sistema pudesse permitir legalmente a sua atuação como comentarista. O Casagrande é um bom exemplo,, experiente jogador e talentoso comentarista.O Tostão é excepcional colunista..
Abraço