Na mesa com o Capitão do Tri

Direto da Cidade do Cabo

Carlos Alberto Torres

Véspera da abertura da Copa do Mundo, o jantar foi em um dos melhores hotéis de Vitoria & Alfred Waterfront, área turística, rica e movimentada. Na mesa, um convidado especial, Carlos Alberto Torres, Capitão do Tri, bom papo e bem humorado apesar da dor provocada pelo nervo ciático que não resistiu a mais de 12 horas de avião entre Rio, São Paulo, Johannesburgo e Cidade do Cabo.

Para acompanhar a conversa, um Saxenburg Pinotage 2004, vinho produzido em vinhedo não muito distante daqui, de sabor amadeirado capaz de agradar a este escriba.

A safra é boa ?

Não é das melhores, respondeu Carlos Alberto. Nós não falávamos de vinho, mas de futebol. “Nenhuma seleção se sobressai”, disse logo de cara.

Fez algumas ressalvas, ao citar a Espanha que tem a melhor formação desde 1962 quando perdeu para o Brasil por 2 a 1, na Copa do Chile. Lembrou da Argentina e os jogadores de ataque, principalmente, citados ao mesmo tempo que Carlos Alberto tocava o peito com a mão fechada, sinal de que acredita que a raça desta turma pode fazer diferença.

“Messi, se entrar no ritmo da Copa, pode dar seu grande salto”, acrescentou quando perguntei quem seria o melhor jogador deste Mundial.

E o Brasil, “Capita” ? Perguntou o anfitrião que escutava a conversa e demonstrava intimidade.

Quando Carlos Alberto Torres fala da seleção brasileira demonstra a mesma personalidade forte que o consagrou em campo. Não esconde seu descontentamento com o time que estreia dia 15 contra a Coreia do Norte, em Johannesburgo. Em entrevistas já havia revelado discordância em relação a convocação feita pelo técnico Dunga e a falta de criatividade.

Preferia ter em campo Ronaldinho Gaúcho, Ganso, Neymar e Adriano.

“Imagina o Adriano entrando em campo, aquele baita cara, impõe medo no adversário”, explicou assim por que era a favor de que tivesse havido mais cuidado de Dunga com o atacante da Roma.

Para ele, o técnico brasileiro deveria ao menos ter trazido Paulo Henrique Ganso, menino do Santos, time pelo qual Carlos Alberto Torres também fez sucesso, entre 1966 e 1974, com Pelé ao lado. Dunga não teria nada a perder e ofereceria ao torcedor mais esperanças: “tá todo mundo com uma cara assim, será que vai dar ? Não sei, não !?”

Essa coisa de comprometimento com o grupo, pode até ser importante, mas o Capitão do Tri volta a ser taxativo: “Seleção é seleção, seleção é diferente”.

Conta que em um dos muitos eventos internacionais que tem participado – está na África à convite da Visa -, depois de reclamar da ausência de jogadores que poderiam desequilibrar um jogo, ouviu de um interlocutor que Felipão também havia deixado Romário fora do time e ganhou a Copa mesmo assim.

“Mas ele tinha o Ronaldinho Gaúcho”, rebateu com a mesma objetividade e precisão que o levou a marcar o gol que fecharia a goleada sobre a Itália, por 4 a 1, na final da Copa de 70.

Na cerimônia do “pontapé inicial” da Copa da África, transmitida na TV que estava pendurada na parede atrás da nossa mesa, o lance escolhido para representar a conquista do Brasil no México 70, não por coincidência, foi o gol de Carlos Alberto. Ele sorriu quando todos olhamos para a tela e para ele: “Já não aguento mais, vi esse lance umas 50 mil vezes na vida”, desdenhou.

Aquela, sim, foi a melhor safra de todos os tempos.

3 comentários sobre “Na mesa com o Capitão do Tri

  1. O Max Gehringer abordou brilhantemente o sistema de recrutamento e seleção adotado por Dunga. Concluindo que Dunga usou o método usado pelas empresas na contratação de equipes.Aprovou perfis semelhantes ao dele, com caracteristicas de batalhadores, obreiros e bons cumpridores de ordem, de modo que o Brasil tem 9 jogadores operários e 2 talentosos.
    A questão é saber se o critério para a seleção deve ou não utilizar esta forma empresarial de contratação.
    Mais relevante do que isso é o fato dos jogadores atuantes no Brasil serem excluidos cada vez mais de nossa seleção.
    Vem aí a colheita deste expurgo, pois os times estão sendo cada vez mais valorizados.pelos consumidores torcedores brasileiros.
    Um pouco de Marketing não fará mal ao pessoal do futebol, embora como temos visto ainda estão em muitos casos na idade da pedra lascada.

  2. Torço pelo Brasil por causa das crianças, da festa do povo e pela alegria que contagia a todos nos dias em que o Brasil joga. A energia é boa. Mas se fosse só por causa do Dunga, não torcia não. A coisa deveria funcionar assim: Convoca 18 atletas que vem atuando na Seleção nos últimos tempos. 5 vagas ficaria aberto para o jogador que estivesse numa boa fase e arrebentando naquele periodo de convocação. Também aproveitaria o prestígio e a fama do Ronaldo Fenômeno e convidava o atleta não para jogar, mas para fazer parte da comissão tècnica como um Convidado Especial. Até entraria em campo com os atletas para saudar a torcida. Ora bolas, ele não é o homem-marketing do Corinthians? Na Seleção poderia ser o marketing da Seleção. Como reconhecimento por tudo que ele já fez pelo Brasil poderia viajar com o time. Quantos Zé Ruelas viajam com a Seleção que nunca sequer chutaram uma bola na vida deles? Engraçado é que a Brahma patrocina o Brasil e tem até o slogan: Somos Brameiros. Acho que o único brameiro de verdade que gosta de tomar uma cerveja ficou de fora: o Adriano. Pelo que ele fez na Seleção nas eliminatórias merecia uma vaga na Seleção. O Brasil já deu a dica para os adversários: Kaká ainda sente dor e tem medo de entrar com força para disputar uma bola. Se o adversário for esperto, basta dar umas 3 ou 4 chegadas mais forte nele que o medo de se machucar e ficar de fora da Copa vai fazer ele jogar se defendendo. Espero que não. E vamos ao Hexa para deixar o povo FEliz e aguentar o Dunga é claro. Vamos engolir o Dunga. Rsss

  3. Gosto de futebol sou São Paulino nato, de carteirinha, por anos a fio tentei praticar este esporte, decididamente acabei constatando que sou um baita de um perna de pau, ruim de mais com a bola nos pés.
    Melhor eu ficar aqui quieto no meu canto, somente como torcedor.
    Porém, em se tratando do futebol da atualidade, este claramente deixxa muito a desejar em comparação com o verdadeiro futebol arte de outros tempos, onde os grandes timnes selecionavam seus novos jogadores nos campos de várzea, do futebol muleque, malicioso, espontâneo e natural, o que mais interessava aos jogadores era jogar bola, vestir a camisa por longos anos do seu time, e o dinheiro ficava em segundo plano.
    Jogadores casavam com as meninas moradoras de seus bairros e os casamentos duravam a vida inteira para a maioria.
    Hoje os valores estão e são totalmente invertidos e não há necessidade de descrevê-los detalhadamente aqui no blog.
    Copa do munfo?
    Sim!
    Evento grandioso, maravilhoso, maior espetáculo da terra.
    Mas futebol mesmo, arte da bolas nos pés, ao meu ver, em comparação com seleções da década de sessenta, setenta, jogadores natos, quie em suas cabeças só pensavam em jogar bola e não somente no status, na grana, deixaram de exisitir, pois a grana, a fama, outros interesses estão em primeiro lugar.
    Bom final de semana
    Armando Italo

Deixe um comentário