Modismo e analfabetismo que assolam a mídia

 

Por Mílton Ferretti Jung

Talvez eu seja um chato, mas não de galochas, porque, mesmo quando chovia, as usei pouquíssimo e somente por exigência paterna. Meu pai temia que, se molhasse os pés, pegaria gripe. Além disso, não creio que ainda exista quem as vista. Posso esperar, então, que minha chatice, pelo menos, dispense o acréscimo referido linhas acima.

Seja lá como for, vou tratar do modismo que tomou conta da mídia. Não estarei faltando com a ética. Afinal, estou na estrada da profissão desde 1954, o que, imagino, me assegura certos direitos, um deles o de criticar o que me irrita quando leio jornais, vejo televisão e/ou ouço rádio.

Claro que não tenho a pretensão de escrever algo parecido com o que, faz bom tempo – mas nunca esqueci do texto – Stanislaw Ponte Preta, pseudônimo de Sérgio Porto, alinhou no livro intitulado “O festival de besteiras que assola o país”. Creio que pesquisou um bocado para reunir as asneiras que coletou na época ou, quem sabe, nem precisou se esbaldar procurando-as, tantas foram.

As de agora também são muitas, diferentes, porém, das relatadas por Stanislaw. Vou, no entanto, citar poucas para não encher a paciência dos que me dão o prazer de sua leitura aqui no blog do meu filho. Não sei se por preguiça ou desconhecimento gramatical, principalmente a turma das rádios não usa mais os verbos reflexivos, isto é, os que exigem a presença da partícula apassivadora – o se. Aí o que se escuta, por exemplo, é que “o jogo iniciou, o jogador machucou, o time concentrou”, e outras pérolas semelhantes.

Já o verbo realizar se transformou num proscrito. É pouquíssimo usado atualmente. Preferem dizer que “o festival aconteceu”. Tudo acontece, pouco se realiza. Devem ter aprendido a besteira com os cronistas sociais…

A moda que mais me incomoda, entretanto, é a do uso indiscriminado do verbo apontar. Parece que, para ele, não existem sinônimos. Não passa um dia que não se lê o maldito apontar em frases nas quais poderia ser substituído por indicar ou mostrar, sem prejudicar o sentido.

Afora esses modismos (até, talvez, analfabetismos) que causam dor de ouvido, ainda se faz necessário aguentar certos neologismos, entre os quais, um que detesto profundamente por ser uma invenção desnecessária. Refiro-me a disponibilizar. Seria bem mais fácil utilizar oferecer que, aliás, é bem mais bonito do que seu imenso sinônimo inventado sei lá por quem.

Acredito ter feito critica construtiva. Quem não concordar,que se manifeste.


Milton Ferretti Jung é jornalista, radialista e meu pai. Às quintas-feiras, escreve no Blog do Mílton Jung (o filho dele)

12 comentários sobre “Modismo e analfabetismo que assolam a mídia

  1. Milton Ferretti, concordo com vc, parece que quando uma palavra ganha força todo mundo da mídia e até o povo em geral que se baseia na mídia acaba repetindo certos modismos. Uma que já encheu a paciência e os ouvidos é a tal de “Blindagem, blindar, blindado). Certa vez Muricy Ramalho disse que blindou os jogadores do São Paulo para não dar entrevistas etc etc ect. Daí a imprensa foi no embalo. Manchetes tipo: São Paulo blinda jogadores, Treino do São Paulo está blindado, Dunga vai blindar treino para evitar imprensa, ou seja essa palavra ganhou força e chega a irritar. Fora o a nível de Brasil, a nivel de time e por ai vai.

  2. ME MANIFESTO CONCORDANDO E ALÉM DE TUDO RESPEITO MUITO A OPINIÃO DE QUEM CONHECE O QUE ESTÁ FALANDO. A EXPERIÊNCIA NÃO TEM PREÇO.
    ADORO LER NOTICIAS , E ALGUMAS É PRECISO DECIFRAR.
    LEIO SEMPRE TUDO DESTE BLOG E SÃO TEXTOS MUITO BEM ESCRITOS . ABRAÇOS ALEGRES.

  3. Milton Ferretti, a crítica é realmente construtiva, uma verdadeira aula, que pode abrangir não só o jornalismo,mas outros profissionais. Acredito que um bom profissional deve estar sempre em busca de repertório, principalmente de boas leituras e reflexão. A minha visita ao blog e leitura de seu texto contribui para meu apredizado, sou recém formado em Comunicação Social /Jornalismo. Gostaria apenas de acrescentar, incomoda-me muito o modismo do “gerundismo”; e a forma como são usados os clichês.
    Obrigado, pela oportunidade de aprender um pouco mais com alguém com sua bagagem.

  4. Em contrapartida a falta de uso de algumas palavras, vejo uso indiscriminado do “de”.
    Ás vezes em pessoal tidas como instruidas.
    Por exemplo, “é preciso de fazer”
    Entretanto o que mais me incomoda é quando se noticia falecimento. Ao invés de anunciar primeiro o nome do falecido, o jornalista , ás vezes em edição extraordinária, diz

    “Acaba de falecer em terrivel desastre aéreo na cidade de São Paulo Sr. Fulano de Tal”

    Fico a imaginar os parentes de autoridades que estão viajando no dia.

  5. Prezado Milton (pai), concordo em genero e número com seu texto. E vou além, me doi aos olhos ler notícias na internet com erros crassos de digitação. palavras faltando, ou erros nas concordâncias. É conhecido que lemos instintivamente, mas muitas vezes é difícil entender uma frase me vejo lendo várias vezes. como você (se me permite) também dispenso o senhora.
    Sandra

  6. Concordo, totalmente, com o Marcos Paulo.
    Acrescento que, não somente no jornalismo, mas em todas as profissões, nossa língua portuguesa está se transformando.

    Milton Ferrette, espero que sejamos perdoados se doerem os olhos, como doem os ouvidos, ao ler nossa humilde opinião com tantos erros de português.

    Stanislaw Ponte Preta! Puxa, quanto tempo não se fala desse nosso ilustre escritor. Boa lembrança.

    Dá mais prazer nas quintas ler o blog do Milton filho.

    Obrigado por nos brindar com tanta cultura.

  7. Prezado Milton Ferretti Jung,

    certos erros de linguagem que aparecem na mídia impressa, falada, audiovisual e mesmo na letra de músicas são rápida e inconscientemente assimilados e usados pelo público, que chega mesmo a considerá-los modelos. Frequentemente ouve-se: “a TV diz assim”, “o locutor fala deste modo” , “a letra da música é assim” , “o jornal publicou” , “vi no cartaz, no outdoor”, etc.

    Infelizmente, esta é a realidade em que vivemos, tratando-se da relação público e linguagem dos meios de comunicação de massa.

    Diante desta real e preocupante situação, urge fazermos tudo o que está a nosso alcance para preservar a pureza desta língua tão bela e tão sonora, falada há quase um milênio, merecedora, portanto, de ser resguardada das distorções grosseiras a que é submetida,frequentemente, na mídia.

    Vejamos alguns exemplos de incorreções colhidas aleatoriamente nos meios de comunicação e que poderiam ser facilmente sanadas:

    – “Faz o que eu digo, mas não faça o que eu faço.” (Faze o que eu digo…)
    – “Obedeça seu velho. Gaste bem sua mesada.” (Obedeça a seu…)
    – “Diga-me com quem andas e eu te direi quem és.” (Dize-me com quem…)
    – “Fi-lo porque quilo.” (Fi-lo porque quis)
    – “A nível de administração.” (Em nível de ..) (Jorge S.Martins)

    – “Ao meu ver.” ( A meu ver…)

    Os cartazes, os anúncios, a imprensa, a letra de música populares refletem o desenvolvimento cultural da sociedade da qual todos fazemos parte. Cabe-nos denunciar os maus uso da língua nessas formas de comunicação, para que seus erros não venham a ser motivo de vergonha para nós.

    Entre as incorreções que destoam no uso da língua, são frequentes pequenos descuidos, até perdoáveis, mas há casos de barbarismo contra a pureza da língua nos aspectos sintáticos, regenciais, ortográficos, sem falarmos de troca tão comum de tratamento, como também de organização ilógica de ideias, o que acarreta, frequentemente, ambiguidades e interpretações errôneas de pensamento.

    Contudo, neste momento em que os países lusófonos se unem no fortalecimento da Comunidade Linguística da Língua Portuguesa: em que se luta para que o português seja reconhecido também como língua oficial da ONU: em que o português vai alcançando o 4º lugar entre as línguas mais falada no planeta. Não podemos deixar que ela se desfigure e se deturpe de maneira tão galopante, como está acontecendo nos meios de comunicação.

    Em geral, o erro linguístico depõe contra quem o cometeu. Vamos preservar a “Língua nossa de cada dia”.

    Abraços de seu fã,

    Nelson Valente

  8. Prezado Milton Ferretti Jung,

    trabalhei numa determinada emissora de rádio aqui em São Paulo. O noticiário ao vivo. Chamada: Repórter fulano de tal. O repórter: retranca – ” Um padre entrou pelado na Praça da Sé. Todos ficaram quietos no estúdio, o que me levou a perguntar: Não entendi? Poderia repetir. O repórter: Ui. Errei…Queira desculpar-me e repetiu: Um padre atropelado na Praça da Sé. Coisas da profissão.

  9. Bom dia, Não aguento mais, ver tanto excesso no uso do “gerundio”. É um tal de…Vou estar verificando…Vou estar fazendo…O mais bem colocado…e tantas outras coisas que me deixam arrepiado. E olha que não é só nas ruas, vejo na imprensa, nos cartazes nas lojas e bancos, etc. Acho que já escrevi demais. Agora “vou estar tomando” meu café, “vou estar indo”…etc…etc. Grato pelo espaço e Forte Abraço.

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